São Bernardo
O humilde caixeiro-viajante Paulo Honório (Othon
Bastos) enriquece e compra terras no Alagoas. Casa-se com a professora Madalena
(Isabel Ribeiro) e aos poucos se torna um homem violento e obcecado, a ponto de
tratar com desprezo e indiferença a esposa, seus funcionários e os próprios
amigos.
Lançado em 1972 após sete meses de censura pelo
Regime Militar, o drama “São Bernardo”, baseado na obra de Graciliano Ramos
escrita em 1934, ganhou duas edições em DVD, a primeira distribuída pela Vídeo
Filmes, em 2008, e outra pelo Instituto Moreira Salles (IMS), em 2013. As duas
cópias estão excelentes, resultado do projeto de restauro digital da obra de
Leon Hirszman (1937-1987), diretor do longa-metragem (encabeçaram o trabalho de
restauração o crítico de cinema Carlos Augusto Calil, os irmãos Lauro e Eduardo
Escorel, diretores de cinema, e o primeiro diretor de fotografia do filme, e os
filhos do cineasta falecido, Maria e João Pedro Hirszman).
“São Bernardo” retrata a vida do modesto
caixeiro-viajante Paulo Honório (Othon Bastos), que, no interior de Alagoas,
enriquece de uma hora para outra e torna-se um homem rude e inescrupuloso.
Adquire terras, escraviza seus funcionários e tenta de todas as formas comprar
a vizinha fazenda de São Bernardo. Arranja um casamento forçado com a
professora Madalena (Isabel Ribeiro), que é tratada por ele como objeto. O
conflito entre o casal se intensifica quando Madalena resolve se livrar da
dominação do marido.
Em 1972 “São Bernardo” foi exibido no Festival de
Berlim, recebendo lá um prêmio especial, e em 1974 ganhou, no Festival de
Gramado, os Kikitos de Ouro de melhor ator para Bastos e melhor fotografia
(para Lauro Escorel), sem contar diversos prêmios APCA em São Paulo no mesmo
ano (como diretor, atriz para Isabel e ator coadjuvante para Nildo Parente).
A obra restaurada teve sua primeira exibição em tela
de cinema na noite de abertura do 41º Festival de Brasília de Cinema
Brasileiro, no dia 18 de novembro de 2008 (onde eu estava presente e lá
entrevistei Othon Bastos, Nildo Parente, Lauro Escorel e a filha de Leon, a
jornalista e crítica de arte Maria Hirszman). Na entrevista lembro bem que
Othon destacou as dificuldades em se adaptar a obra de Graciliano Ramos para o
cinema em plena época do Regime Militar (pois era um período de repressão). Bastos
compôs um dos personagens mais duros e complexos do cinema brasileiro nesse
filme, um homem temperamental, de extremos, conservador nas ideias e nos
costumes, frio e perturbado, que não aceita discordâncias. Chega a destratar até
o padre da região acusando-o de comunista, assim como a esposa (a grande atriz
Isabel Ribeiro, outro papel marcante em sua carreira), mulher convicta que diz
o que pensa. Opressor e machista, Paulo Honório sufoca todas suas relações
próximas, a ponto de espancar funcionários que exigem um salário digno. Um indivíduo
inescrupuloso, que representava o capitalismo selvagem e corrosivo e as ideias ultraconservadoras
que ainda pairam em nossa sociedade.
Sempre considerei um dos grandes filmes do cinema
brasileiro (que deve ser visto e discutido), revi há poucas semanas em DVD e
continua forte e presente! Um filme que não envelheceu e conta com um elenco de
coadjuvantes importantes, como Nildo Parente, Vanda Lacerda, Jofre Soares,
Mário Lago e Rodolfo Arena.
São Bernardo (Idem). Brasil, 1972, 111 minutos. Drama.
Colorido. Dirigido por Leon Hirszman. Distribuição: IMS (DVD de 2013);
VideoFilmes (DVD de 2008)
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