sábado, 27 de julho de 2024

Estreia da semana - nos cinemas


Teca e Tuti: Uma noite na biblioteca (2023)

 


Chega aos principais cinemas brasileiros essa bonitinha animação infantil que demorou 12 anos para ser feita, um filme para crianças, com muita música, diversão e encanto. Fala de uma pequena traça, Teca, que mora com a família numa caixa de costura. Ela é amiga de um ácaro, Tuti, e ambos gostam de comer papel. Até que um dia se deparam com um negócio composto por muitas folhas de papel chamado ‘livro’ – só que são advertidos a não comê-lo, pois ele carrega histórias fabulosas e deve ser preservado. Teca e Tuti então partem, juntos, para uma jornada de aventuras e descobertas numa biblioteca.
Feito em stop-motion, com bonecos em miniatura e em estúdios, misturados a atores e cenários reais, o filme entra na lista das pouquíssimas produções de animação brasileira para cinema, um campo que vem sendo explorado nos últimos anos. O projeto do longa nasceu em 2012, na sede da produtora Rocambole Produções, em São Carlos, interior de São Paulo, e chega agora com exclusividade nas salas, exibido na sessão ‘Vitrine Petrobrás’ - a distribuição é pela LPB Content com codistribuição da Vitrine Filmes.
Um filme adorável, que ensina as crianças o poder da leitura e como ela é transformadora. Ponto alto também são as canções, todas originais, de Hélio Ziskind, músico que compôs temas de programas infantis famosos, como Cocoricó, Castelo Rá-Tim-Bum e X-Tudo.

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Nota do blogueiro


Cine Debate traz nesse sábado premiado filme brasileiro que discute gênero e preconceito

O Cine Debate do Imes Catanduva promove neste sábado, dia 27/07, mais uma sessão de cinema aberta e gratuita ao público. O filme de julho será o drama brasileiro coproduzido em Portugal ‘Paloma’ (2022, 104 minutos), dirigido por Marcelo Gomes e premiado no Festival do Rio. Sessão e debate serão no Espaço de Tecnologia e Artes (ETA) do SESC Catanduva, às 14h. A mediação do debate será realizada pelo idealizador do Cine Debate, o jornalista, professor do IMES e do SENAC e crítico de cinema Felipe Brida.



Sinopse do filme: Paloma, uma mulher trans que trabalha como agricultora no sertão de Pernambuco, sonha em se casar na igreja católica com seu namorado. O padre, porém, recusa o pedido, mas nem por isso Paloma desistirá de realizar seu sonho.

Cine Debate

O Cine Debate é um projeto de extensão do curso de Psicologia do IMES Catanduva em parceria o SESC e o SENAC Catanduva. Completou 12 anos em 2024 trazendo filmes cult de maneira gratuita a toda a população. Conheça mais sobre o projeto em https://www.facebook.com/cinedebateimes

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Resenhas especiais


Confira resenhas de três filmes em DVD pela Imovision.

Desajustados

Fúsi (Gunnar Jónsson) é um homem solitário, que mora com a mãe e tem uma vida monótona. Numa tarde, o encontro dele com a garotinha Hera (Franziska Una Dagsdóttir), filha de um dos vizinhos do condomínio, mudará os rumos de sua pacata rotina.

A Islândia e seus filmes frios, sobre a reconstrução das relações humanas. ‘Desajustados’ é mais um bom exemplar dessa temática e feito nesse país nórdico, um filme para poucos, exibido nos Festivais de Berlim e Tribeca. A figura do protagonista, Fúsi (título original do filme), é enigmática, ao mesmo cativante e monótona, papel desempenhado por um ator excelente, Gunnar Jónsson, de ‘A ovelha negra’ (2015). Obeso, solitário, vive com a mãe, que o mima, tem um emprego chato no aeroporto local e coleciona brinquedos de guerra. É alvo de bullying no trabalho, mas diz que não passa de brincadeiras dos amigos. Certo dia, no pé da escada do prédio onde mora, encontra a filha de um vizinho, sentada, esperando alguém abrir a porta para ela. Fúsi a leva para casa, trocam conversas, dá para a menina algo para comer e brincam. Desse encontro inusitado nasce uma amizade, e todos os dias a menina passa a visitar o novo amigo, mesmo que seu pai ache estranho e até a proíba. Com a desenvoltura de Fúsi com Hera, ele consegue deixar a timidez de lado e se envolve com uma mulher nas aulas de dança de salão que frequenta após incentivo da mãe. Sua vida muda da água para o vinho, entre altos e baixos nas relações com a menina, com a nova namorada, que tem depressão, e com a mãe.


Uma história feita com simplicidade, humana, bonita, com breves momentos de humor, com tipos reais que cruzamos pela rua. Mas sim, é um drama sólido, melancólico e bem construído. Para público adulto e inserido no cinema cult.
Curiosidade: O diretor Dagur Kári, filho do escritor islandês Pétur Gunnarsson, nasceu na França, é pai atriz mirim que interpreta Hera, rodou filmes na Islândia e em 2009 dirigiu nos EUA a comédia dramática ‘O bom coração’, com Paul Dano e Brian Cox.
Disponível em DVD pela Imovision e no streaming da distribuidora em parceria com o cinema Reserva Cultural, o Reserva Imovision.

Desajustados (Fúsi). Islândia/Dinamarca, 2015, 95 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Dagur Kári. Distribuição: Imovision


De longe te observo

Na capital da Venezuela, Caracas, Armando (Alfredo Castro), um protético solitário e deprimido, oferece dinheiro para garotos irem até a sua casa. Ele os observa nus enquanto se masturba. Um dia, conhece Elder (Luis Silva), um rapaz envolvido com o crime e integrante de uma gangue. De início, Elder não aceita a proposta e chega a agredir Armando, só que, com o passar dos dias, volta para a casa do homem. Entre eles nasce um complicado relacionamento de amizade e fúria.

Ganhou prêmios nos festivais de Havana, Miami, San Sebastian, e o principal, o Leão de Ouro em Veneza esse que é filme independente polêmico e curioso, rodado na Venezuela, coproduzido no México. Tem em cena um dos atores mais versáteis e interessantes do Chile, Alfredo Castro, que trabalha bastante com o diretor Pablo Larraín, como em ‘O clube’ (2015), já filmou no Brasil, o drama ‘Verlust’ (2020), e recentemente esteve no elenco de ‘O conde’ (2023), onde interpreta o mordomo do ditador Pinochet. Ele faz aqui um homem na altura dos 60 anos, dono de um laboratório de próteses dentárias, que costuma caminhar pela tarde em busca de garotos no centro da cidade para levá-los para seu apartamento em troca de dinheiro – ele tem o fetiche de se masturbar vendo-os nus, de costas. Num desses encontros, conhece um rapaz envolvido com a criminalidade – papel quase naturalista e de muito empenho do estreante Luis Silva; ele bate carteiras, rouba retrovisores e pertence a uma gangue. No primeiro encontro, o jovem bate em Armando, o rouba e foge. Dias depois se reencontram, ele volta para o apartamento do protético e entre eles nasce uma complexa história de amizade, mas com brigas e desconfianças. Armando conta ao jovem que tem problemas com o pai idoso – uma subtrama surgirá mais pro final envolvendo esse homem, trocam outras confidências e até chegam a frequentar festas e restaurantes juntos. Uma história de uma estranha e difícil amizade, cheia de dissabores e momentos altos, escrita e dirigida por um estreante, Lorenzo Vigas, que o escreveu ao lado do premiado roteirista e já indicado ao Oscar Guillermo Arriaga, mexicano que roteirizou a trilogia de Alejandro G. Iñárritu ‘Amores brutos’ (2000), ’21 gramas’ (2003) e ‘Babel’ (2006).


Um filme de poucos diálogos e muito olhar, com enquadramentos formidáveis de expressões faciais. Amargo, tem um final nada feliz, desalentador. Também é o retrato de uma Caracas devastada pelo caos social, pela pobreza e violência.
Foi o representante da Venezuela ao Oscar, mas não entrou na lista final de indicados de filme estrangeiro. Disponível em DVD pela Imovision e no streaming da distribuidora em parceria com o cinema Reserva Cultural, o Reserva Imovision.

De longe te observo (Desde allá). Venezuela/México, 2015, 93 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Lorenzo Vigas. Distribuição: Imovision


O último tango

Documentário sobre duas lendas do tango argentino, María Nieves Rego e Juan Carlos Copes, que trabalharam juntos por 50 anos e depois romperam de maneira inesperada.

Um filme-homenagem ao tango argentino, uma ode ao poder desse estilo revolucionário e que conquistou artistas ao redor do mundo. O documentário foca no amor pelo tango de dois dançarinos que fizeram história, de uma vida unida pela música, María Nieves Rego (1934-) e Juan Carlos Copes (1931-2021). O filme mostra quando se conheceram, na época tinham entre 15 e 16 anos, as danças juntos nas principais casas da Argentina por 50 anos e as apresentações pelo mundo afora. Até o rompimento da dupla, que chocou a Argentina.
Em entrevista, Maria e Juan contam segredos, o auge da carreira, lembram situações complicadas, como o quase envolvimento romântico entre eles, e o término da parceria. Enquanto falam para a câmera, vídeos reais e fotos de acervo dos dois aparecem, e ainda tem uma dupla de atores que simulam/encenam a vida das duas personalidades.


Um doc no melhor estilo do cinema argentino, com música, drama, humor e sentimento. Do diretor German Kral, especializado em documentários musicais como ‘Música cubana’ (2004) e ‘El último aplauso’ (2009).
Disponível em DVD pela Imovision e no streaming da distribuidora em parceria com o cinema Reserva Cultural, o Reserva Imovision.

O último tango (Un tango más). Argentina/Itália/Alemanha, 2015, 85 minutos. Documentário. Colorido. Dirigido por German Kral. Distribuição: Imovision

domingo, 21 de julho de 2024

Estreias da semana - Nos cinemas

 

Lo que queda en el camino (2021)

 

Estreou somente agora em alguns cinemas brasileiros esse peculiar documentário independente coprodução México/Brasil/Alemanha, lançado em festivais de cinema em 2021. Acompanha uma caravana de milhares de migrantes da Guatemala que seguem por dias, a pé, até a fronteira do México com os EUA; no caminho de quatro mil quilômetros, pelo acostamento mal iluminado de rodovias, uma mãe solo com quatro filhos conta sobre sua vida, as dificuldades e a esperança por um futuro melhor.
Um filme de temática social pungente – a migração/imigração, que ainda trata de violência doméstica e da luta de uma mãe solteira em criar os filhos pequenos num mundo misógino e embrutecido. Sensível, sincero e feito com delicadeza. Distribuído nos cinemas pela Lira Filmes.

 


 

A música-natureza de Léa Freire (2022)

 

Outro bom documentário que estreou em alguns cinemas nesse fim de semana. O filme brasileiro traz a trajetória da instrumentista paulistana Léa Freire, referência mundial do jazz e da música clássica. Conhecida como ‘Villa-Lobos contemporânea’, Freire abre o livro de sua vida para falar sobre a paixão pela música e como se tornou uma destacada instrumentista popular que rompeu com os padrões em um universo puramente masculino; Freire também se destaca como arranjadora, compositora sinfônica, que transita entre o erudito e o popular, e professora de música.
Quem dirige o filme é Lucas Weglinski, do premiado documentário feito com Joaquim Castro ‘Máquina do desejo – 60 anos do Teatro Oficina’. O doc foi exibido em vários festivais internacionais, como Vision du Réel, In-Edit, Roma, Los Angeles e Tokyo. Nos cinemas pela Descoloniza Filmes.

 


 

Hora do massacre (2023)

 

Quem gosta de slasher movie, os filmes de terror sangrento com psicopatas, vai curtir ‘Hora do massacre’, uma fita independente do Canadá, coproduzida na França, e dirigida por um coletivo de três diretores, que assina como RKSS. Dinâmico, o filme fala de um grupo de jovens ativistas que invade, de madrugada, uma loja de departamentos para pichar o local e assim fazer uma reinvindicação sobre a crise ambiental. Mas eles não conseguem sair de lá e passam a ser alvo de dois seguranças malucos, que iniciam uma matança com armadilhas de caça.
O mesmo coletivo de diretores, formado por Yoann-Karl Whissell, François Simard e Anouk Whissell, realizou em 2018 um outro bom filme slasher com homenagem direta a esse cinema de terror oitentista, ‘Verão de 84’ – eles são conhecidos por uma estética jovem e moderna, com muitas referências tecnológicas.
Exibido em festivais de cinema de terror notórios, como Sitges e Festival de Cinema Fantástico de Paris. Gostei e indico aos que curtem fitas assim. Nos cinemas brasileiros pela Imagem Filmes.

 


 

A filha do pescador (2023)

 

Interessante drama independente, coprodução Porto Rico/República Dominicana/Colômbia, sobre um mergulhador que vive numa ilha remota no Caribe colombiano e recebe a visita do filho, que agora é transexual. Chamado Priscila, voltou para casa em fuga; o pai não aceita a filha, a comunidade pesqueira se sente afrontada com sua presença, no entanto, aos poucos, os laços vão sendo recuperados.
Um filme com belas paisagens do Caribe, bons diálogos, uma duração bem curta e direta – 80 minutos, que traz uma história bonita sobre diversidade, aceitação, crise e relações familiares. Boa estreia no cinema do diretor colombiano Edgar De Luque Jácome. Exibido no importante Festival de Tallinn, o filme estreou em poucas salas brasileiras pela Bretz filmes.




quarta-feira, 17 de julho de 2024

Cine Nostalgia


Três clássicos dos anos 50 e 60, distribuídos recentemente em DVD pela Classiclime.


Simbad e a princesa

O marujo e aventureiro Simbad (Kerwin Mathews) viaja até a ilha de Colosso para reaver sua amada, Parisa (Kathryn Grant), sequestrada por um misterioso feiticeiro. A jovem foi encolhida e enclausurada numa caixa. Simbad chega àquela terra desconhecida e enfrentará armadilhas e monstros míticos.

O cinema norte-americano produziu dezenas de filmes e animações populares sobre o marujo, explorador dos sete-mares e aventureiro Simbad, personagem celebre dos contos árabes ‘As mil e uma noites’. A primeira aparição dele em filme foi em ‘Sinbad, o marujo’ (1947), com Douglas Fairbanks Jr no papel principal; depois vieram outras aventuras, como ‘O filho de Sinbad’ (1955), esse ‘Simbad e a princesa’ (1958) – um dos melhores da série, ‘Capitão Sinbad’ (1963), ‘A nova viagem de Simbad’ (1973), ‘Simbad e o olho do tigre’ (1977) e a animação da DreamWorks ‘Sinbad: A lenda dos sete mares’ (2003).
Originalmente da Columbia Pictures e rodado inteiramente na Espanha, ‘Simbad e a princesa’ virou um clássico da Sessão da Tarde, reprisado na TV muitas vezes e até hoje cultuado pelo público. É uma aventura com fantasia ingênua, cheia de peripécias e para todos os públicos. Traz o aventureiro antes de se tornar príncipe de Bagdá, que segue numa jornada desafiadora para resgatar sua amada das garras de um maligno feiticeiro. A jovem foi enfeitiçada, encolhida do tamanho de um dedo. Até chegar ao palácio do bruxo numa ilha distante, Simbad enfrentará obstáculos, armadilhas e monstros, como ciclopes, pássaros de duas cabeças, um dragão acorrentado e até uma caveira com espada.
O ponto alto do filme são os efeitos especiais, estrondosos para a época, do mestre Ray Harryhausen (1920-2013) - antes do digital e da computação gráfica. Ele criou a técnica Dynamation, uma forma pioneira de stop-motion (Harryhausen e sua equipe moldavam as criaturas ‘de massinha’ e fotografavam quadro a quadro para dar o movimento). Criou monstros memoráveis, dos filmes ‘O monstro do mar’ (1953), ‘As viagens de Gulliver’ (1960), ‘Jasão e o velo de ouro’ (1963) e ‘Fúria de titãs’ (1981).




Quem dirige é austro-húngaro Nathan Juran (1907-2002), que começou a carreira como diretor de arte e dirigiu longas de vários gêneros, como o terror ‘O castelo do pavor’ (1952), o faroeste ‘A morte tem seu preço’ (1953) e aventuras com ficção científica como ‘A 20 milhões de léguas da Terra’ (1957) e ‘O ataque da mulher de 15 metros’ (1958).
O filme acaba de ser relançado em DVD numa ótima cópia pela Classicline – no ano passado a distribuidora relançou em DVD ‘A nova viagem de Simbad’ e ‘Simbad e o olho do tigre’, que também recomendo.

Simbad e a princesa (The 7th voyage of Sinbad). EUA/Índia/Hong Kong, 1958, 88 minutos. Aventura. Dirigido por Nathan Juran. Distribuição: Classicline


Duelo de titãs

* Reedição - Resenha publicada originalmente em 2011

Atormentado pelo assassinato da esposa, uma indígena, o marechal Matt Morgan (Kirk Douglas) sai na captura de um jovem acusado pelo crime. Ele prende o rapaz e mantém seu objetivo: colocá-lo no trem das nove da noite, onde será levado para a cadeia. O que Morgan não desconfia é que o pai do suspeito é o rico fazendeiro Craig Belden (Anthony Quinn), seu grande amigo. Para proteger o filho, Belden contrata pistoleiros, que cercam a cidade. É quando explode um verdadeiro duelo entre dois titãs.

Faroeste clássico da Paramount, que reúne novamente o diretor John Sturges com seu ator preferido, Kirk Douglas (dois anos antes, em 1957, haviam feito o ótimo “Sem lei e sem alma”). A ação principal segue o típico conflito existente nos filmes western - o embate entre duas pessoas, uma movida pela vingança, outra pela autoproteção. Em “Duelo de titãs”, dois antigos amigos tornam-se rivais de uma hora para outra; tudo porque a esposa do marechal Morgan é brutalmente assassinada (ela era indígena, e foi morta por preconceito), e o acusado pelo crime nada mais nada menos é filho de um velho conhecido do protagonista, no caso um influente criador de gados. Atocaiado no quarto de um saloon, o homem com espírito de vingança enfrentará bandidos dispostos a resgatar aquele rapaz.
A curiosidade maior é que o filme segue uma linha bastante explorada no gênero na época, o “faroeste psicológico”: tenso, mexe com os nervos – imagine que da metade para o final o personagem-chave fica aprisionado num ambiente fechado, sem poder fugir, à espera do trem, sendo que na espreita está um grupo de atiradores vorazes, como se fossem lobos famintos.
A história adota uma visão ponderada da retaliação nos moldes de Talião, “olho por olho, dente por dente” (com o desenrolar dos fatos, o marechal não quer mais prender o rapaz e sim matá-lo de maneira truculenta, como uma vingança plena).




O filme saiu em DVD pela Paramount em 2011 e recentemente numa nova e boa cópia pela Classicline, num DVD de disco único chamado ‘Clássicos do faroeste – volume II’, contendo outro bom western, ‘Gigantes em luta’ (1967, com John Wayne e Kirk Douglas).

Duelo de titãs (Last train from Gun Hill). EUA, 1959, 95 min. Faroeste. Colorido. Dirigido por John Sturges. Distribuição: Paramount Pictures (DVD de 2011) e Classicline (DVD de 2024)


Gigantes em luta

Depois de cumprir pena injustamente e ser roubado por um ambicioso dono de terras, o rancheiro Taw Jackson (John Wayne) sai da cadeia com sede de justiça. Alia-se a um antigo inimigo, o pistoleiro Lomax (Kirk Douglas), e juntos planejam o roubo de um carregamento de ouro que pertence ao fazendeiro que prendeu Jackson.

Faroeste eficiente e bem-humorado, com duas lendas do western, John Wayne, em fim de carreira, que não costumava apanhar em cena e aqui leva boas bofetadas, e Kirk Douglas, pai de Michael Douglas e que viveu até os 103 anos – ele faleceu em 2020. É um faroeste por excelência, rodado no México e com a fórmula tradicional do gênero – justiça, vingança, disputa por bens e terras. John Wayne está formidável, Kirk também, e o elenco de apoio com grandes nomes dá o tom da graça dessa obra nostálgica – Keenan Wynn faz um velho louco que dirige a carruagem dos personagens principais, Howard Keel é um índio resgatado que os auxilia na jornada, Robert Walker Jr, um jovem beberrão que vive caindo pelas estradas, Bruce Dern, um pistoleiro contratado para matar os dois parceiros, e Bruce Cabot, o vilão, o dono das terras.
O título original, ‘The war wagon’, ‘A carruagem de guerra’, faz menção a uma carruagem blindada de ferro que percorre o deserto e á alvo de disputa; ela carrega ouro e guarda uma gatling gun, metralhadora temida usada durante a Guerra Civil, composta por vários canos giratórios que disparavam 1300 balas por minuto. Tem uma cena memorável, de uma briga de cinco minutos no bar, onde tudo é quebrado, John Wayne apanha muito, e até jogam um piano no grupo de beberrões.



Um western divertido, dirigido por um entendedor do gênero, Burt Kennedy, de ‘Ginetes intrépidos’ (1965), ‘Latigo, o pistoleiro’ (1971) e ‘Chacais do oeste’ (1973). Conta ainda com trilha sonora grandiosa de Dimitri Tiomkin, de ‘Matar ou morrer’ (1952), e roteiro de outro realizador de faroestes, Clair Huffaker, adaptado de seu próprio livro.
Merece ser revisto nessa boa cópia lançada em DVD pela Classicline, que saiu junto a outro filmaço western, ‘Duelo de titãs’ (1959, com Kirk Douglas e Anthony Quinn).

Gigantes em luta (The war wagon). EUA, 1967, 100 min. Faroeste. Colorido. Dirigido por Burt Kennedy. Distribuição: Classicline

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Especial de cinema


Filmes de ação e terror em DVD.

Warlock 2: O armageddon

O bruxo Warlock (Julian Sands) retorna de séculos atrás ao tempo presente para capturar seis runas místicas com o objetivo de invocar o mal na Terra. Druidas com o apoio da população de uma cidadezinha tentarão impedi-lo.

O ator inglês Julian Sands retorna com tudo no papel que o imortalizou no cinema, o do bruxo/feiticeiro de longos cabelos loiros. Falecido em 2023, aos 65 anos – ele desapareceu numa trilha que fazia sozinho na Califórnia, e seu corpo só foi localizado cinco meses depois, Sands está mais à vontade em cena, com muita sede de sangue e disposto a eliminar quem cruzar seu caminho. Nessa continuação mais violenta, com menos humor e aventura e cheio de mortes sangrentas e grotescas, o entretenimento ganha nova dimensão, transformando o que era uma aventura com toques de horror em uma fita de terror moderna. A estrutura do filme com seus efeitos especiais estranhos vem da mente criativa do novo diretor, Anthony Hickox, falecido também em 2023, realizador de longas de horror cultuados dos anos 80 e 90, como ‘A passagem’ (1988) e a continuação, ‘Perdidos no tempo’ (1992), ‘Vampiros em fuga’ (1989) e ‘Hellraiser III – Inferno na Terra’ (1992).
É legal ver como Warlock renasce no tempo presente e como o feiticeiro maligno, diferente do filme anterior, feito quatro anos antes, assume mais protagonismo.




Lançado em DVD pela Obras-primas do Cinema no box ‘Trilogia Warlock’ - são dois discos contendo os filmes “Warlock: O demônio” (1989) e “Warlock 3: O fim da inocência” (1999), este feito para home vídeo e com o ator Bruce Payne substituindo Julian Sands. É uma caixa com luva, cards colecionáveis e mais de 1h de extras.



Warlock 2: O armageddon (Warlock: The armageddon). EUA, 1993, 98 minutos. Terror/Aventura. Colorido. Dirigido por Anthony Hickox. Distribuição: Obras-primas do Cinema


A morte pede carona

Dirigindo sozinho por uma estrada no deserto, Jim Halsey (C. Thomas Howell) dá carona a um desconhecido, John Ryder (Rutger Hauer). Em determinado momento, os dois discutem, e Ryder sai do carro, ficando à beira da rodovia. Horas depois, Halsey percebe que está sendo seguido por Ryder, um homem insano e desequilibrado que fará de tudo para capturar o rapaz. Até pôr as mãos nele, matará sem piedade inocentes pela estrada.

Um filme de suspense classe A, com toques de terror e ação, que virou cult e marcou toda uma geração. Uma obra intensa, de arrepiar, com momentos de pura tensão que deixa o público com os nervos a flor da pele. ‘A morte pede carona’ fez boa carreira nos anos 80 e deixou um impressionante legado – não só com uma continuação e um remake, mas de filmes que o imitaram.
Ponto alto desse filmaço está na engenhosa trama e nas inúmeras reviravoltas, como a da polícia que suspeita que o rapaz protagonista é o autor das mortes na estrada.
Produzido pela HBO Pictures com a Silver Screen, o filme foi rodado no Vale da Morte, localizado no deserto de Mojave, na Califórnia, com paisagens autênticas de puro calor e sofrimento. Foi a estreia de Robert Harmon na direção, que depois faria um dos mais importantes filmes de ação de Van Damme, ‘Vencer ou morrer’ (1993). O eficiente roteiro é de Eric Red, especialista em fitas de terror – ele escreveu e dirigiu, por exemplo, ‘Anatomia de um assassino’ (1991) e ‘Lua negra’ (1996).
No papel do rapaz perseguido sem trégua está C. Thomas Howell, na época no auge da carreira - era um queridinho de Hollywood, vinha de filmes jovens como ‘Vidas sem rumo’ (1983) e ‘Admiradora secreta’ (1985). O contraponto dele é o sinistro vilão, um papel memorável e ameaçador do holandês Rutger Hauer, que faz uma entrega completa – ele já estava nos Estados Unidos fazendo filmes desde ‘Blade runner – O caçador de androides’ (1982), quatro anos antes, e o papel foi oferecido, antes, a Sam Elliott e Terence Stamp. Também foi um dos primeiros trabalhos de Jennifer Jason Leigh, que vinha de ‘Picardias estudantis’ (1982) e depois se consagraria em ‘Mulher solteira procura’ (1992) e bem mais tarde seria indicada ao Oscar de atriz coadjuvante por ‘Os oito odiados’ (2015).
O filme tem toda uma construção de horror (e se olharmos bem, de faroeste), de perseguição ininterrupta de um assassino atrás de sua vítima, um jogo de gato e rato perverso e sanguinolento. Muito exibido na TV aberta, o filme acaba de sair em DVD pela Classicline, em disco único, junto com a continuação feita para home vídeo, o inferior e raso ‘A morte pede carona 2’ (2003 – Howell retorna ao papel, e aqui dá carona a outro maluco na mesma estrada onde tudo começou - o assassino desse segundo filme é Jake Busey, filho de Gary Busey). Em 2004 ‘A morte pede carona’ saiu em DVD pela Universal, na mesma cópia, e há ainda o remake de 2007, bem legal e mais violento, com Sean Bean interpretando o psicopata.




Um de meus filmes preferidos, que recomendo de olhos fechados – mas para assistir, fique de olhos bem abertos!

A morte pede carona (The hitcher). EUA, 1986, 97 minutos. Ação/Suspense. Colorido. Dirigido por Robert Harmon. Distribuição: Classicline

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Estreias da semana - Nos cinemas


Ninguém sai vivo daqui (2023)

Grande estreia nos cinemas hoje, ‘Ninguém sai vivo daqui’ é um drama brasileiro todo rodado num belíssimo preto-e-branco e baseado num triste contexto real que chocou o Brasil. Na década de 70, uma jovem é internada à força pelo pai no Hospital Psiquiátrico Colônia, em Barbacena (MG), por estar grávida. Lá, é alvo de torturas físicas e psicológicas, ameaçada dia e noite por funcionários. Tenta então escapar do hospital com ajuda de outros internos.
O roteiro é inspirado no livro ‘Holocausto brasileiro’, da jornalista Daniela Arbex, e foi escrito pelo diretor do longa, André Ristum, de ‘A voz do silencio’, ao lado de Marco Dutra, roteirista e diretor de ‘Trabalhar cansa’, e Rita Gloria Curvo, roteirista de ‘Macabro’. Ristum já havia discutido o tema na série do Canal Brasil ‘Colônia’, em 2021 – para o filme, ele utilizou parte do material gravado e incluiu cenas inéditas.
O hospital psiquiátrico Colônia, na época chamado de hospício, foi uma horrível página da História da saúde pública no Brasil. Ficou ativo por 70 anos, e no local mais de 60 mil pessoas morreram, vítimas de práticas desumanas, como tortura, espancamentos e eletrochoque – histórias reais das vítimas do hospital estão retratadas no ótimo documentário ‘Holocausto brasileiro’ (2016), disponível na Netflix.
O filme traz um bom trabalho de Fernanda Marques no papel principal e de coadjuvantes como Andréia Horta e Augusto Madeira.
Exibido no Festival de Brasília de 2023, foi produzido pela Sombumbo e TC Filmes, tem coprodução da Gullane, Geração Entretenimento, Canal Brasil e Karta Film. Distribuição nos cinemas pela Gullane+.



O sequestro do papa (2023)

Outra boa estreia nos cinemas brasileiros baseada em fato real e com uma história forte e trágica. Indicado à Palma de Ouro em Cannes e premiado com vários David di Donatello, o Oscar italiano, o drama, uma coprodução Itália, França e Alemanha, se passa durante uma década, entre os anos de 1858 e 1870, acompanhando o rapto de uma criança judia, Edgardo Mortara, por autoridades católicas. O menino, de sete anos, foi sequestrado porque foi batizado, quando enfermo, por uma empregada católica, e a lei de Roma da época proibia não-católicos de serem batizados. Edgardo foi retirado de sua casa, em Bologna, por ordem de Pio IX, e acolhido e bem tratado pelo papa por muitos anos, até crescer e se tornar sacerdote. Enquanto os pais tentavam resgatar o filho, a opinião pública se dividiu, fazendo com que a igreja passasse por infindáveis críticas.
Nome fundamental do cinema político italiano, o veterano e premiado Marco Bellocchio, de ‘De punhos cerrados’ e ‘Belos sonhos’, aos 84 anos, dirige e escreve um filme com vigor e consistência. Realizou uma grande obra de apelo político, com desenho de produção que lembra documentário, e ênfase nas tramas secundárias de uma história chocante praticamente esquecida. A estética utilizada parece um quadro pintado do romantismo, com cores fortes, contrastes e muito jogo de luz e sombra – veja a beleza do poster, que dá uma ideia do filme que você assistirá.
Não perca esse filme de vista. Distribuído nos cinemas pela Pandora Filmes.




quinta-feira, 4 de julho de 2024

Estreia no cinema - Nos cinemas

 

A flor do buriti (2023)

 


Entra hoje em cartaz nos principais cinemas brasileiros o premiado filme brasileiro ‘A flor do buriti’ (2023), que recebeu o troféu de melhor elenco na seção Un Certain Regard do Festival de Cannes. O drama, exibido em mais de 100 festivais mundiais, conta com direção da dupla João Salaviza e Renée Nader Messora, de ‘Chuva é cantoria na aldeia dos mortos’ (2018), e aqui voltam a tratar da questão indígena. Nesse novo e contundente estudo etnográfico, a dupla dá enfoque na resistência do povo Krahô, localizada no norte do Tocantins, para preservar seus costumes e suas terras. E segue o ponto de vista das crianças, de como elas lidam com as tradições e como veem os ataques ao seu povoado.
De narrativa plácida, pouquíssimos diálogos e muitas imagens grandiosas captadas na comunidade Krahô, o filme tece um forte comentário social sobre a luta desse grupo indígena e o confronto com fazendeiros e garimpeiros, que invadem suas terras desde a década de 40. Distribuído nos cinemas pela Embaúba Filmes.

Resenha Especial


Você nunca esteve realmente aqui

Joe (Joaquin Phoenix), um veterano de guerra, trabalha às escondidas resgatando garotas vendidas forçadamente pelas famílias para o crime e para a prostituição. Traumatizado por fatos obscuros do passado, ele mora com a mãe doente. Seu próximo trabalho será encontrar a filha de um senador, Nina (Ekaterina Samsonov), uma menor de idade que foi sequestrada e enviada para a escravidão sexual.

Da diretora de ‘Precisamos falar sobre o Kevin’ (2011), Lynne Ramsay, esse é mais um filme denso e complexo dela, novamente baseado em livro, com roteiro adaptado da própria cineasta. Escocesa, Lynne Ramsay não é uma realizadora de obras fáceis – ela faz filmes pesados, com temas que chegam a doer na alma, com alta carga dramática e momentos de extrema violência.
Nesse fabuloso drama com policial, na verdade um thriller que tem vaga semelhança com ‘Taxi driver’ (1976), Joaquin Phoenix, um dos maiores atores da atual geração, interpreta um ex-soldado da Guerra do Golfo traumatizado pelos horrores do conflito e pela infância maltratada. Tem visões distorcidas, é constantemente assombrado pelo passado e vive com a mãe doente mental, sozinhos numa casa velha. Hoje, já com mais de 50 anos, trabalha como detetive resgatando crianças e jovens que foram vendidos para o tráfico sexual. Carrega consigo um martelo, utilizando-o para uma prática nada ortodoxa: ele entra na casa dos bandidos e os estraçalha com a ferramenta, sem dó, levando no colo, para o carro, as vítimas do sequestro. Seu último trabalho será localizar a filha de um senador, raptada; na investigação, irá se deparar com uma teia de conspiração envolvendo pedofilia no alto escalão da política de Nova York.
A história se passa em dois dias na vida desse sujeito, um justiceiro sem limites, e nesse ‘filme de clima’, ficamos atentos e roendo as unhas até o último segundo do desfecho. Tudo porque funcionam direção, elenco e os elementos técnicos – em especial os enquadramentos, a fotografia, a montagem e a trilha sonora.




Ganhou dois prêmios importantes no Festival de Cannes – de melhor roteiro e melhor ator para Phoenix; o filme foi ovacionado em pé por sete minutos após a sessão. Para fazer o filme, Ramsay aproveitou bastante ideia do livro original alterando apenas partes da composição do personagem, fazendo uma obra sólida e sóbria, para adultos - o livro é de Jonathan Ames, lançado em 2013.
Disponível em bluray pela Versátil Home Video, em parceria com a Filmicca e a Supo Mungam Films, e no streaming tem para aluguel, no Prime Video, GooglePlay Filmes e Filmicca.

Você nunca esteve realmente aqui (You were never really here). Reino Unido/França, 2017, 89 minutos. Ação/Drama. Colorido. Dirigido por Lynne Ramsay. Distribuição: Versátil Home Video