terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Estreias da semana - Nos cinemas e no streaming

 

Encontro com o ditador (2024)

 

Cineasta cambojano envolvido em questões humanitárias, o veterano Rithy Panh apresenta em seus filmes um retrato visceral das atrocidades do Khmer Vermelho, partido comunista liderado pelo revolucionário Pol Pot, que comandou o Camboja entre 1975 e 1979, e matou quase duas milhões de pessoas. Quase todos seus trabalhos – documentários e ficção, tratam desse contexto, como ‘Condenados à esperança’ (1994), ‘A imagem que falta’ – indicado ao Oscar de documentário em 2014 e ‘Túmulos sem nome’ (2018). Seu novo longa, inspirado numa história verídica, ‘Encontro com o ditador’ (2024), retorna ao tema, de maneira profunda e dolorosa. Com fundo de docudrama, conta a história de três jornalistas franceses que viajam a Phnom Penh, capital do Camboja, para entrevistar o ditador Pol Pot. Eles ficam hospedados num antigo hotel, recebidos por ministros de Estado, mas nunca conseguem acesso a Pot. As entrevistas com o presidente são desmarcadas, a violência no país cresce, e os três colegas de trabalho ficam presos e incomunicáveis, sem saber se sairão com vida do Camboja.
Sombrio, faz um reflexo sobre o genocídio cruel do povo cambojano, mostrando com precisão as páginas mais amargas da História daquele país asiático. Rithy Panh elenca detalhes de dentro do regime e assim mostra o que pouca gente de seu país ousou trazer, devido a retaliações. Ele conta uma história cruel e apreensiva, de censura a jornalistas num país terra-de-ninguém. Pol Pot (1925-1998) é considerado um dos ditadores mais infames do século XX, que governou o Kampuchea, o Estado cambojano, sob uma ditadura totalitária. É o exemplo mais real da ‘banalidade do mal’, de Hannah Arendt, nu e cru.
Exibido em Cannes e depois no Festival do Rio, o drama tem forte apelo dramático e foca na perturbação psicológica dos protagonistas, os jornalistas, constantemente ameaçados, discutindo assim liberdade de expressão e agressão ao Estado de Direito. Livremente inspirado na vida da jornalista Elisabeth Becker e em seu livro ‘When the war was over’, sucesso de vendas nos anos 80.
A parte técnica é boa demais - o filme foi gravado com enquadramento de TV, como se fosse uma super8, a fotografia exibe um Camboja desolado e vazio, e a ficção é mesclada com cenas reais de arquivo em preto-e-branco, dos campos de concentração do Kampuchea. As pequenas sequências dos bonecos de argila também é um destaque do longa.
Lidera o elenco a premiada atriz franco-suíça Irène Jacob, de ‘A fraternidade é vermelha’ (1994), que com brilho e destreza interpreta a protagonista, uma experiente jornalista que retorna ao Camboja com dois colegas de profissão.
Representante do Camboja para disputar uma vaga no Oscar de filme estrangeiro de 2025, o filme estreou no último fim de semana nos cinemas brasileiros pela Pandora Filmes.




 

 

Charlie em ação (2023)

 

Nome familiar para os fãs de cinema policial e suspense, Phillip Noyce volta com tudo em seu novo trabalho, ‘Charlie em ação’ (2023). Diretor australiano, de dezenas de filmes-pipoca conhecidos, como ‘Terror a bordo’ (1989), ‘Fúria cega’ (1989), ‘Jogos patrióticos’ (1992), ‘O colecionador de ossos’ (1999) e ‘Salt’ (2010), agora puxa para a cena o ex-James Bond Pierce Brosnan, na pele de Charlie Swift, um criminoso desconfiado, que duvida das pessoas, e carrega consigo todos os truques quando o assunto é assassinato. Ele é o braço-direito de um mafioso, Stan, que está velho e doente na cadeira de rodas (último trabalho de James Caan, de ‘O poderoso chefão’, falecido logo após as gravações, em 2022). Charlie recebe a incumbência de eliminar um desafeto de Stan. Tudo parece correr bem, o alvo é eliminado, no entanto uma reviravolta no caso faz com que Stan e seus capangas sejam mortos. Charlie, movido pelo sentimento de vingança, sai à procura dos assassinos no submundo do crime, numa jornada infernal e arriscada.
Brosnan produz o filme, inspirado no livro de Victor Gischler, e conduz a trama com bom humor e sagacidade. Seu olhar de desconfiança é um barato, junto com o riso de canto de boca. O ator está em plena forma para correr e atirar, uma espécie de James Bond alternativo – na época da gravação, Brosnan estava com 69 anos. No elenco, vemos ainda Morena Baccarin, atriz de descendência brasileira, de ‘Deadpool’ (2016), Gbenga Akinnagbe, de ‘O fim da escuridão’ (2010), e participação especial da atriz de TV ganhadora do Emmy Sharon Gless. É um rápido e movimentado thriller com comédia que não desaponta – gosto em especial da cena inicial, a da primeira morte, que beira o pastelão, com toques de humor negro. Estreou dia 01/01 no Adrenalina Pura, plataforma especializada em fitas de ação e suspense.




Nenhum comentário:

Resenhas especiais

Especial ‘Sementes do Nazismo’ O ovo da serpente Em 1923, durante a República de Weimar, na Alemanha, o trapezista judeu Abel Rosenberg (Dav...