Imagens
Escritora de livros
infantis, Cathryn (Susannah York) prepara-se para sua nova obra literária sobre
crianças e unicórnios. Imersa totalmente na literatura, sofre uma forte crise
de delírios desconfiando de uma possível traição do marido, Hugh (Rene
Auberjonois). Para se restabelecer, Cathryn e o esposo viajam para um local
remoto e lá começa a ser atormentada por imagens perturbadoras. Em constante
tensão, a escritora fecha-se em um mundo particular a ponto de não distinguir mais
a realidade palpável dos pensamentos que a assombram.
Excelente fita cult
escrita e dirigida por Robert Altman, numa única experiência com o cinema de
terror, com pontual teor intimista e psicológico, que deixa o público à flor da
pele. O importante cineasta norte-americano, falecido em 2006 aos 81 anos,
rodou o filme na Irlanda, no inverno – por isto a fotografia enevoada do
húngaro vencedor do Oscar Vilmos Zsigmond, e optou por não dar nome à longínqua
cidade onde ocorrem os estranhos eventos com a protagonista, interpretada por
Susannah York (premiado como melhor atriz em Cannes, num papel assombroso,
digno de calorosos elogios). Na realidade, essa obra alternativa de Altman traz
pontos autorais e de certa forma baseados em pequenas situações reais ligados a
Susannah (falecida em 2011, aos 72 anos). Ela também era escritora de livros
infantis, como sua personagem, e na época preparava-se para uma nova história
para as crianças, intitulada “À procura do unicórnio”. Altman, sagazmente, aproveitou-se
da ocasião para trazer para o roteiro do filme uma escritora num exaustivo
processo criativo apropriando-se inclusive das terras imaginárias de Om contida
nesse livro de Susannah (em várias sequências a personagem lê passagens do
livro real, permeadas com imagens oníricas de uma região remota). Original o
trunfo de Altman, que fez tudo com pouco dinheiro – a produção, independente,
custou U$ 800 mil.
Outro item crucial
para o perturbador resultado do filme envolve a trilha sonora metódica do
imponente músico premiado John Williams.
Há uma simbologia
ambígua nas fortes imagens criadas pelo diretor, sempre apontando para a esfera
principal do filme, que é a escritora. Como um espelho (representado, na
história, pela câmera fotográfica do marido), ela vê reflexos de sua vida
passada, em delírios que se confundem com a realidade, saindo do limite da tela
em direção ao telespectador, que também fica numa linha cruzada entre o que é
verdade e o que não passa de imaginação.
Indicado à Palma de
Ouro em Cannes, “Imagens” é um trabalho controverso da carreira de Altman, fora
do padrão dos seus filmes, com forte impacto visual e final igualmente
assustador. Pela primeira vez em DVD no Brasil em edição especial restaurada
com vários extras (depoimento de Altman, cenas comentadas e trailer), com distribuição
pela Versátil. Por Felipe Brida*
* Publicado na coluna "Middia Cinema", da Middia Magazine - edição setembro/outubro de 2015
Imagens (Images). Inglaterra/EUA, 1972, 101 min. Suspense/Drama/Terror. Dirigido por Robert Altman. Distribuição: Versátil
Imagens (Images). Inglaterra/EUA, 1972, 101 min. Suspense/Drama/Terror. Dirigido por Robert Altman. Distribuição: Versátil
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