sábado, 26 de outubro de 2024

Especial de Cinema


Os melhores filmes da Mostra de SP – Parte 9

 

A 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo segue na capital paulista até 30 de outubro. Nesse ano, serão exibidos 419 títulos de 82 países, distribuídos em mais de 20 salas de cinema de São Paulo. A programação completa da Mostra está no site oficial, em https://48.mostra.org.

Confira abaixo drops de mais filmes da Mostra que assisti e recomendo.

 



O brutalista

 

Um dos grandes filmes da Mostra desse ano, que teve todas as sessões esgotadas no festival, e cotadíssimo para o Oscar de 2025. Suas 3h35 de duração não atrapalham essa que é uma saga moderna e grandiosa, que conta a longa trajetória de um arquiteto judeu que viveu os horrores do campo de concentração e chega aos Estados Unidos logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. A esposa, doente, ficou na Europa, e ele, sozinho, recomeça a vida na América. Pobre e maltrapilho, mas com ideias visionárias, recebe o convite de um misterioso magnata da indústria para construir um templo religioso no alto de uma colina na Pensilvania. O arquiteto László Toth torna-se peça fundamental na consolidação do movimento Brutalista na arquitetura moderna, com seus prédios pesados, construídos apenas com concreto, simples, funcionais e sem ornamentos. O drama percorre 50 anos na vida do protagonista, que cruza países como Hungria, Itália e EUA, mostrando seus encontros e desencontros, a fatalidade, a construção/destruição de seus sonhos. É uma visão pessimista de uma América que não servia aos imigrantes. Adrien Brody entrega uma performance esplêndida, enquanto Felicity Jones, no papel da esposa, aparece a partir da metade, em um trabalho pessoal e condizente, e Guy Pearce é o magnata industrial, num de seus melhores momentos no cinema. Rodado na Hungria e na Itália em apenas 34 dias, com orçamento pequeno, de apenas U$ 6 milhões. Feito num VistaVision impressionante, que deve ser assistido preferencialmente na tela grande. Os letreiros iniciais correndo de lado é algo curioso e praticamente inédito. A trilha sonora ecoante de Daniel Blumberg e a fotografia com cores acinzentadas de Lol Crawley engrandecem a obra, já na minha lista dos melhores do ano. Venceu cinco prêmios em Veneza, incluindo melhor diretor, para Brady Corbet – que foi ator, de ‘Violência gratuita’, e prêmio da Crítica. Exibido ainda nos festivais de Toronto e Nova York, é produzido pela A24, e aqui no Brasil será distribuído nos cinemas pela Universal Pictures em 02 de fevereiro de 2025. Sessão na Mostra ainda no dia 26/10 - todas as sessões do filme têm um intervalo de 15 minutos no meio da projeção.

 



 

Através do fluxo

 

Todo ano a Mostra de SP traz um, ou até dois, como já aconteceu, título do multipremiado diretor sul-coreano Hong Sang-soo, que é um queridinho do festival. O cineasta de 64 anos, autoral por princípio, em que produz, escreve e dirige, tem 40 longas na carreira, e as sessões de seus filmes na Mostra sempre são lotadas. Em ‘Através do fluxo’, uma professora (papel da protagonista de ‘A criada’, Kim Min-hee, aqui premiada melhor atriz em Locarno) convida o tio para auxiliá-la na direção de uma esquete de teatro. Para melhor desenvolver o trabalho, todo dia ela senta na beira de um riacho para fazer esboços do fluxo da água. O tio aceita a proposta e retorna a Seoul, modificando a vida da sobrinha e de todos que a cercam. Kim Min-hee e Kwon Hae-hyo (o tio) são expressivos, com interpretações naturais, e já trabalharam outras vezes com o diretor Sang-soo, que sabe captar a essência dos personagens com delicadeza, emoção e humor. Mais uma vez, seus dramas misturam uma comédia sutil, e a técnica do cineasta sempre está presente (já viraram uma marca): câmera estática captando longas cenas de diálogos dos atores sentados frente a frente em suas rotinas, como almoçando ou conversando na sala, cenas contemplativas em florestas e rios, sem diálogos, com a som da natureza etc. O diretor acumula mais de 60 prêmios internacionais, em festivais consagrados, como Berlim, Cannes e San Sebastián. Aos iniciados no cinema de Sang-soo, vale uma conferida. Sessões na Mostra ainda dias 26 e 30/10.

 



 

Sol de inverno

 

Aplaudido nos festivais por onde passou, como Cannes, Toronto e San Sebastián, o delicadíssimo drama japonês traz uma história bonitinha e agradável que, aos poucos, ganha dimensão conflitante. A história se passa em uma pequena ilha do Japão, onde, no inverno, duas crianças são treinadas por um professor para patinação artística no gelo. O garoto Takuya deixa o hóquei no gelo de lado, algo que chama a atenção dos amigos e da família, enquanto a menina Sakura é considerada uma esportista em ascensão. Ex-campeão de patinação no gelo, o professor Arakawa junta os dois para intensos dias de treinamento para um campeonato que reunirá grandes times da região. O filme tem uma dinâmica incrível entre os personagens, com cenas belamente coreografadas no gelo, difíceis de serem feitas. A luz em diversos momentos estoura na tela, sinal dos conflitos que irão aparecer em breve na trama. O elenco é bom, as crianças mandam bem, e não só no final, mas todo o filme causa fortes emoções. Segundo longa do diretor Hiroshi Okuyama, que, junto do premiado diretor Hirokazu Koreeda, dirigiu a série da Netflix ‘Makanai: Cozinhando para a casa Maiko’ (2023). Em Cannes concorreu ao prêmio principal da seção ‘Um certo olhar’ e ao Queer Palm. Um dos filmes imperdíveis da Mostra desse ano. Sessão ainda no dia 26/10.

 



 

Em retiro

 

Está na Competição Novos Diretores da seção ‘Foco Índia’ essa singular fita de arte que fez sua estreia mundial no Festival de Cannes, e dias atrás foi exibida no Festival de Mumbai. Um homem de 50 anos retorna para a velha casa da família nas montanhas, pouco tempo depois do funeral do irmão. Solitário, perambulando pela casa numa noite escura, ele agora é forçado a rever suas atitudes. Uma atmosfera sombria, com algo místico no ar, embasa o drama que conta com um bom trabalho do ator, que fica o tempo todo sozinho em cena, o indiano Harish Khanna – é um filme de um personagem só, tomado por pensamentos e poucos diálogos. A fotografia da noite azulada dentro do interior da casa é ingrediente fundamental para a melancólica trama. Sessões encerradas na Mostra de SP, porém o filme pode ser assistido até o dia 30/10 gratuitamente na plataforma Sesc Digital, com limite de 600 visualizações.




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