A luz no fim do mundo
Num mundo
pós-apocalíptico, as mulheres foram dizimadas. Só uma delas sobreviveu, a garota
Rag (Anna Pniowsky), que é constantemente protegida pelo pai (Casey Affleck). Eles
vagam por ruas desertas em uma cidade abandonada em busca de comida e abrigo,
enquanto o perigo os observa.
Em seu filme
de estreia na direção, o ator ganhador do Oscar Casey Affleck (irmão mais novo
de Ben Affleck), que também escreveu o roteiro, realizou uma obra independente
de drama familiar, com pano de fundo pós-apocalíptico, e que trata de forma
delicada questões sociais. Não há nada de ficção científica, apenas se passa
num futuro desolador onde as mulheres foram eliminadas da Terra – ou seja, não espere
por criaturas, robôs ou zumbis, nem ação ou suspense. Na verdade Affleck deu
vida a um projeto pessoal sobre a relação entre pai e filho, interpretando um
homem tentando sobreviver num ambiente caótico ao lado da filha que se encontra
no início da puberdade. Há longas conversas entre eles quando estão deitados
antes de dormir, eles caminham pelas ruas e florestas desertas etc. Na história
descobrimos que as mulheres foram dizimadas por uma pandemia há dez anos, e que
sua filha estranhamente é a única sobrevivente (o filme foi feito bem antes da
pandemia da Covid, e virou um prenúncio do que sentiríamos na pele). O pai incentiva
a menina a se comportar como um menino para protegê-la de homens que podem sequestrá-la
e estuprá-la, já que a ameaça é constante (aparecem poucos homens na história, eles
vivem caçando e escondidos em florestas, como animais). Até que Rag entra em
conflito questionando sua identidade e os padrões impostos pelo pai, o que transforma
o filme numa fábula existencial sobre a relação de homens e mulheres no mundo e
os padrões exigidos pela sociedade. Ou seja, dentro de uma obra de natureza
scifi, Affleck teve a proeza criativa de levantar uma boa discussão sobre
gênero e identidade.
É um filme
autoral, nada comercial, por vezes lento e filosófico demais, muito narrado, com
um pouco de ousadia e bem interpretado pela dupla central – Affleck, como o pai
(ele não tem nome) e Anna Pniowsky (a filha Rag). Affleck surpreendeu parte da crítica
com seu olhar humano sobre as questões sociais num mundo em inegável
transformação.
A luz no fim do mundo
(Light of my life). EUA,
2019, 119 minutos. Drama/Ficção científica. Colorido. Dirigido por Casey
Affleck. Distribuição: Imagem Filmes
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