quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Cine Cult



Bem-vindo a Nova York

Sr. Devereaux (Gérard Depardieu), um poderoso magnata francês, é preso em Nova York acusado de crimes sexuais. A esposa, a família e os amigos próximos buscam respostas sobre as acusações contra ele.

Exibido no Festival de Cannes, em 2014, o drama é inspirado na vida do economista e político francês Dominique Strauss-Kahn, ex-presidente do FMI, preso em 2011 no Aeroporto JFK em Nova York acusado de abusos sexuais. O filme não menciona ser baseado em fatos reais, e para fugir de processos mudou o nome dos personagens e o desenrolar da história (que conta com sequências fortes de sexo, filmadas em lugares sombrios, seguindo o estilo do controverso cineasta Abel Ferrara, realizador de obras polêmicas nos anos 90 que exibiam à exaustão cenas de uso de drogas e sexo, como “O rei de Nova York”, “Vício frenético”, “Olhos de serpente” e “Os chefões”).
Longo (com 125 minutos), apresenta uma narrativa cíclica, por vezes repetitiva, para mostrar a decadência de um poderoso magnata viciado em sexo que acaba cometendo abusos contra uma camareira de hotel. O que sucede é a prisão dele e toda a investigação misturando o trabalho da polícia nos Estados Unidos e a família dele na França. Depardieu, um grande em cena, desenvolve um personagem destemido, violento, e o ator se despe literalmente no filme (a ponto de aparecer nu). A esposa dele, em aparição rápida, é interpretada por um dos ícones do cinema dos anos 70, Jacqueline Bisset, envelhecida e de peruca – o papel dela tem impacto na trama, pois ela tenta contornar o caso da imprensa, alvoroçada em vasculhar o escândalo do magnata.


As cenas de sexo são grotescas (a classificação do filme é 18 anos, cuidado!), exatamente para entrar na mente desse devorador sexual, que vê as mulheres como meros objetos, e assim o drama cria uma densa reflexão sobre o comportamento dos homens na sociedade e discute a capacidade do poder nas mãos do poderosos. Um filme difícil, por vezes chocante, para público restrito.

Bem-vindo a Nova York (Welcome to New York). EUA/França, 2014, 125 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Abel Ferrara. Distribuição: Imovision

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Momento Telefilme

 

Tragédia em três atos

O detetive Hercule Poirot (Peter Ustinov) é convidado para um jantar na casa do escritor Charles Cartwright (Tony Curtis). Um dos presentes à mesa morre de repente. Momentos depois, em uma festa nas proximidades da casa do escritor, outro convidado que tinha ligação com o morto morre da mesma maneira, então Poirot inicia sua minuciosa investigação.

Telefilme norte-americano indicado ao Emmy de melhor figurino, é mais um suspense na linha “quem é o assassino”, baseado no livro homônimo de Agatha Christie, publicado em 1935. O filme, apesar de ser passageiro, vê-se com prazer, já que Peter Ustinov em cena esbanja astúcia na pele do detetive belga Hercule Poirot. Vale lembrar que o ator, premiado com dois Oscars, fez Poirot outras vezes no cinema, como em “Morte no Nilo” (1978) e “Assassinato num dia de sol” (1982), e em vários telefilmes dos anos 80, como esse, “Treze à mesa” (1985), “A extravagância do morto” (1986) etc
Rodado em um mesmo ambiente, uma casa de veraneio em Acapulco, conta com a participação de Tony Curtis e de pontas especiais de atores e atrizes do cinema clássico, como Jonathan Cecil, Diana Muldaur e Pedro Armendáriz Jr. Como de praxe nos filmes adaptados de Agatha, o clima de suspense aumenta a cada instante, há sempre uma reviravolta pontual e a revelação do assassino fica para os minutos finais. Do diretor Gary Nelson, de “O buraco negro” (1979) e “Allan Quatermain e a cidade do ouro perdido” (1986).


Disponível em DVD no box “Agatha Christie – volume 3”, pela Obras-primas do Cinema, com mais dois filmes: a maior adaptação de todas das obras de Agatha, “Assassinato no Expresso Oriente” (1974, de Sidney Lumet, com um elenco grandioso, como Albert Finney e Ingrid Bergman, que ganhou aqui o Oscar de atriz coadjuvante) e “Noite interminável” (1972, com Hayley Mills e Hywel Bennett). O box é em disco duplo, com muitos extras e cards colecionáveis.

Tragédia em três atos (Murder in three actst). EUA/México, 1986, 94 minutos. Suspense. Colorido. Dirigido por Gary Nelson. Distribuição: Obras-primas do Cinema

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Resenha Especial


Afterimage

O artista plástico polonês Władysław Strzemiński é censurado pela ditadura soviética nos anos 40. Sem um braço e sem uma perna, ele tenta seguir com sua arte de vanguarda enfrentando o sistema autoritário de seu país.

Último trabalho do premiado cineasta polonês Andrzej Wajda (1926-2016), que morreu um mês depois da premiére do filme, no Festival de Toronto. Ao lado de Roman Polanski, Krzysztof Kieślowski, Wojciech Has e Agnieszka Holland, Wajda foi um dos grandes nomes do cinema da Polônia e atuou frente às mudanças culturais de seu país nos anos 50 – ele integrou o movimento do Novo Cinema Polonês, realizando obras-primas como a ‘Trilogia da Guerra’, que criticava o domínio nazista na Polônia (com os filmes "Geração", de 1954; "Kanal", de 1957; e "Cinzas e Diamantes", de 1958), as fitas de arte políticas e críticas ao sistema comunista “O homem de mármore” (1977) e “O homem de ferro” (1981), o biográfico “Danton: O processo da revolução” (1983), os indicados ao Oscar de filme estrangeiro “Terra prometida” (1975) e “Katyn” (2007) e muitos outros. Wajda acumulou na carreira os principais prêmios do cinema mundial, como Bafta, Palma de Ouro em Cannes, César e prêmios em Berlim e Veneza, e em 2000 ganhou um Oscar honorário pela contribuição à Sétima Arte.


Em “Afterimage” (2016) ele narra parte da biografia do artista plástico polonês Władysław Strzemiński (1893-1952), com foco nos últimos dez anos de sua vida, quando enfrentou a ditadura stalinista que assolou a Polônia, jogando o país numa profunda crise (em uma cena emblemática, o pintor rasga a bandeira de Stalin – vale lembrar que Wajda foi um crítico ao sistema comunista da Polônia e participou de movimentos em defesa do fim do regime soviético no país). Strzemiński revolucionou o campo das artes nos anos 20 e 30, foi professor da Escola de Artes de Łódź e ganhou notoriedade, mesmo com problemas sérios de saúde (ele não tinha uma perna e um braço e usava muletas para andar). Seu ateliê juntava alunos do mundo inteiro para conhecer sua arte neoplástica controversa, que rompia com os padrões estéticos da época. Foi duramente perseguido, proibido de pintar (em dado momento, não conseguia nem mais comprar tintas, pois os vendedores se recusavam a vender para ele). Presenciou a famosa Sala Neoplástica de Łódź ser desmanchada, mas não abaixou a cabeça: dentro de casa, escondido, continuava a pintar. Ele foi um homem à frente de seu tempo, que deixou profundas marcas na arte contemporânea polonesa (e pouco lembrado pelas pessoas hoje).


Com uma fotografia precisa da Polônia stalinista e um bom trabalho do ator principal, o veterano Boguslaw Linda, o drama nos apresenta um artista praticamente desconhecido no Brasil, e ao conhecer sua trajetória, vemos como ela foi difícil, marcada por perseguições, ruínas e abandono. Wajda aproveita para lançar uma crítica ao autoritarismo, e em seus comentários percebemos como a arte incomoda e ao mesmo tempo como ela é fundamental para a sociedade, ainda mais em tempos de caos social. E viva Wajda, que fez uma belíssima obra e viveu até os últimos minutos respirando cinema! PS: ‘Afterimage’ é uma ilusão de ótica, uma imagem que persiste na retina após o estímulo visual – e é uma simbologia à arte única de Strzemiński, que fica em nossa memória para sempre.

Afterimage (Powidoki). Polônia, 2016, 99 minutos. Drama. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Andrzej Wajda. Distribuição: Imovision

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Especial de Cinema


Oscar 2022 é anunciado: ‘Ataque dos cães’ e ‘Duna’ lideram com maior número de indicações

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood anunciou na manhã de ontem a lista dos indicados ao Oscar 2022, cuja premiação será no dia 27 de março, no Dolby Theater em Hollywood. Leslie Jordan e Tracee Ellis-Ross fizeram o anúncio dos nomeados. “Ataque dos cães” lidera a lista com 12 indicações, seguido de “Duna”, com 10. Já "Belfast" e "Amor, sublime amor" vem em sequência, empatados com sete nomeações cada um.
Curiosidades dessa edição: a diretora Jane Campion, de “Ataque dos cães”, ganhou o status de primeira mulher com duas indicações de direção da história do Oscar. Enquanto isso, o documentário em animação “Fuga” se tornou o primeiro filme da história a receber nomeação de melhor documentário, filme estrangeiro e animação. E o brasileiro Pedro Kos pegou indicação pelo documentário de curta-metragem "Onde eu moro", produção da Netflix e disponível na plataforma.
Pela primeira vez desde 2018 o Oscar terá um apresentador - lembrando que nos anos de 2019, 2020 e 2021, o prêmio foi entregue por celebridades, mas sem um apresentador.

Confira abaixo a lista de todos os indicados por categoria.

Melhor filme

 

"Belfast"

"Não olhe para cima"

"Duna"

"Licorice pizza"

"Ataque dos cães"

"No ritmo do coração"

"Drive my car"

"King Richard: Criando campeãs"

"O beco do pesadelo"

"Amor, sublime amor"

 


Melhor direção

 

Kenneth Branagh - "Belfast"

Ryusuke Hamaguchi - "Drive my car"

Jane Campion - "Ataque dos cães"

Steven Spielberg - "Amor, sublime amor"

Paul Thomas Anderson - "Licorice Pizza"

 

Melhor atriz

 

Jessica Chastain - "Os olhos de Tammy Faye"

Olivia Colman - "A filha perdida"

Penélope Cruz - "Mães paralelas"

Nicole Kidman - "Apresentando os Ricardos"

Kirsten Stewart - "Spencer"

 


Melhor ator

 

Javier Bardem - "Apresentando os Ricardos"

Benedict Cumberbatch - "Ataque dos cães"

Andrew Garfield - "Tick, tick... Boom!"

Will Smith - "King Richard: Criando campeãs"

Denzel Washington - "A tragédia de Macbeth"

 

Melhor atriz coadjuvante

 

Jessie Buckley - "A filha perdida"

Ariana DeBose - "Amor, sublime amor"

Judi Dench - "Belfast"

Kirsten Dunst - "Ataque dos cães"

Aunjanue Ellis - "King Richard: Criando campeãs"

 

Melhor ator coadjuvante

 

Ciarán Hinds - "Belfast"

Troy Kotsur - "No ritmo do coração"

Jesse Plemons - "Ataque dos cães"

J.K. Simmons - "Apresentando os Ricardos"

Kodi Smit-McPhee - "Ataque dos cães"

 


Melhor filme internacional

 

"Drive my car" - Japão

"Fuga" - Dinamarca

"A mão de Deus" - Itália

"A felicidade das pequenas coisas" - Butão

"A pior pessoa do mundo" - Noruega

 

Melhor roteiro adaptado

 

"No ritmo do coração"

"Drive my car"

"Duna"

"A filha perdida"

"Ataque dos cães"

 

Melhor roteiro original

 

"Belfast"

"Não olhe para cima"

"King Richard: criando campeãs"

"Licorice pizza"

"A pior pessoa do mundo"

 

Melhor figurino

 

"Cruella"

"Cyrano"

"Duna"

"O beco do pesadelo"

"Amor, sublime amor"

 


Melhor trilha sonora

 

"Não olhe para cima"

"Duna"

"Encanto"

"Mães paralelas"

"Ataque dos cães"

 

Melhor animação

 

"Encanto"

"Fuga"

"Luca"

"A Família Mitchell e a revolta das máquinas"

"Raya e o último dragão"

 

Melhor documentário

 

"Acension"

"Attica"

"Fuga"

"Summer of Soul (...ou Quando a revolução não pôde ser televisionada)"

"Writing with fire"

 

Melhor som

 

"Belfast"

"Duna"

"Sem tempo para morrer"

"Ataque dos cães"

"Amor, sublime amor"

 

Melhor canção original

 

"Be alive" - "King Richard: Criando campeãs"

"Dos oruguitas" - "Encanto"

"Down to joy" - "Belfast"

"No time to die" - "Sem tempo para morrer"

"Somehow you do" - "Four good days"

 

Melhor maquiagem e cabelo

 

"Um príncipe em Nova York 2"

"Cruella"

"Duna"

"Os olhos de Tammy Faye"

"Casa Gucci"

 

Melhores efeitos visuais

 

"Duna"

"Free guy: Assumindo o controle"

"Sem tempo para morrer"

"Shang-Chi e a lenda dos dez anéis"

"Homem-Aranha: Sem volta para casa"

 

Melhor fotografia

 

"Duna"

"Ataque dos cães"

"Beco do pesadelo"

"A tragédia de Macbeth"

"Amor, sublime amor"

 

Melhor edição

 

"Não olhe para cima"

"Duna"

"King Richard: Criando campeãs"

"Ataque dos cães"

"Tick, tick... boom!"

 

Melhor design de produção

 

"Duna"

"Ataque dos cães"

"O beco do pesadelo"

"A tragédia de Macbeth"

"Amor, sublime amor"

 

Melhor curta de animação

 

"Affairs of the art"

"Bestia"

"Boxballet"

"A sabiá sabiazinha"

"The windshield wiper"

 

Melhor curta-metragem em live action

 

"Ala kachuu - Take and run"

"The long goodbye"

"The dress"

"On my mind"

"Please hold"

 

Melhor documentário de curta-metragem

 

"Audible"

"The queen of basketball"

"Onde eu moro"

"Três canções para Benazir"

"When we were bullies"

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Cine Cult


Isto não é um filme

Registro do dia a dia do diretor de cinema iraniano Jafar Panahi que se mantém em prisão domiciliar pelo governo de seu país desde 2010.

Um documentário com fortes críticas à censura imposta pelo Estado Islâmico que acompanha o dia a dia de um dos maiores cineastas do Oriente Médio, Jafar Panahi, que desde 2010 está em prisão domiciliar. Rodado dentro de sua casa no Teerã, o cineasta fala sobre o banimento decretado pelo governo do Irã, que não o permite filmar por 20 anos, e analisa trechos de seus filmes premiados, como “O balão branco” e “O círculo”. É um relato da frustração do diretor (numa espécie de ato de resistência), como se fosse um diário. Numa longa conversa de um dia, Panahi trata questões seríssimas, como o regime autoritário do país, que limitou sua arte de fazer cinema, mas também o vemos em momentos descontraídos, como lendo, enviando email e brincando com seu réptil de estimação. O diretor está desde 2010 aprisionado em casa, sob constante vigia, acusado de inflar pessoas contra o Regime Islâmico - teve seus filmes apreendidos e também proibido de sair do país.
Um fato curioso e que repercutiu na época: para levar “Isto não é um filme” a festivais de cinema, Panahi enviou a cópia do longa escondido dentro de um bolo de aniversário! Arriscando o próprio pescoço, conseguiu projetá-lo em vários lugares, exibido em mais de 15 festivais internacionais, como Mar del Plata, Nova York e Dubai, onde ganhou uma dezena de prêmios - foi exibido em Cannes e entrou para a shortlist dos 15 possíveis candidatos ao Oscar, mas ficou fora da competição.
O título é uma referência a René Magritte quando o pintor surrealista polemizava a ideia da representação da pintura, com sua obra “A traição das imagens” (e tal quadro trazia um desenho de um cachimbo com a inscrição “Isto não é um cachimbo”).


Com custo baixo, de 3 mil euros, Panahi fez novamente (dessa vez recorrendo a um colega para dirigir, Mojtaba Mirtahmasb, já que ele não pode gravar e é vigiado) um documentário misturado com ficção, que confunde arte e vida. Está na lista de seus trabalhos mais reflexivos, um filme metalinguístico, crítico e que de maneira contundente explora a censura aos artistas, na visão peculiar de um cineasta perseguido e ameaçado.

Isto não é um filme (In film nist). Irã, 2011, 77 minutos. Documentário. Colorido. Dirigido por Mojtaba Mirtahmasb e Jafar Panahi. Distribuição: Imovision

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Cine Brasil


Nem gravata nem honra

Na pequena cidade de Cunha, no interior de São Paulo, na região do Vale do Paraíba, o diretor Marcelo Masagão grava depoimentos de moradores para entender como eles pensam a diferença entre homens e mulheres.

Nesse documentário completamente diferente, cuja linguagem de cinema é moderna e por um lado, revolucionária, o diretor e roteirista Marcelo Masagão vai até Cunha, uma cidadezinha de 22 mil habitantes no interior de São Paulo (divisa com o Rio de Janeiro), e lá grava uma série de depoimentos de pessoas comuns que falam seus pontos de vista sobre a diferença das mulheres e dos homens. Aparecem figuras como um delegado, uma freira, uma cabeleireira, uma dentista, um professor gay, um taxista, dois ou três casais, com suas ideias sobre gênero, responsabilidade familiar, moral e costumes, em conversas informais e bem-humoradas. Percebe-se que o diretor explora a ambuiguidade e a neurose, por meio das histórias desses indivíduos simples, alguns com visões conservadoras, típicas de uma cidade bairrista, e outros com pensamentos avançados e críticos.
O diretor organiza os depoimentos com truques visuais e sobreposição de planos, de maneira divertida, mesclando o preto-e-branco ao colorido – é do próprio Masagão essa montagem criativa. Em dado momento do filme, os entrevistados assistem aos próprios depoimentos, e a câmera foca a reação deles para ver se concordam ou não com o que foi falado. Com imperfeições e erros, inseridos de maneira proposital (como um dos moradores pedindo para editar a fala), o doc brasileiro é divertido e original, além de trazer uma reflexão atemporal.
Com música de André Abujamra, o filme concorreu ao Kikito de melhor documentário no Festival de Gramado em 2002. É um dos bons trabalhos do documentarista Marcelo Masagão, que fez “Nós que aqui estamos, por vós esperamos” (1999) e “1,99: Um supermercado que vende palavras” (2003).

Nem gravata nem honra (Idem). Brasil, 2001, 72 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Marcelo Masagão. Distribuição: Europa Filmes

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Cine Infantil



Jack e a mecânica do coração

Na Edimburgo do final do século XIX, Jack (voz de Mathias Malzieu) nasce num dia frio e tem seu coração congelado. Uma cientista, para salvar a criança, retira seu coração e coloca no lugar um relógio mecânico. Jack cresce, mas precisa seguir algumas regras, como cuidar da mecânica do relógio, não se apaixonar e controlar sua raiva.

Uma animação elegante rodada na França e na Bélgica que servirá bem aos adultos, já que a história é inusitada e um pouco sombria demais para as crianças (não chega a ser um Tim Burton), e que presta uma homenagem ao nascimento do cinema e a um dos diretores/criadores de maior destaque na França daquela época, George Méliès (no filme quem faz voz dele é o grande e falecido ator Jean Rochefort). Há momentos mágicos que recuperam o cinema surrealista e os truques de montagem desse cineasta visionário – o próprio garoto Jack é uma reprodução do autômato que Méliès criou (lembram dele, no filme “A invenção de Hugo Cabret”?).
É uma animação de linguagem clássica, mas com um ar contemporâneo, misturando romance, aventura e musical. É baseado no livro “La mécanique du cœur” (2007), de Mathias Malzieu, que escreveu e dirigiu o filme ao lado de um colega (Stéphane Berla), e ele faz a voz de Jack. Além de ator, dublador, roteirista e escritor, Malzieu é músico, líder da banda francesa Dionysos. Quando o próprio escritor concebe o roteiro e parte para a direção, a obra costuma ser fiel ao original, o que acontece aqui.


Gostei demais do filme e super recomendo. Concorreu ao Crystal Bear no Festival de Berlim em 2014 e ao César de melhor animação em 2015. Disponível em DVD pela Paris Filmes.

Jack e a mecânica do coração (Jack et la mécanique du coeur). França/Bélgica, 2013, 94 minutos. Animação. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Stéphane Berla e Mathias Malzieu. Distribuição: Paris Filmes