sábado, 8 de julho de 2017

Resenha Especial


A montanha sagrada

Num mundo corrupto e violento, um ladrão (Horacio Salinas) caminha errante em busca de salvação. Cruza com um alquimista (Alejandro Jodorowsky), que o apresenta a sete pessoas vindas de sete planetas solares. Todos estão à procura da Montanha Sagrada.

Um dos filmes mais surrealistas de todos os tempos, ousado, hermético no sentido, de difícil interpretação e que contesta o consumismo, a ditadura da beleza, a guerra, o sensacionalismo da mídia e, claro, todas as formas de religião. Escrito e dirigido pelo chileno Alejandro Jodorowsky (que interpreta um alquimista meio guia espiritual) três anos depois do cultuado e bizarro faroeste “El topo” (1970), a obra extensivamente crua e filosófica gera incômodo pelas imagens fortes e profanas, como a marcha de soldados levantando cruzes com corpos de carneiros sem pele, excrementos em igrejas e fuzilamentos – na época muitas sequências passaram por censura em alguns países. Bem inserido na Estética do Feio, o polêmico filme se passa em um lugar qualquer da América Latina com evidências de regime ditatorial (foi produzido no México), discutindo o autoritarismo nas relações de poder e a repressão de grupos marginalizados, numa época onde Golpes de Estado e regimes militares invadiam o mundo espalhando o medo.
Um experimento sem limites de um diretor ultracriativo, que também pensou em cada milímetro de cenário, com pura geometria, e de figurinos excêntricos (as cores vibrantes inundam a tela num espasmo sensorial). Um delírio cinematográfico como só Jodorowsky ousou fazer. Para ver e refletir.

A montanha sagrada (La montaña sagrada). México/EUA, 1973, 115 min. Drama. Dirigido por Alejandro Jodorowsky. Distribuição: Obras-primas do Cinema

* Publicado na coluna Middia Cinema, na revista Middia, edição de julho/agosto de 2017

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