Reino
da Dinamarca, século XVIII. A inglesa Caroline Mathilde (Alicia Vikander) casa-se
com o herdeiro do trono da Dinamarca, rei Christian VII (Mikkel Boe Følsgaard).
O monarca sofre de distúrbios mentais, e a realeza contrata um médico
particular para tratar da autoridade. O convocado é o alemão Johann Struensee (Mads
Mikkelsen), de ideais iluministas. Em menos de uma semana Christian VII adota o
médico como seu principal conselheiro, promovendo-o a chefe do exército
dinamarquês. Com a saúde debilitada, o rei não percebe que Johann mantém um
romance secreto com a rainha, relacionamento este que pode colocar o país em
risco.
Indicado
ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2013, representante da Dinamarca, “O
amante da rainha” traça um breve painel sobre a Dinamarca no século XVIII,
quando a Revolução Francesa e o Iluminismo viraram força-motriz na Europa e
mobilizaram intelectuais da época. A partir de uma história real inusitada, o
da traição da bela rainha com um médico, braço direito do rei insano, o drama
histórico, baseado no romance de Bodil Steensen-Leth, reconstitui a biografia
de um monarca contraditório, temível em seus atos sórdidos e de comportamento
suspeito. Rei Cristiano VII (1749-1808), que comandou a Dinamarca e a Noruega
por quatro décadas, repetiu o casamento do pai, que se juntou com uma inglesa.
Com Caroline Mathilde, teve dois filhos – Frederico, rei sucessor dele, e
Luísa, duquesa. Acredita-se, e o filme deixa em franca evidência, que sofria de
esquizofrenia de grau elevado. Por isso mandava e desmandava, dava sinais de
transtorno bipolar etc. Sem suspeitar do caso extraconjugal da esposa, deu amplos
poderes ao médico-conselheiro. Com um grupo, o esperto homem, querido pela
sociedade, mas rejeitado pela corte que sabia da traição, coordenou o país mais
que o próprio rei, promovendo reformas liberais em face da explosão do
Iluminismo.
Os
fatos mencionados acima estão bem detalhados nesse excelente drama biográfico
do rei Christian, desconhecida dos brasileiros. O diretor dinamarquês Nikolaj
Arcel, roteirista do sueco “Os homens que não amavam as mulheres” (2009), move,
com precisão artística, duas tramas à parte: uma de cunho histórico - a da
personalidade perturbada do rei e seu governo capenga, e outra romântica, a do
caso secreto da rainha com o médico (mas cuidado, romance nórdico costuma ser
frio, distanciado, como aqui também o é).
Particularmente
é um filme belíssimo, com elementos deslumbrantes, cores escuras, direção de
arte e fotografia barrocas, e um elenco impecável, com um trio de tirar o
chapéu: o impronunciável Mikkel Boe Følsgaard, como o rei insano e violento, dá
um show à parte; a jovem atriz sueca Alicia Vikander, de apenas 25 anos,
interpreta super bem a rainha dividida; e o dinamarquês Madds Mikkelsen, um dos
meus atores favoritos, vive o médico alemão, numa atuação para se aplaudir de
pé – ele já se tornou rosto conhecido dos brasileiros por ter feito o vilão em “007:
Cassino Royale”, assim como trabalhou no soberbo “A caça” e atualmente pode ser
visto como Hannibal Lecter no seriado homônimo.
Rodado
em Praga, na República Tcheca, o filme foi um fiasco medonho na estreia
americana – arrecadou míseros U$ 39 mil, em novembro do ano passado. Uma pena.
Agoa em DVD, “O amante da rainha”, na minha opinião, deve ser filme obrigatório
para historiadores e cinéfilos em geral. Não perca a chance de conhecer essa
importante obra realista de um cinema que pouco temos acesso, o dinamarquês,
que vem crescendo a cada ano. Por Felipe Brida
O
amante da rainha (En
kongelig affære). Dinamarca/Suécia/República Tcheca, 2012, 137 min. Drama.
Dirigido por Nikolaj Arcel. Distribuição: Paramount Pictures
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