segunda-feira, 27 de junho de 2022

Cine Clássico


Jogue a mamãe do trem


Larry (Billy Crystal) é um jovem professor que está à beira de um ataque de nervos por causa da ex-mulher, que roubou a ideia de seu novo livro. Numa conversa com um de seus alunos, Owen (Danny De Vito), diz que desejaria ver sua ex morta. Owen tem problemas com sua mãe, uma senhora doente e muito megera (Anne Ramsey), então propõe um acordo com ele: um deve eliminar o desafeto do outro, sem deixar pistas. Porém os planos não sairão como combinado.

Um dos filmes mais hilários do cinema, e também um dos mais macabros com seu humor negro e perverso, que fez uma legião de fãs e marcou época nas sessões da tarde. Ele parodia o clássico de suspense “Pacto sinistro” (1951), de Alfred Hitchcock, sobre um assassino que bola um plano com um tenista numa viagem de trem, em que um deve eliminar o desafeto do outro, sem deixar vestígios do crime. O tal filme-referência aparece numa cena de “Jogue a mamãe do trem”, exatamente o momento em que o personagem Owen, de Danny De Vito (que está inspirado e muito engraçado), está no cinema assistindo-o e pensa no assassinato. Owen é um sujeito infantilizado, que vive com mãe, uma megera que bate nele toda vez que o encontra (a grande atriz Anne Ramsey foi indicada ao Oscar de coadjuvante e morreria meses depois de enfisema, aos 59 anos – ela ficou conhecida pelo papel da matriarca vilã de “Os Goonies”). Owen já não suporta mais a mãe... Do outro lado da história tem um professor e escritor com bloqueio criativo (Billy Crystal, também bem no filme), enfurecido com a ex-mulher e que deseja sua morte. O plano entre os dois é mencionado, mas até que o objetivo seja atingido uma série de situações burlescas e inusitadas irão ocorrer.


As ideias assassinas de Owen é um barato, ele imagina matar a mãe com veneno de rato e até com uma tesoura na cabeça, porém só pensa e nunca comete o crime. Jogá-la do trem pode ser uma opção, e para sabermos se isso dará certo, temos de ver até o final!
Tem muito humor, é um filme rápido, de 88 minutos, com um trio de aplaudir de pé (De Vito, Anne e Crystal). Acho que muitos dos leitores vão se lembrar desse clássico da comédia e vão querer rever.


O filme já existia em DVD pela MGM (numa cópia de 2004) e agora acaba de sair no box “Sessão anos 80 – volume 10”, pelas Obras-Primas do Cinema, com outros filmes legais e também no estilo ‘Sessão da tarde’: “Garota sinal verde” (1985), “Tuff Turf: O rebelde” (1985) e “Está sobrando uma mulher” (1987). O box contém cards e extras nos dois discos.


Jogue a mamãe do trem (Throw mamma from the train). EUA, 1987, 88 minutos. Comédia. Colorido. Dirigido por Danny De Vito. Distribuição: Obras-primas do Cinema (Box de 2022) e MGM (DVD de 2004)

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Cine Cult


A festa de despedida


Idosos que residem em um asilo em Jerusalém criam uma máquina de auto-eutanásia para ajudar um amigo que deseja morrer após longo período doente. No dia seguinte à morte dele, rumores sobre o caso se espalham e familiares de outras pessoas em condições críticas de saúde procuram o grupo para utilizar o dispositivo. Os amigos então questionam se o método é legal ou não.

O cinema de Israel é ainda desconhecido no Brasil, a não ser quando festivais exibem seus filmes, como faz muitas vezes a Mostra de Cinema de SP e o Festival do Rio. Desde a década de 60 ele vem se reinventando e abrindo possibilidades de novos temas, e nos últimos 15 anos cinco longas israelenses foram indicados ao Oscar. Diretores como Amos Gitai, Elia Suleiman, Eran Riklis, Ari Folman e Nadav Lapid se destacam nesse cinema, e alguns títulos fizeram história em premiações, como Yossi & Jagger: Delicada relação (2002), Um herói do nosso tempo (2005), Lemon tree (2008), Free zone (2010), Tempestade de areia (2016) e Sinônimos (2019 – esse ganhador do Urso de Ouro em Berlim). E “A festa de despedida” (2014) é um exemplar de porte dessa boa fase do cinema de Israel, um dramédia (drama com comédia) com humor negro em uma trama sensível e sagaz. Levou prêmios internacionais, sendo dois deles no Festival de Veneza, indicado lá ao Queer Lion, o prêmio para filmes de temática gay (isso porque na história há um idoso homossexual, muito divertido por sinal).


Fala da eutanásia, um tema sério e difícil, de maneira leve, até com certa fantasia. Aqui um grupo de idosos inventam uma máquina para os doentes que escolhem morrer, para encurtar o período de enfermidade e partirem sem dor – é uma espécie de dispositivo intravenoso que, com apenas um botão, libera uma droga que paralisa o coração. O que era para funcionar com um amigo se torna um negócio empreendedor, e a partir dessa procura eles pensam se estão fazendo a coisa certa. Nessa discussão entram questões religiosas, éticas e providenciais.
A dupla de diretores e roteiristas Tal Granit e Sharon Maymon fizeram antes curtas e filmes para TV, e aqui, na estreia em longa-metragem ficcional, se destacam com um cinema de qualidade, que preza pela fotografia e com um roteiro acessível a todos. E souberam escalar um elenco de atores veteranos de primeira linha, a destacar Ze’ev Revach, Ilan Dar e Aliza Rosen. Descubram esse filme de arte humano e sensível.


A festa de despedida (Mita tova). Israel/Alemanha, 2014, 95 minutos. Drama/Comédia. Colorido. Dirigido por Tal Granit e Sharon Maymon. Distribuição: Imovision

domingo, 12 de junho de 2022

Cine Especial


Prova final

Estudantes de uma escola do segundo grau de uma pequena cidade de Ohio desconfiam que seus professores foram transformados em alienígenas. Eles se unem para entender o que está por trás do caso.

De Robert Rodriguez, diretor norte-americano de descendência mexicana responsável por muitos filmes que se tornaram cult inclusive no Brasil, como “El mariachi” (1992) e seu remake, “A balada do pistoleiro” (1995), “Um drink no inferno” (1996) e “Sin City: A cidade do pecado” (2005), “Prova final” (1998) é um de seus trabalhos mais diferentes e criativos. É um terror com humor negro e criaturas bizarras, sobre um grupo de estudantes que investigam o estranho comportamento de seus professores, ao desconfiarem que os corpos deles foram tomados por aliens. Na época do VHS, o filme fez certo sucesso entre os jovens e ajudou a firmar a carreira do diretor (esse foi o seu quarto longa-metragem).


Rodado dentro de uma escola real em Lockhart, no Texas, com os verdadeiros habitantes da cidade, o filme marcou a estreia da panamenha de mãe brasileira Jordana Brewster, que em seguida entraria para o elenco de “Velozes e furiosos” e faria quase toda a franquia. Também foi a estreia do rapper Usher como ator, e vários atores estavam em início de carreira, como Josh Hartnett, Elijah Wood, Clea DuVall e Shawn Hatosy. Outros já eram conhecidos por filmes de terror e ação, como os professores tomados por aliens, Robert Patrick (o T-1000 de “O exterminador do futuro 2: O julgamento final”), Piper Laurie (nomeada a três Oscars, dentre as indicações como a mãe da personagem de “Carrie: A estranha”), Bebe Neuwirth (da série “Cheers”) e Daniel Von Bargen (de “O mestre das ilusões) – sem contar ainda as participações das lindíssimas Salma Hayek e Famke Janssen.
A trama tem ecos de “O enigma de outro mundo” (1982), e até o diretor presta uma homenagem ao filme de John Carpenter, na cena do teste das drogas. Traz fortes evidências de outros filmes do gênero, como “Vampiros de almas” (1956) e do remake “Invasores de corpos” (1978), que falavam de uma forma alienígena que se apoderava do corpo dos humanos transformando-os em estranhos zumbis.


O roteiro, com cara de filme scifi dos anos 70/80, foi escrito em 1990, porém engavetado, e somente oito anos depois a produtora Miramax, dos irmãos Weinstein e naquela época recém-adquirida pela Disney, resolveu rodar o projeto – o roteirista Kevin Williamson, criador da franquia “Pânico”, assumiu e reescreveu o roteiro, com mais cenas slasher (de mortes sangrentas) e inserindo criaturas melequentas. Para os fãs, um prato cheio!
Acaba de sair em DVD pela Classicline, com luva e card, e como extra, bastidores do filme.



Prova final (The faculty). EUA/México, 1998, 104 minutos. Terror/Comédia. Colorido. Dirigido por Robert Rodriguez. Distribuição: Classicline

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Cine Cult


A cruz de ferro


Em 1943, no auge da Segunda Guerra, Rolf Steiner (James Coburn) é promovido a sargento e recebe a dura missão do capitão Stransky (Maximilian Schell) de localizar a cruz de ferro de um tenente morto em combate. Para satisfazer a vontade do chefe, Steiner desloca um grupo de homens destemidos, sem saber o que encontrará pelo caminho.

Sam Peckinpah (1925-1984) dirigiu com muita dificuldade esse filme de guerra violento, considerado por Orson Welles um dos melhores do tema já produzidos no cinema. O diretor de obras-primas como “Meu ódio será sua herança” (1969) e “Sob do domínio do medo” (1971) demorou para levantar recursos financeiros para o projeto, e estava consumido pelo álcool (Peckinpah era viciado em bebida). Mas nada disso atrapalhou a conclusão desse filme visceral, produzido no Reino Unido e na Alemanha Ocidental e rodado na antiga Iugoslávia. A complexa trama, baseada no livro do alemão Willi Heinrich, traz um sargento recém-nomeado que recebe a missão quase suicida de satisfazer o ego de um melancólico capitão nazista, de obter a cruz de ferro de um tenente morto. Vale destacar que a tal cruz de ferro era uma condecoração militar única e preciosa, originalmente do Reino da Prússia e depois utilizada no Império Alemão e objeto de desejo no Terceiro Reich, exclusiva dos tempos de guerra. Receoso quanto à missão, o sargento reúne homens para se jogar no front para encontrar a almejada cruz.


Com cenas típicas do diretor, de tiros e mortes em câmera lenta (característica fecunda do cineasta), e um vasto material de arquivo (vídeos e fotos da Segunda Guerra Mundial, no caso), tem um humor cínico e reviravoltas marcantes. Quebra o estereótipo dos nazistas vilões para mostrá-los como soldados quaisquer em meio à dureza de uma guerra. Fala da truculência dos inimigos (no caso os soviéticos e os americanos) e das artimanhas de sobrevivência no meio do caos. Um dos mais complexos personagens da história é o capitão Stransky (interpretado pelo ótimo Maximilian Schell), um homem já cansado da guerra que envia a tropa atrás da cruz somente para satisfazer seu ego e honrar o nome da família (e também de ganhar mais um item para sua coleção particular).
Complementam o time de astros e estrelas James Coburn, James Mason, David Warner e Senta Berger. Teve uma continuação bem inferior dois anos depois, “Ruptura das linhas inimigas” (1979), com novo diretor, produtor e elenco (incluindo Richard Burton e Rod Steiger).


Saiu em diversas edições em DVD no Brasil e recentemente a melhor delas foi disponibilizada ao público, a da Classicline, com metragem estendida, de 132 minutos – a mais comum de se ver é a de cinema, de 119 minutos.

A cruz de ferro (Cross of iron). Reino Unido/Alemanha, 1977, 132 minutos. Guerra. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Sam Peckinpah. Distribuição: Classicline (DVD de 2022)