quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Estreias da semana - Nos cinemas

 

Luiz Melodia – No coração do Brasil

 

Documentário que foi o filme de encerramento do festival ‘É Tudo Verdade’ do ano passado, narrado em primeira pessoa pelo próprio cantor e compositor Luiz Melodia (1951-2017). É uma imersão em seu vasto processo criativo, desde a infância no Estácio junto ao Morro de São Carlos, no Rio de Janeiro, a influência do pai na música, as dificuldades na incursão musical, a chegada aos palcos e as parcerias com grandes nomes da MPB. Não é um doc linear, conta com imagens e vídeos inéditos de arquivo pessoal do cantor, e como resultado é um presente para lembrarmos vida e obra de Melodia. Produzido pela bigBonsai, em coprodução com a MUK e a Plate Filmes, chega hoje aos cinemas, com distribuição da Embaúba Filmes. É curtinho, tem apenas 75 minutos, e dirigido por Alessandra Dorgan, da série ‘Mães do funk’ (2023).

 


 

Sol de inverno

 

Aplaudido nos festivais por onde passou, como Cannes, Toronto e San Sebastián, o delicadíssimo drama japonês traz uma história bonitinha e agradável que, aos poucos, ganha dimensão conflitante. A história se passa em uma pequena ilha do Japão, onde, no inverno, duas crianças são treinadas por um professor para patinação artística no gelo. O garoto Takuya deixa o hóquei no gelo de lado, algo que chama a atenção dos amigos e da família, enquanto a menina Sakura é considerada uma esportista em ascensão. Ex-campeão de patinação no gelo, o professor Arakawa junta os dois para intensos dias de treinamento para um campeonato que reunirá grandes times da região. O filme tem uma dinâmica incrível entre os personagens, com cenas belamente coreografadas no gelo, difíceis de serem feitas. A luz em diversos momentos estoura na tela, sinal dos conflitos que irão aparecer em breve na trama. O elenco é bom, as crianças mandam bem, e não só no final, mas todo o filme causa fortes emoções. Segundo longa do diretor Hiroshi Okuyama, que, junto do premiado diretor Hirokazu Koreeda, dirigiu a série da Netflix ‘Makanai: Cozinhando para a casa Maiko’ (2023). Em Cannes concorreu ao prêmio principal da seção ‘Um certo olhar’ e ao Queer Palm. Exibido na Mostra Internacional de Cinema de SP de 2024, chega aos cinemas nesse fim de semana com distribuição da Michiko Filmes.

 


 

Misericórdia

 

O diretor de ‘Um estranho no lago’ (2013), Alain Guiraudie, mais uma vez chacoalha o público com seu novo longa-metragem, que foi exibido em Cannes e lá indicado ao Queer Palm. O cinema gay do cineasta com reviravoltas inusitadas retornam em outro nível em ‘Misericórdia’, um drama que vira comédia dramática, sobre um jovem que retorna à cidadezinha natal para o funeral de um antigo chefe. No vilarejo, resolve se instalar por alguns dias na casa da viúva do homem, que tem um filho agressivo. Ele revê antigos amigos, fica próximo do pároco que mora ao lado e parece estar se habituando àquela rotina, exceto pelos atritos com o filho da viúva. Numa tarde, uma violenta briga com o rapaz termina em um gravíssimo incidente, que dará margem a uma série de desencontros enquanto está hospedado na cidade. O ator central, Félix Kysyl, de ‘O formidável’ (2017), segura o papel com um personagem de múltiplas camadas, que cresce em cena – de um rapaz tímido, introvertido e sem falar muito, envolve-se com um crime e vai se afeiçoando aos coadjuvantes de maneira ousada, abalando toda aquela comunidade. O roteiro é imprevisível, que nos leva a caminhos impensáveis. Conta com participação firme de uma atriz francesa que gosto muito, Catherine Frot, de ‘Marguerite’ (2015). Há boas doses de um humor ácido, que transforma a fita num dos melhores momentos do diretor Alain Guiraudie. Exibido na Mostra Internacional de Cinema de SP de 2024, chega aos cinemas nesse fim de semana com distribuição pela Zeta Filmes.

 



 

Maria Callas

 

O chileno Pablo Larraín encerra sua trilogia de biografias femininas com talvez o melhor dos três trabalhos, ‘Maria Callas’, um belíssimo drama que reconstitui os últimos dias da cantora lírica greco-americana, em Paris, no final dos anos 70. Anteriormente Larraín fez ‘Jackie’ (2016), sobre Jacqueline Kennedy no dia da morte do presidente Kennedy, e ‘Spencer’ (2021), sobre princesa Diana na difícil decisão de se separar de príncipe Charles – nos dois, as atrizes foram indicadas ao Oscar, Natalie Portman e Kristen Stewart. E agora, Angelina Jolie é Maria Callas, numa interpretação assombrosa, a melhor de sua carreira, e provável indicada ao Oscar em 2025. O filme acompanha a tumultuada trajetória da cantora, em crise com a voz, atormentada pelo passado e dependente de sedativos. Ela entra numa fase de autodestruição, isolada em sua mansão, somente em contato com seu mordomo (Pierfrancesco Favino), a cozinheira (Alba Rohrwacher) e com uma figura que ela cria em sua mente, uma espécie de autocontrole/alterego, que tem o nome do remédio em que ela é viciada, Mandrax (Kodi Smit-McPhee). Temperamental, Maria recorre a lembranças da época de ouro de sua carreira, nos anos 40 e 50, enquanto tenta voltar aos palcos com sua melhor performance. Belo e trágico, tem uma esplêndida direção de arte e figurinos, que é um investimento estético fora de série nas obras de Larraín. Indicado ao Leão de Ouro em Veneza, a coprodução Itália, Alemanha e Chile traz um elenco em sintonia, e participações ainda de Valeria Golino, Vincent Macaigne e Haluk Bilginer. Exibido nos festivais de Nova York e Londres, foi o filme de abertura da Mostra Internacional de Cinema de SP de 2024. Com produção assinada pela Netflix, chega aos cinemas pela Diamond Films.




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