Feliz Natal
Resenha publicada em 28/12/2008, a partir de duas
entrevistas especiais que fiz no IV FestCine - Festival de Goiânia, com o ator
e diretor Selton Mello e com a atriz Darlene Gloria, em novembro de 2008.
Dono de um ferro-velho numa cidadezinha do interior, Caio (Leonardo
Medeiros) volta para a casa do irmão para passar o Natal com a família.
Afastado de todos por causa de uma tragédia do passado, tentará com muito custo
se reconectar com os pais, divorciados, e com o irmão mais velho.
Mineiro natural de Passos, o ator Selton Mello, que completa 36 anos no
próximo dia 30, assinou aqui seu primeiro filme como diretor de cinema. O drama
“Feliz Natal” teve estreia nos cinemas brasileiros no dia 21/11 com críticas
positivas. Premiado em festivais de cinema de todo o país, dentre eles três
prêmios no Festival de Paulínia – melhor diretor, atrizes coadjuvantes (Darlene
Glória e Graziella Moretto) e menção especial para o ator mirim Fabrício Reis,
e nove troféus no IV Festcine Goiânia, “Feliz Natal” é um dramático painel
sobre desestruturação familiar.
O longa-metragem narra a história de Caio (Leonardo Medeiros), um homem
de 40 anos que, na véspera do Natal, decide retornar para sua cidade após um
longo tempo longe da família. Lá reencontra o pai, Miguel (Lúcio Mauro), que
não aceita a sua volta, o irmão Téo (Paulo Guarnieri), que enfrenta uma crise
conjugal, e a mãe, Mércia (Darlene Glória), alcoólatra e perturbada. A presença
de Caio altera a vida de todos os membros da família, provocando comportamentos
extremos, como ódio e reconciliação.
Quando estive no FestCine Goiânia, entrevistei Selton Mello, Darlene
Glória e a produtora Vania Catani, para falar sobre a produção. Nessa primeira
investida como diretor, Selton optou em rodar um projeto de carga dramática
densa, que aborda a desestruturação no ambiente familiar, marcado por uma
tragédia no passado. Segundo Mello, foi uma tentativa de dizer algo que vinha
querendo expressar há tempos, mas como ator não teve a possibilidade de fazer. Entrou
fundo num projeto cuja ideia principal era de fazer um filme intenso sobre
incomunicabilidade entre pais e filhos e ao mesmo tempo o da solidão em suas
diversas formas. Outro diferencial do seu primeiro longa é que o caso gira em
torno de uma família de classe média, tão pouco abordada no cinema brasileiro. Mello
disse que se espelhou no cinema de Arnaldo Jabor, que fazia tão bem filmes
sobre a classe média.
Pelo fato de o filme ser dramático, pesado, angustiante, o que foge do
gosto habitual do telespectador, acredita que “Feliz Natal” atingirá o público,
ainda mais com as críticas positivas que recebeu – eu, por exemplo, achei um
dos melhores filmes brasileiros do ano.
O longa é uma história próxima de nós; existe uma família em ruínas, o
filho sai de casa, a mãe é alcoólatra e separou-se do marido, o irmão está
infeliz com o casamento; há um passado sombrio na vida do personagem central,
só revelado nos momentos finais da fita, em uma sequência marcante, puramente
visual e poética. E o desfecho, com a criancinha na janela, papel bom do
estreante mirim Fabricio Reis, é de ferir o coração...
Outro diferencial do filme é o diretor ter reunido um time de atores e
atrizes de primeira categoria, e ter liberdade em rodar um projeto de cunho
autoral. Segundo Mello, cada um dos personagens traz uma história diferente e
para tanto resgatou grandes nomes do cinema - Darlene Glória não atuava desde
os anos 80, pelo menos num papel de destaque; Paulo Guarnieri estava afastado
das telas desde 1996, e é um dos grandes atores brasileiros, também esquecido.
Tem ainda Lúcio Mauro, Graziella Moretto e o principal, Leonardo Medeiros, que
vem firmando carreira e é sem dúvida um dos maiores nomes da geração atual de
atores.
Darlene explode num papel complexo – ela é a mãe alcoólatra e
inconsequente do protagonista, que traz traços da verdadeira Darlene do passado;
Darlene fez uso de drogas, teve internações em hospitais psiquiátricos e depois
se converteu e virou pastora evangélica.
No filme funcionam também a fotografia escurecida de Lula Carvalho e a
trilha sonora com tom fúnebre de Plinio Profeta. Cheio de ângulos e
enquadramentos incômodos, com zoom nos rostos dos personagens, conta com um
delicado roteiro de Selton Mello com o estreante Marcelo Vindicato. Em breve
deve sair em DVD no Brasil – fique de olho!
Feliz Natal (Idem). Brasil, 2008, 104 minutos. Drama.
Colorido. Dirigido por Selton Mello. Distribuição: Europa Filmes
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