O intendente Sansho
No
Japão feudal, com o exílio do marido, um governador influente, a esposa e os
filhos acabam separados por um grupo a mando do chefe de estado. Os três partem
para uma exaustiva jornada ao interior de uma selva. No caminho, mercadores de
escravos sequestram as crianças e as vendem. A esposa vai arrastada para uma
prisão na floresta, e os filhos são submetidos ao trabalho forçado, crescendo
em um ambiente de opressão. Dez anos depois, já crescidos, os garotos recebem a
notícia de que uma mulher solitária vive em uma ilha clamando pela volta das
suas duas crianças perdidas. Eles entendem o recado e fogem do local em busca
da suposta mãe.
Descoberta
e lançada pela Lume Filmes em 2010, o notório clássico japonês chega agora em
versão restaurada pela Versátil na caixa “O cinema de Mizoguchi – volume 2”,
com outros cinco filmes do falecido diretor.
Vencedora
do Leão de Prata em Cannes - e ainda recebeu indicação ao Leão de Ouro, a obra
é pedra fundamental do cinema oriental, um drama sobre opressão e separação
familiar, dirigido por um dos mestres da Sétima Arte, Kenji Mizoguchi (morreu
de leucemia em 1956, aos 58 anos), que foi contemporâneo de Akira Kurosawa e
Yasujiro Ozu.
A
trágica história de duas crianças raptadas da mãe por mercadores de escravos
ganha poesia e amargo lirismo nesse conto moralista baseado em um romance
perdido de Ogai Mori, que por sua vez recorreu a ensinamentos do sábio chinês
Confúcio. O diretor explora com perfeição o sistema medieval do Japão com foco
na escravidão, tanto infantil quanto adulta, com aliados mágicos: a belíssima
fotografia em preto-e-branco, as locações em selvas e praias do país e o exato
figurino da época.
Na
segunda metade do filme, com os filhos crescidos em meio à escravidão, o
entristecido canto da mãe, efeito alegórico ao canto das sereias, transforma o
enredo e revela minuto a minuto futuras surpresas. O próprio roteirista
Yoshikata Yoda declarava que a obra era pessimista e amarga, e que Mizoguchi
tinha dificuldades em rodar determinadas cenas, por serem tristes, como a do
afogamento como sacrifício e o curioso retorno à casa de praia, no desfecho.
Ambas uma aula de cinema, sequências das mais belas já produzidas pelo cinema.
No
Brasil a carreira de Mizoguchi passou despercebida. É dele os conhecidos
“Utamaro e suas cinco esposas” (1946) e “Contos da Lua Vaga” (1953), além de
outras 90 produções em que explora o folclore japonês, dramas familiares
existencialistas, opressão, sofrimento e abuso de poder. Obrigatório para fãs!
Além
de “O intendente Sansho”, no box “O cinema de Mizoguchi – vol.2” temos outros
cinco excelentes trabalhos do cineasta: “A mulher infame” (1954), “Crisântemos
tardios” (1939), “Elegia a Osaka” (1936), “Os músicos de Gion” (1953) e “Rua da
vergonha” (1956) - todos restaurados, e mais de uma hora de extras imperdíveis.
O intendente Sansho (Sanshô dayû/ Sansho the bailiff).
Japão, 1954, 123 min.
Drama. Dirigido por Kenji Mizoguchi. Distribuição: Versátil Home Video
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