sábado, 1 de outubro de 2016

Resenha especial (Reeditada)


O intendente Sansho


No Japão feudal, com o exílio do marido, um governador influente, a esposa e os filhos acabam separados por um grupo a mando do chefe de estado. Os três partem para uma exaustiva jornada ao interior de uma selva. No caminho, mercadores de escravos sequestram as crianças e as vendem. A esposa vai arrastada para uma prisão na floresta, e os filhos são submetidos ao trabalho forçado, crescendo em um ambiente de opressão. Dez anos depois, já crescidos, os garotos recebem a notícia de que uma mulher solitária vive em uma ilha clamando pela volta das suas duas crianças perdidas. Eles entendem o recado e fogem do local em busca da suposta mãe.

Descoberta e lançada pela Lume Filmes em 2010, o notório clássico japonês chega agora em versão restaurada pela Versátil na caixa “O cinema de Mizoguchi – volume 2”, com outros cinco filmes do falecido diretor.
Vencedora do Leão de Prata em Cannes - e ainda recebeu indicação ao Leão de Ouro, a obra é pedra fundamental do cinema oriental, um drama sobre opressão e separação familiar, dirigido por um dos mestres da Sétima Arte, Kenji Mizoguchi (morreu de leucemia em 1956, aos 58 anos), que foi contemporâneo de Akira Kurosawa e Yasujiro Ozu.
A trágica história de duas crianças raptadas da mãe por mercadores de escravos ganha poesia e amargo lirismo nesse conto moralista baseado em um romance perdido de Ogai Mori, que por sua vez recorreu a ensinamentos do sábio chinês Confúcio. O diretor explora com perfeição o sistema medieval do Japão com foco na escravidão, tanto infantil quanto adulta, com aliados mágicos: a belíssima fotografia em preto-e-branco, as locações em selvas e praias do país e o exato figurino da época.
Na segunda metade do filme, com os filhos crescidos em meio à escravidão, o entristecido canto da mãe, efeito alegórico ao canto das sereias, transforma o enredo e revela minuto a minuto futuras surpresas. O próprio roteirista Yoshikata Yoda declarava que a obra era pessimista e amarga, e que Mizoguchi tinha dificuldades em rodar determinadas cenas, por serem tristes, como a do afogamento como sacrifício e o curioso retorno à casa de praia, no desfecho. Ambas uma aula de cinema, sequências das mais belas já produzidas pelo cinema.
No Brasil a carreira de Mizoguchi passou despercebida. É dele os conhecidos “Utamaro e suas cinco esposas” (1946) e “Contos da Lua Vaga” (1953), além de outras 90 produções em que explora o folclore japonês, dramas familiares existencialistas, opressão, sofrimento e abuso de poder. Obrigatório para fãs!
Além de “O intendente Sansho”, no box “O cinema de Mizoguchi – vol.2” temos outros cinco excelentes trabalhos do cineasta: “A mulher infame” (1954), “Crisântemos tardios” (1939), “Elegia a Osaka” (1936), “Os músicos de Gion” (1953) e “Rua da vergonha” (1956) - todos restaurados, e mais de uma hora de extras imperdíveis.


O intendente Sansho (Sanshô dayû/ Sansho the bailiff). Japão, 1954, 123 min. Drama. Dirigido por Kenji Mizoguchi. Distribuição: Versátil Home Video

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