Wallace
(Wallace Shawn) e André (André Gregory) são dois velhos amigos que se encontram
para jantar em um sofisticado restaurante francês em Manhattan. Os anos caminharam
e eles não se viram mais, e nesta noite especial deixam fluir uma conversa
filosófica sobre as experiências acumuladas em diversos âmbitos: na família,
nos relacionamentos amorosos, no teatro e nas andanças pela cidade grande.
Um
grandioso filme conceitual de Louis Malle (1932-1995), um dos papas da Nouvelle
Vague, em sua fase americana. Apaixonado por teatro, Malle reuniu o novato ator
Wallace Shawn, que seguia os primeiros passos de roteirista, e o diretor
teatral francês André Gregory, para escrever a quatro mãos relatos de suas
experiências sobre a arte que tanto os inspirava e de mais 25 assuntos
aleatórios. Dos encontros saiu um roteiro pessoal, inteligente e sincero de
Gregory e Shawn, e a partir daí Malle levantou uma grana miúda para produzir o
filme, destinando ao projeto pouquíssimos dias de gravação. O cineasta trouxe
os próprios roteiristas como atores, com a condição de interpretarem eles
mesmos, não como num documentário, mas em formato de cinema. O que vemos é uma
joia da Sétima Arte norte-americana dos anos 80, uma aula magna sobre o diálogo
e a vida.
Tudo
começa com um ator desempregado (Shawn) que percebe um sentido em sua
existência durante um jantar, em uma longa conversa filosófica com o diretor de
teatro André Gregory. Sentados um de frente para o outro, os dois amigos que há
anos não tinham contato dialogam por uma hora e meia sobre Grotowski, morte, arte,
viagens, encontros, crenças, solidão, o ser humano e relacionamentos. Shawn é
pontual nas breves colocações, ouve mais, enquanto Gregory expressa-se em
comentários convictos, acalorados – o primeiro exerce função de pupilo, e o
segundo, de veterano, de mestre. Para o efeito esperado, Malle abstraiu
cenários, reduziu figurantes, deixou a câmera captar somente imagens da dupla
na mesa para, da discussão, pautada por perspectivas de vida diferentes, eclodir
um rico ensaio sobre as transformações na cidade de Nova York no campo político
e, sobretudo, artístico, que também reflete na mudança de comportamento no
mundo daquela década. Fascinante a ideia!
Sensorial
e conceitual, o filme aborda as conexões, quando já se notava a falta de tato e
aproximação das pessoas nas metrópoles e a ausência de conversas com
profundidade (hoje mais gritante com as tecnologias).
Obra
magistral do final de carreira de Louis Malle, “Meu jantar com André” sai em
DVD este mês pela distribuidora Obras-primas do Cinema (há no disco dois extras
imperdíveis: uma entrevista com os atores gravadas em 2011, e um episódio do
programa Arena BBC, onde Wallace Shawn entrevista Louis Malle).
Meu
jantar com André (My dinner with Andre). EUA, 1981, 111 min. Drama. Dirigido
por Louis Malle. Distribuição: Obras-Primas do Cinema