domingo, 14 de agosto de 2022

Resenha Especial


King Kong


Expedição em busca de petróleo chega a uma ilha isolada na Indonésia e lá encontra uma tribo que cultua uma divindade na floresta. A divindade é um enorme gorila apelidado por eles de King Kong. Dwan (Jessica Lange), uma jovem resgatada nas águas pela expedição, acaba raptada pelo macaco, então o grupo decide capturá-lo. A intenção é também levar o gorila até Nova York, para uma apresentação a céu aberto para o público.

Em 1974, o lendário produtor italiano Dino de Laurentiis decidiu fazer um remake ambicioso do famoso filme da era muda “King Kong” (1933). O projeto demorou dois anos para sair do papel, e somente em 1976 foi gravado. Custou caro e foi detonado na época pela crítica dividindo a opinião do público. Das três versões de Kong para o cinema (a primeira, de 1933, de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack; essa segunda, de 1976, de John Guillermin; e a de 2005, de Peter Jackson), esse remake para mim é a mais inferior, mas ainda há pontos altos que comentarei a seguir. O primeiro deles: lançou Jessica Lange ao cinema, num papel sedutor - ela até ganhou o Globo de Ouro de atriz revelação, faria em seguida “O show deve continuar” (1979) e receberia dois de seis dos Oscars que concorreria ao longo da carreira (por “Tootsie”, de 1982, e “Céu azul”, de 1994). É hoje uma das maiores atrizes do cinema. Outro ponto alto é o elenco, que vai dos bons Jeff Bridges e Charles Grodin a coadjuvantes de peso, como Rene Auberjonois, John Randolph e Ed Lauter. Terceiro ponto: os efeitos especiais dariam força para a trama, deixando Kong ainda mais perigoso, realista e assustador. Por isso levou merecidamente um Oscar especial de efeitos, para a equipe de Carlo Rambaldi, um dos magos do cinema, criador dos efeitos especiais de “Alien – O oitavo passageiro” (1979) e “ET: O extraterrestre” (1982). Rambaldi fez uma façanha inédita no cinema com um grupo de engenharia: confeccionou um macaco de 12 metros de altura e cinco toneladas de alumínio, borracha, todo hidráulico e elétrico, operado por 20 homens, com um custo de quase U$ 2 milhões, 10% do orçamento do filme (o filme todo custou U$ 24 mi). O sete vezes ganhador do Oscar de maquiagem e efeitos visuais Rick Baker estava em início de carreira e auxiliou na produção das próteses de macaco para as sequências do dublê vestido de Kong. Outros dois pontos altos são a fotografia escurecida, em tons sombrios, que ganhou o Oscar também, assinada por Richard H. Kline (de “O enigma de andrômeda”), e a trilha sonora do cinco vezes vencedor do Oscar John Barry.



Foram muitos problemas na produção: o filme foi rodado numa região de difícil acesso no Havaí, que ocasionou acidentes na equipe e demorou sete meses para ser gravado, além das panes no macaco robótico, os transtornos com os milhares de figurantes na cena final etc. Acho o filme longo demais, principalmente na primeira parte na floresta, e o desfecho muito rápido - faltou uma mão mais moderada do diretor britânico John Guillermin, de “Inferno na torre” (1974) e “Morte no Nilo” (1978), e mais injeção de humor.
Mas ainda é um cinemão na linha do blockbuster e disaster movie, com muitas cenas de destruição pelo macacão. Aliás, Kong ganharia outros contornos no cinema, com filmes que recontam suas origens, como a digna aventura “Kong: A ilha da caveira” (2017), e travando batalhas contra Godzilla (no movimentado longa de 2021 “Godzilla vs. Kong”).
Nessa versão de 1976, a produção modificou partes da história original de 1933, dando mais sensualidade a Dwan, e um final novo, em que em vez de o macaco escalar o Empire State, aqui sobe no World Trade Center (que tinha sido inaugurado três anos antes). Além de muita ação, incrementaram mais pitadas de romance entre o gorila e a beldade loira (e com isso clichês e breguices). Em 1986 Guillermin teve a loucura de dirigir a continuação, “King Kong 2” (1986), com Linda Hamilton e Brian Kerwin, um filme pavoroso e um dos piores do cinema.
O filme saiu numa edição de luxo em bluray, no ano passado, pela Obras-primas do Cinema, com pôster, três cards, livreto, luva, capa dupla e muitos extras no disco único. Esse ano, a pedido dos colecionadores, a distribuidora trouxe o mesmo filme em DVD, com parte dos extras e um card dentro. É a versão de cinema, de 134 minutos – aquela versão para TV americana, com 60 minutos a mais (194min), nunca saiu nem lá nem aqui.



King Kong (Idem). EUA, 1976, 134 minutos. Ação. Colorido. Dirigido por John Guillermin. Distribuição: Obras-primas do Cinema (DVD e Bluray)

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