Disputa pelo controle de água de uma propriedade no velho oeste explode num ato de ambição, honra e vingança em uma cidade abandonada do deserto norte-americano.
Monumental, extraordinário, um feito único do
cinema! ‘Era uma vez no oeste’ permanece intacto como um dos maiores
clássicos do western, que atravessa gerações. Sem contar que é uma aula de
estética, que recorre ao barroco e ao operístico para contar uma história suja
de vingança e opressão no velho oeste.
O filme tem personagens complexos, com muitas
camadas. Uma disputa pelo controle de água de uma propriedade no deserto reúne
uma ex-prostituta (Claudia Cardinale), viúva do dono das terras e herdeira, que
também perdeu os filhos numa chacina; um bandido acorrentado, Cheyenne (Jason
Robards); um pistoleiro de preto com toda sua vilania, conhecido como ‘Anjo da
morte’ (Henry Fonda); um misterioso gaiteiro que atira pra matar, que não tem
nome e é apenas conhecido por ‘Harmônica’ (Charles Bronson); e um senhor
paraplégico conhecido como ‘Barão das ferrovias’ (Gabriele Ferzetti). Eles se encontram
numa terra seca que vale milhões, na época da Corrida do Ouro, quando se
expandiram as ferrovias pelos Estados Unidos, na metade do século XIX. Aquela
região foi cortada de ponta a ponta pelos trilhos de trem, com isso iniciou-se
o desenvolvimento das cidades. E ao mesmo tempo se transformaria em
terras-sem-lei, tomada por bandidos, xerifes corruptos e gente inocente sendo
massacrada. Esse é o pano de fundo desse western spaghetti metade filmado na
Itália (nos estúdios da Cinecittá) e metade nos EUA (em locações como Monument
Valley, no Arizona, e nos estúdios da Paramount Pictures), e parte das cenas
gravadas no deserto de Tabernas, na Espanha.
Como define o próprio Leone sobre seu filme: “O ritmo
do filme pretendeu criar a sensação dos últimos suspiros que uma pessoa exala
antes de morrer. ‘Era uma vez no Oeste’ é, do começo ao fim, uma dança da
morte. Todos os personagens do filme, exceto Claudia Cardinale, têm consciência
de que não chegarão vivos ao final”.
Dois roteiristas que viriam a ser grandes diretores davam
os primeiros passos no cinema com esse filme, Dario Argento e Bernardo
Bertolucci, que criaram o argumento junto de Sergio Leone.
Leone iniciaria com ‘Era uma vez no oeste’ uma
trilogia sobre a América – em seguida veio o barulhento e também barroco e
violento ‘Quando explode a vingança’ (1971), sobre a Revolução Mexicana, e o
inigualável drama com policial ‘Era uma vez na América’ (1984), uma longa e
enternecida saga sobre a formação da máfia judaica em Nova York.
Primoroso, ‘Era uma vez no oeste’ causa deslumbre
pelos enquadramentos diferenciados e a trilha memorável de Ennio Morricone, um
de meus favoritos – já começa com uma cena que deixa o público com o coração na
mão, muito criativa, silenciosa e cheia de ângulos inusitados, quando três pistoleiros
(Jack Elam, Al Mulock e Woody Strode) aguardam a vinda de um trem numa estação
isolada, no calorão do deserto, e quando ele chega, escutam um som sinistro de
uma gaita – a música do gaiteiro fica na memória, é o som da morte.
É um filme que aprendi a gostar e sempre revisito. Recentemente o reassisti na ótima cópia em bluray que saiu pela Paramount Pictures dois anos atrás. O filme está disponível nessa versão e em DVD duplo – ambas com mais de uma hora de extras. As duas versões disponíveis no Brasil são as de cinema, de 165 minutos – há uma estendida, nunca lançada em mídia física, de 177 minutos, e outras com cortes, como a de estreia americana, de 145 minutos, e uma de 137 minutos lançada na Finlândia. Procure ver em bluray, com imagem e som altamente nítidos.
Era uma vez no Oeste (Once upon a time in the west). EUA/Itália,
1968, 165 minutos. Faroeste. Colorido. Dirigido por Sergio Leone. Distribuição:
Paramount Pictures
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