Cristina 1300 - Affonso Ávila - Homem ao termo
Está nos cinemas brasileiros
esse bom e bem curtinho documentário, de apenas 60 minutos, que resgata vida e
obra do poeta e ensaísta mineiro Affonso Ávila (1928-2012), ganhador duas vezes
do Prêmio Jabuti de Literatura. Reconhecido como pesquisador do barroco mineiro
e contador de casos incríveis, Ávila foi fundamental na poesia brasileira da década
de 50 para cá, com suas poesias de enorme originalidade e ousadia, parte delas de
cunho experimental. Ávila aparece em gravações realizadas para o filme entre
2010 e 2012, ano de sua morte, em sua residência, na rua Cristina, 1300, em
Belo Horizonte. Ele deu depoimento para a diretora, Eleonora Santa Rosa, e ao
codiretor do filme, Marcelo Braga de Freitas, em que conta sua trajetória e influências,
analisa o mundo da literatura e lê poesias próprias. A diretora também narra o
filme, e a atriz Vera Holtz empresta sua voz para a leitura de textos de Ávila.
É o primeiro longa da jornalista e produtora Eleonora Santa Rosa na direção. Distribuição
nos cinemas pela Cajuína Audiovisual.
Todas as estradas de
terra têm gosto de sal
Primeiro longa-metragem
da jovem cineasta norte-americana Raven Jackson, que escreve e dirige um filme
poético e sensorial que acompanha 40 anos na vida de uma mulher negra na área
rural do Mississipi (infância, juventude e vida adulta da protagonista
Mackenzie). Uma menina que enfrentou pobreza, amarguras e solidão, tecidas sob
o olhar único da cineasta, que capta pormenores de expressões dos personagens e
realiza um filme com pouquíssimos diálogos. Há um particular na condução da
obra, reforçando os laços de Mackenzie com a natureza e com sua irmã durante seu
amadurecimento ao longo dos anos, quando tem de superar frustrações, tristeza,
amores e perdas. Tudo apresentado de maneira serena, em ordem não-cronológica –
são quatro atrizes de idades diferentes acompanhando as fases da vida de
Mackenzie, Mylee Shannon, Kaylee Nicole Johnson, Charleen McClure e Zainab Jah.
Outro ponto de destaque são os sons, que são peça-chave do longa – os diálogos são
substituídos por barulhos de chuva, riacho, pássaros e grilos. O filme abriu mundialmente
no Festival de Sundance de 2023 e de lá para cá foi exibido em diversos
festivais, como San Sebastián e Chicago. Rodado em 35mm, é uma produção da A24,
nos cinemas pela Pandora Filmes – filme precioso para apreciadores de cult
movies.
O vazio do domingo à tarde (2023)
Novo trabalho do diretor Gustavo Galvão, de ‘Ainda temos a imensidão da
noite’ (2019), um cineasta autoral que vem ganhando destaque no cinema
brasileiro desde seus curtas, na metade dos anos 2000. Seus filmes tocam em
temas sensíveis e atuais, e aqui não é diferente – ele trata de sexismo no
mundo do entretenimento e a incessante busca pela fama, numa história escrita
por ele e pela premiada diretora Cristiane Oliveira, de ‘Mulher do pai’ (2016).
É sobre duas mulheres cujas trajetórias se encontram – uma adolescente goiana,
que quer ser atriz de sucesso, viaja para se encontrar com seu ídolo, uma celebridade
em crise que está na região para gravar um filme. Com críticas ao culto às
celebridades, utilizando bons atores no elenco, como Gisele Frade e Ana Eliza
Chaves e participação especial de Erom Cordeiro, o longa, uma produção da 400
Filmes, teve exibição na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo de 2023 e
agora está nos cinemas pela Lança Filmes.
Brazyl – Uma ópera tragicrônica (2023)
Está nos cinemas brasileiros mais alternativos esse filme-teatro que é
um manifesto político visceral e engraçado sobre o Brasil dos últimos 90 anos,
da Era Vargas ao governo Bolsonaro. Mesmo com todo desbunde e maluquices, é
inspirado em situações reais, e muitos personagens são facilmente reconhecidos.
É um musical irreverente, rítmico, ácido, que provoca e questiona. E que faz
rir muito. Fala das ditaduras que o Brasil enfrentou, de crises políticas que vão
e vem, da fascistização do poder nos últimos anos, focando em políticos corruptos
e em muita gente oportunista. Quarto longa-metragem do cineasta José Walter
Lima, é um filme vanguardista na forma, que mistura Semana de Arte de 22 com o
delirante ‘Idade da Terra’ de Glauber Rocha. Criativo, conta com músicas de óperas
contemporâneas que ficam na cabeça. Distribuição nos cinemas pela Abará Filmes.
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