sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Especial de Cinema

 

Os melhores filmes da Mostra de SP – Parte 8

 

A 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo segue na capital paulista até 30 de outubro. Nesse ano, serão exibidos 419 títulos de 82 países, distribuídos em mais de 20 salas de cinema de São Paulo. A programação completa da Mostra está no site oficial, em https://48.mostra.org.

Confira abaixo drops de mais filmes da Mostra que assisti e recomendo.

 

 

Levados pelas marés

 

Profícuo, o chinês Jia Zhang-ke é figura central da chamada ‘Sexta Geração’ de cineastas do seu país e já produziu, dirigiu e escreveu mais de 30 filmes, entre curtas e longas, premiados em inúmeros festivais. Gosto especialmente de ‘Um toque de pecado’ (2013), ‘As montanhas se separam’ (2015) e ‘Amor até as cinzas’ (2018), e menos de ‘Levados pelas marés’ (2024), mas que ainda é um exercício estético e autoral do diretor. Traz uma história de amor de 20 anos em uma China em constante transformação política/social/cultural, entre 2002 e 2022, terminando no sombrio tempo da pandemia. É um olhar épico e grandioso de um romance perdido no tempo, sem a brutalidade do seu cinema violento, como vimos em ‘Amor até as cinzas’, que tem algumas semelhanças com esse novo longa. Vemos uma outra China, a China dos rios e das metrópoles, e as imagens exploradas pelo diretor alternam entre filmes caseiros e aqueles de maior qualidade. Lento, contemplativo, ainda é um filme do diretor que deve ser considerado, mesmo sem o impacto visual das obras anteriores. Exibido nos festivais de Cannes, Toronto e Londres. Sessões na Mostra de SP nos dias 25, 27, 28 e 29/10.

 



 

Harvest

 

Curti muito, mas vi que o público e a crítica ficaram divididos com esse folk drama com western movie que se passa num vilarejo distante, num tempo indeterminado, com uma comunidade que vive sob ritos diários. São várias histórias de personagens distintos que se cruzam por sete dias, centralizando as ações em dois amigos de infância, um proprietário de terras e outro que é confuso e divaga ideias enormes. A chegada da modernidade por meio de novos fazendeiros ameaça não só os dois, mas todo o grupo que ali mora. Baseado no livro de Jim Crace, tem no elenco os bons Cabel Landry Jones, Harry Melling, Frank Dillane e Rosy McEwen, e uma fotografia espetacular de Sean Price Williams. Coprodução Reino Unido/EUA/Alemanha, foi rodado numa ilha da Escócia com arquitetura medieval. Exibido no Festival de Veneza, é produção da Mubi e entrará em breve na plataforma. Sessões na Mostra de SP nos dias 25, 27 e 30/10.

 



 

Pequenas coisas como estas

 

Ganhador do Oscar de ator por ‘Oppenheimer’, Cillian Murphy estrela esse drama tácito e amargo baseado no romance homônimo de Claire Keegan, que deu Emily Watson o prêmio de melhor atuação coadjuvante no Festival de Berlim – ela aparece menos de 10 minutos, numa participação marcante como uma freira que guarda segredos obscuros.

No Natal de 1985, um carvoeiro (Cillian Murphy) trabalha dia e noite numa cidadezinha do condado de Wexford, na Irlanda, para sustentar esposa e filhas. Uma visita ao convento local o remete a lembranças perturbadoras da infância, e o faz entrar em conflito com a Igreja Católica. Murphy é expressivo com um olhar que é um misto de apreensão e tristeza, e seu personagem é enigmático e fala pouco. De narrativa vagarosa, o filme ganha força a partir da metade, com as investigações particulares do protagonista em torno do convento que se mostra um lugar ameaçador – o final (não darei spoiler) traz revelações terríveis de como a Igreja Católica atuava na Irlanda. Indicado ao Urso de Ouro em Berlim, tem sessões na Mostra de SP ainda no dia 25/10.

 



 

Os demônios do amanhecer

 

Fita gay mexicana com um roteiro intenso, que poderia sofrer cortes para que ficasse com menos duração e menos passagens repetidas – são 136 minutos que caberiam facilmente em 100. Uma paixão tórrida (com muito sexo) entre dois jovens da Cidade do México ganha contornos especiais para tensionar contrapontos como relacionamentos fugazes x fidelidade. Um deles é dançarino, envolve-se com diversos homens, e o outro trabalha num hotel e estuda enfermagem. Eles se conhecem numa noite à toa e se apaixonam perdidamente. Em um mundo adverso, os dois tentarão, juntos, seguir com seus objetivos, sendo um deles manter a relação séria. Cores fortes e muita música, como ‘Never can say goodbye’, de Gloria Gaynor, agitam essa pequena fita independente que está em destaque na Mostra desse ano. Apesar da longa duração, gostei – destaque para os dois atores centrais que se expõe com ousadia e ternura. Exibido no Festival de Guadalajara. Sessões na Mostra de SP nos dias 25, 26, 29 e 30/10.

 



 

Piano de família

 

Exibido nos festivais de Toronto e Londres, o filme da Netflix marca a estreia do diretor Malcolm Washington, filho de Denzel Washington e irmão do ator central da fita, John David Washington. É um excelente filme dramático feito em família – Denzel produz ao lado da filha Katia, irmã de Malcolm, e o elenco é liderado por John David. Cotado para finalista ao Oscar do ano que vem, é uma adaptação da obra homônima de August Wilson, prêmio Pulitzer por ‘Um limite entre nós’, que virou filme com Denzel e premiou Viola Davis atriz coadjuvante. Wilson fala de intensos conflitos familiares em famílias negras empobrecidas, e aqui não é diferente – durante 20 anos, entre as décadas de 10 e 30 do século passado, uma briga se instala no seio da família Charles por causa de um antigo piano que foi passado de geração a geração. O piano é um observador das mudanças do país e daquela família, e dele evocam-se vozes e fantasmas do passado. Teatral, os atores ficam longas cenas conversando/discutindo em apenas um ambiente da casa, a sala agregada à cozinha, com o piano ao lado. Do filme extraem-se ótimas atuações do elenco, a se perder de vista, como Samuel L. Jackson, John David Washington, Danielle Deadwyler, Corey Hawkins, Stephan James e Michael Potts. Enquanto drama, é uma fita sólida e que abre reflexões, e o desfecho é de assustar, literalmente falando, com tom de filme de terror sobrenatural. Prepare-se para um dos bons longas do ano, que entra na Netflix no dia 22/11. Sessões ainda na Mostra nos dias 25 e 30/10.




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