A semente do fruto
sagrado (2024)
Está em exibição nas
principais salas do país uma das melhores estreias de 2025, um filmão
imperdível. Representante da Alemanha no Oscar desse ano, a coprodução com
França e Irã, falado em persa, é um drama com suspense tenso, corajoso, que enfrenta
de cabeça erguida o regime teocrático no Irã e suas terríveis consequências. O filme
é a degradação de uma família de classe média alta do Irã, focando a relação de
um pai com a esposa e duas filhas. Aparentemente em harmonia, aos poucos aquele
núcleo familiar entra em colapso. Tudo começa quando o patriarca é promovido a
juiz de instrução, ganha uma arma para o trabalho e tem centenas de casos difíceis
para resolver. A esposa, que cuida da casa, comemora, pois deverão se mudar
para uma casa melhor. As filhas são estudantes e questionam o regime iraniano.
Certo dia, explodem protestos nas ruas contra o uso do hijab, as vestes
femininas obrigatórias. A rua se incendeia, e a agitação política entra em novo
patamar com a morte de uma garota, espancada pela polícia. As universidades são
alvo, a polícia invade lá e as escolas. Até que as duas irmãs acolhem uma amiga,
ferida na manifestação – a esposa reluta em abrigá-la, com medo do marido, mas
cede, e a esconde, sem contar para ele. A arma dele desaparece, e uma sucessão
de pequenas coisas começam a abalar a família. O marido imagina-se perseguido
na rua, resolve se mudar logo de casa e parte para cima da esposa e das filhas em
busca do revólver sumido. A partir daí o filme toma rumos inesperados, enquanto
os personagens são envolvidos num clima de tensão e descontrole. Discute-se,
nesse trabalho peculiar escrito e dirigido pelo iraniano Mohammad Rasoulof, o
papel da mulher em uma sociedade patriarcal e opressora, a incomunicabilidade de
uma família prestes a se desmantelar e a alienação num dos países mais conservadores
do mundo, o Irã. Rasoulof já havia tratado de temas que aparecem aqui, como
pena de morte e crise política, em dois grandes trabalhos, ‘Manuscritos não
queimam’ (2013) e ‘Não há mal algum’ (2020), premiados respectivamente em
Cannes e Berlim. O diretor, assim como Jafar Panahi, precisou fugir do Irã após
ser perseguido, e roda seus trabalhos em outros países. O filme ganhou cinco prêmios
no Festival de Cannes, como o Especial do Júri e o da Crítica, concorreu ao Globo
de Ouro (de melhor filme de língua não-inglesa) e está na disputa do Bafta de
filme estrangeiro – deve ser finalista do Oscar e concorrer com o nosso ‘Ainda
estou aqui’. O elenco é formidável, com protagonistas e coadjuvantes de peso,
como Mahsa Rostami, Setareh Maleki, Niousha Akhshi, Missagh Zareh e Soheila
Golestani.
O drama tem clara
inspiração no movimento ‘Mulheres, vida e liberdade’, a incansável luta das
mulheres iranianas contra as amarras do regime teocrático. O movimento ganhou
mais notoriedade nos últimos anos – e o filme traz cenas do caso – com a morte
brutal da estudante Mahsa Amini, de 22 anos, espancada pela Polícia da
Moralidade do Teerã em setembro de 2022, por reivindicar o fim do uso da hijab.
Ela virou um rosto emblemático dessa luta.
A première no Brasil ocorreu
no Festival do Rio do ano passado, onde vi numa sessão lotada e aplaudida no
final. Agora está nos cinemas brasileiros pela Mares Filmes. Não percam por
nada.
Redenção (2021)
Com atraso de quatro
anos, chega aos cinemas brasileiros pela Pandora Filmes o eficiente drama
político espanhol ‘Redenção’ (2021), baseado em uma história real. Dirigido
pela cineasta espanhola e atriz Icíar Bollaín, o contundente longa toca em
temas como luto e reparação, com o terrorismo do ETA como pano de funda -
organização nacionalista que reivindica a pátria basca, localizada entre
Espanha e França. A personagem-título (o título original é ‘Maixabel’), Maixabel
Lasa (1951-), é uma ativista política que busca respostas sobre o assassinato
do marido, o político de esquerda Juan María Jaúregui (1951-2000), cometido
pelo ETA em 2000. A história se passa 11 anos depois da morte de Juan, quando
Maixabel - papel fenomenal da atriz espanhola Blanca Portillo, de filmes de
Pedro Almodóvar, como ‘Abraços partidos’ (2009) e ‘Volver’ (2006), recebe a
proposta de se encontrar frente a frente com o assassino do marido, dentro da
prisão basca de Nanclares de la Oca, onde cumpre pena. O criminoso, Ibon – papel
do bom Luis Tosar, hoje rosto frequente em filmes e séries espanhóis da
Netflix, como a minissérie ‘Os favoritos de Midas’, rompeu com o grupo
terrorista e faz o contato com Maixabel, para explicar sobre o passado e se desculpar.
Juan e Maixabel viveram 16 anos juntos, e ela ainda sente a morte dele. Maixabel
reluta em participar do encontro, mas aceita, e entre os dois haverá uma
discussão sobre luto, dor e reconciliação.
Um genuíno trabalho de
atores, premiado no Festival de San Sebastián e ganhador de três Goya, a maior
premiação do cinema espanhol, dentre eles o de melhor atriz para Blanca.
Um filme emocionante,
que levanta a discussão da Justiça Restaurativa – em 2011, Maixabel trouxe à
tona a questão na Espanha, ao atender vítimas de terrorismo. Os círculos
restaurativos têm como objetivo reunir agressor e vítima para uma conversa em
torno da dor provocada e do real arrependimento, sem que isso impacte na pena
do criminoso. Gostei muito do filme e espero que encontre o público.
The Moon:
Sobrevivente (2023)
Assistindo a ‘The Moon:
Sobrevivente’ chego à conclusão que o cinema de ficção científica sul-coreano é
páreo às produções americanas de mesmo tema. Uma história tensa, cheia de corre-corre
e surpresas e um balde de efeitos visuais de deslumbrar fazem do longa um dos
melhores filmes da Coreia do Sul dessa temporada. Agora o filme chega aos
cinemas com distribuição da Sato Company. Tem dois protagonistas, Sul Kyung-gu,
de ‘Memórias de um assassino’ (2017), e o cantor da banda de K-Pop ‘Exo’, Do
Kyung-soo, que estão bem nos papeis e fazem das tripas coração. A história se
passa em 2029, dentro de uma nave espacial. Hwang (Do Kyung-soo) é o único
astronauta sobrevivente de uma missão fracassada na Lua, onde todos os colegas
tripulantes morreram. Numa base militar na Terra, uma equipe liderada por Kim
Jae-gook (Sul Kyung-gu) faz os esforços necessários para trazer o jovem de
volta. O tempo é curto, então todos terão que se desdobrar para aquela missão
de resgate.
Com cenários grandiosos,
rodados em estúdios, que recriam a nave e a Lua, tem cenas movimentadíssimas de
fugas mirabolantes e explosões no espaço, tudo por meio de ótimos efeitos
visuais. A Coreia do Sul se tornou uma potência espacial, por isso o filme carrega
tanto significado para eles. Uma fita para vibrar e torcer, escrita e dirigida
por Kim Yong-hwa, da série da Netflix ‘Along with the Gods’. Indicado a diversos
prêmios nos dois festivais mais conhecidos da Coreia do Sul, o Grand Bell
Awards e o Blue Dragon Awards.
Aquele que habita em
mim (2022)
Descartável fita de terror
com suspense que traz para os tempos atuais um crime chocante verídico, ocorrido
nos Estados Unidos no fim do século XIX, conhecido por ‘O caso Lizzie Borden’. Na
trama, uma adolescente acredita ser descendente direta de Lizzie Borden, mulher
acusada, em 1892, de ter assassinado a machadadas o pai e a madrasta. A jovem
duvida de sua sanidade enquanto pessoas próximas são brutalmente mortas, então
procura investigar o passado de Lizzie. A verdadeira Lizzie foi absolvida dos
crimes, o caso ficou inconclusivo, e ela, também apontada como doente mental, virou
personagem folclórica. O caso Lizzie Borden já foi retratado outras vezes no
cinema e em telefilmes, de maneira mais caprichada e menos boboca. ‘Aquele que
habita em mim’ é uma promessa que se foi para o ralo – um filme sem cuidado,
que deixa dúvidas no ar e extremamente previsível. No elenco estão Leslie Bibb
(de ‘Meu pai é um perigo’), Odessa A'zion (de ‘Hellraiser - Renascido do inferno’)
e Michael Cooper Jr (de ‘Nocaute’), e a direção é de Jerren Lauder (do terror ‘O
sotão’). Está disponível online na plataforma Adrenalina Pura, especializado em
filmes de suspense, policial e terror – acesso em https://www.adrenalinapura.com
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