Vício frenético
Na
Nova York da década de 90, um tenente policial (Harvey Keitel) viciado em
drogas assume o difícil caso do estupro de uma freira ocorrido no Harlem.
Agressivo, corrupto e desequilibrado, ele procura a redenção durante as investigações
do crime, ao mesmo tempo em que aposta tudo em um jogo de baseball.
O
conturbado cineasta independente Abel Ferrara dirigiu, com assombrosa precisão
técnica, essa complexa fita seminal do início dos anos 90, que ainda gera
polêmicas. A partir de um fato real - o estupro de duas freiras no Harlem
hispânico, que chocou a mídia norte-americana e foi apontado como um dos crimes
mais brutais de Nova York – Ferrara escreveu o roteiro em duas semanas, junto
com a atriz Zoë Lund (morta prematuramente em 1999, aos 37 anos, em decorrência
de overdose). A dupla optou não pelo enfoque no estupro, mas no mergulho ao
inferno do tenente policial drogado, viciado em jogos também, saturando-se dia
a dia no barulho incansável e nos guetos perigosos de uma Nova York obscura.
Harvey
Keitel arrebenta em cena, no papel desafiador do perturbado policial, sem nome
(só chamado de “tenente”), desconfiado daqueles que o cercam, movido a cocaína no
trabalho e que participa de orgias (o ator aparece nu em uma cena estilizada
primorosa, no quarto vermelho com prostitutas), além de abusar do poder para
ameaçar mulheres à noite enquanto se masturba na frente delas. Dá para sentir
que filme não tem concessões (nem no fatídico desfecho), apresentando
sequências fortes de uso de drogas e sexo (é marcante a cena do estupro da
freira dentro da igreja, profanada pelos bandidos, que quebram santos, saqueiam
objetos religiosos e arremessam hóstias pelo altar).
Ferrara,
sempre irremediável, aqui opina, de um lado, sobre a corrupção na corporação policial
de Nova York, e de outro, a hipocrisia de uma sociedade suja, há muito tempo em
estado de putrefação.
Vencedor
do prêmio de melhor ator no Independent Spirit Award (e indicado a outros dois,
de melhor filme e diretor), “Vício frenético” foi inteiramente rodado nas ruas
de Nova York, feito com baixo orçamento (produção independente, de U$ 1
milhão). É o melhor trabalho do diretor, que recorre de forma constante a
personagens autodestrutivos e temáticas sufocantes da atualidade, como fez em “O
rei de Nova York” (1990) e em “Olhos de serpente” (1993 – novamente com Harvey
Keitel, com participação de Madonna).
Acaba
de sair em DVD pela Versátil, em versão restaurada, com extras (entrevistas do
diretor e elenco) e trailer. Conheçam essa obra original, de impacto, e descartem
o insuportável remake de 2009 de mesmo título, dirigido por Werner Herzog, com o
canastrão Nicolas Cage. Já em DVD para locação e venda. Por Felipe Brida
Vício frenético (Bad lieutenant).
EUA, 1992, 96 min. Drama/Policial. Dirigido por Abel Ferrara. Distribuição:
Versátil Home Video
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