sábado, 9 de julho de 2022

Cine Cult


Blind


Ingrid (Ellen Dorrit Petersen) é uma mulher que está perdendo a visão. Assustada com a nova realidade que a cerca, tranca-se em seu apartamento. Lá vive com o marido que tenta compreender o que ocorre com ela. Os pensamentos de Ingrid, misturados a uma angústia incontrolável, fazem com que ela crie um mundo próprio de fantasias.

Um complexo drama de arte norueguês, coproduzido na Holanda, exibido nos cinemas brasileiros e que ganhou mídia física por aqui pela Imovision (em DVD). Venceu dezenas de prêmios internacionais, como troféus especiais no Festival de Berlim e em Sundance (onde concorreu ao Grande Prêmio do Juri), além de ser o finalista no Amanda Awards, o Oscar norueguês (lá ganhou melhor diretor, atriz para Ellen, edição e som).
Filmado na capital Oslo, em poucos ambientes, especialmente em interiores de casas e apartamentos, foi a estreia do diretor norueguês Eskil Vogt, indicado esse ano ao Oscar de melhor roteiro por “A pior pessoa do mundo” (2021), escrito em conjunto com o diretor da fita, Joachim Trier – aliás ambos têm longa parceria, escreveram o roteiro de filmes noruegueses importantes e bem recebidos pela crítica, como “Começar de novo” (2006), “Oslo, 31 de agosto” (2011) e o melhor de todos,  “Thelma” (2017). Em sua estreia, Vogt realizou um conto urbano sobre cegueira e alienação, às vezes perturbador e cheio de matizes e camadas. É uma história complexa, que vai e vem, que mistura passado e fantasias de uma personagem temerosa com seu futuro, já que está ficando cega e vive um casamento na corda bamba. Deve-se prestar atenção em todos os detalhes, pois há quatro personagens (dois homens e duas mulheres) que se alternam: a Ingrid verdadeira e uma jovem chamada Elin (que pode ser uma criação de sua imaginação, também cega), o marido e um cara viciado em sexo na internet (aliás, no início do filme há uma cena forte com compilação de vídeos pornôs assistidos por ele na rede).


O bom elenco garante a sessão, com destaque para a norueguesa Ellen Dorrit Petersen (de “Thelma”) como a protagonista, a sueca Vera Vitali (de “Amaldiçoada”), como a outra jovem cega, e os dois atores, Henrik Rafaelsen e Marius Kolbenstvedt.
Um efeito instigante usado no filme é uma espécie de fade (escurecimento) como uma intervenção com o público, para propor a dimensão da cegueira do personagem (parece que somos cegos igual ela, ouvindo vozes num fundo preto). Se gosta de fitas de arte europeias como eu, arrisque. Mas deixo claro que é voltado para poucos inseridos nesse cinema autoral e bem particular.

Blind (Idem). Noruega/Holanda, 2014, 96 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Eskil Vogt. Distribuição: Imovision

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