Equipe
de documentaristas registra, dia e noite, a trajetória de uma jovem sem-teto
nas ruas de Nova York, apelidada de Bikini Moon (Condola Rashad). A proposta do
grupo é transformar aquele material em um filme independente.
Brilhante
filme autoral do cineasta macedônio Milcho Manchevski, cuja première foi aqui
no Brasil, durante a 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (encerrada
na semana passada). Manchevski veio para a sessão de lançamento, no dia 21 de
outubro, no final conduziu um debate acerca do processo de criação de seu novo trabalho,
um falso documentário que explora, de maneira eloquente, os limites do uso das redes
sociais, das mídias espontâneas, do selfie, do “gravo, logo existo”, com foco em
uma jovem sem teto, negra, sem papas na língua, de gênio difícil, que retornou
da Guerra do Iraque e acaba no caminho da prostituição para se sustentar. A
câmera dos documentaristas não deixa passar nada; eles registram, nu e cru, todas
as ações de Bikini Moon, do acordar ao dormir, expondo as mazelas dos desamparados.
O filme abre um diálogo profundo sobre a desestruturação das famílias e da vida
dura dos moradores de rua americanos. A vitrine ilimitada, sem compaixão, da rotina
da garota induz a uma reflexão relevante sobre a responsabilidade dos
indivíduos na era digital: até que ponto devo postar informações pessoais na internet?
Numa
fronteira sutil entre ficção e documentário, “Bikini Moon” é um conto de fadas urbano,
de narrativa fascinante, impondo-se como um dos melhores filmes de 2017,
protagonizado por uma atriz maravilhosa, Condola Rashad, do seriado “Billions”,
que logo vai despontar! Previsto para estrear nos cinemas brasileiros somente
em 2018.
Roteiro
também de Milcho Manchevski, principal nome do cinema da Macedônia, vencedor do
Leão de Ouro no Festival de Veneza pela sua obra-prima “Antes da chuva” (1994),
indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro – e, diga-se de passagem, um dos
meus filmes preferidos!
PS:
As quatro sessões de “Bikini Moon” na Mostra de Cinema de São Paulo foram
antecedidas pelo novo curta-metragem do diretor, “O fim do tempo” (“The end of
time”, 2017, 6 minutos), um bom exercício experimental de documentário em slow
motion, gravado em uma rua cubana na cidade de San Antonio de los Baños, na
província de Artemisa.
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