quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Especial de cinema

 

Os melhores filmes do Festival do Rio 2024

 

A 26ª edição do Festival do Rio segue até dia 13 de outubro com uma rica programação de filmes. É um dos eventos de cinema mais importantes do Brasil e vem levando ao público dezenas de estreias mundiais, com longas e curtas-metragens premiados em festivais como Berlim, Cannes, San Sebastian e Veneza.
O Festival do Rio nasceu em 1999 após a junção da Mostra Banco Nacional e do Rio Cine Festival, eventos que integravam o calendário cultural da cidade do Rio desde a década de 1980. O Festival do Rio (Rio de Janeiro Int'l Film Festival) tornou-se uma vitrine para se conhecer a cinematografia de diversos países.
Mais uma vez estou no Festival e lá pude conferir filmes imperdíveis, que recomendo agora nesses drops. Confiram abaixo.

 

Matem o jóquei!

 

O diretor argentino Luis Ortega, de ‘O anjo’ (2018), lança mais um filme policial inusitado e dessa vez com tom surrealista. Aqui, um jóquei, entregue ao vício, deixa de ganhar as últimas competições por estar sempre bêbado. A máfia está no encalço dele e dá uma última cartada – ou ganha ou morre. Na hora da corrida, o jóquei se envolve num terrível acidente e perde; mas sua vida se transforma quando assume uma identidade feminina para fugir dos mafiosos. O protagonista é um barato, interpretado pelo ator argentino Nahuel Pérez Biscayart, que despertou atenção no polêmico e trágico ‘120 batimentos por minuto’ (2017). Exibido no Festival de Veneza, é original na forma, tem um humor diferente e uma fotografia extremamente autoral. Sessão ainda no Festival do Rio no dia 11/10.

 


 

The outrun

 

Filme britânico independente da diretora alemã Nora Fingscheidt, que parte da premissa de seu primeiro trabalho, ‘Transtorno explosivo’ (2019). Saoirse Ronan faz uma estudante no fim do mestrado viciada em álcool. Bebe pelos bares, envolve-se em brigas violentas e vai se autodestruindo numa jornada de altos e baixos onde se afasta da família e amigos. Resolve passar uma temporada numa ilha inóspita da Grã-Bretanha para terminar uma pesquisa e lá, sozinha, no fim do mundo, terá oportunidade para rever seu passado. Ronan brilha mais uma vez numa interpretação poderosa, possível até de indicação a Oscar em 2025. O filme é baseado no livro de memórias da jornalista britânica Amy Liptrot, que enfrentou o alcoolismo. Exibido nos festivais de Sundance e Berlim, ainda pode ser visto no Festival do Rio nos dias 10 e 12/10.

 


 

Bird

 

Indicado à Palma de Ouro e ao Queer Palm no Festival de Cannes, esse é o novo trabalho autoral da diretora Andrea Arnold, de ‘Marcas da vida’ (2006) e ‘Docinho da América’ (2016). E que traz novamente sua estética peculiar de filmar, com câmera em constante movimento, que lança a lente no rosto dos atores e aqui volta-se de novo ao submundo, dando voz a personagens marginalizados e ameaçados. É a busca por identidade de uma garota que entra na puberdade, Bailey, que mora com o pai e o irmão numa ocupação no extremo da periferia de Kent, na Inglaterra. Ela se envolva com gangues, tenta se reencontrar até a chegada de um jovem apelidado de Bird, que a levará a conhecer novos mundos. É a estreia da expressiva Nykiya Adams – muita atenção ao bom desempenho dela, e tem no elenco Barry Keoghan, todo tatuado, como o pai, e Franz Rogowski, ator alemão dos filmes de Christian Petzold, num papel pequeno, de Bird, que dá nome ao filme. Assim que o filme avança, vai ganhando contornos de realismo mágico, com muitas metáforas. Gostei muito. Ainda em exibição no Festival do Rio nos dias 12 e 13/10.

 


 

The end

 

Outro bom filme do Festival do Rio desse ano, uma obra de difícil classificação e com muitos países produtores – Dinamarca, EUA, Irlanda, Suécia etc. Para começar, o diretor, o americano Joshua Oppenheimer, teve dois filmes indicados ao Oscar, um diretor do mundo do documentário, e que faz agora sua primeira ficção – antes ele realizou os docs controversos e complementares que falam das práticas de assassinato dos ditadores da Indonésia, ‘O ato de matar’ (2012) e ‘O peso do silencio’ (2014). Agora, em ‘The end’, reúne um elenco de bons nomes para uma espécie de drama musical scifi que se passa num estranho mundo pós-apocalíptico. Uma família vive trancada num casarão ao redor de quadros de Monet preparando o filho para a vida adulta. Do lado de fora só há escombros. Eles são a última família sobrevivente da Terra. A chegada de uma jovem desperta o interesse do rapaz e abala a vida daquela família. O quarteto está ótimo – Tilda Swinton e Michael Shannon como os pais, George MacKay como o filho, e Moses Ingram como a jovem recém-chegada – e também uma boa participação da coadjuvante Bronagh Gallagher. Um filme cult diferentão, para público específico. Exibido nos festivais de Telluride, San Sebastian e Toronto. Ainda em exibição no Festival do Rio no dia 09/10.

 


 

Daddio

 

Dentro de um táxi, uma passageira conversa com o motorista enquanto trafegam por Nova York. O destino é a casa dela. Mas um acidente paralisa o trânsito, e os dois ficam parados por horas. Enquanto isso, falam de seus relacionamentos. O taxista dá conselhos à jovem, e por aquele tempo juntos no carro serão confidentes. Daquelas histórias agradáveis, com muitos diálogos, sobre personagens refletindo sobre a vida e seus casos amorosos, com dois atores só, no caso os bons Sean Penn e Dakota Johnson. Exibido nos festivais de Telluride, Toronto e Tribeca, está em exibição no Festival do Rio ainda nos dias 10 e 16/10.

 


 

Betânia

 

Exibido na mostra Panorama do Festival de Berlim, o filme brasileiro rodado no Maranhão chega agora ao Festival do Rio. É bonito, com leveza e humor, conta com uma boa protagonista e é inspirado na vida de uma maranhense que, aos 65 anos, ao ficar viúva, foi forçada pelas filhas a se mudar de casa para ficar próxima a elas, na região das dunas maranhenses. Chamada Betânia, ela ajuda a cuidar do neto enquanto o pai, que é guia turístico, trabalha. E aos poucos outros personagens e subtramas vão cruzando a rotina da protagonista. Um filme autoral feito com dificuldade, que reúne cantigas populares, com foco no ‘Bumba meu boi’, momentos cômicos – que levam a plateia ao riso, e um trabalho de vitalidade da atriz principal, Diana Mattos. O longa toca em temas como consciência ambiental, velhice e as tradições culturais seculares do Maranhão. A fotografia nas dunas é um brilho a parte. Sem sessões no Festival do Rio.



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