Ao ficar doente, o poderoso e temido diretor do FBI J. Edgar Hoover (Leonardo DiCaprio) relembra sua vida pessoal e profissional. Ele passa a ser cuidado pelo companheiro de longa data, com quem tinha um caso escondido, o policial e vice-diretor do FBI Clyde Tolson (Armie Hammer).
Dirigido por Clint Eastwood, astro e diretor premiado, que está na ativa aos 93 anos, o filme é a história não contada de J. Edgar Hoover (1895-1972), que por 37 anos foi diretor do Federal Bureau of Investigation (FBI), um dos mais organizados centros policiais de investigação do mundo. Temido, adorado, aplaudido, depois que morreu levantaram-se duas suspeitas sobre ele: de que usava o cargo para subornar e ameaçar pessoas e de que era gay. O filme acompanha essas suposições, com foco no relacionamento discreto que teve com Clyde Tolson, um policial que se tornou seu braço direito e foi vice-diretor do FBI. O longa-metragem, que dividiu opinião da crítica e do público, não só coloca tais suspeitas como verdade, como mostra a fundo o relacionamento de Hoover e Tolson, morando juntos como um casal (o que nunca foi provado).
Fotos e documentos revelam que Hoover e Tolson eram muito próximos, foram flagrados inúmeras vezes em lugares públicos a sós (em jantares, por exemplo), e quando Hoover morreu, em 1972, Tolson herdou parte dos bens dele e da propriedade onde viveu – e para lá se mudou, falecendo três anos depois, em 1975.
Outro ponto do filme é mostrar Hoover com seus métodos implacáveis de destruir inimigos, censurando pessoas e perseguindo líderes acusando-os de comunistas (ele foi peça central na ‘caça às bruxas’ durante o Macarthismo). Também foi acusado de manipular e plantar provas em casos.
É um drama com extensos diálogos e um bom trabalho dos dois atores centrais, DiCaprio, indicado ao Globo de Ouro pelo papel, em papel sério e convicto, e Hammer com suas sutilezas – ele ganhou destaque em Hollywood a partir desse seu trabalho desafiador. O roteiro é bom e ousado, de Dustin Lance Black, ganhador do Oscar de melhor roteiro por “Milk: A voz da igualdade” (2008), mas sinto falta de um desfecho impactante e uma pitadinha de ação, que caberiam em algum lugar da história. Vejo também excesso de personagens (tem muita gente no elenco, são mais de 100 atores e atrizes que desfilam em participações pequenas, como Naomi Watts, Judi Dench, Adam Driver, Ken Howard, Josh Lucas, Dermot Mulroney, Josh Hamilton e Lea Thompson) e a fotografia é bem escura, que chega a atrapalhar sequências cruciais – assinada por Tom Stern, indicado ao Oscar por “A troca” (2008), também de Clint Eastwood, um colaborador frequente dos filmes do diretor. A maquiagem é um pouco over, realçada demais.
Não foi bem de bilheteria, não foi tão elogiado pela crítica, no entanto é uma história ousada e pouco convencional de Hoover, que mostra o outro lado dessa controversa figura pública.
Clint Eastwood é um diretor que lança de um a dois filmes por ano, tem quatro Oscars nas costas (dois de melhor filme e dois de direção) e nos últimos anos investe em fitas baseadas em histórias verídicas, como esse aqui, “Sniper americano” (2014), “Sully: O herói do rio Hudson” (2016), “15h17: Trem para Paris” (2018) e “O caso Richard Jewell’ (2019). Ele está dirigindo seu novo, “Juror #2”, um suspense de tribunal com grande elenco, incluindo ele de volta na atuação, previsto para o final de 2024.
J. Edgar está disponível em DVD e Bluray, pela Warner Bros, e em plataformas de streaming como HBO Max, e para aluguel na Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play.
J. Edgar (Idem). EUA, 2011, 137 minutos. Drama. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Clint Eastwood. Distribuição: Warner Bros.