quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Resenha especial


Blue

Uma tela azul. Sons incessantes de carros, máquinas, buzina, sinos e instrumentos cirúrgicos. Ao lado desses dois elementos, vozes de pessoas diferentes, de ambos os sexos, narram as experiências reais do diretor Derek Jarman com a Aids.

Ensaio fílmico derradeiro do cenógrafo, artista plástico, roteirista e diretor Derek Jarman (1942-1994), cultuada personalidade do cinema avant-garde inglês dos anos 80. De linguagem experimental e narrativa peculiar, o alegórico drama/documentário é um testamento comovente sobre o convívio de Jarman com a Aids - ele já estava com a saúde debilitada quando rodou em poucos dias esse projeto pessoal, todo narrado (com vozes do próprio Jarman, e de atores convidados, como Tilda Swinton e Nigel Terry, que nunca aparecem). Aliás, como mencionado na sinopse, o filme é monocromático, só vemos uma tela azul, inspirada nas cores do pintor francês Yves Klein, com os elementos em transição, como os sons de hospital e do trânsito, a trilha sonora instrumental de Simon F. Turner e as diferentes vozes que discorrem sobre temas determinantes para o realizador, morto poucos meses após o término das gravações.
Em tom de despedida, Jarman sensibiliza-se numa reflexão sobre a dureza do tratamento da triste doença que ele porta, com menções a breves lembranças da infância, e uma incisiva análise sobre o tempo e a morte, criando uma perspectiva da condição humana. O diretor expõe a fatalidade, fala sem melindres sobre a deterioração do corpo, tudo em forma indelével, poética. E assim, a todo o momento, invoca o azul como uma energia cósmica, uma entidade, num ritual de adeus.
Sem dúvida um dos momentos mais experimentais da História do Cinema e o trabalho mais emblemático de Derek Jarman, um diretor hoje esquecido, idealizador dos clipes das bandas Sex Pistols, The Smiths e Pet Shop Boys, e, na Sétima Arte, responsável por “pintar” retratos de personalidades de maneira simbólica, criativa e por vezes hermética, como bem fez em “Caravaggio” (1986), “Eduardo II” (1991) e “Magnicídio” (1978, conhecido também pelo título original, “Jubilee”, sobre a rainha Elizabeth I em viagem ao século XX). Por ser um artista plástico, tinha tamanha preocupação estética com cores, formas e signos semióticos. “Blue” é obra fundamental para os que pretendem se aproximar do cinema experimental. Já em DVD no Brasil. Por Felipe Brida 

Blue (Idem). Inglaterra/Japão, 1993, 79 min. Drama/ Documentário. Dirigido por Derek Jarman. Distribuição: Magnus Opus

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