Em trânsito
Georg (Franz Rogowski)
foge da França após a invasão nazista. Sem rumo, assume a identidade de um escritor
falecido. Com os documentos do morto, passa a viver sob a pele dele. Em
Marselha, é preso e conhece uma jovem, Marie (Paula Beer), que procura o marido
desaparecido. Os dois se apaixonam e encaram um romance complexo.
A Versátil Home Video
lançou, dois anos atrás, em parceria com a Supo Mungam, um dos filmes mais
complexos e disruptivos do cinema alemão atual, ‘Em trânsito’ (2018), obra
fundamental do diretor Christian Petzold. O diretor é um dos nomes mais
importantes da ‘Berliner Schule’, a ‘Escola de Berlim’, um movimento
cinematográfico alemão contemporâneo inspirado no cinema de autor decorrente do
Novo Cinema Alemão dos anos 60 e 70. Pupilo de Harun Farocki, diretor e
roteirista alemão daquele período, Petzold fez com ele uma parceria que rendeu
vários filmes, incluindo ‘Em trânsito’ – Farocki morreu em 2014 e não viu o
longa ser feito, já que foi lançado em 2018. Petzold e Farocki escreveram o
complexo roteiro baseado no romance da escritora alemã Anna Seghers, escrito e
publicado no fim da Segunda Guerra Mundial. Alteraram o perfil dos personagens
originais e ousaram rompendo a diegese – o filme se passa na invasão nazista na
França, mas não mais nos anos 40, e sim como se fosse o tempo presente
(percebe-se isso pelos carros atuais, roupas e bares modernos). Assim como os
filmes produzidos na ‘Escola de Berlim’, esse também trata de temas como crise
de identidade e incerteza social, com figuras psicologicamente perturbadas e
fugindo de seus problemas diários. Aqui, um rapaz tenta escapar da perseguição
nazista, assume a identidade de um homem morto num vagão de trem e vai para a
cidade do falecido ter uma nova vida. Tudo é muito estranho para ele (e
estranho é o cinema de Petzold), sempre há olhares desconfiados das pessoas,
como se algo estivesse na iminência de ocorrer. Uma narração seca, em off, de
alguém que o conhece muito bem, explica o cotidiano do personagem. Nunca fica
claro se o que o protagonista enfrenta é real ou é imaginado, o medo da guerra
deixou-o em estado de atenção constante.
Esse é o cinema desse
diretor criativo, cuja narrativa é desconexa e cíclica – tudo volta ao começo,
e você notará isso no final do filme. Como característica da Escola de Berlim,
há pouca trilha sonora. É um denso estudo de personagem em uma história fria.
Indico para os conhecedores do diretor e para quem curte filmes cult.
É possível fazer um
paralelo de ‘Em trânsito’ com outro bom longa do diretor, ‘Phoenix’ (2014), de
uma mulher desfigurada no Holocausto que busca encontrar o marido desaparecido.
Os alemães Franz
Rogowski e Paula Beer ganharam destaque no cinema de Petzold, e agora vem
trabalhando em diversos filmes de outros diretores – ele fez ‘Victoria’ (2015) e
‘Great freedom’ (2021), e ela, ‘Frantz’ (2016)
e os dois últimos de Petzold, ‘Undine’ (2020) e ‘Afire’ (2023 - que estreou no
Brasil em 03/11).
‘Em trânsito’ recebeu
indicação ao Urso de Ouro no Festival de Berlim. Em bluray, sai numa edição em
disco único, com luva reforçada e uma hora de extras.
Em trânsito (Transit). Alemanha/França, 2018, 101
minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Christian Petzold. Distribuição: Versátil
Home Video
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