segunda-feira, 30 de julho de 2012

Cine Lançamento


O homem que mudou o jogo

Gerente de um pequeno time de baseball chamado Oakland A, Billy Beane (Brad Pitt) recebe a missão nada fácil de levantar a equipe. Nas mãos tem pouco apoio e um orçamento reduzido, que mal dá para pagar os atletas. Beane usa a imaginação para criar estratégias de reforçar a equipe contratando jogadores hoje esquecidos, alguns desajustados, outros afastados da arena por abuso de drogas. Com a ajuda do economista recém-formado Peter Brand (Jonah Hill), o gerente aos poucos fará o A’s entrar na lista dos melhores times de baseball do mundo.

Fracassou nos cinemas do mundo inteiro esse bom filme baseado em fatos reais, sobre os bastidores do baseball. Indicado a seis Oscars – filme, ator (Brad Pitt), ator coadjuvante (Jonah Hill), roteiro adaptado, edição e mixagem de som, não levou estatueta alguma. E olha que Brad Pitt dá um show de interpretação, num papel sério e bastante humano. Sem dúvida um dos melhores trabalhos do ator.
Sobre o naufrágio da bilheteria, o motivo é óbvio: só americano entende baseball, esporte típico nos EUA. Brasileiro não conhece as jogadas, as posições, tampouco as estratégias. Por isso nos perdemos nos lances dentro do campo. Coisa difícil o baseball...
Temos a trajetória de um manager esportivo em busca do sucesso a qualquer preço. Pitt é o protagonista, tentando reconstruir, pela base, um time rebaixado. Para tanto, escuta conselhos vitais de um jovem economista (excelente papel do comediante gordinho Jonah Hill, coadjuvante de várias fitas de Judd Apatow). Faz das tripas coração para reerguer o Oakland A (conhecido como A’s), dando chance a jogadores de sucesso no passado, além de outros mais improváveis, como viciados em fase de recuperação. Como contrapartida, enfrenta rivalidade e ameaças dos dirigentes do time, a rejeição dos fãs, o banimento da mídia, do público que reluta em aceitar as mudanças. E não bastasse isto se confronta com um rival à altura (Phillip Seymour Hoffman), que poderá implodir as boas intenções do gerente. Beane dará conta do recado?
“O homem que mudou o jogo”, pelo próprio título, reflete a deslumbrante jornada de um cidadão incumbido de ser o salvador da pátria, ou melhor, de um time de baseball em frangalhos, bem como sua necessidade de se reafirmar como pessoa – Billy Beane existe mesmo, figura desconhecida por nós, e atualmente, aos 50 anos, integra a Liga de Baseball, tendo defendido importantes clubes americanos. A carreira deu certo e influenciou muitos diretores do baseball, tanto pelas artimanhas diferentes de remontar a equipe do A’s como pelos campeonatos vencidos a partir de então.
A história é adaptada do livro de Michael Lewis “Moneyball: The art of winning an unfair game”, ainda inédito no Brasil, com roteiro do premiado Steven Zaillian, vencedor do Oscar na categoria por “A lista de Schindler” (1993). Brad Pitt também produz, e quem dirige é Bennett Miller, o mesmo do contundente drama “Capote” (2005), obra também sobre um personagem em baixa em busca de sucesso profissional a todo custo.
Apesar do baseball não ter sentido para o público brasileiro, o resultado do filme surpreende pela qualidade do elenco, da moral sobre superação (sem ser exagerado ou piegas), da sensibilidade do diretor, do roteiro bem construído. Ou seja, um trabalho específico, para área afins, nascido de uma visível paixão pelo esporte. Por Felipe Brida


O homem que mudou o jogo (Moneyball). EUA, 2011, 133 min. Drama. Dirigido por Bennett Miller. Distribuição: Columbia Tristar

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Cine Lançamento



A invenção de Hugo Cabret

França, 1931. Solitário, o garoto Hugo Cabret (Asa Butterfield), de 12 anos, vive dentro de um relógio na estação de trem de Paris. Ele perdeu o pai, um famoso relojoeiro, em um incêndio. Certo dia, encanta-se com a loja de brinquedos mantida por um misterioso senhor (Ben Kingsley), localizada nos fundos da estação. Ao manter o primeiro contato com o idoso, Hugo dá início a uma incrível jornada ao mundo da fantasia, repleto de descobertas fabulosas.

Grande finalista do Oscar 2012, “A invenção de Hugo Cabret” é uma espetacular aventura em tom de conto de fadas, com pano de fundo real – os primórdios do cinema francês. Sem possibilidade de errar, o melhor filme do ano e um deleite para os entendidos da Sétima Arte.
Recebeu o maior número de indicações ao prêmio da Academia (11 no total), incluindo melhor filme e diretor, levando para casa apenas cinco, todas de categoria técnica: direção de arte, efeitos visuais, fotografia, edição de som e mixagem de som. Mais que merecidos! E por pouco não ganhou outros, já que a crítica e o público em geral ficaram encantados com o mais novo projeto pessoal (e diferente) do notório Martin Scorsese.
Assim como “O artista” (o vitorioso da noite), “Hugo” presta uma singela e belíssima homenagem à História do cinema, mais precisamente ao país onde ele nasceu, a França dos irmãos Lumiére. A vida do moleque Hugo Cabret encontra paralelo com a do cineasta George Méliès (1861-1938), o principal diretor de cinema na França do início do século, realizador de curtas de ficção e comédia, famosas pelas trucagens a partir de mágicas ilusionistas, cenários ornamentados e personagens míticos. O filme tem uma surpresa a partir da metade da história, portanto não quero estragar esse entretenimento de primeira linha. Apenas para situar, Méliès será figura forte na trama. Um produtor/ator/diretor/figurinista que morreu pobre após perder o estúdio que havia montado com recursos próprios (onde rodava seus filmes artesanais). Ou seja, “Hugo” faz um recorte real, com exatidão na biografia de Méliès. E preparem-se para surpresas agradáveis!
Baseado no livro ilustrado “The invention of Hugo Cabret” (de Brian Selznick, primo do lendário produtor de cinema David O. Selznick), o filme acompanha as peripécias desse rapaz pobre que mora em um relógio antigo, na estação de trem de Paris. E do alto observa a rotina de encontros e despedidas dos passageiros sempre rindo das figuras engraçadas que o cerca (policiais, floristas, pintores, garçons). Até que a rotina morna do garoto se transforma em mágica após o primeiro encontro com um velhinho rabugento, que conserta brinquedos na estação.
Scorsese, amante inveterado do cinema, estudou a fundo a ideia que pretendia contar nas telas. Inspirado fez um filme de pesquisa, incrivelmente estilizado. Inclusive outra figura marcante, o autômato, o robô, existiu – foi criado no final do século XVIII e hoje continua exposto no museu suíço de Neuchatel.
Um espetáculo visual, com história emocionante sobre os sonhos da infância, mesclando drama e aventura de bom gosto, que agrada jovens e adultos (crianças não, porque não há animação, e a história é séria demais para elas).
Rodado em dois estúdios na Inglaterra, o filme reúne um elenco adequado para os papéis, contando com bons atores jovens. Asa Butterfield interpreta o cativante Hugo e Chloë Grace Moretz é Isabelle, filha adotiva do dono da loja de brinquedos. Tem Ben Kingsley (sempre enigmático, aqui como o velhinho), Sacha Baron Cohen, o “Borat” e “Bruno”, como o inspetor policial da estação, e ainda participações menores de Jude Law (o pai de Hugo, que morre numa explosão), Christopher Lee (o livreiro) e Emily Mortimer (a florista da estação).
Howard Shore assina a charmosa trilha sonora. Quer mais? Só mesmo assistindo para garantir a diversão. E não duvido que logo “Hugo” será considerado obra-prima. Por Felipe Brida

A invenção de Hugo Cabret (Hugo). EUA, 2011, 126 min. Aventura. Dirigido por Martin Scorsese. Distribuição: Paramount Pictures

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Cine Lançamento

Footloose
O jovem Ren (Kenny Wormald) muda-se de Boston para uma pequena cidade do sudeste americano. Lá a música e a dança são proibidas. Tudo por causa de uma lei criada pelo reverendo Shaw Moore (Dennis Quaid), devido a um trágico acidente que matou seu filho e outros rapazes na saída de uma boate. Ren não aceita as condições; logo se apaixona pela filha rebelde do religioso, Ariel (Julianne Hough), e o desafia ao incentivar os jovens da cidade a reativar locais para dança.
Descartável refilmagem de “Footloose – Ritmo louco” (1984), fita romântica com lado musical que serviu de veículo para lançar Kevin Bacon. O original veio na onda dos videoclipes e não era mil maravilhas, no entanto bem superior a essa produção modesta, que se apropriou descaradamente da grande parte da trilha sonora do antigo, agora em novas versões, como o tema "Footloose", e outras de sucesso, a destacar "Almost paradise", "Holding out for a hero" e "Let's hear it for the boy".
Tudo ficou mais teen, inclusive a modalidade de dança meio country. Há as mesmas intrigas – o reverendo versus o rapaz com ideias liberais, por exemplo, o romance dos personagens centrais (no caso a filha do religioso com o protagonista) etc. Ou seja, o roteiro permanece intacto, com elementos idênticos ao filme de 1984.
Abriu em mais de 3,5 mil salas de cinema nos EUA, rendendo U$ 51 milhões, quase o dobro do orçamento da produção. Teve, portanto, moderado sucesso lá fora, principalmente pela pegada jovem, que atrai o público adolescente, o mais interessado por um projeto desse nível.
Além da história repetida, outras questões atrapalham o bom andamento do suspeito remake: os atores coadjuvantes, de nomes fortes, aparecem de maneira imperceptível. Exceto Dennis Quaid como o vilão, Kim Dickens e Andie MacDowell tem participação mínima, sem configuração alguma na trama.
O curioso diretor Craig Brewer teve passagens mais memoráveis pelo cinema, em especial com duas fitas interessantes e cultuadas – a ganhadora do Oscar "Ritmo de um sonho" (2005) e o bizarro "Entre o céu e o inferno" (2006). Infelizmente perdeu a linha nesse projeto menos criativo.
“Footloose” não aborrece, entretanto não empolga e nunca convence. A refilmagem poderia nem ter existido, pra falar a verdade. Recomendo a primeira versão, também de propriedade da Paramount Pictures, que a relançou recentemente no mercado brasileiro. Por Felipe Brida

Footloose (Idem). EUA, 2011, 113 min. Romance/Musical. Dirigido por Craig Brewer. Distribuição: Paramount Pictures

domingo, 22 de julho de 2012

Resenha



Santa paciência

O árabe Mahmud Nasir (Omid Djalili) é proprietário de uma pequena empresa de táxi em Londres. Sujeito de bom coração, tem uma vida tranqüila e muito saudável com a esposa e o filho adolescente. Até o dia em que descobre, no cartório, por meio de sua certidão de nascimento, que fora adotado ainda bebê. Não bastasse esse baque, fica desnorteado ao saber que tem legítimo sangue judeu! Mahmud entra em conflito existencial e espiritual, pensa em suicídio e começa a enlouquecer.

Uma revelação surpreendente essa comédia inglesa pouco conhecida do público, apenas exibida no Festival de Tribecca (aquele organizado por Robert De Niro). Brinca com temas sérios, zombando, sem ofensas, árabes e judeus, num divertido estudo sobre comportamento humano.
Quem protagoniza a história é o ótimo comediante de nome sonoro, Omid Djalili, stand-up inglês descendente de iranianos mais lembrado por “A múmia” (1999). Ele interpreta um pacato muçulmano, com tendências neuróticas, que briga por causa da religião. E vai brigar com o mundo inteiro quando leva uma “cacetada” ao descobrir que foi adotado e que é judeu, ou seja, pertence, em tese, a um grupo religioso arquiinimigo da sua família inteira, os árabes. Em uma penosa crise, nega a nova (e triste) realidade e continuará tentando ser muçulmano. Até que provem o contrário!
O filme provoca risos, porém não deixa de ser sério. Toca na questão da intolerância entre religiões quando mostra as discussões banais entre os vizinhos árabes e judeus de Mahmud, que quase sempre terminam em pancadaria. Na rua onde mora convivem grupos opostos, que se ofendem a cada instante, zombam da religião do outro, num certo clima de discórdia. E repare no conflito dramático que o protagonista vive, intensamente dividido. Eis ser ou não ser...
Rodado nas ruas de Londres, “Santa paciência” tem um quê de humor negro e muita chacota, sempre naquele limite tênue que não desagrada um nem outro. Como a ironia não desfere ataques a ninguém e não escorrega para a falta de bom senso, o filme tem resultado brilhante, bem acima da média ou do que poderíamos esperar sobre o tema. Por isso recomendo com todas as letras.
O diretor Josh Appignanesi, inglês de carteirinha, só produziu curtas. Aqui teve a primeira chance de mostrar o talento que reside em sua cabeça inteligente. Por Felipe Brida

Santa paciência (The infidel). Inglaterra, 2010, 105 min. Comédia. Dirigido por Josh Appignanesi. Distribuição: Imagem Filmes

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Cine Lançamento



A perseguição

Funcionários de uma refinaria de petróleo no Alaska viajam de avião para reconhecer novas áreas de exploração. Só que uma pane derruba a aeronave, matando grande parte da tripulação. Os sobreviventes, liderados pelo atirador Ottway (Liam Neeson), bolam uma mirabolante estratégia para escapar do frio, já que o grupo está isolado em uma imensa área inóspita, sem comida ou casa por perto. Em poucas horas Ottway e seus colegas descobrirão um inimigo mortal, faminto por carne humana.

Depois do colapso nervoso devido à trágica morte da esposa – a atriz Natasha Richardson (em março de 2009, gravemente ferida na pista de esqui), Liam Neeson, ano a ano, protagoniza fitas policiais nervosas, quase sempre com resultado e bilheteria acima da média, como “Busca implacável” e “Desconhecido”. Prestes a completar seis décadas de idade, resolveu, novamente, participar de uma fita de ação e suspense, bem movimentada, que se passa no gelo atordoante do Alaska. “A perseguição” funciona bem, com perseguições aos montes, resultando em uma história de sobrevivência.Neeson interpreta um matador de animais, contratado para defender os funcionários da empresa de petróleo dos ataques de lobos selvagens. Ele vive amargurado, pensando numa mulher que não sabemos ao certo quem seja (uma provável namorada ou esposa, que o abandonou, sempre mostrada em flashbacks). Divide o alojamento com empregados da firma, todos a escória da sociedade – bandidos, assassinos, presidiários, que prestam serviços braçais no local.
Numa viagem de distância curta, o avião que os transporta cai. No meio de muitos mortos, sete saem feridos, e iniciam uma jornada em busca de abrigo. Só que no calar da noite, uma alcateia de lobos gigantes passa a atacar o grupo de sobreviventes, eliminando-os um a um.
Os animais aparecem a partir da metade, o que transforma, de ponta cabeça, a trama, que vira um bom filme de perseguição infernal, um jogo de gato e rato (ou melhor, homem e lobo!). Não poderiam faltar mortes grotescas, sustos e elementos do gênero.
Isolados no fim do mundo, o atirador e a equipe de homens bravos são alvo, como presa, dos bichos malditos. Por isso terão de usar a imaginação para criar artimanhas de sobrevivência.
Não são apenas os lobos os inimigos cruéis: tem ainda o frio aterrador, outra preocupação para os personagens.
Não deixe de conferir esse bom entretenimento, eficaz e com uma autêntica fotografia e cenários ‘brancos’, rodado nas locações frias da Columbia Britânica (Canadá). O desfecho ambíguo encerra com presteza o filme, aberto a interpretações diversas.
Assina a direção e o roteiro o competente Joe Carnahan, especialista em policiais, como o duro “Narc” (2002), que concorreu ao Grande Prêmio em Sundance, “A última cartada” (2006) e “Esquadrão classe A” (2010). Por Felipe Brida

A perseguição (The grey). EUA, 2011, 117 min. Ação. Dirigido por Joe Carnahan. Distribuição: Swen Filmes