domingo, 1 de setembro de 2024

Estreias da semana - Nos cinemas


Zé (2023)

 

Novo longa-metragem do cineasta mineiro Rafael Conde, dos premiados curtas ‘A hora vagabunda’ (1998) e ‘Françoise’ (2001). Esse seu terceiro longa é um drama íntimo, contundente e necessário, baseado na vida de José Carlos Novais da Mata Machado, o ‘Zé’ (1946-1973), jovem líder do movimento estudantil que integrou a Ação Popular Marxista-Leninista (APML), que lutou contra a ditadura militar no Brasil nos anos 70. De família de classe média de Minas Gerais – ele era filho do jurista e deputado Edgar da Mata Machado, foi perseguido pela ditadura, entrou para a clandestinidade e mudou-se para o Nordeste para ajudar na alfabetização dos mais pobres. Até ser preso, torturado e morto no DOI-Codi de Recife, aos 27 anos.
Quem interpreta Zé é o ator Caio Horowicz, de ‘Califórnia’ (2015), num de seus melhores trabalhos no cinema. Ele dá alma e o tom de voz certo para o personagem. O filme foge de clichês e violência, adotando uma narrativa moderna e até disruptiva – em vários momentos o protagonista narra sua vida olhando para a frente das câmeras, numa quebra da quarta parede.
Também baseado no livro de mesmo nome do escritor cearense Samarone Lima, o filme está em exibição nos cinemas brasileiros pelas Embaúba Filmes.

 


 

Cidade; campo (2024)

 

Outro bom filme brasileiro chega às salas de cinema de todo o Brasil. ‘Cidade; campo’ é o novo longa de Juliana Rojas, premiada diretora que dirigiu com Marco Dutra os filmes de terror psicológico com drama ‘Trabalhar cansa’ (2011) e ‘As boas maneiras’ (2017). Agora, novamente, ela faz um filme de drama com mistério e certo tom sobrenatural, que resulta num dos melhores filmes brasileiros do ano. São duas histórias sobre migração de mulheres que lidam com fantasmas do passado. Na primeira, uma trabalhadora rural (atuação impressionante da atriz e bailarina Fernanda Vianna) muda-se do interior de Minas Gerais para São Paulo, após sua propriedade ser devastada pelo rompimento de uma barragem. Ela vai morar com a irmã e o sobrinho e consegue um trabalho temporário de faxineira. Só que estranhos pesadelos e visões tumultuarão os dias dela. Na segunda história, um casal de namoradas (Mirella Façanha e Bruna Linzmeyer, ambas muito bem e se estregando em cenas ousadas de sexo), saem da cidade e vão para o campo, para a fazenda do pai de uma delas que acabou de falecer. No meio do nada, as duas enfrentam frustrações e tormentos. As histórias são diferentes e ao mesmo tempo complementares, tudo alinhado com uma bonita fotografia e o ótimo trabalho das atrizes e da diretora.
Coprodução Brasil/França/Alemanha, o filme ganhou o prêmio de direção no ‘Encontros’, do Festival de Berlim, e os prêmios do júri da crítica e de atriz para Fernanda Vianna no Festival de Gramado desse ano. Está nos cinemas na programação do projeto ‘Sessão Vitrine Petrobras’, distribuído pela Vitrine Filmes.

 


 

Pets em ação! (2024)

 

Animação movimentada, colorida e bem ingênua voltada para as crianças, sobre dois animais numa aventura maluca pelas ruas de uma cidade. Eles são um gato, que era de rua e foi adotado, e uma cachorrinha de raça. Quando seus tutores os levam para uma viagem, os dois se perdem no aeroporto. De temperamentos opostos, eles terão de deixar as diferenças de lado para encontrar o caminho de volta para casa. E a aventura começa aí – será uma jornada de amadurecimento, conflitos e perigos que os dois irão se deparar ao lado de novos amigos que cruzarão com eles pela cidade. Coprodução EUA/Canadá/África do Sul, na versão original as vozes são de nomes de peso do cinema - Bill Nighy, Susan Sarandon, Alicia Silverstone, Danny Trejo e Brooke Shields; aqui no Brasil o filme estreia dublado. Achei bacaninha, um passatempo rápido, porém agradará mais os pequeninos. Nos cinemas pela Imagem Filmes.

 


 

Fernanda Young: Foge-me ao controle (2024)

 

Um documentário forte e estiloso que tem traços de ensaio sobre a escritora, roteirista de cinema e apresentadora Fernanda Young (1970-2019), que morreu precocemente aos 49 anos deixando uma vasta obra literária que, acredito eu, não tem o devido reconhecimento. A premiada diretora Susanna Lira, de ‘Torre das donzelas’ (2018), ‘Mussum, um filme do cacildis’ (2019) e ‘A mãe de todas as lutas’ (2022), opta por uma narrativa nada convencional de documentários biográficos – não há preocupação com cronologias nem linearidade, o filme é invadido por momentos de puro êxtase de Fernanda da juventude aos momentos finais, com narrações dela mesma e de narradores convidados lendo seus textos - ela era uma fera com sua escrita nua e crua, e o doc capta a essência da escritora/roteirista. Exibido no Festival É Tudo Verdade desse ano, estreou esse fim de semana nos cinemas brasileiros, distribuído pela Synapse.



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