segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Cine Brasil


Nem gravata nem honra

Na pequena cidade de Cunha, no interior de São Paulo, na região do Vale do Paraíba, o diretor Marcelo Masagão grava depoimentos de moradores para entender como eles pensam a diferença entre homens e mulheres.

Nesse documentário completamente diferente, cuja linguagem de cinema é moderna e por um lado, revolucionária, o diretor e roteirista Marcelo Masagão vai até Cunha, uma cidadezinha de 22 mil habitantes no interior de São Paulo (divisa com o Rio de Janeiro), e lá grava uma série de depoimentos de pessoas comuns que falam seus pontos de vista sobre a diferença das mulheres e dos homens. Aparecem figuras como um delegado, uma freira, uma cabeleireira, uma dentista, um professor gay, um taxista, dois ou três casais, com suas ideias sobre gênero, responsabilidade familiar, moral e costumes, em conversas informais e bem-humoradas. Percebe-se que o diretor explora a ambuiguidade e a neurose, por meio das histórias desses indivíduos simples, alguns com visões conservadoras, típicas de uma cidade bairrista, e outros com pensamentos avançados e críticos.
O diretor organiza os depoimentos com truques visuais e sobreposição de planos, de maneira divertida, mesclando o preto-e-branco ao colorido – é do próprio Masagão essa montagem criativa. Em dado momento do filme, os entrevistados assistem aos próprios depoimentos, e a câmera foca a reação deles para ver se concordam ou não com o que foi falado. Com imperfeições e erros, inseridos de maneira proposital (como um dos moradores pedindo para editar a fala), o doc brasileiro é divertido e original, além de trazer uma reflexão atemporal.
Com música de André Abujamra, o filme concorreu ao Kikito de melhor documentário no Festival de Gramado em 2002. É um dos bons trabalhos do documentarista Marcelo Masagão, que fez “Nós que aqui estamos, por vós esperamos” (1999) e “1,99: Um supermercado que vende palavras” (2003).

Nem gravata nem honra (Idem). Brasil, 2001, 72 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Marcelo Masagão. Distribuição: Europa Filmes

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