Ninguém sai vivo
daqui (2023)
O sequestro do papa (2023)
Grande estreia nos
cinemas hoje, ‘Ninguém sai vivo daqui’ é um drama brasileiro todo rodado num belíssimo
preto-e-branco e baseado num triste contexto real que chocou o Brasil. Na
década de 70, uma jovem é internada à força pelo pai no Hospital Psiquiátrico
Colônia, em Barbacena (MG), por estar grávida. Lá, é alvo de torturas físicas e
psicológicas, ameaçada dia e noite por funcionários. Tenta então escapar do
hospital com ajuda de outros internos.
O roteiro é inspirado no
livro ‘Holocausto brasileiro’, da jornalista Daniela Arbex, e foi escrito pelo diretor
do longa, André Ristum, de ‘A voz do silencio’, ao lado de Marco Dutra, roteirista
e diretor de ‘Trabalhar cansa’, e Rita Gloria Curvo, roteirista de ‘Macabro’. Ristum
já havia discutido o tema na série do Canal Brasil ‘Colônia’, em 2021 – para o
filme, ele utilizou parte do material gravado e incluiu cenas inéditas.
O hospital psiquiátrico Colônia,
na época chamado de hospício, foi uma horrível página da História da saúde
pública no Brasil. Ficou ativo por 70 anos, e no local mais de 60 mil pessoas
morreram, vítimas de práticas desumanas, como tortura, espancamentos e
eletrochoque – histórias reais das vítimas do hospital estão retratadas no ótimo
documentário ‘Holocausto brasileiro’ (2016), disponível na Netflix.
O filme traz um bom
trabalho de Fernanda Marques no papel principal e de coadjuvantes como Andréia
Horta e Augusto Madeira.
Exibido no Festival de
Brasília de 2023, foi produzido pela Sombumbo e TC Filmes, tem coprodução da
Gullane, Geração Entretenimento, Canal Brasil e Karta Film. Distribuição nos
cinemas pela Gullane+.
Outra boa estreia nos
cinemas brasileiros baseada em fato real e com uma história forte e trágica. Indicado
à Palma de Ouro em Cannes e premiado com vários David di Donatello, o Oscar italiano,
o drama, uma coprodução Itália, França e Alemanha, se passa durante uma década,
entre os anos de 1858 e 1870, acompanhando o rapto de uma criança judia, Edgardo
Mortara, por autoridades católicas. O menino, de sete anos, foi sequestrado porque
foi batizado, quando enfermo, por uma empregada católica, e a lei de Roma da
época proibia não-católicos de serem batizados. Edgardo foi retirado de sua
casa, em Bologna, por ordem de Pio IX, e acolhido e bem tratado pelo papa por
muitos anos, até crescer e se tornar sacerdote. Enquanto os pais tentavam resgatar
o filho, a opinião pública se dividiu, fazendo com que a igreja passasse por infindáveis
críticas.
Nome fundamental do cinema
político italiano, o veterano e premiado Marco Bellocchio, de ‘De punhos
cerrados’ e ‘Belos sonhos’, aos 84 anos, dirige e escreve um filme com vigor e consistência.
Realizou uma grande obra de apelo político, com desenho de produção que lembra
documentário, e ênfase nas tramas secundárias de uma história chocante praticamente
esquecida. A estética utilizada parece um quadro pintado do romantismo, com
cores fortes, contrastes e muito jogo de luz e sombra – veja a beleza do poster,
que dá uma ideia do filme que você assistirá.
Não perca esse filme de
vista. Distribuído nos cinemas pela Pandora Filmes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário