Homem comum
Documentário
que registra duas décadas na vida de um caminhoneiro paranaense, Nilson de
Paula, hoje cego, viúvo e com sérios problemas de saúde.
Qual
o real significado de viver para um cidadão comum? A resposta aparenta ser
simples, mas está distante de conclusões determinadas. Nesse premiado documentário
brasileiro, o diretor Carlos Nader caminha na direção de soluções para esta
questão crucial, a partir das histórias de vida de um caminhoneiro cheio de
sonhos e esperanças, que representam, no geral, os anseios do povo brasileiro. Ensaio
e narrativa se misturam, documentário e ficção tornam-se um só, vida e morte se
completam e ilustram a essência do filme, uma obra pessoal e especial do
cineasta paulistano.
Nader
conheceu o protagonista de seu “Homem comum” em 1994, por mero acaso, num ponto
de encontro de caminhoneiros. Dali em diante iniciou uma extensa jornada
audiovisual, de quase vinte anos, capturando momentos alegres e tristes de
Nilson com a família até o falecimento dele, em 2012. Em casa ou na rua, as
falas simplórias do humilde trabalhador demonstram a generosidade de uma vida
dedicada a duras viagens nas estradas pelo Brasil afora, ao lar, à esposa e
filhos. Dificilmente Nilson consegue exprimir com palavras o real significado
de viver. É nas imagens que parte da resposta surge, elas substanciam o que o
diretor quer saber do caminhoneiro para contar ao público.
No
documentário intercalam-se cenas caseiras antigas de Nilson, gravadas por Nader,
algumas bem tristes, retiradas do baú familiar, como a morte da mulher amada (aparece
o velório e o funeral, registro guardado até então a sete chaves pelo cineasta),
e cenas cotidianas atuais, de um senhor debilitado, cego, solitário. No antes e
depois, desabrocham temas tão simples e tão essenciais.
Junto,
Nader cria um paralelo, de sábia inteligência cinematográfica, com o cultuado filme
dinamarquês de tema semelhante “A palavra” (1955), de Carl T. Dreyer, e também
com um curta em preto-e-branco dirigido por ele mesmo especialmente para o
projeto, chamado “Life: the dream” (este, um segmento baseado em “A palavra”,
mas em ambiente inglês, para dialogar sobre a brevidade da vida).
Feito
de maneira autoral, artesanal e com afeto por um diretor aplaudido em
festivais, “Homem comum” instiga o público a repensar o que a vida é e o que
queremos deixar escrito durante nossa existência. Venceu o prêmio de melhor
documentário no Festival É Tudo Verdade, em 2014, e melhor montagem no Grande
Prêmio do Cinema Brasileiro, em 2016.
Quem
quiser assistir ao doc, ele está disponível em DVD, lançado pelo Instituto Moreira
Salles (IMS). O disco traz o documentário, em metragem ampliada, de 103 minutos
(20 a mais da exibida nos cinemas brasileiros), e um livreto ilustrado de 26
páginas, com textos do músico e ensaísta José
Miguel Wisnik e do próprio diretor Carlos Nader. Como sempre, as edições em
disco do IMS são um investimento magnífico para colecionador nenhum botar
defeito.
Homem
comum (Idem). Brasil, 2015, 103 min. Documentário. Dirigido por Carlos Nader.
Distribuição: Instituto Moreira Salles (IMS)
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