Sombra lunar
O agente policial da Filadélfia Lockart (Boyd Holbrook) sai no encalço de um perigoso serial killer que mata a cada nove anos utilizando um método único e brutal, que desafia qualquer explicação científica. Obcecado, o investigador quer respostas a todo custo, enquanto uma estranha contaminação dizima a cidade.
Primeira investida no Netflix do inventivo cineasta Jim Mickle, que havia realizado anteriormente filmes densos e violentos de terror, como “Stake Land” (2010) e “Somos o que somos” (2013), e de uma excelente fita policial indicada ao Grande Prêmio do Júri em Sundance, “Julho sangrento” (2014). Tomou nas mãos dois gêneros para contar uma intrigante história, o thriller e a ficção científica, partindo de uma investigação policial que não sabemos onde vai dar. Utilizou como fundo uma epidemia inexplicável que ataca cidades dos Estados Unidos – aliás, seu primeiro filme para o cinema foi justamente sobre um vírus que se descontrolava em Manhattan, “Mulberry Street - Infecção em Nova York” (2006). Mickle volta às velhas referências de uma praga nesse “Sombra lunar” (2019), e já na abertura do longa presenciamos, horrorizados, pessoas sangrarem pela boca, ouvidos e olhos até caírem mortas. Paralelo a isto, um serial killer está à solta, com um modus operandi bizarro, que dificulta o caso. Tanto o agente Lockart quanto outros departamentos da polícia sairão atrás do criminoso.
Mas onde entra a tal sombra da lua? Pois bem, não posso explicar demais senão darei spoiler, mas antecipo que a trama se passa num intervalo de tempo de quase 40 anos (entre 1988 e 2024), falando de viagem no tempo, reversão do passado, ciclo lunar e sua influência na Terra, ou seja, assuntos do campo scifi que pulam do passado para o futuro, girando ao redor de um protagonista obcecado e o mundo em caos. O filme, dá para perceber, é complexo, exige do público um olhar atentíssimo. É original, vale os 115 minutos! E no final as explicações convencem.
O roteiro (que deve ter sido difícil de ser escrito) é da dupla Geoffrey Tock e Gregory Weidman, das séries de ficção científica “Defiance” (2013-2015) e “Zoo” (2015-2017). Tem no elenco o ator Boyd Holbrook, de “Noite sem fim” (2015) e “Logan” (2017), e participação de Michael C. Hall, o eterno Dexter do seriado de mesmo nome (que havia trabalhado com Jim Mickle em “Julho sangrento”).
Junto com “Spectral” (2016), “Onde está Segunda?” (2017), “Aniquilação” (2018) e “Anon” (2018) é o melhor scifi da Netflix! E olha que ela vem produzindo uma porrada de fitas rasas nesse gênero que gosta de investir, como “Titã” (2018), “Próxima parada: Apocalipse” (2018), “Extinção” (2018), “IO – O último na Terra” (2019) e “Close” (2019) – esses vocês podem abandonar!
Disponível na plataforma desde o dia 27 de setembro.
PS: Não confunda com um documentário de mesmo título original, “In the shadow of the moon” (2007), sobre a chegada do homem à Lua.
Sombra lunar (In the shadow of the moon). EUA, 2019, 115 minutos. Ação/Ficção científica. Colorido. Dirigido por Jim Mickle. Distribuição: Netflix
Além da ilusão
Na década de 30, duas irmãs, Laura (Natalie Portman) e Kate (Lily-Rose Depp), têm o poder de se apoderar de forças sobrenaturais para conversar com fantasmas. Numa viagem a Paris conhecem um visionário francês de ideais fortes, André (Emmanuel Salinger), que as incentiva a apresentar o dom de ver fantasmas ao público, junto a uma companhia de ilusionismo.
Duas atrizes corretas num filme curioso, porém irregular, que mistura temas, e chama a atenção pelo aporte técnico: direção de arte luxuosa, uma fotografia viva, em tons dourados, e figurinos que é um capricho só. Difícil até mesmo classificar o gênero de “Além da ilusão” (2016), uma fita de arte franco-belga, que alterna drama, fantasia, mistério, romance, para explorar a possibilidade da existência da vida após a morte. Quando falo irregular me refiro que o filme recorre a vários assuntos sem se aprofundar em nenhum: é Segunda Guerra Mundial, ilusionismo, metalinguagem do cinema, discussões filosóficas, manifestações para/sobrenaturais. Tudo se funde e confunde o público (acredito que intencionalmente) na hora de situar a relação das duas irmãs que viajam a Paris na busca por novos horizontes de trabalho e conhecimento (interpretadas pela ganhadora do Oscar Natalie Portman, que fala francês no filme, e Lily-Rose Depp, filha de Johnny Depp com a atriz francesa Vanessa Paradis, numa participação menor).
Passou na Bienal de Veneza e no Festival de Toronto, recebeu indicação ao César de design de produção, porém teve pouca repercussão no Brasil e Estados Unidos. Quase sem bilheteria suficiente para se pagar, foi massacrado pela crítica estrangeira, que pegou pesado chamando-o de “lixo”, “desprezível”, “pior obra cinematográfica dos últimos 20 anos”, o que não concordo (e depois disso merece uma revisão). Há deslizes com a história embolada em vários assuntos, faltou um desfecho de impacto, no entanto é exagero o acúmulo de desprezo por parte dos críticos chatos (estes, ao detonar um filme, mexem com a sensibilidade do leitor, que muitas vezes acaba por não ir conferi-lo nos cinemas). Tente, arrisque, não custa nada...
Ah, vale uma nota: quem escreveu o roteiro foi Robin Campillo, de “Entre os muros da escola” (2008) e “120 batimentos por minuto” (2017), escrito junto da diretora, Rebecca Zlotowski, que antes havia feito “Grand Central” (2013).
Além da ilusão (Planetarium). França/Bélgica, 2016, 108 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Rebecca Zlotowski. Distribuição: Mares Filmes
* Resenhas publicadas na coluna "Cinema em Foco", no jornal O Regional, edição de 19/10/2019
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