sábado, 29 de outubro de 2016

Nota do blogueiro


40a. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

44 filmes assistidos na 40a. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo entre os dias 19 e 28 de outubro, em cabines de imprensa e em sessões comuns. Fiz drops de 18 deles e até domingo solto mais. Abaixo a lista das produções vistas.

Um homem a mais (Itália, 2001, de Paolo Sorrentino)
Irmãs (Itália, 2006, de Marco Bellocchio)
Irmãs jamais (Itália, 2010, de Marco Bellocchio)
The fits (EUA, 2015, de Anna Rose Holmer)
Tanna (Austrália/Vanuatu, 2015, de Martin Butler e Bentley Dean)
Um outono sem Berlim (Espanha, 2015, de Lara Izagirre)
Os demônios (Canadá, 2015, de Philippe Lesage)
Blanka (Filipinas/Japão/Itália, 2015, de Kohki Hasei)
Maresia (Brasil, 2015, de Marcos Guttmann) 
Gaga: O amor pela dança (Israel/Suécia/Alemanha/Holanda, 2015, de Tomer Heymann)
13 minutos (Alemanha, 2015, de Oliver Hirschbiegel)
Baby Bump (Polônia, 2015, de Kuba Czekaj)
Sangue do meu sangue (Itália/França/Suíça, 2015, de Marco Bellocchio)
Belos sonhos (Itália/França, 2016, de Marco Bellocchio)
Zoology (Rússia/França/Alemanha, 2016, de Ivan I. Tverdovskiy)
O apartamento (Irã/França, 2016, de Asghar Farhadi)
Desconhecida (EUA, 2016, de Joshua Marston)
A garota desconhecida (Bélgica/França, 2016, de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne)
Hedi (Tunísia/Bélgica/França, 2016, de Mohamed Ben Attia)
Zero days (EUA, 2016, de Alex Gibney)
The handmaiden (Coreia do Sul, 2016, de Chan-wook Park)
Pitanga (Brasil, 2016, de Beto Brant e Camila Pitanga)
O ídolo (Holanda/Inglaterra/Qatar/Argentina/Egito/Palestina/Emirados Árabes, 2015, de Hany Abu-Assad)
Paterson (EUA/França/Alemanha, 2016, de Jim Jarmusch)
Invasão zumbi (Coreia do Sul, 2016, de Sang-ho Yeon)
Mr. Pig (México, 2016, de Diego Luna)
Encarando meu prato (Croácia/Dinamarca, 2016, de Hana Jusic)
Mañana a esta hora (Colômbia/Canadá, 2016, de Lina Rodriguez) 
Ondas (Polônia, 2016, de Grzegorz Zariczny)
O violinista (Índia, 2016, de Bauddhayan Mukherji)
Futuro perfeito (Argentina, 2016, de Nele Wohlatz)
Todas essas noites sem dormir (Polônia/Inglaterra, 2016, de Michal Marczak)
Elle (França/Alemanha/Bélgica, 2016, de Paul Verhoeven)
Era o hotel Cambridge (Brasil/França, 2016, de Eliane Caffé)
76 minutos e 15 segundos com Kiarostami (Irã, 2016, de Seyfolah Samadian)
Depois da tempestade (Japão, 2016, de Hirokazu Koreeda)
A última família (Polônia, 2016, de Jan P. Matuszynski)
O segredo da câmara escura (França/Japão/Bélgica, 2016, de Kiyoshi Kurosawa)
Soy Nero (EUA/México/Alemanha/França, 2016, de Rafi Pitts)
Ma’Rosa (Filipinas, 2016, de Brillante Mendoza)
O sonho da água (Irã, 2016, de Farhad Mehranfar)
The Young Pope (Itália/França/Espanha/Inglaterra/EUA, 2016, de Paolo Sorrentino) - Filme
Um estado de liberdade (EUA, 2016, de Gary Ross)
O nascimento de uma nação (EUA, 2016, de Nate Parker)


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Especial sobre cinema


Os melhores, os razoáveis e os dispensáveis da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

A 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, iniciada em 20 de outubro, exibe 322 filmes em 35 espaços culturais (cinemas, galerias etc), com produções de mais de 70 países. Estou em São Paulo desde a abertura oficial do evento, dia 19, e até domingo passado, dia 23, conferi 18 produções, em cabines de imprensa destinada à crítica especializada e nas sessões em salas comuns. Abaixo separei, em três categorias – “Os melhores da Mostra”, “Razoáveis” e “Dispensáveis”, as produções que assisti, como dica (ou não) para o público. Vamos lá!

Os melhores da Mostra. Não vá para casa sem assistir!

Tanna

Fascinante e exótico drama romântico rodado na Ilha de Tanna, com a própria tribo Yakel interpretando eles mesmos uma história real ocorrida no território num passado remoto. Um enredo simples, sobre uma garota que quebra as tradições da cultura local ao recusar um casamento arranjado pelos pais. Fotografia belíssima das florestas e vulcões de uma região perdida do Globo terrestre desperta ainda mais o interesse. É o indicado da Austrália para disputar uma vaga ao Oscar de 2017. (Foto abaixo)

Tanna (Austrália/Vanuatu, 2015, de Martin Butler e Bentley Dean)

Os demônios

Soberba produção canadense em língua francesa que não tem nada de terror, mas um drama psicológico intenso e atual sobre um menino que descobre a adolescência de forma provocadora enquanto vê o vilarejo onde mora ser atacado por um pedófilo. As crianças mandam super bem nesse filme sombrio para público maduro. Um ótimo exemplar da Mostra que deve ser visto.

Os demônios (Canadá, 2015, de Philippe Lesage)

Zoology

Bizarro, melancólico, diferente de tudo, a co-produção Rússia, França e Alemanha é um achado em meio a tantos filmes da Mostra, sobre uma mulher de meia idade que, de tão apaixonada pela profissão – ela trabalha em um zoológico – desenvolve uma cauda. Sua rotina está com os dias contados quando conhece o jovem funcionário do hospital onde é atendida. Nada de comédia, o filme russo discute fanatismo religioso e intolerância sem pender para o lado político. Uma obra única e que merece ser conferida.

Zoology (Rússia/França/Alemanha, 2016, de Ivan I. Tverdovskiy)

O apartamento

Vencedor dos prêmios de melhor ator (Shahab Hosseini) e roteiro em Cannes e indicado à Palma de Ouro de 2016, este é o novo trabalho do importante diretor iraniano Asghar Farhadi, de obras memoráveis como “A separação” e “O passado”. Já na lista dos meus filmes preferidos da safra atual, o filmaço é uma aula de direção e roteiro, com final surpreendente. Entre o drama e o suspense psicológico, conta a história de um casal de atores que é obrigado a se mudar de apartamento, em meio à encenação da peça teatral “A morte do caixeiro viajante”. Já no novo espaço, um quarto fechado, pertencente à antiga moradora, colocará a vida deles em risco. Obra essencial da Mostra de 2016 que percorre temas como dúvida, mentira, persuasão e redenção, com atores fantásticos em cena. É o indicado da Irã para disputar uma vaga ao Oscar de 2017.

O apartamento (Irã/França, 2016, de Asghar Farhadi)

Zero days

Um dos grandes documentários do ano, polêmico e com temática assustadora, trazendo à tona a guerra cibernética iniciada pelos Estados Unidos na virada do século XX para o XXI, a partir das guerras do Golfo e do Iraque. Repleto de momentos jornalísticos e históricos estampados na tela (até o Jornal Nacional aparece), apresenta depoimentos decisivos sobre a manipulação fora de controle da rede social e o uso dela para fins de guerra. Indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim.

Zero days (EUA, 2016, de Alex Gibney)

Pitanga

Talvez o melhor documentário brasileiro de 2016, um divertido documentário sobre o ator Antonio Pitanga, descrevendo suas aventuras amorosas e sua intensa posição político-social. A partir da figura emblemática de Pitanga no cinema, traça-se um percurso da história dos negros no Brasil. Uma homenagem de filha para pai (Camila Pitanga co-dirige ao lado do talentoso Beto Brant). Obrigatório!

Pitanga (Brasil, 2016, de Beto Brant e Camila Pitanga)

O ídolo

Emocionante drama palestino, co-produzido em outros seis países, uma biografia honestíssima de Mohammed Assaf, jovem cantor de festas de casamento que faz de tudo para participar do programa televisivo Arab Idol. Detentor de uma voz poderosa, classifica-se entre os finalistas, dedicando-se de corpo e alma para o grande prêmio. Destaca-se pela história bonita, leve, de superação, desde a infância do cantor até os dias atuais, com um ótimo protagonista na frente das câmeras, Tawfeek Barhom. É o indicado da Palestina para disputar uma vaga ao Oscar de 2017.

O ídolo (Holanda/Inglaterra/Qatar/Argentina/Egito/Palestina/Emirados Árabes, 2015, de Hany Abu-Assad)

Paterson

Bom drama/romance do cultuado diretor Jim Jarmusch, com Adam Driver no papel de um motorista de ônibus apaixonado por poesia, que nas horas vagas rabisca versos numa caderneta. Sua rotina é do trabalho para casa – ele mora com a namorada (a talentosa iraniana Golshifteh Farahani) e um cachorro desconfiado, e uma volta noturna no bar de velhos amigos. Perfeito na concepção de roteiro, com toques de excentricidade, o diretor encaixa situações inusitadas em exatos sete dias na vida do motorista de ônibus chamado Paterson, de uma segunda até a próxima segunda-feira. Aliás, tudo é Paterson no filme: a cidade, o personagem, a estação de ônibus etc. Divertido e rápido, recebeu indicação à Palma de Ouro em Cannes esse ano.

Paterson (EUA/França/Alemanha, 2016, de Jim Jarmusch)

Invasão zumbi

Eletrizante e claustrofóbica fita de zumbi que se passa inteiramente dentro de vagões de um trem de passageiros durante um apocalipse na Coreia do Sul. Segure-se na cadeira para conferir o melhor filme de terror do ano, com direito a sustos, gritos e sangue. Fãs do gênero aplaudirão! Entra no circuito de cinemas brasileiros no final de novembro, com distribuição da Paris Filmes.

Invasão zumbi (Coreia do Sul, 2016, de Sang-ho Yeon)

Razoáveis. Ainda vale um ingresso sem preocupação maior

Belos sonhos

Trabalho autoral mais recente de Marco Bellocchio, o grande homenageado da 40ª Mostra (é dele a arte do cartaz da edição desse ano). Assisti na noite de abertura, dia 19, com a plateia cheia, que dividiu opinião acerca do resultado. É simplesmente uma história singela em torno do olhar da criança sobre perda e separação, com paralelo a sua idade adulta. Como de costume, o cineasta faz um novelão, com toques biográficos, com inúmeros personagens mal desenvolvidos. De duração exagerada, o filme traz a argentina indicada ao Oscar Bérénice Bejo. Interessou?

Belos sonhos (Itália/França, 2016, de Marco Bellocchio)

Sangue do meu sangue

Outra fita inédita de Marco Bellocchio, um drama histórico irregular sobre intolerância religiosa, com toques breves de surrealismo. Um padre segue até um convento para convencer uma freira a confessar seus pecados, que culminaram com o suicídio de um homem. Com bonita concepção de figurinos, trilha sonora e direção de arte, perde-se da metade para frente quando abre margem para outras histórias e personagens, discutíveis, como a venda do convento e a aparição sinistra de um velho vigário. Repare na melancólica versão em coro de crianças da música “Nothing else matters”, do Mettalica.

Sangue do meu sangue (Itália/França/Suíça, 2015, de Marco Bellocchio)

A garota desconhecida

O menor trabalho dos irmãos Dardenne, com uma atriz inexpressiva emoldurada no figurino de uma médica que investiga por conta o assassinato de uma negra, ocorrido em frente à clínica onde trabalha. Mesclando drama e thriller, apresenta as velhas técnicas marcantes dos diretores (câmera em movimento, por exemplo), mas está aquém da inventividade dos dois cineastas belgas. Uma fita corriqueira.

A garota desconhecida (Bélgica/França, 2016, de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne)

Hedi

Tunisiano com casamento agendado apaixona-se por outra mulher e questiona o futuro. Já conhecemos a história em milhares de produções por aí, porém o que pesa na Mostra é a assinatura da Tunísia nesse mediano filme, território onde não há cinema. E só. O roteiro carece de impacto, emoções vitais, não sofremos ou vibramos com as indecisões do jovem protagonista. Saí indiferente da sessão. Indicado ao Urso de Ouro em Berlim.

Hedi (Tunísia/Bélgica/França, 2016, de Mohamed Ben Attia)

The handmaiden

Não espere a violência incomum do cinema de Chan-Wook Park nesse seu novo filme, que parte para um drama voraz, dividido em três capítulos. Uma criada assume função especial na casa de uma tradicional família coreana, e aos poucos recebe confiança e liberdade da manipuladora matriarca. Não revelo mais devido às inúmeras surpresas, algumas boas, outras fracas. Confesso que não tive paciência na primeira parte, porém as duas outras são instigantes, crescendo ao longo do filme. Park deixou legado com “Oldboy”, por isso fica difícil comparação. É com certeza seu filme menos importante. Indicado à Palma de Ouro em Cannes. Assista e dê sua opinião.

The handmaiden (Coreia do Sul, 2016, de Chan-wook Park)

Mr. Pig

Uma comédia dramática modesta com Danny Glover como um criador de porcos que viaja até o México com Howard, seu porco de estimação, para encontrar novo lar ao animal. No caminho reencontra-se com a filha (a sempre adequada Maya Raudolph) e enfrenta crises existenciais. Dirigido pelo ator mexicano Diego Luna, o filme retrata fielmente o carinho absurdo do velho com o porco para questionar sua sanidade, e por tocar sempre no ponto dá a impressão que faltou ideias mais geniais. Com desfecho poético, vale uma conferida na repescagem.

Mr. Pig (México, 2016, de Diego Luna)

Encarando meu prato

Fita croata interessante, mas interminável, que acompanha mãe, filha e filho adquirindo liberdade total dentro de casa quando o pai autoritário sofre um AVC. O defeito é arrastar demais os pequenos dramas, deixando de lado o clímax e as reviravoltas tão necessárias. Segundo filme da premiada diretora croata Hana Jusic.

Encarando meu prato (Croácia/Dinamarca, 2016, de Hana Jusic)


Dispensáveis. Troque por outra sessão...

Um outono sem Berlim

Filme descontínuo, sem emoção, bobinho. Uma jovem sonhadora procura convencer o namorado a se mudar para Berlim. A crise se instala para que juntos decidam o futuro. Lento, nada de marcante ou com toque especial.

Um outono sem Berlim (Espanha, 2015, de Lara Izagirre)

Desconhecida

Não entendo o motivo de estar na Mostra essa fita norte-americana meia-boca, com elenco desperdiçado (talvez os piores momentos de Michael Shannon e Rachel Weisz), uma comédia dramática sobre uma mulher que muda de identidade assim como troca de roupa. Abre sem explicações e termina sem conclusões absolutas. Um tiro no escuro.

Desconhecida (EUA, 2016, de Joshua Marston)

Confira a programação da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em http://40.mostra.org/br/home



sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Nota do blogueiro


Faleceu na madrugada de hoje, aos 72 anos, o ator e humorista Orival Pessini, criador de personagens famosos da TV brasileira nos anos 70 e 80, como Fofão, Patropi e o macaco Sócrates. Ele estava internado e enfrentava um câncer de fígado. Era divorciado, deixa um filho e três netas.


segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Nota do Blogueiro


Seis DVDs recém-lançados pela distribuidora Classicline que acabaram de chegar em casa. "Do mundo nada se leva" (1938, de Frank Capra, vencedor do Oscar de melhor filme e melhor diretor), "Por quem os sinos dobram" (1943, de Sam Wood, vencedor do Oscar de atriz coadjuvante para Katina Paxinou), "Vikings - Os conquistadores" (1958, de Richard Fleischer), "O senhor da guerra" (1965, de Franklin J. Schaffner), "O dossiê de Odessa" (1974, de Ronald Neame) e "Uma dupla desajustada" (1975, de Herbert Ross, vencedor do Oscar de ator coadjuvante para George Burns). Obras restauradas e com extras como depoimentos e trailers.
Obrigado, equipe da Classicline, pelo envio das amostras.


A Classicline

Localizada em Fortaleza (CE), a empresa está há mais de 10 anos no mercado distribuindo títulos inéditos em DVD e em Blu-ray no Brasil, com preços super acessíveis. Imperdível para colecionadores e fãs da Sétima Arte mundial!
Para conhecer o catálogo de filmes, bem como os lançamentos da distribuidora, acesse o site http://www.classicline.com.br/ ou confira a Fanpage no Facebook - 
https://www.facebook.com/classiclinebrasil


Morre o diretor e produtor polonês Andrzej Wajda


Faleceu ontem o premiado diretor, produtor e roteirista polonês Andrzej Wajda, aos 90 anos. Politizado e defensor de causas sociais, o cineasta recebeu, ao longo da carreira de seis décadas, os principais prêmios do cinema mundial: Bafta, Palma de Ouro, Urso de Prata em Berlim, César, Prêmio Luchino Visconti no David di Donatello, Prêmio de Ouro em Moscou e até um Oscar Honorário, entregue a ele em 2000.
Dentre os principais trabalhos como diretor destacam-se Cinzas e diamantes (1958), Terra prometida (1975), O homem de mármore (1977), O homem de ferro (1981), Um amor na Alemanha (1983), Danton: O processo da revolução (1983), Os possessos (1988), As 200 crianças do Dr. Korczak (1990), Katyn (2007) e Walesa (2013 - seu último trabalho).
Foi casado quatro vezes e deixa um filho.


quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Resenha especial


Jurassic World: O mundo dos dinossauros


Um novo parque temático com dinossauros de verdade é inaugurado, em substituição ao Jurassic Park, que fora destruído. Situado em uma ilha selvagem, com atrações únicas, o agora Jurassic World recebe diariamente milhares de visitantes do mundo inteiro, curiosos para chegar perto dos animais jurássicos. A diversão de um dia comum é abalada quando uma falha no sistema de monitoramento permite a fuga do mais temível das criaturas, um dinossauro branco, geneticamente modificado.

2015 foi o ano dos remakes, reboot e continuações na indústria norte-americana de cinema (pelas minhas contas lançaram 35 só no ano passado). O top one da lista é exatamente Jurassic World, um dos mais rentáveis, com bilheteria estrondosa que ultrapassou U$ 1 bilhão nas salas de cinema do mundo. A franquia de sucesso de Jurassic Park retorna com fôlego, precisão e diversão de primeira linha depois de 14 anos de ausência (e olha que demorou, hein, para pensarem num novo filme). “Jurassic World” surge das cinzas numa aventura emocionante, que atualiza a história original de Michael Crichton e propõe traços evidentes com as fitas anteriores. Um novo parque é erguido para substituir o velho Jurassic Park, que há 22 anos fora destroçado por um Tiranossauro Rex. Moderno, atrativo, tecnológico, seguro, o Jurassic World agora é gerenciado por uma mulher, Claire, papel da interessante Bryce Dallas Howard. Ela dá as cartas, comanda com mão de ferro, e deposita confiança no treinador de dinossauros, Owen (o carismático Chris Pratt), dedicado funcionário do empreendimento (e a figura central do blockbuster). Mas a calmaria termina quando um dinossauro perigoso escapa, destruindo tudo e todos pela frente.
Com uma deslumbrante direção de arte, da equipe de “Piratas do Caribe”, “Os vingadores” e “Homem de ferro”, e excelente fotografia do indicado ao Oscar John Schwartzman, parceiro de Steven Spielberg (que assina a produção), a aventura classe A recupera com garra a cinessérie, maximizando os efeitos visuais para o melhor que há no cinema contemporâneo. E com a inserção, na história, do dinossauro geneticamente modificado, alerta para o perigo das tecnologias científicas ultramodernas utilizadas sem controle.
Há sequências imperdíveis e já memoráveis no novo filme, como a destruição do aviário (com consequências desastrosas) e a fuga das crianças na gyrosphere (um veículo de vidro em formato redondo), além de dois momentos surpresa de pura nostalgia.
“Jurassic World” teve a segunda maior bilheteria de 2015, com o recorde de U$ 1 bilhão nos 13 primeiros dias em cartaz (“Star Wars: o despertar da força” veio no fim do ano e abocanhou “Jurassic World” por poucos milhões de dólares a mais nos cinemas). Tinha tudo para dar errado (a começar pelo trailer bobinho e pelo diretor desconhecido, Colin Trevorrow, substituto de Spielberg – olha a responsa!), no entanto, no final das contas, o filme arrebentou! Um entretenimento exemplar, maneiro, moderno, divertido de ver e rever. Depois do absoluto “Jurassic Park” (1993), este é o melhor das três continuações, sem sombra de dúvida.
O DVD e o Blu-ray vem com bons extras, como cenas excluídas e depoimentos de Chris Pratt e Colin Trevorrow.


Jurassic World: O mundo dos dinossauros (Jurassic World). EUA, 2015, 124 min. Ação/Aventura. Dirigido por Colin Trevorrow. Distribuição: Universal

sábado, 1 de outubro de 2016

Resenha especial (Reeditada)


O intendente Sansho


No Japão feudal, com o exílio do marido, um governador influente, a esposa e os filhos acabam separados por um grupo a mando do chefe de estado. Os três partem para uma exaustiva jornada ao interior de uma selva. No caminho, mercadores de escravos sequestram as crianças e as vendem. A esposa vai arrastada para uma prisão na floresta, e os filhos são submetidos ao trabalho forçado, crescendo em um ambiente de opressão. Dez anos depois, já crescidos, os garotos recebem a notícia de que uma mulher solitária vive em uma ilha clamando pela volta das suas duas crianças perdidas. Eles entendem o recado e fogem do local em busca da suposta mãe.

Descoberta e lançada pela Lume Filmes em 2010, o notório clássico japonês chega agora em versão restaurada pela Versátil na caixa “O cinema de Mizoguchi – volume 2”, com outros cinco filmes do falecido diretor.
Vencedora do Leão de Prata em Cannes - e ainda recebeu indicação ao Leão de Ouro, a obra é pedra fundamental do cinema oriental, um drama sobre opressão e separação familiar, dirigido por um dos mestres da Sétima Arte, Kenji Mizoguchi (morreu de leucemia em 1956, aos 58 anos), que foi contemporâneo de Akira Kurosawa e Yasujiro Ozu.
A trágica história de duas crianças raptadas da mãe por mercadores de escravos ganha poesia e amargo lirismo nesse conto moralista baseado em um romance perdido de Ogai Mori, que por sua vez recorreu a ensinamentos do sábio chinês Confúcio. O diretor explora com perfeição o sistema medieval do Japão com foco na escravidão, tanto infantil quanto adulta, com aliados mágicos: a belíssima fotografia em preto-e-branco, as locações em selvas e praias do país e o exato figurino da época.
Na segunda metade do filme, com os filhos crescidos em meio à escravidão, o entristecido canto da mãe, efeito alegórico ao canto das sereias, transforma o enredo e revela minuto a minuto futuras surpresas. O próprio roteirista Yoshikata Yoda declarava que a obra era pessimista e amarga, e que Mizoguchi tinha dificuldades em rodar determinadas cenas, por serem tristes, como a do afogamento como sacrifício e o curioso retorno à casa de praia, no desfecho. Ambas uma aula de cinema, sequências das mais belas já produzidas pelo cinema.
No Brasil a carreira de Mizoguchi passou despercebida. É dele os conhecidos “Utamaro e suas cinco esposas” (1946) e “Contos da Lua Vaga” (1953), além de outras 90 produções em que explora o folclore japonês, dramas familiares existencialistas, opressão, sofrimento e abuso de poder. Obrigatório para fãs!
Além de “O intendente Sansho”, no box “O cinema de Mizoguchi – vol.2” temos outros cinco excelentes trabalhos do cineasta: “A mulher infame” (1954), “Crisântemos tardios” (1939), “Elegia a Osaka” (1936), “Os músicos de Gion” (1953) e “Rua da vergonha” (1956) - todos restaurados, e mais de uma hora de extras imperdíveis.


O intendente Sansho (Sanshô dayû/ Sansho the bailiff). Japão, 1954, 123 min. Drama. Dirigido por Kenji Mizoguchi. Distribuição: Versátil Home Video