A memória infinita
Com diagnóstico de Mal de Alzheimer, o jornalista chileno Augusto Góngora é cuidado pela esposa, a atriz Paulina Urrutia. O documentário acompanha os últimos anos de vida de Góngora em sua forte relação com a doença, a esposa e a memória política do Chile da Era Pinochet.
Debulhei-me em lágrimas nesse documentário que é de uma delicadeza impressionante, um filme comovente e de grande ternura. Indicado ao Oscar de melhor documentário nesse ano, a coprodução Chile/EUA acompanha os últimos anos na vida do jornalista chileno Augusto Góngora, nome respeitado da comunicação do seu país, que foi diagnosticado com o Alzheimer há oito anos. A esposa, a atriz e ativista política Paulina Urrutia, encara a difícil missão de se deixar gravar em momentos íntimos com o marido doente. Os dois cozinham, leem livros, assistem a jornais na TV, ela o ajuda no banho e a fazer barba, caminham juntos pela área verde do bairro bucólico onde vivem. Góngora tem lapsos de memória, lembra da era Pinochet, a ditadura cruel do Chile que matou mais de três mil chilenos, torturou muita gente e exilou outros 200 mil. Ele foi um jornalista combativo, perseguido no regime ditatorial, teve filhos com a primeira mulher, até que na década de 2000 conheceu e se casou com a atriz Paulina Urrutia, ex-ministra do Conselho Nacional da Cultura e das Artes do Chile. Entre conversas e outras, o doc desfila uma série de fotos antigas do casal em família, bem como viagens deles e entrevistas/reportagens. Ao mesmo tempo que se constrói a memória do personagem, a memória que falha e também a que lembra, fala da memória do país, afundado na crise política dos anos 70 e 80, que culminou em crise econômica e convulsão social, no período da ditadura de Augusto Pinochet - Góngora e Paulina participaram dos movimentos de redemocratização do país a partir da década de 1990.
Cronista da cena criminal da ditadura, Góngora é mostrado no doc em momentos tristes, quando perambula confuso pela casa, repetindo frases antigas, chamando amigos que já se foram. A câmera do filme funciona como a de vigilância, escondida, que observa tudo.
Um filme bonito, triste, com forte comentário político e que fala também sobre saúde mental e velhice. Feito com ternura por uma diretora chilena, Maite Alberdi, documentarista, produtora e professora em escolas e oficinas de cinema. Seu filme anterior, ‘Agente duplo’ (2020), também foi indicado ao Oscar de melhor documentário.
Exibido na Mostra Internacional de Cinema de SP do ano passado, venceu o Grande Prêmio do Júri da seção World Cinema Documentary Competition do Festival de Sundance. Também foi exibido no Festival de Berlim e ganhador do Goya de melhor filme iberoamericano. Está disponível no streaming da Paramount Plus.
A memória infinita (La memoria infinita). Chile/EUA, 2023, 85 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Maite Alberdi. Distribuição: MTV Documentary Films
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