Godzilla (1954)
No
Japão da década de 50, um gigantesco réptil jurássico emerge do oceano após
milhões de anos adormecido. Rumo à Tóquio, o monstro, apelidado de Godzilla,
destrói tudo o que encontra pelo caminho. Forças militares e expedicionárias
mobilizarão toda a sociedade para deter o perigosíssimo animal.
Marco
do cinema japonês de ficção científica, o clássico original “Godzilla” (1954) é
uma fita-referência para o gênero, muito apreciada pelos fãs. Fez tanto sucesso
que abriu franquia (teve uma versão recente, de 2014, bem fraquinha) e gerou
inúmeras imitações. Diante da repercussão dessa primeira experiência de
Godzilla, o próprio diretor e roteirista Ishiro Honda (1911-1983), especializado
na dobradinha sci-fi e disaster movie, refilmou-a para o mercado americano em
1956 mantendo quase tudo no mesmo lugar (inclusive aproveitou cenas), além de
elaborar continuações cada vez mais fantásticas, com o monstrengo jurássico
lutando com criaturas poderosas (Honda teve a maluquice de colocar, no mesmo
filme, o macaco King Kong numa intensa briga desleal com Godzilla).
Voltando
no original, o filme é uma aventura soturna, com uma delicada visão
behaviorista do homem e do seu meio, que dialoga com questões sérias do perigo
nuclear – Godzilla desperta depois de testes com bombas nucleares no oceano. Vale
lembrar que é época de Guerra Fria, e o Japão, nove anos antes, no triste
desfecho da Segunda Guerra, teve nas páginas de sua História uma mancha de
sangue com o terrível ataque a Hiroshima e Nagasaki. Reparem que os personagens
humanos sofrem à beça temendo o fim da humanidade (seja pelo Godzilla ou pela
iminente guerra nuclear) e são conscientes do que causaram ao meio onde vivem.
Ah, antes que eu me esqueça, o monstro é um boneco de um metro e setenta,
vestido por stunts, também revezado em algumas sequências por miniaturas
(algumas cenas de devastação da cidade, ocasionada pelo animal, foram gravadas
a partir de maquetes com rigor de detalhe, ou seja, no mais alto nível dos
antigos truques visuais).
O
roteiro, da dupla Ishiro Honda e Takeo Murata, foi baseado na história de Shigeru
Kayama, e é tratado de maneira uniforme, direta e sem final feliz. Não espere
um entretenimento aberto a alívio cômico (comum nos dias de hoje), pois a linha
de trabalho de Honda, aqui, com mão pesada demais, é para provocar reflexão.
Assim, como produto de cinema, o original “Godzilla” ainda assombra e é sem
dúvida o melhor exemplar da franquia.
O
filme acaba de ser lançado em DVD no Brasil, pela primeira vez, e a cópia está
excelente (pela distribuidora Obras-primas). Sai em um decente box chamado
“Godzilla Origens”, com outros duas obras: “Godzilla, o rei dos monstros”
(1956), o remake norte-americano dirigido pelo mesmo Ishiro Honda, com co-direção
de Terry O. Morse, e “O monstro do mar” (1953), uma fita precursora do
original, mas sem classificação do monstro Godzilla. Por Felipe Brida
Godzilla
(Gojira). Japão, 1954, 96 min. Ação. Preto-e-branco. Dirigido por Ishirô Honda.
Distribuição: Obras-primas
* Publicado na coluna Middia Cinema, na revista Middia Magazine, edição agosto/setembro de 2015
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