Blue
Uma
tela azul. Sons incessantes de carros, máquinas, buzina, sinos e instrumentos
cirúrgicos. Ao lado desses dois elementos, vozes de pessoas diferentes, de
ambos os sexos, narram as experiências reais do diretor Derek Jarman com a Aids.
Ensaio
fílmico derradeiro do cenógrafo, artista plástico, roteirista e diretor Derek
Jarman (1942-1994), cultuada personalidade do cinema avant-garde inglês dos
anos 80. De linguagem experimental e narrativa peculiar, o alegórico
drama/documentário é um testamento comovente sobre o convívio de Jarman com a
Aids - ele já estava com a saúde debilitada quando rodou em poucos dias esse
projeto pessoal, todo narrado (com vozes do próprio Jarman, e de atores
convidados, como Tilda Swinton e Nigel Terry, que nunca aparecem). Aliás, como
mencionado na sinopse, o filme é monocromático, só vemos uma tela azul,
inspirada nas cores do pintor francês Yves Klein, com os elementos em
transição, como os sons de hospital e do trânsito, a trilha sonora instrumental
de Simon F. Turner e as diferentes vozes que discorrem sobre temas determinantes
para o realizador, morto poucos meses após o término das gravações.
Em
tom de despedida, Jarman sensibiliza-se numa reflexão sobre a dureza do
tratamento da triste doença que ele porta, com menções a breves lembranças da
infância, e uma incisiva análise sobre o tempo e a morte, criando uma
perspectiva da condição humana. O diretor expõe a fatalidade, fala sem
melindres sobre a deterioração do corpo, tudo em forma indelével, poética. E
assim, a todo o momento, invoca o azul como uma energia cósmica, uma entidade, num
ritual de adeus.
Sem
dúvida um dos momentos mais experimentais da História do Cinema e o trabalho
mais emblemático de Derek Jarman, um diretor hoje esquecido, idealizador dos clipes
das bandas Sex Pistols, The Smiths e Pet Shop Boys, e, na Sétima Arte, responsável
por “pintar” retratos de personalidades de maneira simbólica, criativa e por
vezes hermética, como bem fez em “Caravaggio” (1986), “Eduardo II” (1991) e
“Magnicídio” (1978, conhecido também pelo título original, “Jubilee”, sobre a
rainha Elizabeth I em viagem ao século XX). Por ser um artista plástico, tinha
tamanha preocupação estética com cores, formas e signos semióticos. “Blue” é
obra fundamental para os que pretendem se aproximar do cinema experimental. Já
em DVD no Brasil. Por Felipe Brida
Blue (Idem). Inglaterra/Japão, 1993, 79
min. Drama/ Documentário. Dirigido por Derek Jarman. Distribuição: Magnus Opus
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