segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Resenha Especial


Cemitério sem cruzes

Em um desértico vilarejo, Maria Caine (Michéle Mercier) vê o marido ser enforcado devido a uma antiga rivalidade com a família Rogers. Tomada pelo desejo de vingança e sem ajuda da família, contrata um misterioso pistoleiro, Manuel (Robert Hossein), para eliminar os algozes do falecido esposo. Destemido, Manuel invade o rancho dos Rogers e sequestra uma das filhas daquela família iniciando um plano sanguinário.

Pela primeira vez no Brasil em cópia restaurada chega em DVD, pela Versátil, o excelente faroeste spaghetti “Cemitério sem cruzes” (1969), composta pelas melhores características do bang-bang italiano. Violento, barroco, sem concessões ou romantismo, personagens ardilosos (dentre eles os matadores sem piedade), o filme é capitaneado por duas figuras emblemáticas dessa modalidade de western: o pistoleiro enigmático, sozinho como um fantasma caminhante, procurado para fazer justiça em uma cidadela sem lei, papel do francês Robert Hossein (hoje vivo, aos 89 anos), e a marca única: a luva preta em apenas uma das mãos; do outro lado, a viúva de luto, maltratada pelo destino, com sede de vingança a qualquer custo – a também francesa Michéle Mercier. Ela é a mentora do plano-chave da história, posto em ação pelo pistoleiro. Porém haverá percalços incontornáveis pelo caminho (como em todo bom faroeste).
Os lugares sujos, o feísmo no estereótipo e na dor dos personagens e o sol derradeiro engolindo o ambiente desértico realçam com solidez o barroco, presente no western macarrônico. O cineasta Sergio Leone, a quem é dedicado este filme, tirou de letra o barroco no cinema na “Trilogia dos Dólares”, composto por “Por um punhado de dólares”, “Por uns dólares a mais” e “Três homens em conflito”.
Coprodução Itália, França e Espanha, “Cemitério das cruzes” teve roteiro escrito por Claude Desailly, Robert Hossein (o ator e também diretor) e Dario Argento, o mestre do terror italiano, em seu sétimo screenplay, um ano depois de criar o argumento de “Era uma vez no Oeste” (1968), obra-prima de Leone.
Curiosidade: o elenco central é francês, o filme foi rodado em Andaluzia (Espanha) e equipe de produção, italiana.
O filme sai no box “Faroeste Spaghetti”, com outras três obras essenciais do gênero dos anos 60 e 70: “O dia da desforra” (1966), “Dias de ira” (1967) e “Tepepa” (1972), todos em inéditas versões integrais restauradas com áudio original em italiano, além de extras. Edição limitada com quatro cards colecionáveis.



Cemitério sem cruzes (Une corde, un Colt...). Itália/França/Espanha, 1969, 90 min. Faroeste. Dirigido por Robert Hossein. Distribuição: Versátil Home Video

* Publicado na coluna Middia Cinema, na revista Middia Magazine - edição de agosto/setembro de 2016.

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