sábado, 31 de dezembro de 2011

Resenha

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Operação Valquíria

Durante a Segunda Guerra, o destemido comandante alemão Claus Von Stauffenberg (Tom Cruise) arquiteta um engenhoso plano para matar Adolph Hitler. Na chamada “Operação Valquíria”, ele contará com apoio do alto escalão nazista, além de uma série de pessoas que desejam eliminar aquele que foi o tirano mais cruel de todos os tempos.

Baseado em fatos reais ocorridos no final da Segunda Guerra Mundial, “Operação Valquíria” retrata, em duas horas tensas de filme, uma história sobre fracasso que, por um triz, não virou um dos fatos mais notórios do século passado. Isto porque a tal operação do título resultou num desastroso ‘plot’ para matar Hitler, uma tentativa frustrada de assassinato – pessoas importantes se deram mal, porém o alvo da vez não foi totalmente atingido... Na época, eliminar o ditador, famoso pelas atrocidades contra os judeus, seria algo impensável, ideia de megalomaníaco. Mas existiu um cidadão desse naipe. Destemido, o comandante alemão Stauffenberg tentou barrar o avanço nazista, sem sucesso, sem honras.
Diante do panorama citado acima, percebe-se que esse filme de ação que mistura drama de guerra com suspense psicológico (tenso do começo ao fim) não fala de gente comum ou de uma história batida sobre o Hitler na Segunda Guerra. O bom trabalho de Bryan Singer (de “X-Men” e “Os suspeitos”) vai além: acompanha a jornada do homem que encarou a fundo a própria missão proposta e, a sete chaves, bolou um ardiloso plano junto de pessoas com intenções semelhantes. Não há, portanto, ‘mocinhos’ na trama: os personagens querem vingança, morte, sangue.
Tom Cruise interpreta o comandante audacioso por trás do crime, sempre usando um tapa-olho. O papel, para ele, soa estranho, mas não decepciona – aliás, Cruise sempre foi bom ator, mesmo em dramas, e hoje envelheceu bem, melhorando a cada trabalho. E o elenco, além dele, conta com atores sérios em participações como coadjuvantes, dentre eles Terence Stamp, Kenneth Branagh, Bill Nighy e Tom Wilkinson (todos ingleses/ irlandeses).
Politizado, o filme não explica exatamente o levante do grupo de generais e soldados que se uniram para concretizar o diabólico plano, e sim já parte para os arranjos do mesmo. Com boa produção técnica (direção de arte, figurinos, edição), serve como ponto de partida de um evento histórico esquecido, mostrando que nem todos os alemães do alto escalão eram favoráveis às estratégias de Hitler, dentre elas a matança dos judeus nos campos de concentração.
Quatro anos antes, em 2004, houve a versão alemã, feita para TV, do cineasta Jo Baier, que filmou uma minissérie homônima, exibida lá em duas partes. No Brasil saiu em DVD com duração bem reduzida, mas ainda válida (mais lenta e menos intensa que o filme norte-americano), com os bons Sebastian Koch e Ulrich Tukur. Para os interessados em História, a dica é conhecer ambas as versões. Por Felipe Brida

Operação Valquíria (Valkyrie). EUA/Alemanha, 2008, 121 min. Ação/Guerra. Dirigido por Bryan Singer. Distribuição: 20th Century Fox

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Cine Lançamento

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Se beber, não case! Parte II

Após a absurda farra em Las Vegas, Phil (Bradley Cooper), Stu (Ed Helms), Alan (Zach Galifianakis) e Doug (Justin Bartha) hoje seguem suas vidas normalmente. Mas um deles, Stu, resolve se casar, escolhendo a exótica Tailândia como palco da cerimônia, que contará com seletos convidados. Convoca os dois melhores amigos para uma despedida de solteiro naquele país, o que acaba se transformando em uma aventura alucinante, ainda mais acompanhados por um divertido macaco fumante.

Segunda parte de um filme campeão de bilheteria, só que inferior, abusado, altamente absurdo e menos cômico que o original. Mas o público não se preocupa com essas questões. O lema no cinema é diversão e entretenimento, mesmo se o que for projetado na tela seja algo repetido, sem originalidade, e o pior, banalizando o ser humano. Tem tudo isso e mais um pouco em “Se beber, não case! Parte II”, comédia que somente no fim de semana de estreia nos EUA faturou mais que o orçamento, que era estimado em U$ 80 milhões – o montante superou U$ 250 milhões só no país, uma das maiores bilheterias do ano.
Reúne novamente todo o elenco e a produção do anterior, que eu havia achado curioso e melhor do que o esperado (com ressalvas). Nessa nova aventura, as confusões provocadas por uma bebedeira descontrolada acontecem na Tailândia, país que esconde mistérios. E no mesmo jeitão, com reviravoltas, descontrole, gozações e maior grosseria com piadas escrachadas de sexo e órgãos genitais.
Em férias para comemorar a despedida de solteiro de um deles, os amigos azarados (olha que coincidência), de ressaca, não recordam da noite anterior. Óbvio que no caminho aconteceram fatos bizarros, como sempre, e aos poucos os personagens têm conhecimento do que realmente se sucedeu. É mais do mesmo...
O elenco traz o trio ainda mais desvairado (Galifianakis de barba e agora com a cabeça raspada, e Ed Helms com uma tatuagem gigante do rosto), e retornam dois outros secundários, como o chato Mr. Chow (feito pelo ator Ken Jeong) e o lutador de boxe Mike Tyson (numa rápida participação no desfecho).
Como no primeiro, é uma sucessão de piadas repetidas em torno do trio, com bobagens mirabolantes num ritmo ágil que o público adora acompanhar. Pra mim, resulta descartável. E olha que os produtores já anunciaram a terceira parte para 2013... Por Felipe Brida

Se beber, não case! Parte II (The hangover Part II). EUA, 2011, 102 min. Comédia. Dirigido por Todd Phillips. Distribuição: Warner Bros

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Cine Lançamento

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Meninas malvadas 2

A jovem Jo (Meaghan Martin) é a nova aluna do colégio, que tem uma grande amiga e aliada, Abby (Jennifer Stone). Juntas, as "Mean Girls" fazem o que sabem melhor: espalhar fofocas. Até que as duas envolvem-se em uma série de confusões com professores, diretores da escola e colegas próximos.

Desnecessária continuação da premiada comédia teen de 2004 (que havia vencido diversos MTV Awards, dentre eles melhor atriz para Lindsay Lohan), inferior em todos os aspectos possíveis. Não traz mais nem o elenco original nem os produtores tampouco a direção, que resulta falha e de extrema mediocridade. Pende para o besteirol, no padrão daquelas fitas grosseiras voltadas ao público jovem que invade as locadoras. A responsável por tamanho equívoco é uma atriz de TV pouco conhecida, Melanie Mayron.
A história repete, sem piadas criativas, as intrigas de um bando de meninas maledicentes em um colégio. Elas criam situações embaraçosas com professores, distribuem gratuitamente fofocas com o simples prazer de vingança pessoal, de fazer chacota com a cara dos “inimigos”, ou seja, tudo aquilo que vimos com certo humor negro no primeiro filme. Diferentemente, aqui a comédia rala não provoca risada. Enfim, não acrescenta em nada, até porque não existe mais os personagens do original para que na trama fossem incrementadas as peripécias e malandragens das tais garotas malvadas.
Não obteve repercussão nos Estados Unidos, sendo lançado em home vídeo sem passar nos cinemas – e no Brasil idem. Não perca tempo... Deixe pra lá. Por Felipe Brida


Meninas malvadas 2 (Mean girls 2). EUA, 2011, 96 min. Comédia. Dirigido por Melanie Mayron. Distribuição: Paramount Pictures

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Resenha

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Marcas do destino

O garoto Rocky Dennis (Eric Stoltz) é portador de uma rara doença chamada leontíase óssea. Seu rosto, completamente desfigurado, assemelha-se a uma máscara. Em meio ao preconceito enfrentado na escola e nas ruas por onde passa, o jovem tem, como amparo e suporte, a mãe, Florence Rusty (Cher), uma mulher viciada em álcool e cocaína. Ela convive com um grupo de motoqueiros selvagens que também estão ao lado de Rocky. A inabalável determinação do rapaz, mesmo com a doença se agravando, o fará crescer como pessoa, inspirando assim os colegas de classe, professores e amigos.

O diretor Peter Bogdanovich (dos excelentes “A última sessão de cinema” e “Lua de papel”) soube conduzir com sinceridade e de forma sensível essa história verídica do jovem Roy L. Dennis, apelidado do Rocky (1961-1978), portador de uma displasia crânio-facial chamada leontíase (doença cujo nome vem da palavra “leão”, devido ao rosto deformado como se fosse uma máscara – daí também o título original, “Mask”). O rapaz enfrentou rejeição por todos os lados (na escola, nas ruas, na vizinhança etc), as pessoas tinham medo de se aproximar. Realmente a face de Rocky causava impacto pela deformidade – seu crânio tinha mais de 60 cm de diâmetro, e a mandíbula chegava a 40 cm! Paralelamente mostra a superação de Rocky para vencer o preconceito e assim ser visto como uma pessoa “normal”. Uma figura importante na vida dele foi a mãe, que, apesar de viciada e ter comportamento explosivo, cuidou do adolescente até os minutos finais.
O drama dá certo pelas incríveis atuações de Eric Stoltz (em início de carreira, então com 24 anos), como Rocky, todo transformado por uma maquiagem impressionante, e da hoje cantora Cher, em seu primeiro papel principal no cinema, na pele da mãe ora equilibrada ora tresloucada.
No elenco, participação de veteranos como Harry Carey Jr., na pele de um motoqueiro, Richard Dysart e a falecida Estelle Getty. Sam Elliott, o ator típico por personagens de cowboy e pistoleiro, faz o padrasto de Rocky, e Laura Dern, com apenas 18 anos, aparece no final como uma menina cega, o interesse romântico do jovem protagonista.
Venceu o único Oscar indicado, o de melhor maquiagem em 1986. Também recebeu duas nomeações ao Globo de Ouro – ator para Stoltz e atriz para Cher. Esta, em Cannes, dividiu o prêmio de atriz com Norma Aleandro pelo argentino “A história oficial”. O diretor Bogdanovich recebeu ainda indicação à Palma de Ouro.
Um drama indicado a todos, que causa emoção e nos faz refletir sobre o herói que existe dentro de nós. Por Felipe Brida

Marcas do destino (Mask). EUA, 1985, 120 min. Drama. Dirigido por Peter Bogdanovich. Distribuição: Universal

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Cine Lançamento

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Os Smurfs

O ardiloso feiticeiro Gargamel (Hank Azaria) persegue os Smurfs fora da aldeia onde vivem, após adentrarem um portal que os levam à tumultuada cidade de Nova York. O temível vilão não dá tréguas bolando diversas armadilhas para caçar os homenzinhos azuis. Os pequenos Smurfs terão pela frente a missão de fugir para garantir a sobrevivência.

Divertida e bem ágil, a primeira adaptação para cinema da série animada “Smurfs” é melhor do que se esperava. E a boa bilheteria pegou muita gente de surpresa. Isto porque o famoso desenho criado pelo falecido cartunista belga Peyo entre 1981 e 1990, sucesso inclusive no Brasil, havia caído no esquecimento das pessoas (já se passaram 21 anos do término dos episódios, e as emissoras de TV pararam de exibi-los faz tempo). Ou seja, as novas gerações, para quem o filme é destinado, desconheciam as aventuras dos homenzinhos azuis. Uma das explicações cabíveis para a enorme receptividade do público infantil nas salas de cinema dá-se pelo fato da recriação diferenciada. A fita apela à computação gráfica, que dá vida aos Smurfs, aliada a atores “reais”. O resultado é um passatempo descompromissado, mais para crianças – os personagens são fofinhos, agradando pela simpatia.
Tem uma produção acima da média, bons efeitos visuais e uma história bem ralinha, para consumo imediato, sobre o mal versus o bem – a velha fórmula do vilão, que propaga a maldade, e busca eliminar os seres de bom coração.
O comediante Hank Azaria está irreconhecível na pele do malvado Gargamel, escondido em uma maquiagem pesada. Uma série de atores desconhecidos empresta suas vozes para os Smurfs, e o elenco “de carne e osso” é feito por artistas de TV.
Sem dúvida acaba sendo o filme melhorzinho do diretor Raja Gosnell, especialista em fitas infantis (bem fracas por sinal), como “Esqueceram de mim 3”, “Vovó...Zona” e as duas primeiras partes de “Scooby-Doo”. Assista sem compromisso e sem exigências. Por Felipe Brida

Os Smurfs (The Smurfs). EUA, 2011, 103 min. Aventura/Animação. Dirigido por Raja Gosnell. Distribuição: Sony Pictures

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Viva Nostalgia!

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Inferno nº 17

Em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, um pequeno grupo de soldados norte-americanos é abatido pelos alemães. Eles são alojados no campo de prisioneiros de número 17, onde ali moram “temporariamente” cerca de 630 homens capturados pelas tropas nazistas. Naquela velha caserna, os mais rebeldes planejam uma fuga mirabolante, enquanto o líder do grupo, sargento Sefton (William Holden), é apontado como espião devido ao contato às escuras com os alemães.

Clássico de guerra que mistura humor e cinismo inteligente típico do cineasta de origem polonesa Billy Wilder, um dos nomes mais reverenciados do cinema norte-americano de todos os tempos. Foi ele mesmo que adaptou para as telas a peça teatral de Edmund Trzcinski (que faz uma ponta emprestando seu próprio sobrenome ao personagem), rodando-o no intervalo entre dois clássicos famosos que dirigira, “A montanha dos sete abutres” (1951) e “Sabrina” (1954). Resulta como um deboche meio farsesco, que brinca com assuntos sérios, no caso as atrocidades do Nazismo na Segunda Guerra. Toda a história se concentra dentro do tal Stalag 17 (em alemão significa “campo de prisioneiros”), onde às vésperas do Natal um seleto grupo de soldados rebeldes, e muito desmiolados, planeja fugir daquele lugar sufocante. Há um coleguismo fervoroso entre aqueles homens até que dois deles são mortos na tentativa da primeira escapada. É quando começam as intrigas, já que a forte suspeita parece se confirmar: o cabeça do grupo (interpretado por William Holden) pode ser um espião.
“Inferno nº 17” não deixa de ser crítico, recorrendo ao teor cômico que serve para zombar do regime nazista (uma das cenas cruciais é a dos prisioneiros colocando bigode para imitar Hitler durante um discurso na caserna).
Rodado em PB, o filme rendeu a Holden o Oscar de melhor ator, pelo papel do sargento desbocado que negociava com os alemães para ter privilégios pessoais – e assim passa a ser mal visto pelo grupo. Também foi indicado a dois outros prêmios da Academia: diretor e ator coadjuvante para Robert Strauss, como um divertido prisioneiro doido por farras.
A história inteira é narrada por um soldado, Clarence Cookie (Gil Stratton), que desde a abertura apresenta o stalag e faz comentários engraçados sobre os nazistas, bem como reclama dos filmes de guerra produzidos hoje em dia (o que seria uma auto-crítica, claro que ironizando o próprio “Inferno nº 17”).
Uma sequência bastante conhecida: os atores reunidos cantam “When Johnny comes marching home”, marchando pelos quartos – outra referência crítica, agora em torno dessa música popular surgida na Guerra Civil Americana.
Tem muitos nomes curiosos no elenco, como o famoso cineasta ucraniano Otto Preminger, na pele de um chefe nazista durão (em um dos poucos papéis como ator), além de Don Taylor, Peter Graves e Harvey Lembeck. Clássico indispensável, para ver e rever e comprar! Sai novamente em DVD na coleção ‘Clássicos’ da Paramount, sem extras. Por Felipe Brida

Inferno nº 17 (Stalag 17). EUA, 1953, 120 min. Drama/Guerra. Dirigido por Billy Wilder. Distribuição: Paramount Pictures

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Viva Nostalgia!

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O tempo não apaga

Três amigos de infância, Martha, Walter e Sam, guardam um segredo assustador. Duas décadas se passam, e Martha (Barbara Stanwyck) está casada com Walter (Kirk Douglas); ela é uma industrial bem-sucedida e gananciosa, enquanto ele trabalha como promotor de justiça, de comportamento suspeito e muito ambicioso. A rotina dos dois muda quando o velho amigo Sam (Van Heflin) surge de forma inesperada na cidade, passando a ameaçar o casal para se “vingar” do crime cometido pelos três no passado.

Um autêntico filme noir norte-americano em plena época em que Hollywood produzia filmes desse sub-gênero ‘importado’ da França. Indicado ao Oscar de melhor roteiro original em 1947, “O tempo não apaga” fala do sentimento da culpa, da consciência suja, tudo porque o trio da história guarda um terrível segredo a sete chaves – eles, pequenos, cometeram um assassinato brutal (logo na abertura exibe-se a referida ideia). O tempo passa, e cada um deles, já na idade adulta, tem suas vidas mesquinhas: Barbara Stanwyck é a mulher fatal, uma industrial com fama e poder; Kirk Douglas, o marido, promotor de justiça com ar perigoso; e Van Heflin, o tormento na vida do casal, um homem chantageador disposto a tudo, inclusive a revelar à sociedade o segredo que os unem.
Como sempre nos filmes noir, e aqui não é diferente, há intriga, chantagem e reviravolta em torno dos personagens, todos de moral comprometida e de má índole – não há ‘mocinhos’ na trama, tampouco pessoas éticas. E outros elementos de estilo noir estão presentes, como o final não feliz, a tortura psicológica, a tentativa de redenção etc
Produzido em PB, acaba sendo um dos trabalhos importantíssimos e menos conhecidos do diretor Lewis Milestone, duas vezes vencedor do Oscar – por “Dois cavaleiros árabes” (1927) e “Nada de novo no front” (1930), um cineasta que teve papel fundamental para a solidificação do cinema norte-americano durante a década de 30, cuja carreira durou até a metade dos anos 60.
Milestone escolheu bem o elenco: Barbara, uma das mulheres fatais do cinema noir, Kirk Douglas, aqui estreante, e Van Heflin, um de meus atores preferidos, além da participação menor da grande atriz Judith Anderson (como a mãe rude de Martha Ivers) e a coadjuvante Lizabeth Scott (a namorada de Sam).
Com título dramático demais – a tradução do original seria “O estranho amor de Martha Ivers”, que soa ambíguo e bem esquisito, o filme sai na coleção ‘Clássicos’ pela Paramount Pictures. Para quem tem curiosidade em conhecer o noir, este é um exemplo dos bons.

Curiosidade: O ator Kirk Douglas completou 95 anos no dia 9 de dezembro. Com três indicações ao Oscar (uma delas pelo papel do pintor Van Gogh em ‘Sede de viver’), acumula 85 filmes na carreira de seis décadas. Estreou em “O tempo não apaga’ e ainda está na ativa, em papéis pequenos em seriados de TV. De origem judia, nasceu na comunidade russa de Nova York com o nome Issur Issur Danielovitch Demsky. Deixa um legado valioso, bem como um filho ator, ótimo por sinal, que é Michael Douglas. Kirk, sem dúvida, é uma lenda viva do cinema.

O tempo não apaga (The strange love of Martha Ivers). EUA, 1946, 116 min. Drama. Dirigido por Lewis Milestone. Distribuição: Paramount Pictures

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Viva Nostalgia!

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Love story – Uma história de amor

A jovem estudante de música Jennifer Cavilleri (Ali MacGraw) apaixona-se por um rapaz da mesma idade, Oliver Barrett IV (Ryan O‘Neal), após conhecê-lo na biblioteca da universidade de Harvard. Ele estuda Direito e vem de uma família rica, enquanto a garota, de origem humilde, vive com o pai (John Marley). O relacionamento dos namorados não é aceito pelos pais de ambos. Por se amarem demais, Oliver e Jennifer arriscam tudo – família, amigos, estudos. Até que a jovem descobre estar gravemente doente.

“Amar é jamais ter que pedir perdão”. A famosa frase dita pela personagem Jennifer, que exprime o intenso amor pelo namorado Oliver, aliada à bonita trilha sonora de Francis Lai, vencedora do Oscar em 1971, ficou gravada na memória do público que assistiu ao filme na época. O mundo sofria as atrocidades da Guerra do Vietnã, e os jovens aderiam ao espírito livre do movimento hippie advindo da Woodstock quando foi lançada essa fita romântica que chega aos extremos do melodrama convencional. Talvez por tais fatores tenha se tornado mega-sucesso nos cinemas, um ‘estouro’ de bilheteria que influenciou gerações, inclusive uma infinidade de imitações. Apesar de datado, da narrativa lenta, sem reviravoltas e da previsibilidade da história (em especial o desfecho), é um filme querido do público, sem dúvida uma das fitas românticas mais populares do cinema.
Tudo começa com o rapaz Oliver lamentando a morte da namorada, vítima de uma doença incurável. Daí a trama se desenvolve com o relacionamento dos dois, a briga com os pais, as crises entre o casal, ou seja, conflitos comuns vistos em trabalhos do gênero. O público só irá entender os pormenores da doença da jovem a partir da metade para o final, quando o tom muda – o gênero romance dá abertura ao drama, um pouco amargo, triste, até o encerramento sem surpresas.
Voltado para adeptos de melodramas, que não se importam em deixar escorrer as lágrimas.
O roteiro original, escrito pelo falecido Erich Segal (1937-2010), o mesmo de “Yellow Submarine” (dos Beatles), lançou em seguida ao filme o livro, de mesmo título. Virou best-seller e nada mais é que o próprio roteiro mais alongado.
Além de ganhar o Oscar de melhor trilha sonora, recebeu outras seis indicações: filme, atriz (Ali MacGraw), ator (Ryan O’Neal), ator coadjuvante (John Marley, que interpreta o pai da jovem), diretor e roteiro adaptado. E no Globo de Ouro venceu cinco prêmios, como filme, diretor e atriz.
Realmente Ali e O’Neal, juntos, têm uma química interessante, um casal bonito de se ver na tela. Além do mais, o ator sempre foi bom em cena e convence como o rapaz apaixonado. O elenco traz também o monstro sagrado Ray Milland, personalidade forte do cinema dos anos 40 e 50, na pele do pai de Oliver, um empresário rico, e ponta de poucos segundos de Tommy Lee Jones, em sua primeira aparição no cinema.
Foi dirigido por Arthur Hiller (não confundir com Arthur Miller, o notório roteirista que foi casado com Marilyn Monroe). Em 1978 teve continuação inferior e desnecessária, chamada “A história de Oliver”, mantendo apenas, do cast original, Ryan O’Neal. Por Felipe Brida

Love story – Uma história de amor (Love story). EUA, 1970, 99 min. Drama. Dirigido por Arthur Hiller. Distribuição: Paramount Pictures

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Cine Lançamento

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Contra o tempo

O capitão Colter Stevens (Jake Gyllenhaal) integra o projeto secreto “Source Code”, capaz de transportá-lo para o corpo de outra pessoa e assim assumir aquela identidade durante oito minutos. Durante a explosão de um trem com centenas de passageiros em Chicago, ele recebe a missão de voltar no tempo, no corpo de uma das vítimas, com o objetivo de identificar o autor do crime para evitar nova tragédia. No trem apaixona-se por Christina (Michelle Monaghan), confronta-se com seus chefes e aos poucos altera as regras do jogo.

Bom thriller com uma curiosa mistura de ação e ficção científica. O lance máximo do filme é a trama engenhosa, que conduz milimetricamente o personagem central a experiências de vida e morte. A cada vai e volta no tempo, sempre com o atentado como fio condutor da história, o capitão (Jake Gyllenhaal, sempre melhorando como ator) depara-se com uma nova peça do quebra-cabeça. E assim tenta fechar a arriscada missão: prender o terrorista responsável pelas bombas no trem. Como cai nas graças de uma bela mulher (a bonita Michelle Monaghan), apaixona-se perdidamente, o que coloca em risco seu futuro – que pode mudar, já que isto não estava nos planos iniciais.
É uma fita original em termos, mas não única no gênero. Quem se lembra da ação “Tempo esgotado” (1995), com Johnny Depp, e de “12:01” (1993)? Bastante movimentado, às vezes repetitivo (com o retorno ao passado a todo instante) e bem curto de duração, pode servir como passatempo inteligente. Exige do público cabeça preparada, porque a história é confusa, com mudanças na trama minuto-a-minuto, e todo instante é decisivo!
Reparem nas boas participações de Vera Farmiga (já indicada ao Oscar) e Jeffrey Wright (irreconhecível de barba, calvo e de óculos).
Segundo filme do criativo diretor inglês Duncan Jones após o ótimo cult “Lunar” (2009). Boa pedida para o fim de semana!
OBS: Não confundir com a fita de ação de mesmo nome, lançada em 2003, com Jet Li e DMX. Por Felipe Brida

Contra o tempo (Source Code). EUA/França, 2011, 93 min. Ação/ Ficção científica. Dirigido por Duncan Jones. Distribuição: Imagem Filmes

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Viva Nostalgia!

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O grande Gatsby

A ascensão e queda do extravagante magnata Jay Gatsby (Robert Redford), que nos anos 20, despertou o desejo de consumo de toda uma sociedade em Long Island, Nova York.

Adaptado do famoso romance de F. Scott Fitzgerald, “O grande Gatsby” é um conto de vida e morte sobre o sonho americano nos anos anteriores à Grande Depressão. Vencedor do Oscar de melhor figurino e o de trilha sonora em 1975, traça um fiel panorama da época, inserindo no pano de fundo das Entreguerras a figura de um jovem novaiorquino rico conhecido por promover festas glamurosas repletas de mulheres exuberantes e exageros dos mais variados. Em uma delas, um jovem que acabara de chegar da cidade do interior (Sam Waterston, que na estréia nos cinemas, aqui, recebeu indicação ao Globo de Ouro) é atraído pela imagem sedutora do poderoso magnata. Boa parte da história contada a partir daí vem do olhar desse rapaz simples – é ele quem enxerga o mundo à sua volta e ‘devolve’ ao telespectador.
Fiel à obra de Fitzgerald, reconstitui com cinismo esse ruidoso cenário da sociedade burguesa norte-americana, com foco exclusivo na inconseqüente ambição humana em plena Era do Jazz, temas supervalorizados nas obras do autor original. No drama sente-se o clima de tragédia desde a abertura, ou seja, é uma típica ‘crônica da morte anunciada’.
Francis Ford Coppola assina o roteiro, e Mia Farrow interpreta o interesse romântico do personagem principal (tanto ela quanto Redford estão bem fotografados na tela, em pleno início de carreira).
De narrativa longa e excessivamente dialogado, o filme tem como outro atrativo a suntuosa direção de arte.
O elenco ainda traz velhos conhecidos dos anos 70, como Bruce Dern e Karen Black, além da participação de Scott Wilson, Lois Chiles e Edward Herrmann.
Lançado em DVD pela Paramount Pictures nos boxes “Mia Farrow” (junto com ‘O bebê de Rosemary’) e Robert Redford (com ‘Esta mulher é proibida’). Um trabalho que deve ser conhecido. Por Felipe Brida

O grande Gatsby (The Great Gatsby). EUA, 1974, 144 min. Drama. Dirigido por Jack Clayton. Distribuição: Paramount Pictures

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Viva Nostalgia!

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Barbarella

No futuro, em 40.000 d.C., a astronauta Barbarella (Jane Fonda) viaja pelo espaço em sua nave quando recebe um sinal de alerta para aterrissar em um planeta desconhecido. Sozinha em Lynthon, enfrenta robôs, monstros e bonecas assassinas. Acaba conhecendo o anjo Pygar (John Phillip Law) até que este é preso e torturado. Barbarella então terá pela frente a arriscada tarefa de salvar o anjo, agora dominado pelo temível Dr. Duran Duran (Milo O’Shea).

Foi o notório diretor Roger Vadim (1928-2000) quem criou a fantástica versão para cinema da astronauta ninfomaníaca Barbarella, um veículo de projeção para a atriz Jane Fonda, então sua esposa. Tudo não passa de uma esquisita e irregular fita de ficção futurista/surrealista, baseada nas histórias em quadrinho de Jean-Claude Forest, que lançou a personagem pela primeira vez em gibi em 1962. Tem como gênero-base a ficção científica, porém mistura um pouco de tudo: aventura, comédia, romance e horror (por exemplo, a sequência do ataque das bonecas e a dos pássaros, alusão ao icônico ‘Os pássaros’, de Hitchcock, lançado cinco anos antes).
Carregado de cores atordoantes, o filme tem visual e figurino Kitsch, soando brega e de baixo orçamento pela duvidosa direção de arte e os amplos cenários recriados por Dino de Laurentiis (o mestre das aventuras espaciais e de guerreiros).
Torna-se curioso para as novas gerações e nostálgico para a geração que viveu o fim dos anos 60. Vale lembrar que “Barbarella” ficou conhecido no mundo inteiro; os traços da personagem foram imitados nas décadas posteriores, e ela não pode ser apontada como heroína, pois pena em demasia nas mãos dos vilões e não tem armas ou mesmo golpes usuais. Seu grande lance é fazer sexo, de uma maneira diferente (‘avançada’, segundo o filme): encostar as mãos nas do companheiro e, assim, entrar em transe!
Mais do que erotismo, há um certo clima homoerótico: uma das vilãs sugere ser lésbica, o anjo é afeminado etc.
Produção franco-italiana em língua inglesa, a fita conta com participações especiais, de Ugo Tognazzi (na pele de um caçador dos séculos passados) e David Hemmings (como Dildano, um revolucionário que vive escondido no subsolo), além do mímico francês Marcel Marceau, da modelo Anita Pallenberg e dos atores Claude Delphin e Serge Marquand.
Jane Fonda, nos créditos iniciais, faz um striptease flutuante. Ela virou símbolo sexual, logo se engajaria nos movimentos feministas e estava casada com o diretor Roger Vadim – ela foi a terceira das cinco esposas do cineasta, com quem ficou junto de 1965 a 1973; seu primeiro casamento foi com a atriz francesa Brigitte Bardot, sex symbol na década de 50.
O título usa como base o nome da personagem “Cinderella”, e no Brasil o filme ficou pejorativamente conhecido como “Chatarella”.
Uma curiosidade do cinema, que ainda divide a opinião do público. Por Felipe Brida

Barbarella (Idem). França/Itália, 1968, 98 min. Ficção científica. Dirigido por Roger Vadim. Distribuição: Paramount Pictures

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Cine Lançamento

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Meia noite em Paris

Em Hollywood, o aspirante a escritor Gil (Owen Wilson) dedica seu tempo para escrever um roteiro de cinema. De folga por alguns dias, viaja a Paris com a noiva Inez (Rachel McAdams) para fechar um grande negócio. Em uma noite, vagando sozinho pelas ruas da capital francesa, topa com personalidades do século XX, todas já falecidas, como o pintor surrealista Salvador Dalí, o escritor Ernest Hemingway e o músico Cole Porter. Será um sonho interminável de Gil ou o roteirista está mesmo criando laços com esses notórios conhecidos?

Exemplar comédia na linha da fantasia dirigida pelo mestre Woody Allen, em um de seus melhores trabalhos recentes, que abriu o Festival de Cannes. É de novo um bom Allen em fase de renovação, junto de “Vicky Cristina Barcelona” (2008) e “Tudo pode dar certo” (2009).
A história é um deleite para os apaixonados em História, Artes e Literatura. Acompanha dias malucos na vida de um roteirista perdido no trabalho atual (um roteiro) que, ao chegar em Paris, conhece o “fantasma” de grandes escritores, pintores e artistas. Diariamente à meia noite, ele descobre a mágica e passa por um ritual: sozinho, pega carona no cruzamento de um beco e chega a bares e pontos de encontro de boêmios. Nesses lugares vive um verdadeiro sonho, que é reencontrar uma gentarada famosa, inclusive muitos deles que eram espelhos para o roteirista, como os escritores Hemingway e Fitzgerald (o casal F. Scott e Zelda). A partir daí os conflitos internos do personagem vem à tona – crise com a noiva, atrito com os pais dela (que estão juntos com ele na viagem) e uma crise de identidade devido à situação anormal de estar dialogando com os cidadãos “do além”. Owen Wilson manda bem, com trejeitos, tiques e cara de Woody Allen – Wilson é um bom ator quando bem aproveitado.
Uma comédia romântica mágica, com a pulsante marca autoral de Allen. A Cidade Luz nunca esteve tão bem fotografada como aqui. Assistir a “Meia noite em Paris” é também fazer um tour pelo Champs-Élysées, Arco do Triunfo, Palácio de Versalhes, Louvre e Sacré Couer.
A cantora Carla Bruni faz ponta como uma guia de turismo e Adrien Brody aparece rápido (e cômico) como o Dalí alucinado por rinocerontes. Por Felipe Brida

Meia noite em Paris (Midnight in Paris). EUA/Espanha, 2011, 94 min. Comédia romântica. Dirigido por Woody Allen. Distribuição: Paris Filmes

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Resenha

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Os amantes da Ponte Neuf

Alex (Denis Lavant) é um rapaz viciado em álcool e sedativos que mora nas ruas e faz bico com performances circenses. Conhece Michèle (Juliette Binoche), uma pintora de classe média que, abandonada pelo namorado, fugira de casa para viver sozinha na marginalidade. Ela sofre de uma doença que a deixará cega em poucas semanas. Na ponte mais antiga da França, Neuf, Alex e Michèle inicia uma história de amor pouco convencional, marcado por violência e obsessão.

Fita de arte francesa que obteve repercussão no circuito independente de cinema quando do seu lançamento, em 1991, virando cult anos mais tarde. Trata-se de um exercício de estilo delirante, todo rodado na parte “suja” de Paris, em especial na Ponte Neuf, a mais antiga e famosa da capital francesa, que serve de abrigo a centenas de sem-teto. A edição rápida e o colorido dos freqüentes fogos de artifício e das luzes da parte underground da cidade viram atípicos elementos desse drama romântico sobre personagens nada convencionais: os marginalizados.
Na tela projetam-se andarilhos moradores da Neuf, que vivem em condições precariamente sub-humanas. Desse grupo de gente destaca-se duas pessoas que aos poucos viram o casal central da história: Alex, um viciado em álcool, com perturbações mentais (Denis Lavant está correto, mudo, sempre imundo, com traços fortes de bandido), e Michèle (Juliette Binoche, que mesmo como uma mendiga quase cega, sempre com tampão no olho, continua com a beleza exuberante). Esta, no passado, era da classe média, e agora, por desilusão amorosa, caiu na sarjeta. Aos poucos o relacionamento entre eles fica obsessivo e conflituoso, marcado pela violência.
“Os amantes da Ponte Neuf” é um estranho love story entre marginais, com cenas reais das indigentes nas ruas de Paris que se aproximam do documentário. Pela temática fora dos padrões, dificilmente veremos outra fita igual.
Indicado ao Bafta de filme estrangeiro e a dois Césars – atriz (Juliette) e produção, o drama foi dirigido por um cineasta independente chamado Leos Carax, pouco lembrado já que não realizou outros filmes expressivos – este sem dúvida é o seu melhor momento, com roteiro dele inclusive. Por Felipe Brida

Os amantes da Ponte Neuf (Les amants du Pont-Neuf). França, 1991, 125 min. Drama. Dirigido por Leos Carax. Distribuição: Lume Filmes

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Morre o diretor inglês Ken Russell

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O diretor, roteirista e produtor inglês Ken Russell morreu na noite de ontem aos 84 anos, após ficar internado vários dias em um hospital na Inglaterra.
Indicado ao Oscar em 1969 por "Mulheres apaixonadas", Russell fez de tudo um pouco: curtas, documentários e fitas para TV (nos anos 50 e 60, início de carreira) e longas importantes do cinema alternativo, como "Delírio de amor" (1969 - biografia de Tchaikovsky), "O namoradinho" (1971), "The devils" (1971), "Mahler" (1974 - biografia do compositor Gustav Mahler), "Tommy - O filme" (1975 - baseado na ópera-rock do The Who), "Lisztomania" (75), "Viagens alucinantes" (1980) e "Crimes de paixão" (1984). Por Felipe Brida

Cine Lançamento

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A árvore da vida

Pai, mãe e três filhos pequenos. Em torno de uma típica família norte-americana na década de 50, o cotidiano marcado por frustrações, alegria, perda da inocência, angústias, repressão e dúvidas transformará para sempre a vida de cada um deles.

Premiado com a Palma de Ouro em Cannes esse ano, “A árvore da vida” marca o retorno do cineasta bissexto Terrence Malick, que realiza aqui a obra mais autoral de sua carreira. É o quinto trabalho do diretor e roteirista em quatro décadas – antes fez “Terra de ninguém”, “Dias de paraíso”, “Além da linha vermelha” e “O Novo mundo”. Hoje, aos 68 anos, continua com as velhas manias: não se expõe em público, evita festivais de cinema, não concede entrevistas à imprensa, vive recluso.
A nova obra é a própria essência vital de Malick, uma autobiografia velada, sem créditos para tal. Um filme tácito, lento, com breves diálogos e imagens deslumbrantes captadas a partir da belíssima fotografia. Considero-o um poema visual, que explora as relações familiares, muitas delas conturbadas, e ao mesmo tempo faz um paralelo com a criação do mundo – o Big Bang, a era dos dinossauros, o surgimento da vida etc.
Por ser uma experiência cinematográfica única, diferente pela narrativa fragmentada em que troca a voz pela trilha sonora (há sequências de 15 minutos sem uma conversa sequer, apenas com músicas compostas pelo ótimo Alexandre Desplat, quatro vezes indicado ao Oscar), “A árvore da vida” volta-se para poucos, restrito a um público de filme de arte.
Repleto de referências semióticas, não é para ser entendido por completo e sim sentido. Por isso, deve-se assistir mais de uma vez.
A simbologia da árvore no quintal da família (título do filme) nutre as relações interpessoais dos filhos com o pai severo (papel de Brad Pitt, super firme na atuação) e de todos eles com a mãe atenciosa, por ora submissa (Jessica Chastain, em momento especial que poderá lhe render prêmios futuros). A história sempre intercala presente e passado, e no momento atual os poucos personagens apenas aparecem, sem contato maior com o mundo ou com pessoas (o ator Sean Penn interpreta um deles, como o filho crescido. Ele fica em cena cinco minutos, na pele de um empresário em crise, que não diz uma palavra).
Um dos filmes do momento, discutido em todos os cantos do mundo, para público adulto e preparado. Não deixe de conferir e, se possível, rever. Por Felipe Brida

A árvore da vida (The tree of life). EUA, 2011, 139 min. Drama. Dirigido por Terrence Malick. Distribuição: Imagem Filmes

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Viva Nostalgia!

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Desejo

Nova Inglaterra, 1840. O rico proprietário de terras Ephriam Cabot (Burl Ives) vive com os filhos em uma fazenda isolada do mundo. O mais rebelde deles, Eben (Anthony Perkins) mantém pouco diálogo com o pai, considerado homem muito rígido e agressivo. Certa tarde, após chegar de viagem, Ephriam apresenta à família sua nova esposa, Anna (Sophia Loren), mulher bem mais jovem. Eben apaixona-se perdidamente pela moça, e ambos iniciam um relacionamento secreto, o que poderá colocar a vida dos dois em risco.

Indicado ao Oscar de melhor fotografia e à Palma de Ouro em Cannes em 1959, “Desejo” sai na coleção Clássicos pela Paramount, que encontrou um raro achado; o filme ficou pouco conhecido no Brasil e mal foi exibido nos cinemas de outros países. Portanto, agora uma oportunidade exclusiva para o público conhecer esse melodrama baseado na obra do dramaturgo anarquista Eugene O’Neill, duas vezes vencedor do Pulitzer e uma do Nobel (em 1936).
A história segue a disputa entre pai e filho por uma mesma mulher. O primeiro, interpretado pelo grande ator Burl Ives (envelhecido, com peruca e barba branca), tem uma invejável fazenda onde mora com os filhos homens; rude, durão e por vezes violento, Ephriam traz para casa uma mulher no mínimo 30 anos mais nova que ele (Sophia Loren, em seu primeiro papel nos Estados Unidos). Belíssima, a jovem desperta uma paixão alucinada em um dos rapazes da casa, filho do fazendeiro (Perkins, bem novo, dois anos antes de ficar notório como o psicopata Norman Bates em “Psicose”). A partir daí, os dois se envolvem em um romance às escuras, distante dos olhos do pai, que não desconfia de nada. É óbvio que ao longo da história haverá reviravoltas dramáticas, segredos revelados, brigas e afins.
Com produção modesta, rodado em preto-e-branco, o filme se desenrola em poucos cenários (no interior da fazenda e na casa da família, principalmente), condensando ainda mais o clima de indecisão do casal que comete a traição.
Bom texto, com típica tragédia americana no desfecho, “Desejo” foi dirigido por Delbert Mann, premiado com o Oscar de melhor diretor por Marty (1955) e ainda responsável pelos clássicos “Vidas separadas” (1958) e “Carícias de luxo” (1962). Por Felipe Brida

Desejo (Desire under the Elms). EUA, 1958, 111 min. Drama. Dirigido por Delbert Mann. Distribuição: Paramount Pictures

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Cine Lançamento

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A grande virada

O executivo Bobby Walker (Ben Affleck) tem a vida feita: usufrui de um notável emprego, mora em uma casa formidável e tem por perto uma família que o ama. Do dia para a noite, devido à política de redução de funcionários da empresa, é demitido sem mais nem menos. Assim como Bobby, os colegas de trabalho Phil Woodward (Chris Cooper) e Gene McClary (Tommy Lee Jones) enfrentam a mesma situação. Agora desempregados, os três, todos pais de família, terão a dura tarefa de realinhar suas vidas.

Com a crise sem precedentes que mergulhou os EUA num lamaçal há dois anos, uma série de cineastas tratou o tema com eloqüência. Muitos deles levantaram uma velha questão discutida por cientistas sociais, sobre a instabilidade econômica que um dia implodiria a maior nação do mundo. Um destes bons trabalhos é “A grande virada” (que, apesar do sofrível título em português, dá a dimensão exata do que os personagens se propõem a fazer). O drama, sem ser piegas ou amargo, expõe as mazelas desse triste problema que afetou todas as faces do planeta. Explora com formas minimalistas a vida de três homens de negócio, que tinham tudo na vida, e de repente, após uma downsizing (redução de pessoal), vêem-se perdidos, quase à beira da loucura. Um adota falsas aparências, fingindo para os vizinhos que continua no bom emprego, pois sai de casa bem arrumado e de maleta, com destino a lugar nenhum; o outro, não abre o jogo para a família e usa as economias como se fosse o salário do mês. E o último dos três, sem saída, entra em crise emocional. Até que resolvem dar a tal guinada ao organizarem uma espécie de cooperativa ligada à carpintaria, ou seja, viram donos do próprio negócio, braçal e que exige esforço físico para serrar madeira, levantar troncos de árvore etc.
Três histórias de vidas de cidadãos que deram, anos a fio, a alma pela empresa onde trabalhavam e agora precisam usar todas as armas para se manterem vivos depois de serem engolidos (e regurgitados) pelo capitalismo selvagem.
Um roteiro preciso e bem sério, auxiliado pelo elenco masculino em perfeita simbiose, dentre eles Ben Affleck, Tommy Lee Jones, Chris Cooper e ainda Kevin Costner (com aparição modesta, porém marcante).
O ambíguo título original, “The company men”, alude tanto à companhia de trabalho criada pelos ex-colegas como ao antigo emprego na megacorporação.
É o primeiro trabalho do cineasta John Wells, mais conhecido por ser produtor de dois seriados de sucesso, “Plantão médico” e “The west wing”. Não deixe de conferir. Por Felipe Brida

A grande virada (The company men). EUA/Inglaterra, 2010, 104 min. Drama. Dirigido por John Wells. Distribuição: California Filmes

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Cine Lançamento

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Poucas cinzas – Salvador Dalí

Madrid, 1922. Três jovens intelectuais, questionadores e de espírito libertário, criam fortes laços de amizade. São eles Salvador Dalí (Robert Pattinson), Federico García Lorca (Javier Beltrán) e Luís Buñuel (Matthew McNulty), que marcariam seus nomes para sempre como ícones da Literatura, das artes plásticas e do cinema, respectivamente.

Inédito em diversos países, chega diretamente em home video no Brasil uma curiosa fita de arte européia, independente, de investimento injetado por pequenas emissoras de TV, sobre a juventude do pintor surrealista Salvador Dalí e sua relação amorosa com o dramaturgo García Lorca, fato então ocultado pelo artista plástico por dezenas de décadas. Produzido em 2008 na Inglaterra e na Espanha, “Poucas cinzas” (nome de uma das primeiras obras de Dalí, que aparece no início do filme) reconstitui a vida íntima do artista espanhol de traços bizarros (o próprio aspecto físico dele vinha com embrulho excêntrico: olhos arregalados, magérrimo, branco igual cera e com o famoso bigode fino formando um caracol nas pontas). Traz à tona seus primeiros contatos com a arte (influenciado pelo Cubismo), os laços com intelectuais da época, as bebedeiras infernais com o amigo Lorca e a aproximação com o jovem cineasta Luís Buñuel. Com o Manifesto Surrealista em 1924, formalizou parceria com Buñuel no cinema – são deles os curtas “O cão andaluz” (título em homenagem a Lorca) e “A idade do Ouro”, pioneiros pelos recursos de vanguarda tanto no tratamento do roteiro quanto na técnica de cortes – a cena do olho cortado com uma navalha ficou célebre, sequência inicial de “Andaluz”.
“Poucas cinzas”, analogia dos restos que sobram dos artistas, margeia mais a estreita relação entre Dalí e Lorca, sem se aprofundar na trajetória do pintor. O pano de fundo remete a um período de intensa transformação cultura, política e social, em que a Psicanálise revirava a sociedade e as correntes de vanguarda européia disseminavam novos ares; sem contar a Guerra Civil Espanhola que exprimia os primeiros sinais de violência nos anos 20, culminando com atrocidades e assassinatos a mando do general Francisco Franco – Lorca foi um dos fuzilados, em 1936, aos 37 anos de idade.
O drama saiu um ano antes de Robert Pattinson se tornar queridinho das meninas com a saga “Crepúsculo” (o que não deu a ele muitos rumos fora da cinessérie, talvez pela horrenda composição vampiresca sem textura, sem sabor, passível de tudo). Mas como Dalí o ator não compromete, numa interpretação digna e por vezes humana – outro do elenco que está bem é o ator espanhol Javier Beltrán, na pele de Lorca (cujo rosto é bem semelhante ao do dramaturgo).
Uma boa biografia, que deve ser descoberta, em especial para quem curte artes, dirigida por um prestigiado cineasta londrino, que veio da TV e teve um de seus poucos longas indicado ao Oscar de filme estrangeiro - “Solomon e Gaenor” (1999). Por Felipe Brida

Poucas cinzas – Salvador Dalí (Little ashes). Inglaterra/Espanha, 2008, 112 min. Drama. Dirigido por Paul Morrison. Distribuição: Warner Bros.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Viva Nostalgia!

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Começou em Nápoles

O advogado norte-americano Michael Hamilton (Clark Gable) viaja à Nápoles para buscar a única herança deixada pelo seu falecido irmão: o sobrinho, um garoto arteiro e muito sociável. De passagem pela cidade italiana, conhece Lucia Curcio (Sophia Loren), a tia adotiva do menino, que não concorda em deixar o advogado levá-lo embora para a América. Surge então um inesperado envolvimento amoroso entre Michael e Lucia, mudando para sempre os planos daqueles dois.

Nostálgica comédia romântica lançada agora em DVD na coleção ‘Clássicos’ pela Paramount Pictures. No Brasil obteve pouca repercussão esse filme de 1960, que reúne dois notáveis nomes do cinema interpretando o par central, que se vê numa enrascada amorosa na cidade de Nápoles – o antigo galã com cara de cowboy Clark Gable e a belíssima musa italiana Sophia Loren.
Foi o penúltimo trabalho de Gable, que meses depois faria “Os desajustados”, com Marylin Monroe e Montgomery Clift (o ator morreu no ano seguinte aos 59 anos, de problemas coronários). Ele interpreta um advogado de idade em viagem a Nápoles para buscar o sobrinho pequeno, filho do irmão que acabara de morrer. Seriam poucos dias fora, porém os planos se alteram quando se apaixona pela tia “postiça” da criança. Sophia, sempre divertida, cai nas graças daquele homem, e ambos iniciam um romance. Aqui a atriz canta, dança, esbanja o típico charme de suas famosas curvas italianas.
Como resultado, uma fita simpática, leve, toda gravada em locações típicas de Nápoles, seus pontos turísticos, ruas e bares elegantes. O famigerado diretor Vittorio de Sica, ator esporádico, participa como coadjuvante, na pele do advogado que acompanha o personagem de Gable.
Indicado ao Oscar de direção de arte e aos Globos de Ouro de atriz (Sophia) e filme de comédia, “Começou em Nápoles” foi dirigido por Melville Shavelson, o mesmo de “Tentação morena” (com Sophia também), “Os seus, os meus e os nossos” e “A lágrima que faltou”. Por Felipe Brida

Começou em Nápoles (It started in Naples). EUA, 1960, 100 min. Comédia romântica. Dirigido por Melville Shavelson. Distribuição: Paramount Pictures

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Viva Nostalgia!

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O intendente Sansho

No Japão feudal, com o exílio do marido, um governador influente, a esposa e os filhos acabam separados por um grupo a mando do chefe de estado. Os três partem para uma exaustiva jornada ao interior de uma selva. No caminho mercadores de escravos seqüestram as crianças e as vendem. A esposa vai arrastada para uma prisão na floresta, e os filhos são submetidos ao trabalho forçado, crescendo em um ambiente de opressão. Dez anos depois, já crescidos, os garotos recebem a notícia de que uma mulher solitária vive em uma ilha clamando pela volta das suas duas crianças perdidas. Eles entendem o recado e fogem do local em busca da suposta mãe.

A distribuidora maranhense Lume Filmes descobriu esse notório drama amargo sobre opressão e separação familiar, super desconhecido no Brasil – e no restante do Ocidente. Dirigido por um dos mestres do cinema japonês, o falecido Kenji Mizoguchi (morreu de leucemia em 1956 aos 58 anos), que foi contemporâneo de Akira Kurosawa e Yasujiro Ozu, “O intendente Sansho” venceu o Leão de Prata em Cannes e ainda recebeu indicação ao Leão de Ouro, na edição de 1954.
A trágica história de duas crianças raptadas da mãe por mercadores de escravos ganha poesia e amargo lirismo nesse conto moralista baseado em um romance perdido de Ogai Mori, que por sua vez recorreu a ensinamentos do sábio chinês Confúcio. O diretor explora com perfeição o sistema medieval do Japão com foco na escravidão, tanto infantil quanto adulta, com aliados mágicos: a belíssima fotografia PB, as locações em selvas e praias do país, o exato figurino da época.
Na segunda metade do filme, com os filhos crescidos em meio à escravidão, o entristecido canto da mãe, efeito alegórico ao canto das sereias, transforma o enredo e revela minuto a minuto futuras surpresas. O próprio roteirista Yoshikata Yoda declarava que a obra era pessimista e amarga, e que Mizoguchi tinha dificuldades em rodar determinadas cenas, por serem tristes, como a do afogamento como sacrifício e o curioso retorno à casa de praia, no desfecho. Ambas uma aula de cinema, sequências das mais belas já produzidas pelo cinema.
No Brasil a carreira de Mizoguchi passou despercebida. É dele os conhecidos “Utamaro e suas cinco esposas” (1946) e “Contos da Lua Vaga” (1953), além de outras 90 produções em que explora o folclore japonês, dramas familiares existencialistas, opressão, sofrimento e abuso de poder. Obrigatório para fãs. Por Felipe Brida

O intendente Sansho (Sanshô dayû/ Sansho the bailiff). Japão, 1954, 123 min. Drama. Dirigido por Kenji Mizoguchi. Distribuição: Lume Filmes

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Cine Lançamento

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Um novo despertar

Casado e pai de dois filhos, o executivo Walter Black (Mel Gibson) tem um emprego estável e salário digno. Com o passar dos dias, Meredith (Jodie Foster), a esposa, suspeita dos estranhos comportamentos do marido, que tem oscilações de humor demonstrando clara tendência ao suicídio. Até que Black encontra, por acaso, abandonado no lixo do vizinho, o fantoche de um castor, boneco de pelúcia que promete ser a grande salvação de sua vida.

Chega nas locadoras um bom filme independente dirigido pela ótima atriz Jodie Foster, que assinou apenas dois trabalhos como cineasta, “Mentes que brilham” (1991) e “Feriados em família” (1995). Jodie e Mel Gibson estrelam essa história com tom bizarro, sobre um pai de família descontente que adota um castor de pelúcia (Beaver, em inglês, como no título) como guia espiritual. O boneco na verdade é um fantoche de mão, que se torna o fiel conselheiro (e de pulso firme) desse cidadão que precisa urgentemente organizar a vida pessoal, consertar falhas, antes que cometa suicídio, já tentado antes. O animal inanimado cria vida quando passa a ser manipulado pelo executivo em todos os lugares que vai e, assim, vira da noite para o dia o alter-ego desse sujeito descontente. Black dorme com o animal, faz sexo na presença dele, almoçam e tomam banhos juntos. A família o considera louco, os amigos o rejeitam, e cada vez mais ele fica desamparado, na tentativa de entender os reais motivos da angústia que sofre. E aos poucos o mundo dá sinal de querer dar voltas.
A fita explora esse atenuante quê de existencialismo do personagem central, vivido pelo premiado ator e diretor Mel Gibson. Os comentários do castor são extensões do pensamento daquele homem, formulados por este. Em um trecho o executivo faz o resumo da ópera quando descreve que está sob cuidados do boneco para criar uma distância psicológica entre si mesmo e aspectos negativos da sua personalidade. E assim poder mudar o necessário.
Infelizmente fracassou nas bilheterias americanas e mal ficou conhecido no Brasil. A razão: na época do lançamento Gibson envolveu-se em confusões familiares, agrediu a ex-mulher e ameaçou os filhos. O fato caiu na mídia, que divulgou amplamente o caso desse popular ator. Os norte-americanos, em represália, rejeitaram as atitudes desequilibradas do quase veterano Gibson. Mas isto tudo serve apenas como curiosidade para explicar o irreversível naufrágio do filme nas salas de cinema (custou U$ 21 milhões e rendeu 20 vezes menos!).
Se analisarmos, esse trabalho autoral de Jodie reflete a vida de Gibson, que, incrivelmente, está em um momento particular, num de seus melhores papéis dramáticos recentes.
Exibido em Cannes, foi todo rodado no Bronx, em NY, e traz ainda no elenco a competente Jodie (na pele da esposa em dúvida com o casamento) e o jovem ator Anton Yelchin (o filho mais velho). Uma interessante obra autoral que deve ser descoberta. Por Felipe Brida

Um novo despertar (The beaver). EUA/Emirados Árabes, 2011, 91 min. Drama. Dirigido por Jodie Foster. Distribuição: Paris Filmes

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Viva Nostalgia!

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Warriors – Os selvagens da noite

Durante uma grande convenção nas ruas de Nova York, a gangue dos Warriors é acusada injustamente de assassinar a tiros um líder negro que pretendia unificar as diferentes tribos urbanas de Coney Island. Os integrantes, ameaçados de morte, fogem e passam a ser caçados em todos os cantos da cidade. A ardilosa escapada será repleta de confusão e violência, ainda mais quando o cabeça dos Warriors, Swan (Michael Beck), apaixona-se por uma garota pertencente a uma das perigosas gangues rivais.

Apesar do fracasso nos cinemas em 1979, virou cult essa fita de ação sobre gangues de ruas lançada em pleno auge da agressividade estilística do Movimento Punk, com seus adeptos que perambulavam em turma pela noite, vestiam roupas escuras, subvertiam a moda e a cultura, formando as tribos urbanas que compartilhavam mesma ideologia.
O cineasta Walter Hill, em início de carreira, preferiu um tom mais ágil, pesado e, claro, violento para formar o panorama de um grupo de jovens nova-iorquinos acusados de um crime não-cometido (mostrado no início do filme) durante uma unificação pacífica de diversas gangues, como punks, skinheads etc. Eles integram o pequeno Warriors e, para se safarem, partem para uma fuga alucinada, pois são perseguidos a torto e a direita. Cortam metrôs, enfrentam policiais, caem em armadilhas de grupos opostos, alguns morrem no meio do caminho.
Um bom retrato sobre a delinqüência juvenil sustentada pela cultura underground. Todo gravado em Nova York, reúne cenas memoráveis feitas nas locações em Coney Island, no Brooklin, como os confrontos físicos no Luna Park, o famoso parque de diversão nos calçadões. Há uma analogia, na introdução, ao assassinato de Martin Luther King, ocorrido dez anos antes do filme – o discurso do personagem que morre tem fundamentos bem semelhantes ao do notório líder negro. Apenas o final cai no previsível e é bastante moral – para que se chegasse à justiça incutiram a violência como punição.
Quase todo o elenco de “Warriors” não teve carreira promissora. O protagonista, interpretado por Michael Beck, fez apenas filmes menores (indicado inclusive a dois Framboesas de Ouro, por “Xanadu” e “O esquadrão do terror”, nos anos 80) e James Remar foi aproveitado em fitas policiais como ponta e coadjuvante (atualmente mais lembrado por fazer as últimas temporadas da série “Dexter”). Cinco anos depois Walter Hill dirigiria outra fita sobre gangues de rua, inferior, em ritmo de videoclipe e tom musical, “Ruas de fogo”, exibida na TV com grande sucesso.
Relançado em DVD na coleção Clássicos da Paramount. Por Felipe Brida

Warriors – Os selvagens da noite (The Warriors). EUA, 1979, 92 min. Ação. Dirigido por Walter Hill. Distribuição: Paramount Pictures

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Cine Lançamento

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Dúvida

Em 1964, em uma escola católica do Bronx, a conservadora freira Aloysius Beauvier (Meryl Streep) passa a desconfiar das atitudes do recém-chegado padre Brendan Flynn (Phillip Seymour Hoffman), professor carismático e atencioso com os alunos. Por meio de fofocas, ela acredita piamente que o pároco esteja abusando de um estudante negro de 12 anos dentro do colégio. Com o auxílio da Irmã James (Amy Adams), Aloysius irá investigar por conta própria a situação.

Baseado na aclamada peça de John Patrick Shanley vencedora do Pullitzer, escrita em 2004, esta “ganhou” a crítica, que a apontou como um dos melhores textos dramatúrgicos da década passada. Quatro anos mais tarde, o próprio Shanley adaptou seu trabalho literário como roteiro para cinema e resolveu dirigir com todos os pormenores, recorrendo à Disney para produzir o filme e lançá-lo nos cinemas. É a melhor obra do cineasta, que só havia dirigido o fraco “Joe contra o vulcão” (1990) e havia se dado melhor como roteirista – é dele o drama “Vivos” (1990) e a premiada comédia “Feitiço da lua” (1987).
“Dúvida” é, para mim, uma fita marcante, digna dos créditos iniciais ao letreiro do desfecho, de roteiro consistente, que denuncia e critica sem pudor o sistema conservador da igreja (não a religião católica, e sim a instituição nos Estados Unidos, que é arcaica).
Com texto forte, o drama mexe com polêmicas atuais (a pedofilia cometida por padres) apontando a espada para o sistema tradicional de ensino em escolas religiosas. E o grande lance está no duro embate entre a freira (Meryl Streep, sempre de preto, num papel estonteante, que caminha entre o lado bom e maldoso do ser humano) e o padre acusado de abusar de um menino (Hoffman, igualmente genuíno e sincero). As discussões acaloradas de ambos, com certeza, são o ponto alto desse ótimo filme, indicado a cinco Oscar – melhor atriz (Streep), ator coadjuvante (Hoffman), atrizes coadjuvantes (Amy Adams, sempre perfeita, e Viola Davis) e roteiro adaptado. Concorreu ainda a Globos de Ouro e diversos Bafta. Vale destacar que Viola aparece poucos minutos como a mãe do garoto supostamente abusado, num show de interpretação (em que solta revelações aterrorizadoras).
Os conflitos todos surgem por causa de um boato, e justamente o filme discorre sobre o poder da fofoca em destruir a reputação de pessoas (tem até uma ótima analogia da maledicência, dita pelo padre, com penas soltas ao vento).
Uma obra cinematográfica obrigatória, com final instigante e ambíguo, cheio de referências e baseado em histórias reais vividas pelo autor quando estudou em escola do Bronx mantida pelas Irmãs de Caridade de Saint Anthony. Por Felipe Brida

Dúvida (Doubt). EUA, 2008, 104 min. Drama. Dirigido por John Patrick Shanley. Distribuição: Walt Disney

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Cine Lançamento

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Arthur – O milionário irresistível

O milionário Arthur Bach (Russell Brand) usa e abusa de sua fortuna ilimitada, como um bon vivant. Na mansão onde vive, tem como fiel companheira a babá de longa data, Sra. Hobson (Helen Mirren), que o mantém longe de problemas. Já com mais de 30 anos, Arthur precisa enfrentar com responsabilidade um enorme desafio: casar-se. Para isso terá de escolher entre a ambiciosa executiva Susan (Jennifer Garner), cuja proposta de casamento é arranjada, e o grande amor de sua vida, Naomi (Greta Gerwig), sendo que o futuro com esta é incerto.

Descartável refilmagem da comédia “Arthur – O milionário sedutor” (1981), que fez muito sucesso no Brasil. O original não é assim tão velho, que exija remake, até mesmo porque era bom, com elenco em forma (o falecido Dudley Moore foi indicado ao Oscar de ator e Liza Minnelli interpretava a paixão de sua vida) e trazia a famosa canção-tema do personagem, “Best that you can do”, escrita por Burt Bacharach e cantada por Cristopher Cross, ganhadora do prêmio da Academia. Inclusive inseriram aqui, em tom incidental, trechos da música.
Nessa reinvenção de Arthur, os produtores erraram ao mudar o perfil de Arthur. Ele não é mais beberrão, não faz as típicas piadinhas de mau gosto nem cria situações embaraçosas. Agora ele é mais jovem, com jeito de criança mimada. O ator, Russell Brand, não ajuda em nada com a falta de carisma e excesso de caretas. Outra mudança está na substituição do mordomo conselheiro do original, que era interpretado por Sir John Gielgud, um dos grandes atores do cinema, de origem inglesa, que ganhou um merecido Oscar pelo papel em 1982, aos 78 anos! Botaram agora uma babá que sempre cuidou de Arthur, desde pequeno, para ser a escudeira dele – Helen Mirren está desperdiçada, nem um pouco à vontade na pele dessa governanta moderna.
A história sobre um milionário que tem tudo, menos amor, de um homem sozinho dividido entre duas mulheres super distintas, não convence principalmente pelo ator principal ser insosso e a direção pecar por não recorrer ao tom de romance, e ficar numa farsa contemporânea mal desenvolvida. Quem dirige esse fraco filme, que obteve baixa bilheteria nos cinemas, é Jason Winer, que tem no currículo apenas algumas séries de TV.
A comédia original, além de levar o Oscar de ator coadjuvante e o de canção, recebeu duas outras indicações – a de melhor ator, já mencionado, e roteiro original. Sete anos mais tarde fizeram a continuação inferior “Arthur – O milionário arruinado”, que por pouco não garantiu inúmeras Framboesas de Ouro que concorria.
Um equívoco. Procure o original, disponível em DVD pela Warner. Por Felipe Brida

Arthur – O milionário irresistível (Arthur). EUA, 2011, 110 min. Comédia. Dirigido por Jason Winer. Distribuição: Warner Bros.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Viva Nostalgia!

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Ensina-me a viver

Jovem rico e fissurado pela morte, Harold (Bud Cort) muda completamente de vida quando inicia uma terna amizade com a setuagenária Maude (Ruth Gordon), uma senhora de espírito livre e radical.

Um exemplar Cult movie moderno com roteiro escrito pelo brilhante Colin Higgins, publicado como novela no final dos anos 60. O filme ficou notório também no Brasil, onde se transformou em peça teatral com Glória Menezes no papel de Maude, encenada diversas ocasiões em São Paulo e no Rio.
Esse digno trabalho talvez não teria obtido sucesso se não fosse pela trilha tocante de Cat Stevens, inteiramente composta por ele – na abertura ouve-se “Don’t be shy” e ao longo do filme a alegre “If you want to sing out, sing out”. Stevens, só para constar, converteu-se ao Islã em 1977 e mudou o nome para Yusuf Islam no ano seguinte, atuando hoje como músico em Dubai e Londres.
Se analisarmos bem a essência dessa comédia de humor negro, ela soa excêntrica, por vezes bizarra ao propor um romance improvável entre um menino suicida e uma idosa que leva uma vida como se tivesse cinqüenta anos a menos. Tudo é sugerido, não existe namoro nem relações mais intimas. É mais uma necessidade de companhia que o garoto entende como o primeiro amor.
A veterana Ruth Gordon, ganhadora do Oscar de coadjuvante pelo papel da sinistra bruxa em “O bebê de Rosemary” em 1969, interpreta a elétrica vovozinha idealizada, que dirige em alta velocidade e supostamente sobreviveu ao Holocausto (pelas inscrições que tem no corpo). Foi indicada ao Globo de Ouro juntamente com o rapaz Bud Cort, respectivamente com 75 e 23 anos de idade. E Bud, que começou no cinema jovem, atualmente trabalha em TV, em seriados. É ela quem cria a marcante figura do garoto rico que passa o dia trancafiado em casa planejando suicídios. Frequenta funerais de estranhos e é forçado a ir ao psiquiatra após “morrer” oito vezes (enforcado, degolado, com tiro e até recorrendo à técnica samurai de Seppuku).
Um bonito trabalho sobre existencialismo, amizade de mundos diferentes e mudança de comportamento, realizado pelo falecido mestre do cinema Hal Ashby, o mesmo dos premiados filmes do Oscar “Muito além do jardim”, “Amargo regresso”, “Shampoo” e “Esta terra é minha”.
Lançado agora pela primeira vez em dvd no Brasil, pela Paramount, com extras. Não perca! Por Felipe Brida

Ensina-me a viver (Harold and Maude). EUA, 1971, 91 min. Comédia romântica. Dirigido por Hal Ashby. Distribuição: Paramount Pictures

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Resenha

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Gran Torino

Veterano da Guerra da Coréia, Walt Kowalski (Clint Eastwood) é um homem preconceituoso e bastante arrogante. Após a morte da esposa, passa a viver sozinho em um bairro de imigrantes hmong (grupo étnico de Laos e Cambodja), os quais ele despreza. Porém seu dia-a-dia muda radicalmente quando impede a temível gangue local de roubar seu precioso carro, um Gran Torino.

“Gran Torino” obteve muita popularidade dentro e fora dos Estados Unidos, dirigido e interpretado por um dos monstros sagrados do cinema, Clint Eastwood, que retoma o perfil do personagem durão que o consagrou na cinessérie Dirty Harry nos anos 70 – a de um homem antipático por natureza, brigão, duro na queda. Na pele de Kowalski, um senhor de poucas palavras, este vira o herói do bairro onde mora já que, num ato rápido, consegue pôr em cheque a ação de uma gangue hmong que perturba o sossego do lugar, tomando conta das ruas da cidade. É o ponto de partida de uma história dramática (a vida do personagem viúvo e sem amigos) que tem clima de ação (o mesmo personagem furioso, armado, que protege o lar e aos poucos se prepara para uma guerra na vizinhança).
É um bom Eastwood em fase de renovação. Tem um roteiro frio, sem sutilezas, que trata o tema do preconceito racial sem cair em absurdos de patriotismo.
O filme fez notável carreira – custou U$ 33 milhões e arrecadou quase cinco vezes mais nos cinemas em dezembro de 2008, recebeu indicação ao Globo de Ouro de melhor canção original (“Gran Torino”, cantada por Clint nos créditos finais) e, vai entender a injustiça, não entrou para os finalistas do Oscar. Ainda participou de festivais independentes e europeus, como o César e o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.
Por ser um projeto pessoal do velho Clint, com marca autoral nítida, merece ser prestigiado. Por Felipe Brida

Gran Torino (Idem). EUA/Alemanha, 2008, 116 min. Drama. Dirigido por Clint Eastwood. Distribuição: Warner Bros.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Cine Lançamento

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Hanna

Hanna (Saoirse Ronan) é uma garota de 16 anos treinada pelo pai, Erik (Eric Bana), para ser uma assassina profissional. A jovem vive com ele em uma gélida floresta da Finlândia. Certo dia os dois passam a ser alvo de uma organização governamental e têm de fugir para não serem mortos. Pai e filha tomam caminhos opostos. Hanna, por sua vez, refugia-se na Alemanha, mas logo é descoberta e fica sob a mira desse grupo, liderado pela agente especial Marissa (Cate Blanchett). Diante da morte que se aproxima, a garota usará as artimanhas de luta para sobreviver em meio a uma caçada sem trégua.

Quem me conhece sabe o quanto sou fã do diretor Joe Wright – do comovente “Desejo e reparação”, do poético “O solista” e do mediano filme de época “Orgulho e preconceito”. Seu novo trabalho, “Hanna”, um autêntico exercício de estilo, confirma a importância desse cineasta para o mundo da sétima arte. “Hanna” é incrível, com notável qualidade técnica, acabamento e elenco. Uma fita que custou quase U$ 30 milhões e rendeu U$ 57 milhões, ou seja, bilheteria razoável. Aqui no Brasil, por exemplo, assim como em muitos países, mal passou nos cinemas e ficou desconhecido do público. Agora em DVD fica fácil conferir o novo Joe Wright.
Primeiramente o filme é de ação, com edição frenética e trilha sonora furiosa. Cortes rápidos, som fumegante, tudo ágil para incorporar o espírito da personagem-título, a garota treinada para matar. Hanna passa o tempo todo correndo (Corra, Hanna, Corra!), perseguida por agentes especiais que querem sua cabeça a todo custo.
A cena de abertura mostra a jovem sozinha em uma paisagem gélida e inóspita, na Finlânida, caçando um animal com flecha (uma das armas que utiliza ao longo do filme). A seqüência, muito bem feita, deixa vestígios do instinto matador da menina, ensinada pelo pai a se defender com verdadeiras estratégias de movimentos de mãos. Separada do seu mestre à força, cada um foge para um canto, e ela passa a ser perseguida por uma organização governamental liderada por uma agente inescrupulosa (a vilã da história, feita com maestria pela sempre notória Cate Blanchett). E aos poucos o público monta as peças do quebra-cabeça em torno da caçada, os motivos etc
Os enquadramentos da fita carregam curiosa fluência, o roteiro intriga, a fotografia fascina (como a do início e a do desfecho). Uma beleza visual em muitos aspectos que requer atenção especial. Prepare-se: o filme nos deixa atônitos, e até agora é um dos melhores do ano.
O diretor Wright volta a trabalhar com empolgação sistemática com a atriz que havia revelado em “Desejo e reparação” – na época mirim, com 13 anos, Saoirse Ronan recebeu indicação ao Oscar de coadjuvante (interpretação espetacular como a garota que causa uma intriga violenta na vida do namorado da irmã, acusando-o de um crime que não cometera). Hoje ela está com 17 anos, sendo uma das melhores atrizes do momento. Por Felipe Brida

Hanna (Idem). EUA/Inglaterra/Alemanha, 2011, 111 min. Ação. Dirigido por Joe Wright. Distribuição: Sony Pictures

domingo, 30 de outubro de 2011

Resenha

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Antes só do que mal acompanhado

Às pressas, o publicitário Neal Page (Steve Martin) decide regressar de avião de Nova York para Chicago para comemorar o Dia de Ação de Graças com a família. No aeroporto, o vôo atrasa, e sua passagem de primeira classe é transferida por engano para a econômica. Acaba conhecendo Del Griffith (John Candy), um inconveniente vendedor de alças para cortinas de chuveiro. Outros incidentes ocorrem, e a improvável dupla terá de se aturar. Juntos, Page e Griffith viverão um verdadeiro inferno em uma jornada repleta de atrapalhadas e confusões.

Uma das minhas comédias preferidas dos anos 80, dirigida por um especialista no assunto, John Hughes (falecido precocemente de infarto em 2009). No elenco Steve Martin e John Candy criam uma dupla memorável do cinema. Martin vive o publicitário à beira de explodir, perdido no aeroporto em busca do último vôo que o levará para a cidade natal, onde pretende se reunir com a família no feriado de Thanksgiving. Encarna um sujeito patético, sempre de terno cinza e mala na mão. Logo topa com um gordão abobalhado e intruso, de alma vazia e super solitário, interpretado por John Candy (infelizmente morreu cedo, de infarto, em 1993, no auge da carreira). Com uma série de incidentes em vista, “o mundo conspira” para que os dois cidadãos fiquem unidos como unha e carne. E como os temperamentos se contrapõem, haverá muita briga, confusão e xingos entre a dupla.
Há sequências divertidas, com Candy e Martin em seus momentos mais notórios. E também passagens tristes, quando os personagens compartilham experiências de vida; assim um aprende com o outro bonitas lições de tolerância, convivência e aproximação.
Relançado em nova edição em DVD pela Paramount – o filme estava fora de estoque no mercado desde 2006. Famosa comédia com aura alto astral que faz rir e chega a emocionar. Por Felipe Brida

Antes só do que mal acompanhado (Planes, trains & automobiles). EUA, 1987, 93 min. Comédia. Dirigido por John Hughes. Distribuição: Paramount Pictures

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Viva Nostalgia!

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Um lugar ao sol

George Eastman (Montgomery Clift) é um jovem ambicioso que vai para a cidade grande para trabalhar na fábrica do tio rico. Fora da empresa, inicia um relacionamento passageiro com Alice Tripp (Shelley Winters), colega de trabalho, de origem simples. Quando descobre que a garota está grávida, Eastman afasta-se dela e logo começa um namoro com Ângela (Elizabeth Taylor), uma menina rica. Quando Alice passa a ameaçá-lo para reatarem o relacionamento, o jovem bola um desmedido plano de assassinato.

Obra-prima máxima de George Stevens, vencedor de seis prêmios da Academia, merecidos – melhor diretor, roteiro, trilha sonora (do famoso Franz Waxman), figurino, edição e fotografia; ainda recebeu indicações ao Oscar de ator (Clift), atriz (Shelley Winters) e filme, além do cineasta Stevens ter concorrido ao Grande Prêmio de Cannes e ao Globo de Ouro.
O drama divide-se em duas partes: no início, a saga de um rapaz humilde (o galã Clift, que morreu prematuro), ambicioso pelo poder, que chega à cidade grande em busca de um lugar ao sol. Enamora-se com uma garota pobre (Shelley Winters, em papel correto, de moça rejeitada, sofredora), funcionária da fábrica onde ambos trabalham. Ao mesmo tempo apaixona-se por uma jovem de família rica (papel de Liz Taylor, então com 17 anos, no início de carreira – nesse filme firmou o estrelato projetando-se rapidamente no mundo do cinema). Ele abandona a namorada grávida para ficar com a segunda. A partir daí tem início o segundo bloco da história, do rapaz que, para ficar com a pessoa que tanto ama, é movido pelos instintos mais desesperadores a ponto de cometer um crime, que mudará para sempre a sua rotina.
Sob a ótica peculiar do notório George Stevens, criador de clássicos memoráveis como “Assim caminha a humanidade” e “Os brutos também amam”, “Um lugar ao sol” encabeça a lista dos grandes filmes da sétima arte.
Um drama romântico um tanto quanto pesado, trágico, sem desfecho feliz, adaptado do livro “Uma tragédia americana”, de 1925, escrito por Theodore Dreiser, que pelo título podemos entender a essência da obra.
Universaliza temas comuns do cotidiano, como crime passional, ambição e busca pelo poder, e mexe com tabus, como a jovem abandonada grávida, que será mãe solteira, em uma época em que isto era visto com maus olhos pela sociedade.
Distribuído em DVD no mercado somente agora pela Paramount, em excelente cópia limitada, com bons extras, voltada a colecionadores. Obrigatório para os cinéfilos. Por Felipe Brida


Um lugar ao sol (A place in the sun). EUA, 1951, 121 min. Romance/Drama. Dirigido por George Stevens. Distribuição: Paramount Pictures