domingo, 24 de novembro de 2024

Estreias da semana - Nos cinemas

 

Cristina 1300 - Affonso Ávila - Homem ao termo

 

Está nos cinemas brasileiros esse bom e bem curtinho documentário, de apenas 60 minutos, que resgata vida e obra do poeta e ensaísta mineiro Affonso Ávila (1928-2012), ganhador duas vezes do Prêmio Jabuti de Literatura. Reconhecido como pesquisador do barroco mineiro e contador de casos incríveis, Ávila foi fundamental na poesia brasileira da década de 50 para cá, com suas poesias de enorme originalidade e ousadia, parte delas de cunho experimental. Ávila aparece em gravações realizadas para o filme entre 2010 e 2012, ano de sua morte, em sua residência, na rua Cristina, 1300, em Belo Horizonte. Ele deu depoimento para a diretora, Eleonora Santa Rosa, e ao codiretor do filme, Marcelo Braga de Freitas, em que conta sua trajetória e influências, analisa o mundo da literatura e lê poesias próprias. A diretora também narra o filme, e a atriz Vera Holtz empresta sua voz para a leitura de textos de Ávila. É o primeiro longa da jornalista e produtora Eleonora Santa Rosa na direção. Distribuição nos cinemas pela Cajuína Audiovisual.

 


 

Todas as estradas de terra têm gosto de sal

 

Primeiro longa-metragem da jovem cineasta norte-americana Raven Jackson, que escreve e dirige um filme poético e sensorial que acompanha 40 anos na vida de uma mulher negra na área rural do Mississipi (infância, juventude e vida adulta da protagonista Mackenzie). Uma menina que enfrentou pobreza, amarguras e solidão, tecidas sob o olhar único da cineasta, que capta pormenores de expressões dos personagens e realiza um filme com pouquíssimos diálogos. Há um particular na condução da obra, reforçando os laços de Mackenzie com a natureza e com sua irmã durante seu amadurecimento ao longo dos anos, quando tem de superar frustrações, tristeza, amores e perdas. Tudo apresentado de maneira serena, em ordem não-cronológica – são quatro atrizes de idades diferentes acompanhando as fases da vida de Mackenzie, Mylee Shannon, Kaylee Nicole Johnson, Charleen McClure e Zainab Jah. Outro ponto de destaque são os sons, que são peça-chave do longa – os diálogos são substituídos por barulhos de chuva, riacho, pássaros e grilos. O filme abriu mundialmente no Festival de Sundance de 2023 e de lá para cá foi exibido em diversos festivais, como San Sebastián e Chicago. Rodado em 35mm, é uma produção da A24, nos cinemas pela Pandora Filmes – filme precioso para apreciadores de cult movies.

 


 

O vazio do domingo à tarde (2023)

 

Novo trabalho do diretor Gustavo Galvão, de ‘Ainda temos a imensidão da noite’ (2019), um cineasta autoral que vem ganhando destaque no cinema brasileiro desde seus curtas, na metade dos anos 2000. Seus filmes tocam em temas sensíveis e atuais, e aqui não é diferente – ele trata de sexismo no mundo do entretenimento e a incessante busca pela fama, numa história escrita por ele e pela premiada diretora Cristiane Oliveira, de ‘Mulher do pai’ (2016). É sobre duas mulheres cujas trajetórias se encontram – uma adolescente goiana, que quer ser atriz de sucesso, viaja para se encontrar com seu ídolo, uma celebridade em crise que está na região para gravar um filme. Com críticas ao culto às celebridades, utilizando bons atores no elenco, como Gisele Frade e Ana Eliza Chaves e participação especial de Erom Cordeiro, o longa, uma produção da 400 Filmes, teve exibição na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo de 2023 e agora está nos cinemas pela Lança Filmes.

 


 

Brazyl – Uma ópera tragicrônica (2023)

 

Está nos cinemas brasileiros mais alternativos esse filme-teatro que é um manifesto político visceral e engraçado sobre o Brasil dos últimos 90 anos, da Era Vargas ao governo Bolsonaro. Mesmo com todo desbunde e maluquices, é inspirado em situações reais, e muitos personagens são facilmente reconhecidos. É um musical irreverente, rítmico, ácido, que provoca e questiona. E que faz rir muito. Fala das ditaduras que o Brasil enfrentou, de crises políticas que vão e vem, da fascistização do poder nos últimos anos, focando em políticos corruptos e em muita gente oportunista. Quarto longa-metragem do cineasta José Walter Lima, é um filme vanguardista na forma, que mistura Semana de Arte de 22 com o delirante ‘Idade da Terra’ de Glauber Rocha. Criativo, conta com músicas de óperas contemporâneas que ficam na cabeça. Distribuição nos cinemas pela Abará Filmes.




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