Iremar (Juliano Cazarré) trabalha nas vaquejadas,
preparando os bois para soltá-los na arena. Ele mora com um grupo de pessoas em
um caminhão. Sua melhor amiga é Galega (Maeve Jinkings), que tem uma filha
pequena. A instalação de fábricas têxteis na região faz despertar um sonho em
Iremar, o de se tornar costureiro. Mesmo acostumado com a rotina das
vaquejadas, tentará buscar esse novo trabalho.
Um bom filme brasileiro autoral sobre o universo e os
bastidores das vaquejadas, aquela espécie de rodeio no Nordeste brasileiro,
entendida por alguns como em esporte popular, em que os vaqueiros, montados em
cavalos, tentam derrubar bois em uma arena puxando-os pelo rabo. O filme é
tomado por personagens errantes, vivendo à margem no sertão brasileiro, em
busca de novos trabalhos e melhores condições de vida. Um deles é Iremar (o
sempre correto e austero Juliano Cazarré), que sonha em ser costureiro - e
quando descobre a instalação de indústrias têxteis na região, tenta conseguir
um emprega lá. É nesse ponto que o longa também trata da industrialização no
semiárido brasileiro, um ambiente duro e cruel, onde sonhos e desilusões se
misturam gerando um reflexo autêntico da realidade brasileira atual. Ele é
drama, com romance e um lado de road movie, com cenas de viagens de caminhão,
tudo conduzido com maestria pelo cineasta pernambucano Gabriel Mascaro (aliás,
um exímio documentarista e artista plástico, consagrado com suas instalações).
Ele é um mestre da linguagem. Transpõe para a tela imagens fortes, com uma
estética diferenciada, e aqui é onde encontramos seu melhor trabalho (há cenas
memoráveis, como a do tal boi neon, e outras eróticas, em especial a de uma
personagem vestida com cabeça de cavalo e roupas de couro e lantejoulas que se
apresenta num clube noturno). Há outros longas bons de Mascaro que recomendo,
como “Ventos de agosto” (2014) e “Divino amor” (2019).
Em “Boi neon” participam Juliano Cazarré e Maeve
Jinkings, e participações rápidas de Vinicius de Oliveira (o garotinho de “Central
do Brasil”) e Roberto Birindelli, além da menina Alyne Santana (que tem um
papel impressionante, e infelizmente não fez mais nada no cinema nem na TV). É
um filme de autor, repleto de sequências simbólicas e poderosas, numa trama
lenta, com um forte lado humano.
O roteiro é de Mascaro com colaboração de Marcelo
Gomes, diretor e roteirista de filmes que tem particularidades e semelhanças
com “Boi neon”, como “Cinema aspirinas e urubus” (2005, no caso o pano de
fundo, semiárido), “Viajo porque preciso, volto porque te amo” (2009, o
caminhão e o road movie) e “Estou me guardando para quando o carnaval chegar”
(2019, com a questão da costura e a indústria têxtil).
Vencedor de dezenas de prêmios em festivais como
Cartagena, Hamburgo, Havana, Nantes, Rio de Janeiro e do Sesc Melhores filmes –
e ainda teve menção honrosa no Tiff (Toronto) e prêmio especial do Júri na mostra
Venice Horizons, no Festival de Veneza.
Boi neon (Idem). Brasil/Uruguai/Holanda, 2015,
103 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Gabriel Mascaro. Distribuição: Imovision
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