A edição 2022 da Mostra de Cinema de SP continua até dia 02/11, em 15 cinemas da capital e em duas plataformas online (Sesc Digital e SP Cine Play). Confira drops com rápidos comentários dos melhores filmes desse ano da Mostra.
Nada de novo no front (Alemanha/EUA/Reino Unido, 2022, de Edward Berger)
A Mostra fez a premiére brasileira do novo filme de guerra da Netflix (no dia 21/10), que entrou hoje na plataforma. Essa é a terceira adaptação para o cinema do livro de memórias de Erich Maria Remarque, que lutou nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial como soldado alemão no front ocidental. O filme, muito bem realizado, com apuro técnico e cenas grandiosas de guerra, acompanha a tortuosa jornada do soldado novato no meio de um conflito que matou milhares de pessoas. Tem Daniel Brühl no elenco.
Luxemburgo,
Luxemburgo (Ucrânia,
2022, de Antonio Lukich)
Um dos melhores filmes
da Mostra desse ano, a comédia dramática ucraniana que se passa em Luxemburgo
traz uma inusitada história real: dois irmãos gêmeos, um policial e outro
motorista de caminhão, viajam para ver o pai doente num hospital. Mas não sabem
se quem irão encontrar é mesmo quem eles procuram. A edição é primorosa, o
roteiro tem sacadas brilhantes e o humor é inteligente. Indicado ao Venice
Horizons no Festival de Veneza, terá exibição presencial em SP ainda no 31/10.
Triângulo da tristeza (Suécia/França/Reino Unido/Alemanha,
2022, de Ruben Östlund)
Num cruzeiro de luxo, um jovem casal de modelos viaja com figuras
excêntricas, como um oligarca russo e um casal de velhinhos que vendiam armas
em guerras passadas. O comandante do navio é alcoólatra e está há dias trancado
em seu quarto. Até que uma tempestade em alto-mar faz com que o rumo da viagem
mude drasticamente, culminando numa noite de pesadelos, com vômitos e mortes.
Ainda estou digerindo esse filme levado às últimas consequências pelo diretor
de “Força maior” e “The square”, e que venceu a Palma de Ouro em Cannes esse
ano. Sem concessão, lança uma série de críticas ao mundo do fashionismo, da
elite decandente, dos tempos de redes sociais e da alta gastronomia. Um barato
(ah, prepare-se para cenas escatológicas!). Exibição presencial ainda em SP nos
dias 28/10 e 02/11.
Os anos do Super 8 (França, 2022, de Annie Ernaux)
Indicado ao Golden Eye
em Cannes, o doc é dirigido pela recém-ganhadora do Nobel de Literatura, Annie
Ernaux. Aqui ela resgata filmes caseiros em super 8 para contar a história de
sua família, filhos, casamento e viagens, como se fosse um autêntico livro de
memórias bem pessoais. Narrado por ela, é uma obra delicada, íntima e feminina,
que ganhou elogios do público não só da Mostra de SP mas de grande parte dos
festivais por onde passou (como Cannes, Busan, Roma, NY e Zurique). Exibição presencial
em SP ainda nos dias 28 e 30/10.
Alcarràs (Espanha/Itália, 2022, de Carla
Simón)
Vencedor do Urso de Ouro
em Berlim, o drama espanhol conta a história de uma família que cultiva
pêssegos no interior da Espanha que vê seus dias contados quando são ameaçados
de despejo. No local pretende-se instalar placas para energia solar, e a
família terá de se mudar. Enquanto lutam para permanecer no local, os pais
trabalham e as crianças vivem uma vida feliz no vilarejo de Alcarrás. Gostei
muito dessa fita de arte bonitinha, agradável, toda rodada nos campos da
Catalunha, com personagens fáceis de nos identificarmos (e torcermos por eles).
As crianças são adoráveis, há momentos de humor e drama bem dosados, e um
gancho atualíssimo, sobre o embate de pequenos agricultores com as majors que
querem a todo custo expandir seus negócios. Exibição presencial em SP ainda no
dia 31/10.
Você tem que vir e
ver (Espanha, 2022,
de Jonás Trueba)
Numa viagem por Madrid e
pelo interior da Espanha, dois casais discutem a essência da vida, seus modos
de enxergar o mundo e as crises que rondam cada um. Curtinho (com apenas 65
minutos), é um filme sincero de um jovem diretor, Jonás Trueba, que aprendeu muito
com o pai, o notório Fernando Trueba (de “Sedução”). Jonás soube trazer à tela
as controversas relações humanas, com diálogos poderosos e uma história
universal. Vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival de Karlovy Vary,
terá exibição presencial em SP no dia 29/10, e está online (gratuito) no Sesc
Digital até dia 02/11.
Hamlet (Brasil, 2022, de Zeca Brito)
Documentário sobre a
crise no mundo da política brasileira a partir de 2016, com o impeachment da
presidenta Dilma Rousseff (ou o golpe, como quiserem). O diretor gaúcho Zeca
Brito, de “O guri” e Legalidade”, foca seu mais novo filme nas manifestações dos
estudantes secundaristas que se juntaram aos movimentos sociais para tomar as
ruas quando do golpe em 2016, trazendo os desdobramentos desse caos, como a
eleição de Bolsonaro em 2018. Ao mesmo tempo, num teatro, Hamlet, o notório
personagem de William Shakespeare, procura espaço na sociedade – ele está atormentado
pela pergunta “ser ou não ser?”. Rodado em preto-e-branco, é um filme que deve
ser visto e discutido.
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