O
árabe Mahmud Nasir (Omid Djalili) é proprietário de uma pequena empresa de táxi
em Londres. Sujeito de bom coração, tem uma vida tranqüila e muito saudável com
a esposa e o filho adolescente. Até o dia em que descobre, no cartório, por meio
de sua certidão de nascimento, que fora adotado ainda bebê. Não bastasse esse
baque, fica desnorteado ao saber que tem legítimo sangue judeu! Mahmud entra em
conflito existencial e espiritual, pensa em suicídio e começa a enlouquecer.
Uma
revelação surpreendente essa comédia inglesa pouco conhecida do público, apenas
exibida no Festival de Tribecca (aquele organizado por Robert De Niro). Brinca
com temas sérios, zombando, sem ofensas, árabes e judeus, num divertido estudo
sobre comportamento humano.
Quem
protagoniza a história é o ótimo comediante de nome sonoro, Omid Djalili, stand-up
inglês descendente de iranianos mais lembrado por “A múmia” (1999). Ele
interpreta um pacato muçulmano, com tendências neuróticas, que briga por causa
da religião. E vai brigar com o mundo inteiro quando leva uma “cacetada” ao
descobrir que foi adotado e que é judeu, ou seja, pertence, em tese, a um grupo
religioso arquiinimigo da sua família inteira, os árabes. Em uma penosa crise,
nega a nova (e triste) realidade e continuará tentando ser muçulmano. Até que
provem o contrário!
O
filme provoca risos, porém não deixa de ser sério. Toca na questão da
intolerância entre religiões quando mostra as discussões banais entre os
vizinhos árabes e judeus de Mahmud, que quase sempre terminam em pancadaria. Na
rua onde mora convivem grupos opostos, que se ofendem a cada instante, zombam
da religião do outro, num certo clima de discórdia. E repare no conflito
dramático que o protagonista vive, intensamente dividido. Eis ser ou não ser...
Rodado
nas ruas de Londres, “Santa paciência” tem um quê de humor negro e muita
chacota, sempre naquele limite tênue que não desagrada um nem outro. Como a
ironia não desfere ataques a ninguém e não escorrega para a falta de bom senso,
o filme tem resultado brilhante, bem acima da média ou do que poderíamos
esperar sobre o tema. Por isso recomendo com todas as letras.
O
diretor Josh Appignanesi, inglês de carteirinha, só produziu curtas. Aqui teve
a primeira chance de mostrar o talento que reside em sua cabeça inteligente. Por Felipe Brida
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