terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Estreias da semana - Nos cinemas e no streaming


A semente do fruto sagrado (2024)

 

Está em exibição nas principais salas do país uma das melhores estreias de 2025, um filmão imperdível. Representante da Alemanha no Oscar desse ano, a coprodução com França e Irã, falado em persa, é um drama com suspense tenso, corajoso, que enfrenta de cabeça erguida o regime teocrático no Irã e suas terríveis consequências. O filme é a degradação de uma família de classe média alta do Irã, focando a relação de um pai com a esposa e duas filhas. Aparentemente em harmonia, aos poucos aquele núcleo familiar entra em colapso. Tudo começa quando o patriarca é promovido a juiz de instrução, ganha uma arma para o trabalho e tem centenas de casos difíceis para resolver. A esposa, que cuida da casa, comemora, pois deverão se mudar para uma casa melhor. As filhas são estudantes e questionam o regime iraniano. Certo dia, explodem protestos nas ruas contra o uso do hijab, as vestes femininas obrigatórias. A rua se incendeia, e a agitação política entra em novo patamar com a morte de uma garota, espancada pela polícia. As universidades são alvo, a polícia invade lá e as escolas. Até que as duas irmãs acolhem uma amiga, ferida na manifestação – a esposa reluta em abrigá-la, com medo do marido, mas cede, e a esconde, sem contar para ele. A arma dele desaparece, e uma sucessão de pequenas coisas começam a abalar a família. O marido imagina-se perseguido na rua, resolve se mudar logo de casa e parte para cima da esposa e das filhas em busca do revólver sumido. A partir daí o filme toma rumos inesperados, enquanto os personagens são envolvidos num clima de tensão e descontrole. Discute-se, nesse trabalho peculiar escrito e dirigido pelo iraniano Mohammad Rasoulof, o papel da mulher em uma sociedade patriarcal e opressora, a incomunicabilidade de uma família prestes a se desmantelar e a alienação num dos países mais conservadores do mundo, o Irã. Rasoulof já havia tratado de temas que aparecem aqui, como pena de morte e crise política, em dois grandes trabalhos, ‘Manuscritos não queimam’ (2013) e ‘Não há mal algum’ (2020), premiados respectivamente em Cannes e Berlim. O diretor, assim como Jafar Panahi, precisou fugir do Irã após ser perseguido, e roda seus trabalhos em outros países. O filme ganhou cinco prêmios no Festival de Cannes, como o Especial do Júri e o da Crítica, concorreu ao Globo de Ouro (de melhor filme de língua não-inglesa) e está na disputa do Bafta de filme estrangeiro – deve ser finalista do Oscar e concorrer com o nosso ‘Ainda estou aqui’. O elenco é formidável, com protagonistas e coadjuvantes de peso, como Mahsa Rostami, Setareh Maleki, Niousha Akhshi, Missagh Zareh e Soheila Golestani.
O drama tem clara inspiração no movimento ‘Mulheres, vida e liberdade’, a incansável luta das mulheres iranianas contra as amarras do regime teocrático. O movimento ganhou mais notoriedade nos últimos anos – e o filme traz cenas do caso – com a morte brutal da estudante Mahsa Amini, de 22 anos, espancada pela Polícia da Moralidade do Teerã em setembro de 2022, por reivindicar o fim do uso da hijab. Ela virou um rosto emblemático dessa luta.
A première no Brasil ocorreu no Festival do Rio do ano passado, onde vi numa sessão lotada e aplaudida no final. Agora está nos cinemas brasileiros pela Mares Filmes. Não percam por nada.

 


 

Redenção (2021)

 

Com atraso de quatro anos, chega aos cinemas brasileiros pela Pandora Filmes o eficiente drama político espanhol ‘Redenção’ (2021), baseado em uma história real. Dirigido pela cineasta espanhola e atriz Icíar Bollaín, o contundente longa toca em temas como luto e reparação, com o terrorismo do ETA como pano de funda - organização nacionalista que reivindica a pátria basca, localizada entre Espanha e França. A personagem-título (o título original é ‘Maixabel’), Maixabel Lasa (1951-), é uma ativista política que busca respostas sobre o assassinato do marido, o político de esquerda Juan María Jaúregui (1951-2000), cometido pelo ETA em 2000. A história se passa 11 anos depois da morte de Juan, quando Maixabel - papel fenomenal da atriz espanhola Blanca Portillo, de filmes de Pedro Almodóvar, como ‘Abraços partidos’ (2009) e ‘Volver’ (2006), recebe a proposta de se encontrar frente a frente com o assassino do marido, dentro da prisão basca de Nanclares de la Oca, onde cumpre pena. O criminoso, Ibon – papel do bom Luis Tosar, hoje rosto frequente em filmes e séries espanhóis da Netflix, como a minissérie ‘Os favoritos de Midas’, rompeu com o grupo terrorista e faz o contato com Maixabel, para explicar sobre o passado e se desculpar. Juan e Maixabel viveram 16 anos juntos, e ela ainda sente a morte dele. Maixabel reluta em participar do encontro, mas aceita, e entre os dois haverá uma discussão sobre luto, dor e reconciliação.
Um genuíno trabalho de atores, premiado no Festival de San Sebastián e ganhador de três Goya, a maior premiação do cinema espanhol, dentre eles o de melhor atriz para Blanca.
Um filme emocionante, que levanta a discussão da Justiça Restaurativa – em 2011, Maixabel trouxe à tona a questão na Espanha, ao atender vítimas de terrorismo. Os círculos restaurativos têm como objetivo reunir agressor e vítima para uma conversa em torno da dor provocada e do real arrependimento, sem que isso impacte na pena do criminoso. Gostei muito do filme e espero que encontre o público.

 


 

The Moon: Sobrevivente (2023)

 

Assistindo a ‘The Moon: Sobrevivente’ chego à conclusão que o cinema de ficção científica sul-coreano é páreo às produções americanas de mesmo tema. Uma história tensa, cheia de corre-corre e surpresas e um balde de efeitos visuais de deslumbrar fazem do longa um dos melhores filmes da Coreia do Sul dessa temporada. Agora o filme chega aos cinemas com distribuição da Sato Company. Tem dois protagonistas, Sul Kyung-gu, de ‘Memórias de um assassino’ (2017), e o cantor da banda de K-Pop ‘Exo’, Do Kyung-soo, que estão bem nos papeis e fazem das tripas coração. A história se passa em 2029, dentro de uma nave espacial. Hwang (Do Kyung-soo) é o único astronauta sobrevivente de uma missão fracassada na Lua, onde todos os colegas tripulantes morreram. Numa base militar na Terra, uma equipe liderada por Kim Jae-gook (Sul Kyung-gu) faz os esforços necessários para trazer o jovem de volta. O tempo é curto, então todos terão que se desdobrar para aquela missão de resgate.
Com cenários grandiosos, rodados em estúdios, que recriam a nave e a Lua, tem cenas movimentadíssimas de fugas mirabolantes e explosões no espaço, tudo por meio de ótimos efeitos visuais. A Coreia do Sul se tornou uma potência espacial, por isso o filme carrega tanto significado para eles. Uma fita para vibrar e torcer, escrita e dirigida por Kim Yong-hwa, da série da Netflix ‘Along with the Gods’. Indicado a diversos prêmios nos dois festivais mais conhecidos da Coreia do Sul, o Grand Bell Awards e o Blue Dragon Awards.

 


 

Aquele que habita em mim (2022)

 

Descartável fita de terror com suspense que traz para os tempos atuais um crime chocante verídico, ocorrido nos Estados Unidos no fim do século XIX, conhecido por ‘O caso Lizzie Borden’. Na trama, uma adolescente acredita ser descendente direta de Lizzie Borden, mulher acusada, em 1892, de ter assassinado a machadadas o pai e a madrasta. A jovem duvida de sua sanidade enquanto pessoas próximas são brutalmente mortas, então procura investigar o passado de Lizzie. A verdadeira Lizzie foi absolvida dos crimes, o caso ficou inconclusivo, e ela, também apontada como doente mental, virou personagem folclórica. O caso Lizzie Borden já foi retratado outras vezes no cinema e em telefilmes, de maneira mais caprichada e menos boboca. ‘Aquele que habita em mim’ é uma promessa que se foi para o ralo – um filme sem cuidado, que deixa dúvidas no ar e extremamente previsível. No elenco estão Leslie Bibb (de ‘Meu pai é um perigo’), Odessa A'zion (de ‘Hellraiser - Renascido do inferno’) e Michael Cooper Jr (de ‘Nocaute’), e a direção é de Jerren Lauder (do terror ‘O sotão’). Está disponível online na plataforma Adrenalina Pura, especializado em filmes de suspense, policial e terror – acesso em https://www.adrenalinapura.com

 


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