quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Resenha especial



Era uma vez no Oeste

Disputa pelo controle de água de uma propriedade no velho oeste explode num ato de ambição, honra e vingança em uma cidade abandonada do deserto norte-americano.

Monumental, extraordinário, um feito único do cinema! ‘Era uma vez no oeste’ permanece intacto como um dos maiores clássicos do western, que atravessa gerações. Sem contar que é uma aula de estética, que recorre ao barroco e ao operístico para contar uma história suja de vingança e opressão no velho oeste.
O filme tem personagens complexos, com muitas camadas. Uma disputa pelo controle de água de uma propriedade no deserto reúne uma ex-prostituta (Claudia Cardinale), viúva do dono das terras e herdeira, que também perdeu os filhos numa chacina; um bandido acorrentado, Cheyenne (Jason Robards); um pistoleiro de preto com toda sua vilania, conhecido como ‘Anjo da morte’ (Henry Fonda); um misterioso gaiteiro que atira pra matar, que não tem nome e é apenas conhecido por ‘Harmônica’ (Charles Bronson); e um senhor paraplégico conhecido como ‘Barão das ferrovias’ (Gabriele Ferzetti). Eles se encontram numa terra seca que vale milhões, na época da Corrida do Ouro, quando se expandiram as ferrovias pelos Estados Unidos, na metade do século XIX. Aquela região foi cortada de ponta a ponta pelos trilhos de trem, com isso iniciou-se o desenvolvimento das cidades. E ao mesmo tempo se transformaria em terras-sem-lei, tomada por bandidos, xerifes corruptos e gente inocente sendo massacrada. Esse é o pano de fundo desse western spaghetti metade filmado na Itália (nos estúdios da Cinecittá) e metade nos EUA (em locações como Monument Valley, no Arizona, e nos estúdios da Paramount Pictures), e parte das cenas gravadas no deserto de Tabernas, na Espanha.
Como define o próprio Leone sobre seu filme: “O ritmo do filme pretendeu criar a sensação dos últimos suspiros que uma pessoa exala antes de morrer. ‘Era uma vez no Oeste’ é, do começo ao fim, uma dança da morte. Todos os personagens do filme, exceto Claudia Cardinale, têm consciência de que não chegarão vivos ao final”.
Dois roteiristas que viriam a ser grandes diretores davam os primeiros passos no cinema com esse filme, Dario Argento e Bernardo Bertolucci, que criaram o argumento junto de Sergio Leone.






Leone iniciaria com ‘Era uma vez no oeste’ uma trilogia sobre a América – em seguida veio o barulhento e também barroco e violento ‘Quando explode a vingança’ (1971), sobre a Revolução Mexicana, e o inigualável drama com policial ‘Era uma vez na América’ (1984), uma longa e enternecida saga sobre a formação da máfia judaica em Nova York.
Primoroso, ‘Era uma vez no oeste’ causa deslumbre pelos enquadramentos diferenciados e a trilha memorável de Ennio Morricone, um de meus favoritos – já começa com uma cena que deixa o público com o coração na mão, muito criativa, silenciosa e cheia de ângulos inusitados, quando três pistoleiros (Jack Elam, Al Mulock e Woody Strode) aguardam a vinda de um trem numa estação isolada, no calorão do deserto, e quando ele chega, escutam um som sinistro de uma gaita – a música do gaiteiro fica na memória, é o som da morte.
É um filme que aprendi a gostar e sempre revisito. Recentemente o reassisti na ótima cópia em bluray que saiu pela Paramount Pictures dois anos atrás. O filme está disponível nessa versão e em DVD duplo – ambas com mais de uma hora de extras. As duas versões disponíveis no Brasil são as de cinema, de 165 minutos – há uma estendida, nunca lançada em mídia física, de 177 minutos, e outras com cortes, como a de estreia americana, de 145 minutos, e uma de 137 minutos lançada na Finlândia. Procure ver em bluray, com imagem e som altamente nítidos.

Era uma vez no Oeste (Once upon a time in the west). EUA/Itália, 1968, 165 minutos. Faroeste. Colorido. Dirigido por Sergio Leone. Distribuição: Paramount Pictures

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