Cabo do medo
Ao cumprir pena de 14 anos, Max Cady (Robert De Niro) sai da cadeia com um plano em mente: vingar-se do seu advogado de defesa, Sam Bowden (Nick Nolte). Segundo ele, Bowden omitiu provas no processo criminal, o que resultou em sua condenação. O ex-prisioneiro passa a perseguir o advogado e a família dele, composta pela esposa (Jessica Lange) e a filha adolescente (Juliette Lewis).
Clássico do cinema de suspense e um dos thrillers mais lembrados pelo público, “Cabo do medo” agora pode ser assistido em high definition. Graças à distribuidora Classicline que, em parceria com a Universal Pictures, acaba de trazer para o mercado o filme em bluray (imagem e som estão com qualidade impressionantes, vale uma revisão!).
Dias atrás li o livro original que inspirou o roteiro das duas versões de cinema de “Cabo do medo”. O livro se chama “Os executores” (também intitulado “Os algozes”), no entanto a editora que o trouxe ao Brasil, Darkside Books, optou em traduzi-lo como “Cabo do medo”. Escrito pelo americano John D. MacDonald em 1956, o texto tem teor polêmico, criticado à época por ser violento demais, e dele nasceu a primeira versão para cinema, num roteiro porrada e tétrico de James R. Webb, experiente roteirista do cinema de faroeste e de fitas de guerra. Essa primeira versão para a telona surgiu em 1962, chamada de “Círculo do medo”, com Gregory Peck e Robert Mitchum nos papéis, respectivamente, do advogado e do criminoso (Mitchum está soberbo como Cady, repetindo outro personagem vingativo que fez no passado, o fanático religioso Harry Powell, de “O mensageiro do diabo” - e igualmente bem está Peck). O roteiro do filme de 62 trazia muitas diferenças com o livro original (por exemplo, o desfecho, que foi totalmente criado do zero).
Passados quase 30 anos, Martin Scorsese dirigiu a segunda versão, utilizando o roteiro de Webb como base (que modificava bem o livro de MacDonald), com mais ingredientes violentos e um novo final (esse segundo roteiro ficou sob a supervisão de Wesley Strick, que havia feito “Aracnofobia” e depois faria “Lobo”, com Jack Nicholson). Quase toda a trama se mantém, só que mais brutal, com cenas de crimes sanguinolentos, para resgatar a velha formula de “sede vingança” e “punição”. Não há gente de boa índole, ambos os personagens centrais tem sua culpa (advogado x criminoso), e para tanto criaram-se personagens com muitas camadas - assim como os coadjuvantes (a esposa, a filha adolescente, o tira que irá vigiar a casa etc).
Na época (1991) o filme fez carreira, quase todo mundo assistiu, pois virou sensação (eu mesmo assisti quando pequeno, em VHS), e acabou dando indicação tanto ao Oscar quanto ao Globo de Ouro de melhor ator a De Niro (que sempre esbanjou vigor com vilões) e de coadjuvante para Juliette Lewis (novinha, num bom momento) – e ainda indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim.
Scorsese aproveitou a retumbante trilha sonora do filme de 1962, que era de Bernard Herrmann, e foi rearranjada por Elmer Bernstein, além de trazer parte dos atores do antigo para a nova versão: Gregory Peck, Robert Mitchum e Martin Balsam. Fez assim sua homenagem ao cinema de autor, com sacadas, ousadia e certo brilhantismo. Veja agora “Cabo do medo” em Bluray!
Cabo do medo (Cape Fear). EUA, 1991, 128 minutos. Suspense. Colorido. Dirigido por Martin Scorsese. Distribuição: Universal/Classicline
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