A verdade sobre Marlon Brando
Documentário
britânico sobre a carreira de Marlon Brando (1924-2004) a partir de inéditas
gravações de áudio guardadas secretamente pelo lendário ator.
Ainda
é bastante comentado nos Estados Unidos esse documentário revelador que traça
um perfil da conturbada personalidade de Marlon Brando, um dos ícones do
cinema. O projeto havia sido esboçado pelo próprio ator, como uma obra autobiográfica,
mas ele morreu doente em 2004, deixando intacto um material bruto com mais de
200 horas de arquivos de áudio gravados durante seus 50 anos de carreira. Transcorrida
uma década de sua morte, um grupo de produtores teve acesso às caixas com as
fitas que Brando mantinha em total segredo. E aí rodaram o excelente
documentário, superindicado aos amantes do cinema.
Nas
falas secas, o ator expõe opiniões bombásticas em torno de diretores com quem
trabalhara, revela pensamentos íntimos e faz longas explanações sobre uma
técnica peculiar de auto-hipnose que, para ele, garantia a sanidade mental –
algo que influenciava até na atuação, propulsionando-o ao “nirvana” frente às
câmeras. Interessantíssimo, criativo e determinante para (des)construir a
figura mítica do solitário ator norte-americano, o documentário foge do
convencional: não reúne depoimentos de amigos ou familiares, traz apenas as conversas
de Brando, que conduzem o público para uma odisseia em sua mente imaginativa, com
flagras de sequências de filmes em que participou, entremeadas por cenas de
bastidores. É impressionante o efeito 3D da cabeça de Brando dialogando com o
público do início ao fim, feito em Faceshift, um software de rastreamento de
rosto que combina câmera e sensor de profundidade, com digitalização
tridimensional (o veterano ator Robert Ashby serviu de modelo para os
movimentos que, depois, teve a imagem de Brando inserida por cima).
Conhecemos,
no filme, um lado sombrio, amargo e triste do ator, que alimentava raiva de
produtores. Ele tinha dificuldade de relacionamento nos set de filmagens, era
explosivo, polêmico, vivia em atrito consigo mesmo. E dia a dia não deixava em
branco esse sentimento pesado, pois registrava, em extensos comentários, tudo
que o cercava. Há trechos peculiares de sua biografia: a compra da idílica ilha
na Polinésia Francesa, onde viveu recluso até o fim da vida, o suicídio da
filha Cheyenne no Taiti e o casamento com a ativista indígena S acheen Littlefeather (aquela que
subiu ao palco do Oscar em 1973 para recusar o prêmio que Brando ganhou por “O
poderoso chefão”). Um programa imperdível, idealizado sabiamente por um jovem
cineasta, Stevan Riley, que dirigiu quatro outros documentários, dentre eles
“Everything or nothing” (2012), sobre a franquia James Bond.
Indicado
a prêmios como Bafta de melhor documentário e ao Grande Prêmio do Júri em
Sundance, “A verdade sobre Marlon Brando” teve exibição restrita em alguns festivais
de cinema independente no ano passado, além de estreia reservada nas salas
americanas e europeias em setembro. No Brasil foi distribuído diretamente em
DVD pela Universal. Por Felipe Brida
A verdade sobre Marlon Brando (Listen to me Marlon). Inglaterra,
2015, 103 min. Dirigido por Stevan Riley. Distribuição: Universal
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