domingo, 30 de julho de 2023

Cine Cult


Street trash

Dono de uma velha loja de bebidas no Brooklyn, em Nova York, encontra, nos fundos do depósito, uma caixa empoeirada contendo garrafas de um estranho licor chamado Viper. Ele os coloca à venda com preço baratinho. Andarilhos que circulam por lá roubam alguns frascos e dividem a bebida entre eles. Mas ninguém imagina que o Viper é tóxico e, ao ser tomado, derrete a pessoa em segundos.



Estranho, escatológico, repulsivo e estranhamente engraçado, “Street trash” é um dos filmes mais bizarros do cinema, também conhecido por “O lixo das ruas”. É um autêntico trash (trash de natureza técnica mesmo, de concepção correta do que é um ‘trash movie’), um terror-comédia maluco, produzido com pouco dinheiro (custou U$ 500 mil) e rapidamente tornou-se cult.
A fita, de 1987, nasceu de um curta-metragem feito quatro anos antes pelo mesmo diretor (J. Michael Muro), elenco e equipe, com menos recursos. Muro aproveitou o plot e as piadas, estendeu a história para projetá-la nas telonas e jogou mais cenas de violência e escatologia. Uma bebida maldita encontrada nos fundos de um depósito de uma loja, de nome Viper, é roubada por mendigos, que acabam dividindo os frascos e bebendo o conteúdo. Porém o Viper derrete quem o bebe. Um andarilho que observa tudo tenta alertar os amigos de rua, sem sucesso. A trama do filme é somente essa, um roteiro superenxuto, que investe em mortes bizarras, com bons efeitos especiais e maquiagem, com gente derretendo e explodindo. Prepara-se para muita nojeira, com líquidos corporais pingando pelas ruas, tripas pulando fora do corpo, o sangue se transformando em uma pasta azulada. No fim, as vítimas do Viper viram uma gosma colorida. Numa cena icônica que virou o pôster original do filme, um mendigo senta-se no vaso sanitário e derrete, e os restos do seu corpo são tragados para dentro da privada.
Tem um forte comentário social: o “lixo das ruas” referindo-se pejorativamente aos andarilhos que povoam o Brooklyn, e o Viper como uma forma de “limpar” a cidade (uma crítica à aporofobia). O derretimento das pessoas por essa bebida colocada com destaque para ser vendida barata também é um alerta quanto à sociedade de consumo (todos querem o Viper vendido por um dólar, mas ninguém sabe o que tem ali no frasco).




“Street trash” tornou-se um marco do cinema trash. Foram 40 dias de filmagem em 1985, todo rodado nas ruas de Nova York. Teve exibição em diversos festivais de cinema terror e de cinema fantástico, como Avoriaz e Bruxelas, e somente dois anos depois lançado no circuito independente.
O filme acaba de sair em DVD numa edição sem cortes, na versão integral de 100 minutos, pela distribuidora Obras-primas do Cinema - por causa das nojeiras e da violência, o filme sofreu cortes de 10 minutos em alguns países, sendo lançado com 91 minutos na Noruega, por exemplo. No disco, além da ótima cópia do filme, há extras, incluindo o curta “Street trash”, de 198, e capa dupla face.
Um crítico de cinema da Inglaterra resumiu bem a fita no lançamento; disse que “Eraserhead” se encontra com “A noite dos mortos-vivos” no set de filmagens de “O massacre da serra elétrica”. Bom divertimento!

Street trash (Idem). EUA, 1987, 100 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por J. Michael Muro. Distribuição: Obras-primas do Cinema

sexta-feira, 28 de julho de 2023

Na Netflix


Dois ótimos documentários indicados ao Oscar, dirigidos por mulheres, sobre questões raciais.

What happened, Miss Simone?

Documentário biográfico da cantora, compositora e ativista do movimento negro dos anos de 1960 e 1970 Nina Simone (1933-2003) a partir de seus diários íntimos.

Não teve título traduzido no Brasil esse bonito e melancólico documentário da Netflix indicado ao Oscar em 2016 sobre a cantora Eunice Kathleen Waymon, a lendária Nina Simone (1933-2003), exímia pianista, compositora, cantora de jazz e blues e ativista pelos direitos civis dos negros. Tudo no documentário é intenso e trágico. Dona de uma voz potente e inesquecível, Nina nasceu de uma família pobre de sete irmãos na Carolina do Norte. Começou a tocar piano na igreja ainda criança, aos quatro anos, quando acompanhava a mãe pregadora, e 15 anos depois, tomada pela timidez, subiu aos palcos de bares para cantar, por acaso. O mundo se voltou para aquele vozeirão, e daí veio o apelido: Nina, colocado pelo namorado que a chamava de “Niña”, e “Simone”, em homenagem à atriz francesa Simone Signoret, da qual era fã. Ao longo da carreira enfrentou atropelos: apanhava do marido (um detetive que virou empresário dela), tinha problemas com sua única filha (a atriz e cantora Lisa Simone Kelly), brigava com as gravadoras, rompia contratos, até ser diagnosticada, tardiamente, com transtornos psiquiátricos (ela tinha uma bipolaridade mal cuidada, que a fazia cair em crises nervosas, brigar e se isolar). Nos anos de 1960, entrou nos movimentos em prol aos direitos dos negros, tornando-se uma figura poderosa na causa, ao lado de Angela Davis, Maya Angelou, Harry Belafonte e Martin Luther King. O doc mostra isso tudo, da infância da cantora à carreira de altos e baixos, do seu lado ativista e das crises familiares, tudo contado a partir de seus diários pessoais, além de entrevistas de familiares e amigos. Exibem-se imagens raras dela no palco e gravações inéditas, e em determinado momento reabre feridas, de um lado menos conhecido de Nina, no caso os transtornos maníaco-depressivos e a agressividade. Nina morreu solitária, triste, vítima de câncer, numa província no sul da França, aos 70 anos, deixando uma marca inigualável na cena musical norte-americana.




A trilha do filme reúne cerca de 30 canções importantes dela, as de protesto e ativismo como “To be young, gifted and black”, “Ain't got no/I got life” e “Why? (The King of love is dead”) e reinterpretações, como “Don’t let me be misunderstood”, “Sinnerman” e “My baby just cares for me”.
Produzido e lançado pela Netflix, recebeu indicação também ao Grammy de melhor filme musical e venceu o Emmy de documentário. A diretora, Liz Garbus, tinha sido indicada ao Oscar pelo doc “The farm: Angola, USA” (1998) e dirigiu, produziu e escreveu diversos filmes e minisséries para a Netflix. Um dos grandes documentários do catálogo da plataforma, que revi com muito prazer ontem.

What happened, Miss Simone? (Idem). EUA, 2015, 101 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Liz Garbus. Distribuição: Netflix


A 13ª Emenda

Um retrato político e social do sistema prisional dos Estados Unidos e a relação dele com a 13ª Emenda, aprovada em 1865, que tornava crime manter pessoas como escravas no território norte-americano.

A Netflix é reconhecida por produzir documentários investigativos tensos, que caíram no gosto popular, e aqueles sobre denúncia social de mazelas que se perpetuam na sociedade, como é o caso desse grande filme indicado ao Oscar na categoria em 2017. Aqui, a cineasta negra Ava DuVernay, que já esteve envolvida em mais de 90 produções, seja como roteirista, produtora ou diretora, na maioria deles sobre questões raciais, reflete sobre um lado triste e permanente da História dos EUA: os crimes raciais. Mas para contar essa história, ela se volta para a 13ª. Emenda da Constituição do país - aquela que, a partir de 1865, tornava crime manter escravos, forçando a abolição nos estados que resistiam mesmo com o fim da Guerra de Secessão (Guerra Civil), e faz um paralelo com o altíssimo número de negros presos, sendo muitos deles inocentes. A teoria é de que escravidão e criminalização caminham juntas, a cadeia tornou-se a escravidão contemporânea para os negros. Estudiosos, políticos, ativistas e negros que cumpriram penas relatam sobre esses dados e discutem a relação entre a criminalização e perseguição da população preta norte-americana com a explosão do sistema prisional, trazendo relatos chocantes. É um estudo pontual e detalhista sobre racismo estrutural, que deve ser assistido por todos (recomendo aos professores exibirem aos seus alunos).


Dois anos antes, em 2014, a diretora fez “Selma: Uma luta pela igualdade” (2014), sobre a marcha conduzida por Martin Luther King para conquistar o direito dos negros ao voto. Tirando a infeliz fita de fantasia e aventura para a Disney “Uma dobra no tempo” (2018), Ava realizou bons trabalhos, com destaque para a minissérie “Olhos que condenam” (2019), que também aborda o racismo e foi novamente produzida para a Netflix.
“A 13ª Emenda” ganhou o Bafta de melhor doc, quatro Emmys e outros 30 prêmios em mais de 50 festivais internacionais. Disponível no catálogo da Netflix.

A 13ª Emenda (13th.). EUA, 2016, 100 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Ava DuVernay. Distribuição: Netflix

terça-feira, 25 de julho de 2023

Na Netflix


O Anjo do Mossad

Trajetória do espião a serviço do Mossad, o serviço secreto de Israel, Ashraf Marwan (Marwan Kenzari), na década de 1970.

Curioso drama biográfico com uma ou outra cena de ação, baseado em incríveis fatos verídicos. Conta uma história pouco conhecida do público, a trajetória de Ashraf Marwan (1944-2007), milionário egípcio que foi espião para o Mossad, o temido serviço secreto de Israel, fundado em 1949. Genro de Gamal Abdel Nasser, ex-presidente do Egito de 1958 até 1970, usava o codinome “O Anjo” e tornou-se chefe de operações do governo Sadat, após a morte do presidente Nasser.
O desenrolar da trama é complexo, foca na vida de Marwan nos primeiros anos de 1970, quando começou sua atuação no Mossad. O narrador do filme faz entradas esporádicas para explicar fatos históricos, como a Guerra dos Seis Dias, a disputa de território entre árabes e judeus e a formação do Estado de Israel, até chegar ao personagem central e o Mossad (prestem atenção nos pormenores e diálogos).
É uma adaptação do livro “The Angel: The egyptian spy who saved Israel”, de Uri Bar-Joseph, com roteiro de David Arata, indicado ao Oscar por “Filhos da esperança” (que, neste, escreveu o roteiro ao lado de outros quatro roteiristas, incluindo Alfonso Cuarón).
Há um bom ator que interpreta Marwan, o holandês de origem tunisiana Marwan Kenzari, de “Ben-Hur” (2016), “A promessa” (2016), e depois de “O Anjo do Mossad” interpretou Jafar, o vilão no live-action da Disney “Aladdin” (2019), além de bons coadjuvantes, como Sasson Gabay, ator iraquiano de “Rambo III” (1988) e “A banda” (2007), na pele de Anwar Sadat (presidente do Egito após a morte de Nasser), e o inglês Toby Kebbell, de “Quarteto fantástico” (2015), como um agente canadense da Mossad que se torna próximo do Anjo.



Direção coesa do israelense Ariel Vromen, que rodou o terror independente com Marisa Tomei “Danika” (2005), o filme de serial killer também verídico (e excelente), com Michael Shannon, “O homem de gelo” (2012), e fez um bom thriller scifi com Kevin Costner e Gal Gadot, “Mente perigosa” (2016). Produzido e distribuído pela Netflix, está na plataforma aos assinantes.

O Anjo do Mossad (The Angel). Reino Unido/Egito/Israel, 2018, 114 minutos. Drama/Ação. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Ariel Vromen. Distribuição: Netflix

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Cine Especial



Contos da escuridão


Garotinho é raptado por uma bruxa que deseja cozinhá-lo no jantar. Mas o menino faz um pedido antes: que possa ler para ela três contos de terror.

Assustador filme para cinema feito a partir da série homônima “Tales from the darkside” (1983-1988), que no Brasil recebeu o título de “Galeria do terror”, que compilava dezenas de contos de terror com histórias sobrenaturais, fantasia, suspense, ficção científica e humor negro, produzida por George A. Romero (de “A noite dos mortos-vivos”). Com o fim da série, muito popular nos EUA, parte dos produtores partiram para adaptá-la para a telona, fechando com os estúdios da Paramount Pictures, com distribuição mundial nas salas. São três histórias criativas de terror com muitos sustos e criaturas horrendas, criadas pelas maiores mentes do horror moderno: George A. Romero, de filmes de zumbis como “Despertar dos mortos” (1978) e “Dia dos mortos” (1985), Stephen King, de “O iluminado” (1980), “It: A coisa” (a série de 1990 e os filmes de 2017 e 2019) e tantas outras fitas de terror, e Michael McDowell, roteirista de “Os fantasmas se divertem” (1988) – este adaptou um conto antigo de Arthur Conan Doyle, célebre escritor escocês de literatura de investigação, criador de “Sherlock Holmes”. O filme funciona assim: começa com um garotinho (Matthew Lawrence, de “Uma babá quase perfeita”) raptado por uma bruxa moderna (a elegante Debbie Harry, vocalista do Blondie e atriz de filmes como “Videodrome: A síndrome do vídeo”). Ela pretende cozinhá-lo num forno para o jantar. Mas antes o garoto faz uma proposta na tentativa de distraí-la: ler histórias de terror. E as histórias começam... A primeira chama-se “Lote 249” (conto de Conan Doyle, adaptado por McDowell), sobre um estudante aficionado por arqueologia que recebe uma enorme caixa pelos correios e convida um amigo para abri-la, com consequências horripilantes (nessa sequência tem Christian Slater, Julianne Moore e Steve Buscemi, todos em início de carreira). Na segunda história, “Um gato do inferno” (conto original de King, adaptado por Romero), um milionário debilitado numa cadeira de rodas contrata um matador para eliminar um gato amaldiçoado que o persegue e já matou integrantes de sua família (aqui temos dois veteranos em cena, o já indicado ao Oscar William Hickey, e David Johansen). Por último, “O voto dos amantes” (escrito por McDowell, inspirado em um folclore japonês) traz um artista decadente que recebe a visita de uma gárgula que faz a ele uma proposta irrecusável (James Remar faz o papel principal). E quando essas historietas terminam, o filme volta para o garoto e a bruxa para o encerramento, com muitas reviravoltas!





As histórias são um barato, todas curtinhas, em média com 25 minutos cada; algumas assustam, como as duas primeiras, e há monstros feiosos, como o a da gárgula, com bons efeitos e maquiagens do mestre Dick Smith, de “O exorcista” (1973) e “Scanners: Sua mente pode destruir” (1981), ganhador do Oscar pela make por “Amadeus” (1984).
A direção é de John Harrison, que dirigiu oito episódios da antiga série, “Galeria do terror”, e depois só se dedicou a séries e a telefilmes. Sai em DVD pela Obras-primas do Cinema numa boa edição.

Contos da escuridão (Tales from the darkside: The movie). EUA, 1990, 93 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por John Harrison. Distribuição: Obras-primas do Cinema

terça-feira, 18 de julho de 2023

Nota do blogueiro


Sato Company inaugura uma nova sala de cinema em SP: a Sato Cinema

A cidade de São Paulo ganhou, no último fim de semana, mais uma sala de cinema: trata-se do Sato Cinema, do grupo Sato Company, que já distribuía filmes nas principais salas de cinema do Brasil. Está localizada no Museu Histórico da Imigração Japonesa (Rua São Joaquim, 381), no prédio do Bunkyo, no bairro Liberdade, e contará com exibições de filmes asiáticos sempre aos finais de semana.



(Sala da Sato Cinema). Foto: divulgação

O Sato Cinema conta com equipamentos modernos de exibição e é uma das maiores salas do país: são 759 lugares no térreo e pode ultrapassar 1080 assentos com o mezanino. O funcionamento do cinema será aos sábados e domingos, nos períodos tarde e noite, com uma média de cinco sessões por dia.
No último final de semana, houve a inauguração do cinema, com convidados e autoridades, e a abertura de duas sessões no sábado e domingo, dos filmes "O deus do cinema" (2021), um drama japonês de Yôji Yamada, e "Kamen rider zero-one: Real x time" (2020), fita de super-herói baseada na antiga série de TV japonesa, dirigida por Teruaki Sugihara. Para mais informações, (11) 3209-5465.



(Edifício Bunkyo, onde fica o Museu e o cinema). Foto: divulgação

sábado, 15 de julho de 2023

Resenhas Especiais


A aparição


Numa cidadezinha do Arizona, um jovem é morto pelo líder de uma gangue. Tempos depois, um homem misterioso de capacete, roupas pretas e portando uma arma surge em um carro futurista. Ele vem desafiar os membros da gangue com o intuito de vingar a morte daquele rapaz.

Cultuado pelos jovens nos anos de 1980 e 1990, “A aparição” é uma fita scifi com terror e ação que mais parece um faroeste sobrenatural, uma mistura de “O estranho sem nome” (1973, de Clint Eastwood) com “O carro – A máquina do diabo” (1977, de Elliot Silverstein). Isso porque na trama um homem misterioso surge numa pequena cidade do Arizona para se vingar da morte de um rapaz, crime cometido por uma perigosa gangue de rua. Não se sabe a identidade desse cara, nem se ele é deste mundo; veste roupas pretas de couro com acessórios de metal, semelhante a um robô, usa um capacete que tapa inteiramente o rosto e os olhos, e porta uma arma destruidora. Paralelamente à vinda dele, chega à cidade um jovem em busca de um lar (Charlie Sheen, filho do astro Martin Sheen e irmão de Emilio Estevez, em início de carreira, meses antes de protagonizar “Platoon”, o clássico de guerra de Oliver Stone).
A trama fica célere com as brigas entre as gangues de rua e os rachas no meio da poeira e do deserto (com boas cenas de corridas de carro). A trilha é embalada em alta frequência por clássicos do rock’n roll, em que ouvimos Ozzy Osbourne e Lion, por exemplo. No elenco, além de Sheen, tem Nick Cassavetes (filho do cineasta John Cassavetes e da atriz Gena Rowlands, que viraria diretor depois), Sherilyn Fenn (atriz da série “Twin Peaks”), Randy Quaid (irmão mais velho de Dennis Quaid, de “A última missão”) e Clint Howard (de “Um sonho distante”).





Um dos pouquíssimos filmes dirigidos por Mike Marvin, que realizou mais séries televisivas e no mesmo ano de “A aparição” estreou com o popular besteirol “Hamburguer: O filme”.
Quem devorava filmes nas antigas sessões da tarde na TV nos anos 90 vai se lembrar de “A aparição”, agora lançado em DVD numa boa cópia pela Obras-primas do Cinema. No disco há 30 minutos de extras, além de capa dupla face e junto com um card com a capa original do filme.

A aparição (The wraith). EUA/Canadá, 1986, 93 minutos. Ação/Terror. Colorido. Dirigido por Mike Marvin. Distribuição: Obras-primas do Cinema


Ressurreição: Retalhos de um crime


Detetive do departamento de homicídios, John Proudhomme (Christopher Lambert) trabalha num complexo caso de um serial killer que mata homens levando consigo partes do corpo da vítima. No corpo das pessoas assassinadas, escreve versículos Bíblia e na parede, a inscrição “Ele está vindo”.

Derivado de “Seven: Os sete crimes capitais” (1995), com forte semelhança na trama (incluindo a complexidade do caso envolvendo assassinatos brutais), na fotografia escura e na investigação da identidade do assassino, “Ressurreição” (1999) fez carreira no circuito de home video, numa distante época na qual o VHS reinava. O roteiro se apropriava de ideias de “Seven” trazendo com mais ênfase mortes horrendas, exibidas sem restrições na tela, reforçando a crueldade do assassino. Foi escrito por Brad Mirman, de fitas policiais com assassinos como “Corpo em evidência” (1992) e “Face a face com o inimigo” (1992), este com Christopher Lambert, onde conheceu o ator e voltaria a trabalhar com ele em pelo menos três outros longas-metragens. Na realidade, o argumento original do filme é de Lambert, que auxiliou Mirman não script (é o único trabalho de roteiro creditado de Lambert, que foi um dos produtores aqui). Ou seja, um filme dele, para ele, bem pessoal. Convidou para dirigir Russell Mulcahy, australiano, velho conhecido de Lambert, que o tornou famoso quando o dirigiu no cultuado “Highlander: O guerreiro imortal” (1986) – e depois fariam a continuação, “Highlander 2: A ressurreição” (1991).
O filme foca integralmente na investigação, um caso complicado de assassinatos cometidos por alguém insano, possivelmente um abitolado religioso, que inscreve no corpo das vítimas versículos da Bíblia e arranca os membros delas, levando-os consigo - a ideia do serial killer é recriar o corpo de Cristo. Traz imagens fortes e até desagradáveis, por exemplo, dos corpos em decomposição).




Para provocar medo e gerar o clima de estranhamento da história, há uma fotografia estilizada, amarronzada, com enquadramentos que deformam a tela nos momentos de sufoco dos personagens (foto de Jonathan Freeman, de séries como “Game of thrones” e “Boardwalk empire”).
Não acho Lambert bom ator (às vezes é canastrão), mas neste filme faz um esforço e não desagrada. Atenção para personagens secundários que auxiliam o tom firme e sinistro da trama: Leland Orser (de “O colecionador de ossos” e que fez ponta em “Seven”), como o detetive auxiliar de Lambert, e Robert Joy (de “Atlantic city”), como um cidadão que ajuda os detetives fornecendo pistas para desvendarem o caso. Há também uma rápida aparição, no papel de um padre, do diretor David Cronenberg (que fez “A mosca” e “Crash: Estranhos prazeres”).
Lançado em DVD numa boa cópia pela Obras-primas do Cinema. No disco há extras, além de capa dupla face e junto com um card com a capa original do filme.

Ressurreição: Retalhos de um crime (Resurrection). EUA/Canadá, 1999, 107 minutos. Ação/Terror. Colorido. Dirigido por Russell Mulcahy. Distribuição: Obras-primas do Cinema

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Resenhas Especiais



Os dois mundos de Jennie Logan

Jennie Logan (Lindsay Wagner) é transportada ao passado quando coloca um vestido que encontra no sótão de sua nova casa. Ao viver em outra época, conhece um artista e se apaixona por ele. Só que no tempo presente, ela é casada. Jennie então terá uma difícil escolha pela frente: se fica no presente, ao lado do marido que não dá atenção a ela e tem casos extraconjugais, ou se retorna para sempre ao passado para recomeçar nova vida e novo amor.

Fantasia, romance e um grau de mistério e sobrenatural temperam esse filme para TV de 1979, dirigido por Frank De Felitta, que fez um telefilme muito bom com espantalho assassino, “A vingança do espantalho” (1981 – que também tinha traços de fantasia). Ele escreveu o roteiro de “Os dois mundos de Jennie Logan” adaptando-o de um romance de David L. Williams chamado “Second sight”, que tratava de viagem no tempo, amor proibido e livre arbítrio.
Na história, uma mulher, no tempo presente (bem interpretada por Lindsay Wagner, a “Mulher Biônica” da série dos anos 70) muda-se com o marido (papel de Alan Feinstein, da série ‘Berrenger’s”) para uma nova casa. Ao revirar o sótão, encontra um velho vestido branco, e ao vesti-lo, retorna no tempo, um século antes. Ela estranha os lugares, as pessoas, até que se envolve com um homem perfeito, um artista (Marc Singer, de “O príncipe guerreiro”), porém ele carrega uma maldição. Ao retirar o vestido, volta ao tempo presente – quando enfrenta crises no casamento com o marido mulherengo. Então Jennie terá de escolher se fica ou se volta.
Foi um dos primeiros filmes de romance sobre viagem no tempo, lançado um ano antes de uma fita emocionante de mesmo tema que ganhou o público na época, “Em algum lugar do passado” (1980), com Cristopher Reeve e Jane Seymour (baseado no livro de Richard Matheson).



Deverá agradar quem gosta do tema - e indico também àquele público feminino que gosta de romances sensíveis e sobre escolhas.
Saiu recentemente em DVD pela Obras-Primas do Cinema, em uma boa cópia (mas sem extras no disco). O DVD vem com capa dupla face e acompanha card com a capinha original do filme.

Os dois mundos de Jennie Logan (The two worlds of Jennie Logan). EUA, 1979, 96 minutos. Drama/Suspense. Colorido. Dirigido por Frank De Felitta. Distribuição: Obras-primas do Cinema


10 minutos para morrer

Um veterano detetive de Los Angeles, Leo Kessler (Charles Bronson), procura pistas para localizar e prender um serial killer que mata jovens mulheres.

Quarto trabalho de uma série de nove filmes de ação entre o ator Charles Bronson e o diretor J. Lee Thompson, parceria que começou com “Cinco dias de conspiração” (1976) e terminaria com “Kinjite: Desejos proibidos” (1989). Em quase todos, Bronson encarna policiais solucionando casos de assassinatos e tráfico de drogas; usa o bigode fino costumeiro, veste terno, de fala mansa e quando é provocado, defende-se de forma violenta. Dos nove longas-metragens juntos há fitas boas, outras irregulares e corriqueiras e algumas ruins de doer, muitas com trama semelhante. “10 minutos para morrer” (1983) é um dos mais eficientes filmes da dupla. Bronson faz um detetive aborrecido de Los Angeles que investiga crimes brutais tendo jovens mulheres como as vítimas de um serial killer perturbado, que tem o hábito de ficar nu durante os ataques. O assassino é evidenciado nos primeiros minutos (interpretado pelo ator Gene Davis, de “A morte pede carona”,a versão original de 1986), um rapaz de olhar penetrante, que usa luva cirúrgica e faca na hora da matar. Ao lado do detetive está um novato investigador (Andrew Stevens, de “A fúria”), que sai também no encalço do criminoso.



Não há surpresas no roteiro, legalzinho, que parece ter saído do universo dos slasher movies, já que tem um psicopata que mata jovens (tem cenas com sangue, porém não há a fórmula tradicional do “whodunit”, o “quem matou”, pois já sabemos da identidade dele desde o começo). Completam o elenco secundário Geoffrey Lewis (como um advogado de defesa do assassino), Wilford Brimley (o chefe de polícia) e Lisa Eilbacher (a filha do detetive protagonista).
A produção é da popular (e extinta) Cannon, da dupla de produtores israelenses Menahem Golan e Yoram Globus, que fez uma centena de filmes policiais B nos anos de 1980 lançando fitas comerciais de Chuck Norris, Arnold Schwarzenegger, Sylvester Stallone, Dolph Lundgren e Jean-Claude Van Damme.
Exibido na TV aberta diversas vezes, pode ser assistido agora em DVD, numa boa edição com extras lançado pela Obras-primas do Cinema. O DVD vem com capa dupla face e acompanha card com a capinha original do filme.

10 minutos para morrer (10 to midnight). EUA, 1983, 102 minutos. Policial/Suspense. Colorido. Dirigido por J. Lee Thompson. Distribuição: Obras-primas do Cinema

terça-feira, 11 de julho de 2023

Cine Clássico


O último golpe


Thunderbolt (Clint Eastwood), um ex-ladrão de bancos, vive atualmente numa comunidade no interior dos Estados Unidos, onde prega numa pequena igreja. Certo dia, chegam à igreja antigos comparsas do crime que desconfiam que ele ficou com o dinheiro do último assalto. Tentam capturá-lo, sem sucesso; Thunderbolt, alvo de tiros durante o culto, foge pegando carona no carro de um desconhecido que cruza seu caminho: o jovem delinquente Lightfoot (Jeff Bridges). Thunderbolt é então convencido pelo rapaz a praticar o mesmo assalto ousado do passado.

Fita de ação das mais empolgantes do cinema dos anos 70, produzida no auge da Nova Hollywood e que marcou a estreia de Michael Cimino na direção – poucos anos mais tarde ganharia o Oscar de melhor direção e também de melhor filme pela obra-prima do cinema de guerra “O franco atirador” (1978), e, paralelamente, quebraria a United Artists com a exaustiva superprodução “O portal do paraíso” (1980), fiasco de público e crítica na época.
Cimino escreveu e dirigiu “O último golpe” (1974) reunindo os melhores elementos do cinema de ação, road movie e o western: anti-heróis perspicazes (no caso foras-da-lei simpáticos), perseguições a todo vapor, fugas mirabolantes bem orquestradas, assaltos com tiros sem fim, traições e final trágico. Clint Eastwood e Jeff Bridges (que recebeu nesse filme sua segunda indicação ao Oscar, de melhor ator coadjuvante) performam como a dupla de criminosos Thunderbolt e Lightfoot (título original do filme, cuja tradução seria “Relâmpago” e “Ligeiro”), que se arriscam num assalto complexo, única alternativa de suas vidas; o primeiro é um veterano que quer deixar a vida de crime pra trás, enquanto o segundo, novato e atrapalhado, prospecta que o plano será a maior jogada do mundo. Só que no encalço deles estará dois velhos comparsas de Thunderbolt, Red (George Kennedy, ganhador do Oscar de coadjuvante por “Rebeldia indomável”) e Eddie (Geoffrey Lewis, pai da atriz Juliette Lewis e ator de vários filmes de Clint Eastwood, como “O estanho sem nome”).




Produzido pela Malpaso, companhia de Clint Eastwood, que produziu os principais filmes do ator, no total 50 longas, com destaque para os de ação e faroeste nos anos de 1960, 70 e 80, como “Meu nome é Coogan” (1968), “Perseguidor implacável” (1971) e “Um agente na corda bamba” (1984).
Saiu em DVD pela Classicline dois anos atrás, numa cópia com enquadramento errado, que deforma a tela, infelizmente. E agora está disponível numa cópia excelente pela Versátil, dentro do box “O cinema da Nova Hollywood - volume 4”, com outros cinco bons filmes, incluindo “Uma mulher descasada” e “O caçador de dotes” (são três DVDs na caixa, com 1h15 de extras e cards).


O último golpe (Thunderbolt and Lightfoot). EUA, 1974, 115 minutos. Ação. Colorido. Dirigido por Michael Cimino. Distribuição: Versátil Home Video (em DVD no box “O cinema da Nova Hollywood – volume 4”, de 2023); Classiciline (DVD avulso, de 2021)

segunda-feira, 10 de julho de 2023

Cine Especial



Lembranças de outra vida

Um cachorrinho de nome Fluke (voz de Matthew Modine) tem visões sobre uma família, mas não entende direito o que se passa em sua mente. Abandonado nas ruas, é recolhido em um canil e acaba fugindo de lá. Cruzando ruas e cidades, tenta encontrar aquelas pessoas de suas visões, numa aventura ao lado do cão Rumbo (voz de Samuel L. Jackson).

Adorável, leve e espirituoso, foi um dos primeiros filmes de vidas passadas com cachorro. Fácil de ver, entramos com naturalidade na história, devido a seus personagens simpáticos, com destaque ao cãozinho principal, Fluke, que é uma graça. Comoveu muita gente na época do lançamento, em 1995, fez certo sucesso em VHS depois do fracasso nos cinemas e foi exibido inúmeras vezes na TV aberta.
Nancy Travis, que interpreta a mulher sempre presente nas visões do cãozinho Fluke, estava no auge da carreira, vindo de filmes como “Três solteirões e uma pequena dama” (1990) e “O silêncio do lago” (1993). Matthew Modine, de “Nascido para matar” (1987), atua como um empresário que morre num acidente de carro, e depois empresta a voz para Fluke (ao longo do filme fica mais claro a relação do empresário com a família que Fluke procura). Outros nomes conhecidos pintam em participações rápidas, como o veterano Bill Cobbs, Eric Stoltz e Ron Perlman, e tem até Samuel L. Jackson cedendo a voz para o melhor amigo de Fluke, o cachorro Rumbo.
Nessa fábula simpática sobre reencarnação, tudo pode acontecer. Os mais emotivos poderão se emocionar com o desfecho.



É uma adaptação do romance “Fluke”, do escritor britânico especializado em livros de terror James Herbert, publicado em 1977. O roteiro foi adaptado pelo próprio diretor do filme, o italiano Carlo Carlei, de “O voo do inocente” (1992).
Saiu recentemente em DVD, numa boa cópia, pela Obras-primas do Cinema (disco simples, apenas com trailer como extras no DVD, mais um card com a capa original do filme).

Lembranças de outra vida (Fluke). EUA, 1995, 96 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Carlo Carlei. Distribuição: Obras-primas do Cinema