Os melhores filmes da
Mostra de SP – Parte 9
A
48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo segue na capital paulista até
30 de outubro. Nesse ano, serão exibidos 419 títulos de 82 países, distribuídos
em mais de 20 salas de cinema de São Paulo. A programação completa da Mostra está
no site oficial, em https://48.mostra.org.
Confira
abaixo drops de mais filmes da Mostra que assisti e recomendo.
O
brutalista
Um
dos grandes filmes da Mostra desse ano, que teve todas as sessões esgotadas no
festival, e cotadíssimo para o Oscar de 2025. Suas 3h35 de duração não
atrapalham essa que é uma saga moderna e grandiosa, que conta a longa trajetória de um arquiteto judeu
que viveu os horrores do campo de concentração e chega aos Estados Unidos logo
após o fim da Segunda Guerra Mundial. A esposa, doente, ficou na Europa, e ele,
sozinho, recomeça a vida na América. Pobre e maltrapilho, mas com ideias
visionárias, recebe o convite de um misterioso magnata da indústria para
construir um templo religioso no alto de uma colina na Pensilvania. O arquiteto
László Toth torna-se peça fundamental na consolidação do movimento Brutalista
na arquitetura moderna, com seus prédios pesados, construídos apenas com
concreto, simples, funcionais e sem ornamentos. O drama percorre 50 anos na vida
do protagonista, que cruza países como Hungria, Itália e EUA, mostrando seus
encontros e desencontros, a fatalidade, a construção/destruição de seus sonhos.
É uma visão pessimista de uma América que não servia aos imigrantes. Adrien Brody
entrega uma performance esplêndida, enquanto Felicity Jones, no papel da
esposa, aparece a partir da metade, em um trabalho pessoal e condizente, e Guy
Pearce é o magnata industrial, num de seus melhores momentos no cinema. Rodado na
Hungria e na Itália em apenas 34 dias, com orçamento pequeno, de apenas U$ 6
milhões. Feito num VistaVision impressionante, que deve ser assistido
preferencialmente na tela grande. Os letreiros iniciais correndo de lado é algo
curioso e praticamente inédito. A trilha sonora ecoante de Daniel Blumberg e a
fotografia com cores acinzentadas de Lol Crawley engrandecem a obra, já na minha
lista dos melhores do ano. Venceu cinco prêmios em Veneza, incluindo
melhor diretor, para Brady Corbet – que foi ator, de ‘Violência gratuita’, e prêmio da Crítica. Exibido ainda nos
festivais de Toronto e Nova York, é produzido pela A24, e aqui no Brasil será distribuído
nos cinemas pela Universal Pictures em 02 de fevereiro de 2025. Sessão na
Mostra ainda no dia 26/10 - todas as sessões do filme têm um intervalo de 15
minutos no meio da projeção.
Através
do fluxo
Todo
ano a Mostra de SP traz um, ou até dois, como já aconteceu, título do multipremiado
diretor sul-coreano Hong Sang-soo, que é um queridinho do festival. O cineasta de
64 anos, autoral por princípio, em que produz, escreve e dirige, tem 40 longas
na carreira, e as sessões de seus filmes na Mostra sempre são lotadas. Em ‘Através
do fluxo’, uma professora (papel
da protagonista de ‘A criada’, Kim Min-hee, aqui premiada melhor atriz em
Locarno) convida o tio para auxiliá-la na direção de uma esquete de teatro. Para
melhor desenvolver o trabalho, todo dia ela senta na beira de um riacho para
fazer esboços do fluxo da água. O tio aceita a proposta e retorna a Seoul,
modificando a vida da sobrinha e de todos que a cercam. Kim Min-hee e Kwon
Hae-hyo (o tio) são expressivos, com interpretações naturais, e já trabalharam outras
vezes com o diretor Sang-soo, que sabe captar a essência dos personagens com delicadeza,
emoção e humor. Mais uma vez, seus dramas misturam uma comédia sutil, e a
técnica do cineasta sempre está presente (já viraram uma marca): câmera estática
captando longas cenas de diálogos dos atores sentados frente a frente em suas
rotinas, como almoçando ou conversando na sala, cenas contemplativas em
florestas e rios, sem diálogos, com a som da natureza etc. O diretor acumula
mais de 60 prêmios internacionais, em festivais consagrados, como Berlim,
Cannes e San Sebastián. Aos iniciados no cinema de Sang-soo, vale uma conferida.
Sessões na Mostra ainda dias 26 e 30/10.
Sol
de inverno
Aplaudido nos festivais por onde passou, como
Cannes, Toronto e San Sebastián, o delicadíssimo drama japonês traz uma
história bonitinha e agradável que, aos poucos, ganha dimensão conflitante. A história
se passa em uma pequena ilha do Japão, onde, no inverno, duas crianças são
treinadas por um professor para patinação artística no gelo. O garoto Takuya deixa
o hóquei no gelo de lado, algo que chama a atenção dos amigos e da família, enquanto
a menina Sakura é considerada uma esportista em ascensão. Ex-campeão de
patinação no gelo, o professor Arakawa junta os dois para intensos dias de
treinamento para um campeonato que reunirá grandes times da região. O filme tem
uma dinâmica incrível entre os personagens, com cenas belamente coreografadas
no gelo, difíceis de serem feitas. A luz em diversos momentos estoura na tela, sinal
dos conflitos que irão aparecer em breve na trama. O elenco é bom, as crianças
mandam bem, e não só no final, mas todo o filme causa fortes emoções. Segundo longa
do diretor Hiroshi Okuyama, que, junto do premiado diretor Hirokazu Koreeda,
dirigiu a série da Netflix ‘Makanai: Cozinhando para a casa Maiko’ (2023). Em
Cannes concorreu ao prêmio principal da seção ‘Um certo olhar’ e ao Queer Palm.
Um dos filmes imperdíveis da Mostra desse ano. Sessão ainda no dia 26/10.
Em
retiro
Está
na Competição Novos Diretores da seção ‘Foco Índia’ essa singular fita de arte que
fez sua estreia mundial no Festival de Cannes, e dias atrás foi exibida no
Festival de Mumbai. Um homem de 50 anos retorna para a velha casa da família nas
montanhas, pouco tempo depois do funeral do irmão. Solitário, perambulando pela
casa numa noite escura, ele agora é forçado a rever suas atitudes. Uma atmosfera
sombria, com algo místico no ar, embasa o drama que conta com um bom trabalho
do ator, que fica o tempo todo sozinho em cena, o indiano Harish Khanna – é um
filme de um personagem só, tomado por pensamentos e poucos diálogos. A fotografia
da noite azulada dentro do interior da casa é ingrediente fundamental para a melancólica
trama. Sessões encerradas na Mostra de SP, porém o filme pode ser assistido até
o dia 30/10 gratuitamente na plataforma Sesc Digital, com limite de 600
visualizações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário