Os melhores filmes do
Festival do Rio 2024
A 26ª edição do Festival
do Rio segue até dia 13 de outubro com uma rica programação de filmes. É um dos
eventos de cinema mais importantes do Brasil e vem levando ao público dezenas
de estreias mundiais, com longas e curtas-metragens premiados em festivais como
Berlim, Cannes, San Sebastian e Veneza.
O Festival do Rio nasceu
em 1999 após a junção da Mostra Banco Nacional e do Rio Cine Festival, eventos
que integravam o calendário cultural da cidade do Rio desde a década de 1980. O
Festival do Rio (Rio de Janeiro Int'l Film Festival) tornou-se uma vitrine para
se conhecer a cinematografia de diversos países.
Mais uma vez estou no
Festival e lá pude conferir filmes imperdíveis, que recomendo agora nesses
drops. Confiram abaixo.
Matem o jóquei!
O diretor argentino Luis
Ortega, de ‘O anjo’ (2018), lança mais um filme policial inusitado e dessa vez
com tom surrealista. Aqui, um jóquei, entregue ao vício, deixa de ganhar as últimas
competições por estar sempre bêbado. A máfia está no encalço dele e dá uma
última cartada – ou ganha ou morre. Na hora da corrida, o jóquei se envolve num
terrível acidente e perde; mas sua vida se transforma quando assume uma
identidade feminina para fugir dos mafiosos. O protagonista é um barato, interpretado
pelo ator argentino Nahuel Pérez Biscayart, que despertou atenção no polêmico e
trágico ‘120 batimentos por minuto’ (2017). Exibido no Festival de Veneza, é
original na forma, tem um humor diferente e uma fotografia extremamente autoral.
Sessão ainda no Festival do Rio no dia 11/10.
The outrun
Filme britânico independente
da diretora alemã Nora Fingscheidt, que parte da premissa de seu primeiro trabalho,
‘Transtorno explosivo’ (2019). Saoirse Ronan faz uma estudante no fim do
mestrado viciada em álcool. Bebe pelos bares, envolve-se em brigas violentas e
vai se autodestruindo numa jornada de altos e baixos onde se afasta da família
e amigos. Resolve passar uma temporada numa ilha inóspita da Grã-Bretanha para
terminar uma pesquisa e lá, sozinha, no fim do mundo, terá oportunidade para
rever seu passado. Ronan brilha mais uma vez numa interpretação poderosa,
possível até de indicação a Oscar em 2025. O filme é baseado no livro de
memórias da jornalista britânica Amy Liptrot, que enfrentou o alcoolismo.
Exibido nos festivais de Sundance e Berlim, ainda pode ser visto no Festival do
Rio nos dias 10 e 12/10.
Bird
Indicado à Palma de Ouro
e ao Queer Palm no Festival de Cannes, esse é o novo trabalho autoral da
diretora Andrea Arnold, de ‘Marcas da vida’ (2006) e ‘Docinho da América’ (2016).
E que traz novamente sua estética peculiar de filmar, com câmera em constante
movimento, que lança a lente no rosto dos atores e aqui volta-se de novo ao
submundo, dando voz a personagens marginalizados e ameaçados. É a busca por
identidade de uma garota que entra na puberdade, Bailey, que mora com o pai e o
irmão numa ocupação no extremo da periferia de Kent, na Inglaterra. Ela se
envolva com gangues, tenta se reencontrar até a chegada de um jovem apelidado
de Bird, que a levará a conhecer novos mundos. É a estreia da expressiva Nykiya
Adams – muita atenção ao bom desempenho dela, e tem no elenco Barry Keoghan,
todo tatuado, como o pai, e Franz Rogowski, ator alemão dos filmes de Christian
Petzold, num papel pequeno, de Bird, que dá nome ao filme. Assim que o filme
avança, vai ganhando contornos de realismo mágico, com muitas metáforas. Gostei
muito. Ainda em exibição no Festival do Rio nos dias 12 e 13/10.
The end
Outro bom filme do Festival
do Rio desse ano, uma obra de difícil classificação e com muitos países
produtores – Dinamarca, EUA, Irlanda, Suécia etc. Para começar, o diretor, o
americano Joshua Oppenheimer, teve dois filmes indicados ao Oscar, um diretor
do mundo do documentário, e que faz agora sua primeira ficção – antes ele realizou
os docs controversos e complementares que falam das práticas de assassinato dos
ditadores da Indonésia, ‘O ato de matar’ (2012) e ‘O peso do silencio’ (2014). Agora,
em ‘The end’, reúne um elenco de bons nomes para uma espécie de drama musical
scifi que se passa num estranho mundo pós-apocalíptico. Uma família vive
trancada num casarão ao redor de quadros de Monet preparando o filho para a
vida adulta. Do lado de fora só há escombros. Eles são a última família
sobrevivente da Terra. A chegada de uma jovem desperta o interesse do rapaz e
abala a vida daquela família. O quarteto está ótimo – Tilda Swinton e Michael
Shannon como os pais, George MacKay como o filho, e Moses Ingram como a jovem
recém-chegada – e também uma boa participação da coadjuvante Bronagh Gallagher.
Um filme cult diferentão, para público específico. Exibido nos festivais de
Telluride, San Sebastian e Toronto. Ainda em exibição no Festival do Rio no dia
09/10.
Daddio
Dentro de um táxi, uma passageira
conversa com o motorista enquanto trafegam por Nova York. O destino é a casa
dela. Mas um acidente paralisa o trânsito, e os dois ficam parados por horas. Enquanto
isso, falam de seus relacionamentos. O taxista dá conselhos à jovem, e por
aquele tempo juntos no carro serão confidentes. Daquelas histórias agradáveis, com
muitos diálogos, sobre personagens refletindo sobre a vida e seus casos amorosos,
com dois atores só, no caso os bons Sean Penn e Dakota Johnson. Exibido nos
festivais de Telluride, Toronto e Tribeca, está em exibição no Festival do Rio
ainda nos dias 10 e 16/10.
Betânia
Exibido na mostra Panorama
do Festival de Berlim, o filme brasileiro rodado no Maranhão chega agora ao
Festival do Rio. É bonito, com leveza e humor, conta com uma boa protagonista e
é inspirado na vida de uma maranhense que, aos 65 anos, ao ficar viúva, foi
forçada pelas filhas a se mudar de casa para ficar próxima a elas, na região
das dunas maranhenses. Chamada Betânia, ela ajuda a cuidar do neto enquanto o
pai, que é guia turístico, trabalha. E aos poucos outros personagens e
subtramas vão cruzando a rotina da protagonista. Um filme autoral feito com
dificuldade, que reúne cantigas populares, com foco no ‘Bumba meu boi’,
momentos cômicos – que levam a plateia ao riso, e um trabalho de vitalidade da
atriz principal, Diana Mattos. O longa toca em temas como consciência
ambiental, velhice e as tradições culturais seculares do Maranhão. A fotografia
nas dunas é um brilho a parte. Sem sessões no Festival do Rio.
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