segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Cine Lançamento


Dois irmãos: Uma jornada fantástica

Ian (voz de Tom Holland) e Barley (voz de Chris Pratt), dois irmãos elfos, aventuram-se numa missão mágica para reencontrar o falecido pai. No caminho, percorrerão diversos lugares e vão enfrentar perigos mil.

O divertido filme de animação da Disney/Pixar estreou no Festival de Berlim de 2020 em 21 de fevereiro de 2020, e na semana seguinte estrou em vários países, inclusive no Brasil, porém a pandemia da Covid-19 estourou fazendo com que o filme tivesse uma baixíssima repercussão (pouca gente o viu nas salas, já que elas foram fechadas para conter o avanço do vírus). Isso atrapalhou o público de conhecer essa fita muito bem finalizada e com altas doses de aventura e emoção (os mais chorosos devem juntar os lencinhos), com a marca sensível da Disney/Pixar. É uma longa jornada de dois irmãos elfos azuis que saem escondidos de casa para reencontrar o pai, falecido há alguns anos. Eles têm em mãos uma pedra preciosa e um mapa secreto, além de parte do corpo do pai – isso mesmo, é meio bizarro, as pernas do pai aparecem e eles têm de correr contra o tempo para recuperar o restante do patriarca, e assim vê-lo pela última vez! Mas nada será fácil; os dois adolescentes vão se esbarrar com criaturas assustadoras, como um dragão de tijolos, outras mitológicas, como uma mantícora atrapalhada (uma quimera, com cabeça e corpo de leão e cauda de escorpião), e ainda uma gangue de fadinhas do asfalto. Haverá o tão sonhado reencontro da dupla com o pai?
O filme, indicado ao Oscar, ao Globo de Ouro e ao Bafta de melhor animação esse ano, tem momentos que lembram “Indiana Jones” e “ET: O extraterrestre” – como a Disney sempre faz bem, homenageando clássicos do cinema, e tem uma linguagem para crianças, jovens e adultos. Podem ver sem medo de errar!


O elenco que dá voz aos personagens é de peso: Tom Holland, Chris Pratt, Octavia Spencer, Julia Louis-Dreyfus, Lena Waithe e Tracey Ullman. É o segundo filme de Dan Scanlon na Disney (o primeiro foi “Universidade Monstros”), que entrou no grupo Disney/Pixar em 2001 como desenhista e vem se projetando. Disponível em DVD e bluray, e na plataforma do Disney+.

Dois irmãos: Uma jornada fantástica (Onward). EUA, 2020, 102 minutos. Animação. Colorido. Dirigido por Dan Scanlon. Distribuição: Disney

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Resenha Especial


Resenha escrita especialmente para o livreto da edição em bluray de "Réquiem para um sonho" (2001), lançada pela Obras-primas do Cinema. O filme acaba de sair numa luxuosa edição de colecionador com luva numerada, em disco duplo - disco 1 com o filme em bluray e extras, e disco 2 com duas horas de extras, além de um livreto de 48 páginas, três cards colecionáveis e dois pôsteres.


Requiem aeternam


Por Felipe Brida*

Harry (Jared Leto) segue em busca de seus sonhos e quer ser um homem bem-sucedido. Sua mãe, a solitária Sara (Ellen Burstyn), adora assistir a programas televisivos sentada na poltrona da sala. Marion (Jennifer Connelly) é a namorada de Harry, que se esforça para ter uma loja de grife. E tem Tyrone (Marlon Wayans), amigo próximo de Harry, com quem divide altos rolês. O que esses quatro moradores de Coney Island têm em comum? A resposta é: drogas, lícitas e ilícitas.
Harry usa cocaína e heroína com a namorada. Tyrone as trafica. Já Sara começa um tratamento com pílulas para emagrecer. Os quatro entram num ciclo sem fim, acometidos por dor, pesadelos e loucura.
Quando lançado em 2000, o segundo filme do norte-americano Darren Aronofsky chocou pelo teor indigesto ao exibir com detalhes o uso de drogas e como os personagens violentam seu próprio corpo. Aronofsky já havia causado um turbilhão na mente do público dois anos antes quando estreou com sua fita de arte experimental e complexa, que misturava terror e drama, “Pi” (1998). Seu estilo seria inconfundível com truques de imagem, edição frenética com telas divididas, temas como tragédias pessoais e cotidianas, projeção e neurose, revisitação de temas mitológicos e ancestrais (ele é roteirista também) e o uso de técnicas como preto-e-branco, recorrendo a vários estilos e gêneros, como fez em “Fonte da vida” (2006), “O lutador” (2008), “Cisne negro” (2010), “Noé” (2014) e “Mãe!” (2017) - e para 2022 lançará “The whale”, uma comédia dramática com Brendan Fraser e Samantha Morton.


Ele fez o roteiro a partir do controverso livro de Hubert Selby Jr, de mesmo nome, publicado em 1978 (o mesmo autor de “Noites violentas no Brooklyn”, que virou filme). Em “Réquiem para um sonho”, Aronofsky cria um paralelo sobre a dependência de drogas no mundo contemporâneo, sejam as ilícitas como a cocaína e a heroína, usadas pelo casal de namorados, aos medicamentos pesados receitados por médicos, como a idosa que enlouquece quando pretende emagrecer. Os personagens entram numa espiral do pesadelo, numa gradação feroz: da insônia à agitação, das visões turvas à loucura, da alucinação à agressividade.


O filme traz também uma crítica contundente à sociedade de consumo e à alienação dos produtos midiáticos: a personagem de Sara curte um programa de auditório, até que um dia recebe uma ligação do estúdio para fazer uma participação lá. Empolgada, pretende ir com um vestido vermelho, mas precisa emagrecer para caber nele. Começa uma dieta radical e parte para as pílulas para perder o apetite. Ela vai pirando, nunca sabemos se o que ocorre com ela é real ou não (desde aquela ligação do estúdio ao que ela passa a enxergar, por exemplo, ela se vê no programa de auditório, feliz), sem contar que sonha com donuts, e chega a ver a geladeira se mover e até criar dentes.
Os quatro personagens tinham sonhos, mas se afundam no vício de tal modo que se autodestroem: Harry fica eufórico pelas ruas, chega a ter o braço apodrecido de tanto injetar heroína; Sara perde a noção da realidade, a ponto de ser internada num hospital psiquiátrico; Marion se prostitui para ganhar dinheiro e alimentar tanto seu vício quanto o investimento da loja; e Tyrone se descontrola com o tráfico de entorpecentes, sendo perseguido por bandidos.
Amargo e sem concessões, é todo composto por imagens cíclicas, que se repetem, principalmente as de uso de drogas, feitas com o enquadramento do ‘pormenor’. As imagens impressionam pelo grau de frieza, Arofonsky desnuda a realidade e a ideia da alucinação. A técnica do diretor é uma aula de cinema, seja na edição com a tela dividida, ou o uso da lente grande ocular (180 graus) que distorce o ambiente e configura um novo (e cruel) ponto de vista. Há ali uma linguagem dos antigos videoclipes, com passagens rápidas e manipulações.
A trilha sonora ficou notória e até hoje a música “Marion Barfs”, de Clint Mansell e Kronos Quartet, toca em propagandas e até em trailers de cinema.


Rodado em Coney Island, entre abril e junho de 1999, o filme estreou no Festival de Cannes de 2000, em maio, depois no Festival de Toronto, em setembro, e daí teve a estreia mundial nos cinemas a partir de outubro (no Brasil só saiu um ano depois, em novembro de 2001). Teve indicação ao Oscar, ao Globo de Ouro e ao SAG de melhor atriz para a veterana Ellen Burstyn, num papel difícil e marcante (ela, que já havia ganhado em “Alice não mora mais aqui”, e fez trabalhos conhecidos, como “O exorcista”, estava com 67 anos, desglamourizada, sem maquiagem, numa criação impecável).
Indigesto, sério, atordoante, consagrou Aronofsky e o elenco (Jared Leto, Jennifer Connelly e Marlon Wayans, em seus melhores papéis no cinema).

*
Felipe Brida é jornalista e crítico de cinema, autor do livro “Cinema em Foco: Críticas selecionadas” (2013). Como crítico de cinema, mantém o blog Cinema na Web (de sua autoria, fundado em 2008), a coluna semanal “Cinema em Foco” (no jornal O Regional) e as colunas mensais “Middia Cinema” (na Revista Middia) e “Top Cinema” (na revista Top), além dos quadros semanais “Cinema em Foco” (na rádio Vox FM), “Mais Cinema” (na Nova TV/TV Brasil) e “Palavra do Especialista – Cinema” (rádio Câmara de Bauru). Atua como palestrante em festivais de cinema em todo o Brasil e presta trabalho como curador e júri em festivais de cinema. É professor de Cinema, Comunicação e Artes no Senac, Fatec e Imes Catanduva (cidade onde reside e trabalha). É pós-graduado em Artes Visuais pela Unicamp e em Gestão Cultural pelo Centro Universitário Senac/SP, e atualmente é mestrando em Comunicação e Artes pela PUC-Campinas. Para contato: felipebb85@hotmail.com


segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Na Netflix


A última carta de amor

Ellie Haworth (Felicity Jones) é uma jornalista de Londres que encontra uma série de cartas de amor secretas que remontam um caso de amor proibido ocorrido 50 anos atrás, entre Jennifer (Shailene Woodley) e Lawrence (Joe Alwyn). Obcecada pela história dos amantes, passa a investigar a identidade dos dois.

Se você, assim como eu, gosta das atrizes Shailene Woodley e Felicity Jones, não deixe de conferir o último filme das atrizes, uma produção romântica da Netflix baseada num dos livros de maior sucesso da escritora britânica Jojo Moyes, a mesma autora de “Como eu era antes de você” (outro livro romântico que ganhou versão para cinema). “A última carta de amor” é um filme delicado e sentimental que mistura duas histórias em dois tempos, uma no presente e outra no passado, que se entrelaçam. A atual é a da jornalista vivida por Felicity Jones (de “A teoria de tudo” e “Rogue One: Uma história Star Wars) que encontra cartas de amor secretas, da década de 60, e passa a investigar o que ocorreu ali entre um casal que manteve um romance proibido. A segunda e não menos importante na trama é a dos amantes, encabeçados por Shailene Woodley (de “Os descendentes” e “A culpa é das estrelas”) e Joe Alwyn (de “A favorita”). Discreto, o filme lança um olhar feminino para uma relação amorosa perdida no tempo e redescoberta por uma total desconhecida. É um passatempo para quem curte fitas de romance, com toques de “filme de época”.


A diretora, que também é atriz, Augustine Frizzell, realizou um trabalho elegante e que parte da premissa de uma história verídica, segundo a autora Jojo Moyes. Veja, está na Netflix.

A última carta de amor (The last letter from your lover). Reino Unido/França, 2021, 110 minutos. Romance/Drama. Colorido. Dirigido por Augustine Frizzell. Distribuição: Netflix

sábado, 20 de novembro de 2021

Cine Clássico


O terceiro homem

Com o fim da Segunda Guerra, o endividado escritor norte-americano Holly Martins (Joseph Cotten) viaja a Viena para reencontrar um velho amigo dos tempos de escola, Harry Lime (Orson Welles). Fica sabendo por vizinhos de Lime que ele morrera atropelado há poucos dias, o que o deixa cercado de dúvidas. Martins começa a investigar por conta própria o que ocorreu com o amigo, e aos poucos é envolvido por terríveis segredos sobre o passado dele.

Um dos grandes filmes noir do cinema britânico, o thriller ganhador do Oscar de melhor fotografia (e ainda indicado aos prêmios de melhor diretor e edição) é um filme de muita atmosfera e trata dos desarranjos da Segunda Guerra Mundial e da crise social-moral que se instalou na Europa a partir da metade dos anos 40. A trama fabulosa e com reviravoltas das mais criativas, repleta de mistério e jogo sujo, se passa numa Viena sombria, onde o perigo passeia por qualquer esquina. E lá está um escritor endividado em busca de um velho amigo que lhe prometeu ajuda – mas que descobre ter morrido. As coisas não são como parecem, e o tal homem será confrontado com o passado tenebroso do falecido, o que coloca sua própria vida em risco.


Joseph Cotten, Orson Welles, Alida Valli e Trevor Howard é o quarteto de ouro nesse filme que encabeça a lista dos maiores clássicos da História do Cinema, que conta com uma fotografia magistral, além de momentos antológicos, como o desfecho nos canais de água.
Dirigido por Carol Reed (ganhador do Oscar de direção por “Oliver!” e responsáveis por obras-primas como “Condenado” e “O ídolo caído”) e escrito por Alexander Korda com colaboração de Welles (sem créditos) e de Reed também a partir de uma peça de teatro do genial Graham Greene, o suspense ganhou ainda o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e o Bafta, o Oscar Britânico, de melhor filme do ano.


Um clássico absoluto, agora em versão restaurada em bluray, lançado pela Classicline, numa edição para colecionadores, com luva, livreto, cards e uma série de documentários e entrevistas na seção de extras.

O terceiro homem (The third man). Reino Unido, 1949, 104 minutos. Suspense. Preto-e-branco. Dirigido por Carol Reed. Distribuição: Classicline

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Na Netflix



Serei amado quando morrer

Documentário sobre os últimos 15 anos de vida do cineasta Orson Welles (1915-1985), focando sua tentativa em realizar seu último grande filme, “O outro lado do vento”, que não deu certo.

O documentário da Netflix, de 2018, é um estudo sobre a dificuldade dos cineastas em produzirem seus filmes, os atritos nos bastidores, o confronto com estúdios etc. O filme segue os últimos 15 anos da carreira de um dos maiores nomes do cinema, o diretor, roteirista, ator e produtor Orson Welles, quando tentou realizar seu último grande filme incentivado pelos amigos. Ele estava doente, fora de forma, já sem vigor, mas foi adiante com o projeto de “O outro lado do vento”, rodado entre 1970 e 1976, e que tentou conclui-lo anos depois, sem sucesso. Ele morreu em 1985 sem ver o filme pronto. Somente em 2018 “O outro lado do vento” foi lançado (pela Netflix e disponível lá), a partir de um financiamento coletivo dos diretores Wes Anderson e Noah Baumbach, que assinam como produtores. Infelizmente o filme é muito ruim. Desengonçado, longo, feito às pressas, mal editado; percebe-se um Welles perdido, sem interesse, numa obra autobiográfica frágil, e para mim, um desastre decepcionante vindo dele. Os problemas técnicos estão evidentes: fora de foco, com iluminação estourada e planos e enquadramentos distorcidos. Uma pena, pois se esperava muito de sua obra derradeira. O roteiro do filme se confunde com a vida real, há ali um tom autobiográfico: trata de um diretor de cinema, velho e cansado, que procura concluir sua última produção com auxílio de amigos e deixar um legado na história.
O doc acompanha todos esses bastidores de “O outro lado do vento”, cujo elenco foi escalado por Welles a partir de colegas próximos do cinema, que aparecem em pontas diversas, como Peter Bogdanovich, Henry Jaglom, Susan Strasberg, Oja Kodar (na época esposa de Welles e produtora também), e os veteranos John Huston, Cameron Mitchell, Edmond O´Brien e a oscarizada Mercedes McCambridge. O doc resume bem o que foi essa produção que se tornou o maior tormento do cineasta criador de “Cidadão Kane”.


Assina a direção Morgan Neville, que em 2014 ganhou o Oscar pelo documentário “A um passo do estrelado” (2013), sobre cantores de apoio e seus trabalhos no completo anonimato.

Serei amado quando morrer (They'll love me when I'm dead). EUA, 2018, 98 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-Branco. Dirigido por Morgan Neville. Distribuição: Netflix

domingo, 14 de novembro de 2021

Resenha Especial

 

O lar das crianças peculiares

Jake (Asa Butterfield) atende ao último pedido do avô, que antes de morrer fala para ele ir até a Ilha de Gales se encontrar com a Sra. Peregrine (Eva Green), diretora de um velho orfanato, a fim de resolver um mistério. Chegando lá conhece um mundo fantástico com crianças diferentes, ameaçadas por terríveis criaturas famintas.

O diretor Tim Burton fez mais um bom filme de fantasia gótico com grandes efeitos visuais, dessa vez menos carregado, com o tom sombrio mais jovial para atrair os adolescentes. É uma aventura empolgante baseada no best seller de Ramson Riggs. Eva Green encena bem mulheres austeras, e aqui dá vida à Miss Alma (que lembra seu papel em “Penny Dreadful”), que comanda o lar das crianças e veste roupas góticas. Samuel L. Jackson também cai bem nos papéis de vilão, e seu Barron é assustador, com olhos brancos, dentes pontiagudos e cabelos arrepiados para cima. As crianças, sem exceção, completam o ótimo quadro do elenco, cada uma num personagem com características diferentes (uma que flutua, outra que coloca fogo onde toca, e por aí vai). A direção de arte, como de tradição, é característica de Tim Burton, um mundo romântico e ao mesmo tempo caótico com elementos criativos por cada canto – sem aqueles exageros cafonas de seu “Alice no País das Maravilhas”. A trama é no final da Segunda Guerra, em que crianças de um antigo orfanato precisam fugir de criaturas tenebrosas, com ajuda da Sra. Peregrine.


Além de Eva e Jackson, temos Ella Purnell, Asa Butterfield, Allison Janney, Rupert Everett, Terence Stamp e Judi Dench. Misturando drama, romance, fantasia, suspense e muita aventura, tem cenas marcantes, em particular adoro o desfecho no parque de diversões, onde há referências de outros filmes de Burton, como “Os fantasmas se divertem” e “A noiva cadáver”. Um prato cheio aos fãs de Burton ou para quem procura um passatempo imaginativo para ver em família.


O lar das crianças peculiares (Miss Peregrine's home for peculiar children). EUA/Reino Unido/Canadá/Bélgica, 2016, 127 minutos. Aventura. Colorido. Dirigido por Tim Burton. Distribuição: 20th Century Fox

sábado, 13 de novembro de 2021

Resenha Especial


Resenha escrita especialmente para o livreto da edição em bluray de "A bolha assassina" (1988), lançada pela Obras-primas do Cinema. O filme acaba de sair numa luxuosa edição de colecionador com luva numerada, em disco duplo - disco 1 com o filme em bluray e extras, e disco 2 com mais de três horas de extras, além do livreto de 32 páginas, três cards colecionáveis e pôster. 



A criatura gosmenta que veio dos céus

Por Felipe Brida*

Tremendo fracasso de bilheteria na estreia nos cinemas em 1988 (com orçamento de U$ 19 milhões, não rendeu nem U$ 9 milhões), rapidamente “A bolha assassina” virou um cult movie nos Estados Unidos, exibido zilhões de vezes na TV aberta tanto lá como no Brasil e ainda reúne fãs por todo o mundo.
Assustador, o emblemático filme é um terror com uma fórmula básica que pegava carona nas ideias estrambólicas do cinema scifi da década de 50, na linha das produções sobre criaturas vindas do espaço sideral que caçava os humanos. Aqui a criatura é uma estranha bolha dentro de um meteorito que cai numa pacata cidadezinha americana. Gosmenta, ela tem vida própria, arrasta-se para se locomover e precisa se alimentar de carne humana – à medida que come as pessoas, cresce numa velocidade absurda, cobrindo carros e destruindo tudo o que vê pela frente. Salve-se quem puder!
Autoproclamado entretenimento de terror com cara de filme B, tem baldes de absurdos e uma série de mortes inusitadas, algumas com direito à sangue explícito - em uma das cenas, a bolha entra pelo encanamento externo de um bar, chega pelo ralo da pia da cozinha e puxa uma vítima para dentro dos dutos, dissolvendo-a – isso mesmo, a gosma da bolha é mortal, derrete tudo que toca.


Para quem não sabe, o macabro longa-metragem é, na verdade, uma refilmagem de “A bolha” (1958), fita B scifi superdivertida com Steve McQueen em início de carreira, com roteiro praticamente idêntico da primeira para a segunda versão. A ideia original era de Irvine H. Millgate, com roteiro bolado por Theodore Simonson e pela atriz Kay Linaker; no remake, o roteiro passou por um novo tratamento, com subtramas paralelas, mortes escabrosas (no anterior nem morte tinha) e mais violência, assinado por Frank Darabont, que um ano antes estreava escrevendo “A hora do pesadelo 3: Os guerreiros dos sonhos” (1987), depois dirigiria dois clássicos modernos do cinema americano sobre prisão, “Um sonho de liberdade” (1994) e “À espera de um milagre” (1999), e por Chuck Russell, que também assina a direção (uma curiosidade, Darabont e Russell se conheceram em “A hora do pesadelo 3”, o primeiro era o roteirista e o segundo, diretor, e Russell, mais tarde, dirigiria um grande sucesso mundial do cinema, o inimitável “O Máskara” (1994).
É nostálgico assistir ao filme depois de tanto tempo! Ver, por exemplo, Shawnee Smith e Kevin Dillon novinhos, Candy Clark como uma garçonete (a atriz havia sido indicada ao Oscar por “Loucuras de verão”), veteranos do cinema como Del Close (no papel do padre misterioso), Jeffrey DeMunn (o xerife) e Joe Seneca, já falecido, como um cientista. As tramas paralelas conduzidas por esses múltiplos personagens se encaixam completando bem esse entretenimento marcante e empolgante, que gerou imitações – por exemplo, um ano depois, em “Os caça-fantasmas 2” (1989), aparece uma gosma rosa que invade os dutos da cidade, tem vida própria, sobe pelos prédios... coincidência, não?
Agora “A bolha assassina” pode ser conferida em grande estilo, em bluray, com o máximo de som e imagem (sem contar os inúmeros extras que vem num disco à parte, em DVD)! Vale lembrar que em fevereiro de 2020 a Obras-primas do Cinema tinha lançado o filme em DVD, no box “Sessão de terror anos 80 – Volume 1”, em disco duplo, contendo extras e cards; além de “A bolha assassina”, vinham os cultuados “O cérebro” (1988), “Palhaços assassinos do espaço sideral” (1988) e “Shocker – 100 mil volts de terror” (1989) – todos eles ganharam amplo espaço na TV, nos antigos Cine Trash, Cinema em Casa e outras sessões nos anos 90.
Agora você tem o seu exemplar em bluray em casa! Divirta-se!


* Felipe Brida é jornalista e crítico de cinema, autor do livro “Cinema em Foco: Críticas selecionadas” (2013). Como crítico de cinema, mantém o blog Cinema na Web (de sua autoria, fundado em 2008), a coluna semanal “Cinema em Foco” (no jornal O Regional) e a coluna mensal “Middia Cinema” (na Revista Middia), além dos quadros semanais “Mais Cinema” (na Nova TV/TV Brasil) e “Palavra do Especialista – Cinema” (rádio Câmara de Bauru). Atua como palestrante em festivais de cinema em todo o Brasil e presta trabalho como curador e júri em festivais de cinema. É professor de Cinema, Comunicação e Artes no Senac, Fatec e Imes Catanduva (cidade onde reside). É pós-graduado em Artes Visuais pela Unicamp e Gestão Cultural pelo Centro Universitário Senac SP, e mestrando em Comunicação e Artes pela PUC-Campinas. Para contato: felipebb85@hotmail.com

sábado, 6 de novembro de 2021

Especial de Cinema


Os melhores filmes da 45ª Mostra Intl. de Cinema de SP: Parte 03

A 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo terminou no dia 03 de novembro, mas mesmo com o encerramento do evento o público ainda pode assistir à parte da programação de filmes. Isso porque, como todo ano, há o período de repescagem, que segue até amanhã, dia 07/11, às 23h59. São cerca de 50 filmes online pela Mostra Play (em https://mostraplay.mostra.org/), todos com aluguel a preço de R$ 12 por título (abaixo comento de alguns imperdíveis). Na cerimônia de encerramento da Mostra, na noite do dia 03/11, houve, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, a entrega do troféu Bandeira Paulista, que premia os melhores filmes da edição – a apresentação foi da curadora da Mostra, Renata de Almeida, e de Serginho Groissman, com convidados, seguindo os protocolos sanitários. O Prêmio Leon Cakoff foi entregue à atriz, diretora e produtora baiana Helena Ignez, e os filmes da Competição Novos Diretores mais votados pelo público foram submetidos ao Júri formado por Beatriz Seigner, Carla Caffé e Joel Zito Araújo, que escolheu “Clara Sola” como melhor filme, Wendy Chinchilla Araya (de “Clara Sola”) como melhor atriz e Yuriy Borisov (de “Compartimento nº 6”) como melhor ator, além de premiarem com Menção Honrosa “Pequena Palestina, Diário de um Cerco”.
A crítica de cinema especializada (da qual eu fiz parte esse ano) conferiu o Prêmio da Crítica para o brasileiro “Urubus”, na categoria melhor filme brasileiro, e para o turco “O compromisso de Hasan”, como melhor filme estrangeiro. E a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), que também realiza tradicionalmente uma premiação na Mostra, escolheu o melhor filme brasileiro dos diretores estreantes - neste ano, o eleito foi o longa “A felicidade das coisas”, de Thais Fujinagua.
Então vamos lá conferir o que tem de bom para se assistir na Mostra Play!

Bergman Island
(França/Bélgica/Suécia/Alemanha, 2021, de Mia Hansen-Løve)

Indicado à Palma de Ouro em Cannes, o drama romântico traz a história de um casal de cineastas (os bons Tim Roth e Vicky Kreaps) que viaja até a Ilha de Faro, na Suécia, reduto do falecido diretor Ingmar Bergman, para escrever o novo roteiro de um filme. Lá o relacionamento do casal será colocado em xeque, enquanto constroem uma personagem (Mia Wasikowska) para a produção que deve ser lançada em breve. A trama central poderia ser maior, no entanto, eu, como fã do cineasta Bergman, curti o passeio cultural que o filme faz pela Ilha de Faro. Quantas histórias legais de bastidores das obras de Bergman a gente conhece. Vale ver!



Imaculada
(Romênia, 2021, de Monica Stan)

Drama romeno sobre uma garota num duro processo de reabilitação. Ela é viciada em heroína, e o namorado vai parar na cadeia. Na clínica os homens internados a protegem de abusos sexuais, e ela é chamada de ‘Imaculada’. Quando chega um misterioso paciente, os desejos dela ficarão à flor da pele. Sensível, tácito, todo rodado dentro de espaços confinados, o filme é uma joia, e ganhou três prêmios no Festival de Veneza.

Irmandade (Macedônia/Kosovo/Montenegro, 2021, de Dina Duma)

Exibido no Festival de Karlovy Vary, é o representante da Macedônia para disputar uma vaga no Oscar 2022. Acompanha a relação de duas adolescentes, amigas inseparáveis, que ao postarem um vídeo íntimo de uma garota popular da escola, entram em confronto físico com ela. No dia seguinte, a menina alvo do vídeo que está viralizando some sem deixar pistas. É um dos grandes filmes da Mostra desse ano, que mescla drama, suspense e romance, e traz ainda outras tramas paralelas, para falar de amizades suspeitas e relacionamentos amorosos tóxicos.



O atlas dos pássaros (República Tcheca/ Eslovênia/ Eslováquia, 2021, de Olmo Omerzu)

Drama tcheco com momentos de suspense, fala de uma empresa milionária que precisa descobrir o sumiço de uma grande quantidade de dinheiro. Todos os trabalhadores se tornam suspeitos, e a direção sai à caça do culpado. Até que uma antiga funcionária desaparece. Com muitos diálogos, cheio de referências ao cinema de mistério, é uma obra intrigante e eficiente, para público que curte fitas de arte. Exibido no Festival de Karlovy Vary.