terça-feira, 26 de julho de 2022

Cine Cult


O vingador tóxico


Na pacata Tromaville, um faxineiro desastrado, que trabalha na academia da cidade, sofre bullying de todo mundo. Uma brincadeira de mau gosto feita por valentões faz com que ele caia acidentalmente em um tonel contendo lixo químico. O rapaz desaparece. Dias depois ele se transforma no Vingador Tóxico, um ser monstruoso que terá a missão de eliminar os bandidos de Tromaville.

Até que enfim saiu o tão esperado “Vingador Tóxico” em DVD, para os cinéfilos colecionarem. Um filme muito querido pelos fãs do cinema trash, B, bizarro e coisa que o valha - lembro de ter assistido uma vez na TV a segunda parte e nunca mais vi.... A distribuidora Obras-primas do Cinema, aproveitando a boa safra de lançamentos em DVD e BD de filmes antigos e cult, traz agora a quadrilogia em DVD, numa caixa especial, em parceria com a Troma Entertainment, a produtora original/oficial dos filmes. São 4 discos, com mais de cinco horas de extras, num digipack numerado (com luva vintage, em formato de VHS), e ainda oito cards, quatro pôsteres (com as capas dos quatro filmes) e um livreto de 32 páginas. Quem gosta precisa ter em casa!



É uma brincadeira divertida e escatológica com fitas de super-herói (especialmente o Hulk), com histórias malucas conduzida por um ser monstruoso, deformado, que nasce do lixo químico e vira uma criatura forte, disposta a acabar com os bandidos. E como símbolo, ao atingir o objetivo, deixa um esfregão no corpo das vítimas (esfregão porque ele era um faxineiro). Rodado com orçamento baixíssimo, em 1984, tem nudez, sarcasmo, além de sangue, vísceras e gosmas estranhas (por isso classificação 14 anos). O filme (que mescla gêneros como comédia, terror, ação e ficção científica) virou cult, ganhou três continuações e uma legião de fãs pelo mundo, e na época do VHS era muito procurado.


O Vingador Tóxico (The Toxic Avenger). EUA, 1984, 82 minutos. Comédia/Terror. Colorido. Dirigido por Michael Herz e Lloyd Kaufman, Distribuição: Obras-primas do Cinema


O vingador tóxico 2


O Vingador Tóxico viaja até o Japão em busca do pai. Em Tromaville, o crime retorna, agora cometido por uma corporação chamada Apocalypse, que pretende transformar a cidade num lixão. O Vingador Tóxico é acionado para deter os malfeitores, enquanto enfrenta outros criminosos no Japão.

A continuação de “O Vingador Tóxico” (1984), feita cinco anos depois com mesmo elenco, produtores e diretores, e com mais recursos, é um barato total. E ainda mais absurdo e divertido do que o original (os fãs adoram essa parte 2, e junto com a parte 1 é a melhor da quadrilogia). Há cenas hilárias, com nudez e mortes malucas - o Vingador ataca os malfeitores com todos os tipos possíveis e impossíveis de armas (como uma sanduicheira e chega a fazer um yakissoba humano derretendo um japonês na banheira e incrementando na água legumes e macarrão). Já de início tem uma longa cena, de mais de 10 minutos ininterruptos, de luta, com travesti, anão, bailarino etc, que demostra o que virá pela frente... Há referência a vários filmes, e a mais evidente é a de “Coração satânico” (1987), em que o bandido da Apocalypse imita o Louis Cyphre, o sinistro magnata interpretado por Robert De Niro, com unhas grandes, barba e cabelo comprido, e parodia a famosa cena do ovo cozido.


No mesmo ano da parte 2 (1989) os diretores Michael Herz e Lloyd Kaufman (e donos/criadores da Troma, a produtora dos filmes) fizeram a continuação, “O Vingador Tóxico 3”. Filme saiu na caixa especial “O Vingador Tóxico – Quadrilogia”, pelas Obras-primas do Cinema.

O Vingador Tóxico II (The Toxic Avenger Part II). EUA, 1989, 102 minutos. Comédia/Terror. Colorido. Dirigido por Michael Herz e Lloyd Kaufman, Distribuição: Obras-primas do Cinema


domingo, 17 de julho de 2022

Cine Cult


Boi neon

Iremar (Juliano Cazarré) trabalha nas vaquejadas, preparando os bois para soltá-los na arena. Ele mora com um grupo de pessoas em um caminhão. Sua melhor amiga é Galega (Maeve Jinkings), que tem uma filha pequena. A instalação de fábricas têxteis na região faz despertar um sonho em Iremar, o de se tornar costureiro. Mesmo acostumado com a rotina das vaquejadas, tentará buscar esse novo trabalho.

Um bom filme brasileiro autoral sobre o universo e os bastidores das vaquejadas, aquela espécie de rodeio no Nordeste brasileiro, entendida por alguns como em esporte popular, em que os vaqueiros, montados em cavalos, tentam derrubar bois em uma arena puxando-os pelo rabo. O filme é tomado por personagens errantes, vivendo à margem no sertão brasileiro, em busca de novos trabalhos e melhores condições de vida. Um deles é Iremar (o sempre correto e austero Juliano Cazarré), que sonha em ser costureiro - e quando descobre a instalação de indústrias têxteis na região, tenta conseguir um emprega lá. É nesse ponto que o longa também trata da industrialização no semiárido brasileiro, um ambiente duro e cruel, onde sonhos e desilusões se misturam gerando um reflexo autêntico da realidade brasileira atual. Ele é drama, com romance e um lado de road movie, com cenas de viagens de caminhão, tudo conduzido com maestria pelo cineasta pernambucano Gabriel Mascaro (aliás, um exímio documentarista e artista plástico, consagrado com suas instalações). Ele é um mestre da linguagem. Transpõe para a tela imagens fortes, com uma estética diferenciada, e aqui é onde encontramos seu melhor trabalho (há cenas memoráveis, como a do tal boi neon, e outras eróticas, em especial a de uma personagem vestida com cabeça de cavalo e roupas de couro e lantejoulas que se apresenta num clube noturno). Há outros longas bons de Mascaro que recomendo, como “Ventos de agosto” (2014) e “Divino amor” (2019).


Em “Boi neon” participam Juliano Cazarré e Maeve Jinkings, e participações rápidas de Vinicius de Oliveira (o garotinho de “Central do Brasil”) e Roberto Birindelli, além da menina Alyne Santana (que tem um papel impressionante, e infelizmente não fez mais nada no cinema nem na TV). É um filme de autor, repleto de sequências simbólicas e poderosas, numa trama lenta, com um forte lado humano.
O roteiro é de Mascaro com colaboração de Marcelo Gomes, diretor e roteirista de filmes que tem particularidades e semelhanças com “Boi neon”, como “Cinema aspirinas e urubus” (2005, no caso o pano de fundo, semiárido), “Viajo porque preciso, volto porque te amo” (2009, o caminhão e o road movie) e “Estou me guardando para quando o carnaval chegar” (2019, com a questão da costura e a indústria têxtil).


Vencedor de dezenas de prêmios em festivais como Cartagena, Hamburgo, Havana, Nantes, Rio de Janeiro e do Sesc Melhores filmes – e ainda teve menção honrosa no Tiff (Toronto) e prêmio especial do Júri na mostra Venice Horizons, no Festival de Veneza.

Boi neon (Idem). Brasil/Uruguai/Holanda, 2015, 103 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Gabriel Mascaro. Distribuição: Imovision

sábado, 9 de julho de 2022

Cine Cult


Blind


Ingrid (Ellen Dorrit Petersen) é uma mulher que está perdendo a visão. Assustada com a nova realidade que a cerca, tranca-se em seu apartamento. Lá vive com o marido que tenta compreender o que ocorre com ela. Os pensamentos de Ingrid, misturados a uma angústia incontrolável, fazem com que ela crie um mundo próprio de fantasias.

Um complexo drama de arte norueguês, coproduzido na Holanda, exibido nos cinemas brasileiros e que ganhou mídia física por aqui pela Imovision (em DVD). Venceu dezenas de prêmios internacionais, como troféus especiais no Festival de Berlim e em Sundance (onde concorreu ao Grande Prêmio do Juri), além de ser o finalista no Amanda Awards, o Oscar norueguês (lá ganhou melhor diretor, atriz para Ellen, edição e som).
Filmado na capital Oslo, em poucos ambientes, especialmente em interiores de casas e apartamentos, foi a estreia do diretor norueguês Eskil Vogt, indicado esse ano ao Oscar de melhor roteiro por “A pior pessoa do mundo” (2021), escrito em conjunto com o diretor da fita, Joachim Trier – aliás ambos têm longa parceria, escreveram o roteiro de filmes noruegueses importantes e bem recebidos pela crítica, como “Começar de novo” (2006), “Oslo, 31 de agosto” (2011) e o melhor de todos,  “Thelma” (2017). Em sua estreia, Vogt realizou um conto urbano sobre cegueira e alienação, às vezes perturbador e cheio de matizes e camadas. É uma história complexa, que vai e vem, que mistura passado e fantasias de uma personagem temerosa com seu futuro, já que está ficando cega e vive um casamento na corda bamba. Deve-se prestar atenção em todos os detalhes, pois há quatro personagens (dois homens e duas mulheres) que se alternam: a Ingrid verdadeira e uma jovem chamada Elin (que pode ser uma criação de sua imaginação, também cega), o marido e um cara viciado em sexo na internet (aliás, no início do filme há uma cena forte com compilação de vídeos pornôs assistidos por ele na rede).


O bom elenco garante a sessão, com destaque para a norueguesa Ellen Dorrit Petersen (de “Thelma”) como a protagonista, a sueca Vera Vitali (de “Amaldiçoada”), como a outra jovem cega, e os dois atores, Henrik Rafaelsen e Marius Kolbenstvedt.
Um efeito instigante usado no filme é uma espécie de fade (escurecimento) como uma intervenção com o público, para propor a dimensão da cegueira do personagem (parece que somos cegos igual ela, ouvindo vozes num fundo preto). Se gosta de fitas de arte europeias como eu, arrisque. Mas deixo claro que é voltado para poucos inseridos nesse cinema autoral e bem particular.

Blind (Idem). Noruega/Holanda, 2014, 96 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Eskil Vogt. Distribuição: Imovision

terça-feira, 5 de julho de 2022

Cine Cult


O enigma do horizonte

Em 2047, uma equipe de cientistas do Comando Aeroespacial norte-americano viaja até Netuno para localizar uma nave de pesquisa que sumiu. O grupo se depara com uma pista, gravações com sinais sonoros e gritos humanos. A espaçonave é enfim encontrada, e nela há agora uma entidade capaz de destruir aqueles que chegarem perto.

Dois anos antes do terror scifi “O enigma do horizonte” (1997), o diretor britânico Paul W. S. Anderson trazia para a telona a adaptação do jogo de luta Mortal Kombat, um guilty pleasure que fez sucesso entre os jovens nos cinemas. Com “Enigma”, o efeito foi contrário: gastou-se muito para produzi-lo (U$ 60 milhões), e foi mal recebido nas bilheterias (U$ 26 mi no mundo), virando cult nos anos 90 – logo depois Anderson se manteria no cinema de ação e terror, adaptando outros jogos para o cinema (como três capítulos de “Resident evil” e recentemente “Monster Hunter”), fitas violentas de gosto duvidoso, como “O soldado do futuro” e “Corrida mortal” (um remake), e encontros de vilões para uma briga do século, como “Alien vs. Predador”. “Enigma” é seu filme mais denso e criativo, também complexo com sua trama que se passa num futuro longínquo (gravado em 1997, era um futuro de 50 anos, em 2047). O diretor puxou para a trama espacial elementos presentes em filmes da mesma natureza, como “Alien – O oitavo passageiro” (1979), “O buraco negro” (1979) e “Força sinistra” (1985). Sam Neill (de “Jurassic Park”) e Laurence Fishburne (de “Matrix”) interpretam dois cientistas espaciais que lideram a expedição rumo a Netuno, ao lado de Kathleen Quinlan, Joely Richardson, Jason Isaacs e Richard T. Jones. O objetivo é encontrar uma nave desaparecida, a Event horizon (título original do filme). Quando a localizam, percebem que uma força sobrenatural se apoderou do controle e do sistema interno da nave, bem como dos antigos tripulantes (que tiveram os olhos arrancados). São poucas horas que o grupo terá para completar essa missão quase suicida.



O terror investe em bons efeitos visuais, com uma boa direção de arte, especialmente na concepção do interior da espaçonave. Tem momentos de tensão, sequências de sonhos e alucinações com flashbacks e como não podia faltar no cinema de Anderson, um pouco de gore (cenas sangrentas). O corte inicial do filme teria 130 minutos, mas os estúdios Paramount pediram para que o diretor reduzisse as cenas gore, que eram muitas; contrariado, Anderson o fez (editou 34 minutos do filme), e, segundo disse numa entrevista em 2017, guardou uma cópia da versão original nunca assistida nem por ele nem pela equipe de produção - sabendo disso, os fãs do filme pedem que ela seja lançada em breve. Mesmo sem o gore que prometia, é um passatempo rápido, para quem procura um bom filme do gênero.


Saiu nos anos 2000 em DVD pela Paramount e ganhou agora uma edição especial em bluray, da mesma distribuidora, com vários extras como trailers, making of, comentários etc. Vale ter em sua coleção!


O enigma do horizonte (Event horizon). EUA/Reino Unido, 1997, 96 minutos. Terror/Ficção científica. Colorido. Dirigido por Paul W. S. Anderson. Distribuição: Paramount Pictures