quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Resenha

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Tropa de Elite

Rio de Janeiro, 1997. À frente do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), Capitão Nascimento (Wagner Moura) é designado para chefiar um grupo de policiais para vigiar o Morro do Turano. Ao mesmo tempo em que aceita a missão, procura por um substituto, a pedido da esposa, que está nos últimos meses de gravidez. Em um treinamento depara-se com dois aspirantes ideais para o cargo. Só que Nascimento encontra dificuldades em se “desligar” do serviço que tanto gosta. Os dias se passam, e uma série de incidentes no Morro, entre traficantes e milícia, acaba aproximando ainda mais o capitão da rotina no Bope.

O filme brasileiro mais comentado de todos os tempos, aplaudido de pé pelas plateias, por ser corajoso, retratar a verdadeira realidade social do nosso país. Assistido pela maioria dos brasileiros, “Tropa de Elite” percorre caminhos tristes do Rio de Janeiro, uma cidade que é um barril de pólvoras com o pavio aceso. As favelas dominadas pelo tráfico de drogas, a milícia conivente com as atrocidades nos morros cariocas, a polícia dividida entre homens do bem e cidadãos corrutos e inescrupulosos, o descaso do governo, tudo o que vemos há anos na mídia está agrupada no precioso trabalho de José Padilha, um dos cineastas notórios da última década.
Conquistou inclusive a crítica estrangeira e as plateias americanas e europeias. Participou da Seleção Oficial do Festival de Berlim, onde ganhou o Urso de Ouro em 2008, e de forma merecida venceu quase todas as categorias do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, considerado o Oscar tupiniquim.
Infelizmente a pirataria fez parte do processo de disseminação do filme, fato este que ficou famoso, foi divulgado aos quatro cantos e irritou os produtores. Durante a inserção de legendas em estúdio, a cópia foi pirateada e vazou para a internet. Antes da estreia, mais de 10 milhões de pessoas haviam assistido a “Tropa”. Virou caso de polícia.
Mas logo o sucesso nas salas de cinema abafou aquela triste situação. Jornais de grande circulação apontaram o filme como o melhor trabalho brasileiro dos últimos anos – Folha de SP e O Globo foram alguns dos veículos.
Não há como negar: “Tropa de Elite” virou febre nacional e é obrigatório, assim como a sequência, lançada três anos depois. Ambos são contundentes, sem concessão. Não há disfarces nem fantasias nem pisadas em ovos.
Ficou polêmico por questionar o trabalho da Polícia Militar (o Bope é uma força especial dela), mostrar corrupção dentro dessa organização que, supomos, serve para deter o bandido e barrar o avanço das drogas. Aqui nossas ideias do que é certo e errado andam na contramão...
Submete a uma extensa análise fatos corriqueiros nos morros, que chocam o público. Por um lado é a rede de drogas que começa no distribuidor, passa pelos traficantes até chegar dinheiro na mão da polícia, que é passiva; por outro é a milícia com seus acertos e execuções sumárias; na ponta de lá está um grupo de PMs sérios, no encalço de perigosos bandidos; e na extremidade oposta, muitos policiais corrompidos. Quer mais verdade?
“Tropa” denuncia o sistema, algo que se aprofunda veemente na continuação, “Tropa de Elite 2: O inimigo agora é outro” (repare na inversão dos papéis, somente pelo título).
Um trabalho primoroso, jóia do cinema brasileiro, com elenco consistente (Wagner Moura, o melhor ator da geração, consagrou-se aqui), edição nervosa e um roteiro brilhante.
O cineasta José Padilha (acusado de ter feito aqui uma obra fascista, pela truculência da polícia, comparando-a a um regime ditatorial), realizou antes o surpreendente documentário “Ônibus 174” e pouco depois o premiado “Garapa”. Hoje é respeitado pela carreira centrada em trabalhos sólidos, encarados com distinta seriedade. Por Felipe Brida

Tropa de Elite
(Idem). Brasil/ EUA/ Argentina, 2007, 116 min. Ação/ Policial. Dirigido por José Padilha. Distribuição: Universal Pictures

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