Dois irmãos gêmeos, Gore e Kutchek (David e Peter Paul), são adotados
quando crianças por uma tribo, os Ragnicks, que mora num povoado tranquilo no
meio das cavernas. Um dia, um maligno senhor da guerra, Kadar (Richard Lynch),
invade o local, trucida os moradores e rapta os irmãos, preparando-os para
serem gladiadores. Até que uma disputa por um rubi sagrado fará Gore e Kutchek
entrar em uma jornada inesperada com muitos perigos.
Filme B que divertiu uma juventude inteira nas sessões da tarde, uma coprodução
EUA/Itália de aventura com guerreiros e monstros numa civilização perdida. Por
isso o filme não tem um tempo certo, é uma fantasia maluca entre a Idade da
Pedra e a Idade Média, sem preocupação com a História – há neandertais, arena
de gladiadores do Império Romano, cavaleiros das Cruzadas e monstros
mitológicos – ou seja, um mundo um tanto distópico e estranho.
É um filme descontraído para ver sem exigências, sem reclamar dos
canastrões que desfilam na tela. Dois deles são os irmãos gêmeos protagonistas,
David e Peter Paul, fisioculturistas e ex-lutadores de luta livre, que depois
fizeram filmes de comédia e ação como ‘Confusão em dobro’ (1992) e ‘Duas babás
nada perfeitas’ (1994) – David faleceu em 2020, enquanto Peter continua se
apresentando na TV. Richard Lynch faz um vilão, um violento senhor da guerra –
o ator fez mais de 150 filmes, muitos como antagonista, como ‘Invasão U.S.A.’
(1985) e ‘A volta do mestre dos brinquedos’ (1991).
O filme deu prejuízo na época e foi mal-recebido pela crítica. Todo
rodado na Itália (para ter custo de produção mais baixo), conta com figurinos
reaproveitados de uma fita parecida, ‘Guerreiros de fogo’ (1985), com Arnold Schwarzenegger.
A trilha sonora é do italiano Pino Donaggio, de ‘Vestida para matar’ (1980).
Outro italiano era o diretor, Ruggero Deodato, falecido recentemente,
que assinou um dos trabalhos mais provocadores de terror dos anos 80,
‘Holocausto canibal’ (1980), vendido como um ‘filme proibido’, um snuff sobre
canibalismo que até levou Deodato para a cadeia. Rodou nos EUA alguns longas,
mas nunca deixou a Itália. ‘Os bárbaros’ é seu longa mais popular e cultuado,
lançado recentemente em DVD pela Obras-primas do Cinema numa boa cópia.
Os bárbaros (The barbarians). EUA/Itália, 1987, 87
minutos. Ação/Aventura. Colorido. Dirigido por Ruggero Deodato. Distribuição:
Obras-primas do Cinema
O dentista
Dr. Feinstone (Corbin Bernsen) é um dentista conceituado que vive com a
esposa numa mansão. Quando flagra a mulher traindo-o com o jardineiro, entra em
parafuso. Ele desenvolve uma estranha forma de se livrar desse trauma: matando
seus clientes na cadeira de dentista.
A distribuidora Obras-primas do Cinema acaba de lançar uma edição
especial com os dois filmes de terror da franquia ‘O dentista’, feitos entre
1996 e 1998. É um disco em DVD, envolto numa luva especial, com capa dupla face
e trailers como extra. Ambos os filmes, B, misturam terror, um slasher gore,
com sadismo e humor negro, com um Corbin Bernsen sinistro como o protagonista.
Ele é um maníaco perturbado pela traição da esposa, que passa a matar pessoas
dentro e fora do consultório, com requintes de crueldade.
Há cenas de tortura com instrumentos odontológicos, com aquele
motorzinho chato arrebentando os dentes e as gengivas dos coitados – quem tem
aflição deve evitar. Como não lembrar de uma cena icônica do cinema, que deve
ter inspirado o diretor Brian Yuzna (de ‘A sociedade dos amigos do diabo’), a de
Dustin Hoffman sendo aterrorizado na cadeira de dentista pelo maquiavélico
nazista interpretado por Laurence Olivier no fantástico thriller ‘Maratona da
morte’ (1976)?
Com enquadramentos tortuosos que dão dor de cabeça, repleto de plongée e
contra-plongée, ‘O dentista’ fez sucesso na época do home vídeo e ganhou
continuação dois anos depois, com mesmo diretor e elenco.
O dentista (The dentist). EUA, 1996, 92 minutos. Terror.
Colorido. Dirigido por Brian Yuzna. Distribuição: Obras-primas do Cinema
O dentista 2
Internado num sanatório por ter matado seus pacientes no consultório, o
sádico dentista Dr. Feinstone (Corbin Bernsen) foge de lá, muda de identidade e
instala-se em uma cidadezinha do interior. Tenta uma nova vida, mas a vontade
de matar aumenta. Ele então passa a tocar o terror em sua nova clínica
odontológica.
Com mais humor negro e mortes mais violentas, com muita sangueira, ‘O
dentista 2’ causa furor e aflição com suas sequências de tortura e assassinato
no consultório odontológico. Corbin Bernsen, de ‘Garra de campeões’ (1989), retorna
com mais loucura no papel-título, o cruel dentista que depois de fugir do
sanatório, tenta uma nova vida, mas a vontade de matar é maior.
Brian Yuzna retorna também na direção – o diretor filipino consolidou-se
em filmes de terror B, no fim dos anos 80 com o ‘A sociedade dos amigos do
diabo’ (1989), depois ‘A noiva de Re-Animator’ (1990), ‘Natal sangrento 4 – A
iniciação (1990), ‘A volta dos mortos-vivos 3’ (1993), um dos segmentos de
‘Necronomicon – O livro proibido dos mortos’ (1993) e outros.
Saiu em DVD numa edição especial com o filme anterior, lançado pela
Obras-primas do Cinema. Cuidado com a classificação indicativa – 18 anos!
O dentista 2 (The dentist 2). EUA, 1998, 99 minutos.
Terror. Colorido. Dirigido por Brian Yuzna. Distribuição: Obras-primas do
Cinema
A ilha de Bergman
Na ilha de Fårö, no mar báltico, o diretor sueco Ingmar Bergman (1918-2007)
abre sua casa para uma conversa com a diretora Marie Nyreröd, em que falará
sobre seus filmes, os amores e a rotina.
A Versátil Home Video lançou a versão reduzida desse documentário feito para
a TV sueca, produzido pela Sveriges Television (SVT) em parceria com a Svensk
Filmindustri (SF) – esta, produziu a maioria dos filmes do diretor sueco. A
versão, curta, de 83 minutos, é uma edição americana, sendo que na Suécia o
telefilme saiu com 174 minutos. Mesmo com um corte bruto, conseguimos entrar na
alma do cineasta e compreender seu mundo particular. Nessa longa conversa com a
diretora Marie Nyreröd, Bergman, sozinho percorrendo os cômodos de sua casa na
ilha de Fårö, mostra sua rotina, discute como realizou grande parte de seus
filmes em sua residência, fala de seus casamentos e amores, a difícil relação
com os filhos, os divórcios (que viraram motivo de tema dos filmes e também de seus
tormentos) e também relembra um passado distante, de quando começou no teatro
antes do cinema. É uma conversa íntima e pessoal, conduzida por um dos maiores
mestres da Sétima Arte - o diretor sueco, nove vezes indicado ao Oscar, dirigiu
75 filmes e telefilmes, entre 1944 e 2003, foi casado com a atriz e musa de
seus longas, Liv Ullman, e na época do documentário estava com 86 anos.
O documentário vem como extra no bluray de “O sétimo selo” (1957),
lançado pela Versátil há poucos anos. Atenção, pois há um filme recente de
mesmo título, lançado em 2021, com Vicky Krieps, Tim Roth e Mia Wasikowska, que
se passa na ilha de Fårö e faz uma homenagem a Bergman.
A ilha de Bergman (Bergman och filmen,
Bergman och teatern, Bergman och Fårö). Suécia/Dinamarca/Noruega/Finlândia, 2004,
83 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Marie Nyreröd. Distribuição: Versátil Home
Video
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