quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Resenha especial


Imagens

Escritora de livros infantis, Cathryn (Susannah York) prepara-se para sua nova obra literária sobre crianças e unicórnios. Imersa totalmente na literatura, sofre uma forte crise de delírios desconfiando de uma possível traição do marido, Hugh (Rene Auberjonois). Para se restabelecer, Cathryn e o esposo viajam para um local remoto e lá começa a ser atormentada por imagens perturbadoras. Em constante tensão, a escritora fecha-se em um mundo particular a ponto de não distinguir mais a realidade palpável dos pensamentos que a assombram.

Excelente fita cult escrita e dirigida por Robert Altman, numa única experiência com o cinema de terror, com pontual teor intimista e psicológico, que deixa o público à flor da pele. O importante cineasta norte-americano, falecido em 2006 aos 81 anos, rodou o filme na Irlanda, no inverno – por isto a fotografia enevoada do húngaro vencedor do Oscar Vilmos Zsigmond, e optou por não dar nome à longínqua cidade onde ocorrem os estranhos eventos com a protagonista, interpretada por Susannah York (premiado como melhor atriz em Cannes, num papel assombroso, digno de calorosos elogios). Na realidade, essa obra alternativa de Altman traz pontos autorais e de certa forma baseados em pequenas situações reais ligados a Susannah (falecida em 2011, aos 72 anos). Ela também era escritora de livros infantis, como sua personagem, e na época preparava-se para uma nova história para as crianças, intitulada “À procura do unicórnio”. Altman, sagazmente, aproveitou-se da ocasião para trazer para o roteiro do filme uma escritora num exaustivo processo criativo apropriando-se inclusive das terras imaginárias de Om contida nesse livro de Susannah (em várias sequências a personagem lê passagens do livro real, permeadas com imagens oníricas de uma região remota). Original o trunfo de Altman, que fez tudo com pouco dinheiro – a produção, independente, custou U$ 800 mil.
Outro item crucial para o perturbador resultado do filme envolve a trilha sonora metódica do imponente músico premiado John Williams.
Há uma simbologia ambígua nas fortes imagens criadas pelo diretor, sempre apontando para a esfera principal do filme, que é a escritora. Como um espelho (representado, na história, pela câmera fotográfica do marido), ela vê reflexos de sua vida passada, em delírios que se confundem com a realidade, saindo do limite da tela em direção ao telespectador, que também fica numa linha cruzada entre o que é verdade e o que não passa de imaginação.
Indicado à Palma de Ouro em Cannes, “Imagens” é um trabalho controverso da carreira de Altman, fora do padrão dos seus filmes, com forte impacto visual e final igualmente assustador. Pela primeira vez em DVD no Brasil em edição especial restaurada com vários extras (depoimento de Altman, cenas comentadas e trailer), com distribuição pela Versátil. Por Felipe Brida*

* Publicado na coluna "Middia Cinema", da Middia Magazine - edição setembro/outubro de 2015

Imagens (Images). Inglaterra/EUA, 1972, 101 min. Suspense/Drama/Terror. Dirigido por Robert Altman. Distribuição: Versátil

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