Novo longa-metragem do cineasta
mineiro Rafael Conde, dos premiados curtas ‘A hora vagabunda’ (1998) e ‘Françoise’
(2001). Esse seu terceiro longa é um drama íntimo, contundente e necessário, baseado
na vida de José Carlos Novais da Mata Machado, o ‘Zé’ (1946-1973), jovem líder
do movimento estudantil que integrou a Ação Popular Marxista-Leninista (APML), que
lutou contra a ditadura militar no Brasil nos anos 70. De família de classe
média de Minas Gerais – ele era filho do jurista e deputado Edgar da Mata
Machado, foi perseguido pela ditadura, entrou para a clandestinidade e mudou-se
para o Nordeste para ajudar na alfabetização dos mais pobres. Até ser preso,
torturado e morto no DOI-Codi de Recife, aos 27 anos.
Quem interpreta Zé é o
ator Caio Horowicz, de ‘Califórnia’ (2015), num de seus melhores trabalhos no
cinema. Ele dá alma e o tom de voz certo para o personagem. O filme foge de clichês
e violência, adotando uma narrativa moderna e até disruptiva – em vários
momentos o protagonista narra sua vida olhando para a frente das câmeras, numa
quebra da quarta parede.
Também baseado no livro
de mesmo nome do escritor cearense Samarone Lima, o filme está em exibição nos
cinemas brasileiros pelas Embaúba Filmes.
Cidade; campo (2024)
Outro bom filme
brasileiro chega às salas de cinema de todo o Brasil. ‘Cidade; campo’ é o novo
longa de Juliana Rojas, premiada diretora que dirigiu com Marco Dutra os filmes
de terror psicológico com drama ‘Trabalhar cansa’ (2011) e ‘As boas maneiras’ (2017).
Agora, novamente, ela faz um filme de drama com mistério e certo tom sobrenatural,
que resulta num dos melhores filmes brasileiros do ano. São duas histórias
sobre migração de mulheres que lidam com fantasmas do passado. Na primeira, uma
trabalhadora rural (atuação impressionante da atriz e bailarina Fernanda Vianna)
muda-se do interior de Minas Gerais para São Paulo, após sua propriedade ser
devastada pelo rompimento de uma barragem. Ela vai morar com a irmã e o
sobrinho e consegue um trabalho temporário de faxineira. Só que estranhos
pesadelos e visões tumultuarão os dias dela. Na segunda história, um casal de namoradas
(Mirella Façanha e Bruna Linzmeyer, ambas muito bem e se estregando em cenas
ousadas de sexo), saem da cidade e vão para o campo, para a fazenda do pai de
uma delas que acabou de falecer. No meio do nada, as duas enfrentam frustrações
e tormentos. As histórias são diferentes e ao mesmo tempo complementares, tudo
alinhado com uma bonita fotografia e o ótimo trabalho das atrizes e da
diretora.
Coprodução Brasil/França/Alemanha,
o filme ganhou o prêmio de direção no ‘Encontros’, do Festival de Berlim, e os prêmios
do júri da crítica e de atriz para Fernanda Vianna no Festival de Gramado desse
ano. Está nos cinemas na programação do projeto ‘Sessão Vitrine Petrobras’, distribuído
pela Vitrine Filmes.
Pets em ação! (2024)
Animação movimentada,
colorida e bem ingênua voltada para as crianças, sobre dois animais numa
aventura maluca pelas ruas de uma cidade. Eles são um gato, que era de rua e
foi adotado, e uma cachorrinha de raça. Quando seus tutores os levam para uma
viagem, os dois se perdem no aeroporto. De temperamentos opostos, eles terão de
deixar as diferenças de lado para encontrar o caminho de volta para casa. E a
aventura começa aí – será uma jornada de amadurecimento, conflitos e perigos
que os dois irão se deparar ao lado de novos amigos que cruzarão com eles pela
cidade. Coprodução EUA/Canadá/África do Sul, na versão original as vozes são de
nomes de peso do cinema - Bill Nighy, Susan Sarandon, Alicia Silverstone, Danny
Trejo e Brooke Shields; aqui no Brasil o filme estreia dublado. Achei
bacaninha, um passatempo rápido, porém agradará mais os pequeninos. Nos cinemas
pela Imagem Filmes.
Fernanda Young:
Foge-me ao controle (2024)
Um documentário forte e
estiloso que tem traços de ensaio sobre a escritora, roteirista de cinema e
apresentadora Fernanda Young (1970-2019), que morreu precocemente aos 49 anos
deixando uma vasta obra literária que, acredito eu, não tem o devido reconhecimento.
A premiada diretora Susanna Lira, de ‘Torre das donzelas’ (2018), ‘Mussum, um
filme do cacildis’ (2019) e ‘A mãe de todas as lutas’ (2022), opta por uma
narrativa nada convencional de documentários biográficos – não há preocupação
com cronologias nem linearidade, o filme é invadido por momentos de puro êxtase
de Fernanda da juventude aos momentos finais, com narrações dela mesma e de
narradores convidados lendo seus textos - ela era uma fera com sua escrita nua
e crua, e o doc capta a essência da escritora/roteirista. Exibido no Festival É
Tudo Verdade desse ano, estreou esse fim de semana nos cinemas brasileiros, distribuído
pela Synapse.
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