Luiz Melodia – No coração do Brasil
Documentário que foi o filme de encerramento do festival ‘É Tudo Verdade’
do ano passado, narrado em primeira pessoa pelo próprio cantor e compositor
Luiz Melodia (1951-2017). É uma imersão em seu vasto processo criativo, desde a
infância no Estácio junto ao Morro de São Carlos, no Rio de Janeiro, a
influência do pai na música, as dificuldades na incursão musical, a chegada aos
palcos e as parcerias com grandes nomes da MPB. Não é um doc linear, conta com
imagens e vídeos inéditos de arquivo pessoal do cantor, e como resultado é um
presente para lembrarmos vida e obra de Melodia. Produzido pela bigBonsai, em
coprodução com a MUK e a Plate Filmes, chega hoje aos cinemas, com distribuição
da Embaúba Filmes. É curtinho, tem apenas 75 minutos, e dirigido por Alessandra
Dorgan, da série ‘Mães do funk’ (2023).
Sol
de inverno
Aplaudido nos festivais por onde passou, como
Cannes, Toronto e San Sebastián, o delicadíssimo drama japonês traz uma
história bonitinha e agradável que, aos poucos, ganha dimensão conflitante. A
história se passa em uma pequena ilha do Japão, onde, no inverno, duas crianças
são treinadas por um professor para patinação artística no gelo. O garoto
Takuya deixa o hóquei no gelo de lado, algo que chama a atenção dos amigos e da
família, enquanto a menina Sakura é considerada uma esportista em ascensão. Ex-campeão
de patinação no gelo, o professor Arakawa junta os dois para intensos dias de
treinamento para um campeonato que reunirá grandes times da região. O filme tem
uma dinâmica incrível entre os personagens, com cenas belamente coreografadas
no gelo, difíceis de serem feitas. A luz em diversos momentos estoura na tela,
sinal dos conflitos que irão aparecer em breve na trama. O elenco é bom, as
crianças mandam bem, e não só no final, mas todo o filme causa fortes emoções.
Segundo longa do diretor Hiroshi Okuyama, que, junto do premiado diretor
Hirokazu Koreeda, dirigiu a série da Netflix ‘Makanai: Cozinhando para a casa
Maiko’ (2023). Em Cannes concorreu ao prêmio principal da seção ‘Um certo
olhar’ e ao Queer Palm. Exibido na Mostra Internacional de Cinema de SP de
2024, chega aos cinemas nesse fim de semana com distribuição da Michiko Filmes.
Misericórdia
O
diretor de ‘Um estranho no lago’ (2013), Alain Guiraudie, mais uma vez
chacoalha o público com seu novo longa-metragem, que foi exibido em Cannes e lá
indicado ao Queer Palm. O cinema gay do cineasta com reviravoltas inusitadas
retornam em outro nível em ‘Misericórdia’, um drama que vira comédia dramática,
sobre um jovem que retorna à cidadezinha natal para o funeral de um antigo
chefe. No vilarejo, resolve se instalar por alguns dias na casa da viúva do
homem, que tem um filho agressivo. Ele revê antigos amigos, fica próximo do
pároco que mora ao lado e parece estar se habituando àquela rotina, exceto
pelos atritos com o filho da viúva. Numa tarde, uma violenta briga com o rapaz
termina em um gravíssimo incidente, que dará margem a uma série de desencontros
enquanto está hospedado na cidade. O ator central, Félix Kysyl, de ‘O
formidável’ (2017),
segura o papel com um personagem de múltiplas camadas, que cresce em cena – de
um rapaz tímido, introvertido e sem falar muito, envolve-se com um crime e vai
se afeiçoando aos coadjuvantes de maneira ousada, abalando toda aquela
comunidade. O roteiro é imprevisível, que nos leva a caminhos impensáveis.
Conta com participação firme de uma atriz francesa que gosto muito, Catherine
Frot, de ‘Marguerite’ (2015). Há boas doses de um humor ácido, que transforma a
fita num dos melhores momentos do diretor Alain Guiraudie. Exibido na Mostra Internacional de
Cinema de SP de 2024, chega aos cinemas nesse fim de semana com distribuição pela
Zeta Filmes.
Maria
Callas
O
chileno Pablo Larraín encerra sua trilogia de biografias femininas com talvez o
melhor dos três trabalhos, ‘Maria Callas’, um belíssimo drama que reconstitui
os últimos dias da cantora lírica greco-americana, em Paris, no final dos anos 70.
Anteriormente Larraín fez ‘Jackie’ (2016), sobre Jacqueline Kennedy no dia da
morte do presidente Kennedy, e ‘Spencer’ (2021), sobre princesa Diana na
difícil decisão de se separar de príncipe Charles – nos dois, as atrizes foram
indicadas ao Oscar, Natalie Portman e Kristen Stewart. E agora, Angelina Jolie
é Maria Callas, numa interpretação assombrosa, a melhor de sua carreira, e
provável indicada ao Oscar em 2025. O filme acompanha a tumultuada trajetória
da cantora, em crise com a voz, atormentada pelo passado e dependente de sedativos.
Ela entra numa fase de autodestruição, isolada em sua mansão, somente em
contato com seu mordomo (Pierfrancesco Favino), a cozinheira (Alba Rohrwacher)
e com uma figura que ela cria em sua mente, uma espécie de
autocontrole/alterego, que tem o nome do remédio em que ela é viciada, Mandrax (Kodi
Smit-McPhee). Temperamental, Maria recorre a lembranças da época de ouro de sua
carreira, nos anos 40 e 50, enquanto tenta voltar aos palcos com sua melhor
performance. Belo e trágico, tem uma esplêndida direção de arte e figurinos,
que é um investimento estético fora de série nas obras de Larraín. Indicado ao
Leão de Ouro em Veneza, a coprodução Itália, Alemanha e Chile traz um elenco em
sintonia, e participações ainda de Valeria Golino, Vincent Macaigne e Haluk Bilginer. Exibido nos festivais de
Nova York e Londres, foi o filme de abertura da Mostra Internacional de Cinema de SP de 2024. Com
produção assinada pela Netflix, chega aos cinemas pela Diamond Films.
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