Encontro com o ditador (2024)
Cineasta cambojano envolvido em questões humanitárias, o veterano Rithy
Panh apresenta em seus filmes um retrato visceral das atrocidades do Khmer
Vermelho, partido comunista liderado pelo revolucionário Pol Pot, que comandou o
Camboja entre 1975 e 1979, e matou quase duas milhões de pessoas. Quase todos
seus trabalhos – documentários e ficção, tratam desse contexto, como ‘Condenados
à esperança’ (1994), ‘A imagem que falta’ – indicado ao Oscar de documentário
em 2014 e ‘Túmulos sem nome’ (2018). Seu novo longa, inspirado numa história verídica,
‘Encontro com o ditador’ (2024), retorna ao tema, de maneira profunda e
dolorosa. Com fundo de docudrama, conta a história de três jornalistas franceses
que viajam a Phnom Penh, capital do Camboja, para entrevistar o ditador Pol
Pot. Eles ficam hospedados num antigo hotel, recebidos por ministros de Estado,
mas nunca conseguem acesso a Pot. As entrevistas com o presidente são
desmarcadas, a violência no país cresce, e os três colegas de trabalho ficam
presos e incomunicáveis, sem saber se sairão com vida do Camboja.
Sombrio, faz um reflexo sobre o genocídio cruel do povo cambojano, mostrando
com precisão as páginas mais amargas da História daquele país asiático. Rithy Panh
elenca detalhes de dentro do regime e assim mostra o que pouca gente de seu país
ousou trazer, devido a retaliações. Ele conta uma história cruel e apreensiva,
de censura a jornalistas num país terra-de-ninguém. Pol Pot (1925-1998) é
considerado um dos ditadores mais infames do século XX, que governou o Kampuchea,
o Estado cambojano, sob uma ditadura totalitária. É o exemplo mais real da ‘banalidade
do mal’, de Hannah Arendt, nu e cru.
Exibido em Cannes e depois no Festival do Rio, o drama tem forte apelo
dramático e foca na perturbação psicológica dos protagonistas, os jornalistas, constantemente
ameaçados, discutindo assim liberdade de expressão e agressão ao Estado de Direito.
Livremente inspirado na vida da jornalista Elisabeth Becker e em seu livro ‘When
the war was over’, sucesso de vendas nos anos 80.
A parte técnica é boa demais - o filme foi gravado com enquadramento de
TV, como se fosse uma super8, a fotografia exibe um Camboja desolado e vazio, e
a ficção é mesclada com cenas reais de arquivo em preto-e-branco, dos campos de
concentração do Kampuchea. As pequenas sequências dos bonecos de argila também
é um destaque do longa.
Lidera o elenco a premiada atriz franco-suíça Irène Jacob, de ‘A
fraternidade é vermelha’ (1994), que com brilho e destreza interpreta a protagonista,
uma experiente jornalista que retorna ao Camboja com dois colegas de profissão.
Representante do Camboja para disputar uma vaga no Oscar de filme
estrangeiro de 2025, o filme estreou no último fim de semana nos cinemas
brasileiros pela Pandora Filmes.
Charlie em ação (2023)
Nome familiar para os fãs de cinema policial e suspense, Phillip Noyce
volta com tudo em seu novo trabalho, ‘Charlie em ação’ (2023). Diretor australiano,
de dezenas de filmes-pipoca conhecidos, como ‘Terror a bordo’ (1989), ‘Fúria
cega’ (1989), ‘Jogos patrióticos’ (1992), ‘O colecionador de ossos’ (1999) e ‘Salt’
(2010), agora puxa para a cena o ex-James Bond Pierce Brosnan, na pele de
Charlie Swift, um criminoso desconfiado, que duvida das pessoas, e carrega
consigo todos os truques quando o assunto é assassinato. Ele é o braço-direito
de um mafioso, Stan, que está velho e doente na cadeira de rodas (último
trabalho de James Caan, de ‘O poderoso chefão’, falecido logo após as
gravações, em 2022). Charlie recebe a incumbência de eliminar um desafeto de
Stan. Tudo parece correr bem, o alvo é eliminado, no entanto uma reviravolta no
caso faz com que Stan e seus capangas sejam mortos. Charlie, movido pelo
sentimento de vingança, sai à procura dos assassinos no submundo do crime, numa
jornada infernal e arriscada.
Brosnan produz o filme, inspirado no livro de Victor Gischler, e conduz
a trama com bom humor e sagacidade. Seu olhar de desconfiança é um barato, junto
com o riso de canto de boca. O ator está em plena forma para correr e atirar,
uma espécie de James Bond alternativo – na época da gravação, Brosnan estava
com 69 anos. No elenco, vemos ainda Morena Baccarin, atriz de descendência
brasileira, de ‘Deadpool’ (2016), Gbenga Akinnagbe, de ‘O fim da escuridão’ (2010),
e participação especial da atriz de TV ganhadora do Emmy Sharon Gless. É um
rápido e movimentado thriller com comédia que não desaponta – gosto em especial
da cena inicial, a da primeira morte, que beira o pastelão, com toques de humor
negro. Estreou dia 01/01 no Adrenalina Pura, plataforma especializada em fitas
de ação e suspense.
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