sábado, 30 de setembro de 2023

Cine Especial


J. Edgar

Ao ficar doente, o poderoso e temido diretor do FBI J. Edgar Hoover (Leonardo DiCaprio) relembra sua vida pessoal e profissional. Ele passa a ser cuidado pelo companheiro de longa data, com quem tinha um caso escondido, o policial e vice-diretor do FBI Clyde Tolson (Armie Hammer).

Dirigido por Clint Eastwood, astro e diretor premiado, que está na ativa aos 93 anos, o filme é a história não contada de J. Edgar Hoover (1895-1972), que por 37 anos foi diretor do Federal Bureau of Investigation (FBI), um dos mais organizados centros policiais de investigação do mundo. Temido, adorado, aplaudido, depois que morreu levantaram-se duas suspeitas sobre ele: de que usava o cargo para subornar e ameaçar pessoas e de que era gay. O filme acompanha essas suposições, com foco no relacionamento discreto que teve com Clyde Tolson, um policial que se tornou seu braço direito e foi vice-diretor do FBI. O longa-metragem, que dividiu opinião da crítica e do público, não só coloca tais suspeitas como verdade, como mostra a fundo o relacionamento de Hoover e Tolson, morando juntos como um casal (o que nunca foi provado).
Fotos e documentos revelam que Hoover e Tolson eram muito próximos, foram flagrados inúmeras vezes em lugares públicos a sós (em jantares, por exemplo), e quando Hoover morreu, em 1972, Tolson herdou parte dos bens dele e da propriedade onde viveu – e para lá se mudou, falecendo três anos depois, em 1975.
Outro ponto do filme é mostrar Hoover com seus métodos implacáveis de destruir inimigos, censurando pessoas e perseguindo líderes acusando-os de comunistas (ele foi peça central na ‘caça às bruxas’ durante o Macarthismo). Também foi acusado de manipular e plantar provas em casos.
É um drama com extensos diálogos e um bom trabalho dos dois atores centrais, DiCaprio, indicado ao Globo de Ouro pelo papel, em papel sério e convicto, e Hammer com suas sutilezas – ele ganhou destaque em Hollywood a partir desse seu trabalho desafiador. O roteiro é bom e ousado, de Dustin Lance Black, ganhador do Oscar de melhor roteiro por “Milk: A voz da igualdade” (2008), mas sinto falta de um desfecho impactante e uma pitadinha de ação, que caberiam em algum lugar da história. Vejo também excesso de personagens (tem muita gente no elenco, são mais de 100 atores e atrizes que desfilam em participações pequenas, como Naomi Watts, Judi Dench, Adam Driver, Ken Howard, Josh Lucas, Dermot Mulroney, Josh Hamilton e Lea Thompson) e a fotografia é bem escura, que chega a atrapalhar sequências cruciais – assinada por Tom Stern, indicado ao Oscar por “A troca” (2008), também de Clint Eastwood, um colaborador frequente dos filmes do diretor. A maquiagem é um pouco over, realçada demais.




Não foi bem de bilheteria, não foi tão elogiado pela crítica, no entanto é uma história ousada e pouco convencional de Hoover, que mostra o outro lado dessa controversa figura pública.
Clint Eastwood é um diretor que lança de um a dois filmes por ano, tem quatro Oscars nas costas (dois de melhor filme e dois de direção) e nos últimos anos investe em fitas baseadas em histórias verídicas, como esse aqui, “Sniper americano” (2014), “Sully: O herói do rio Hudson” (2016), “15h17: Trem para Paris” (2018) e “O caso Richard Jewell’ (2019). Ele está dirigindo seu novo, “Juror #2”, um suspense de tribunal com grande elenco, incluindo ele de volta na atuação, previsto para o final de 2024.
J. Edgar está disponível em DVD e Bluray, pela Warner Bros, e em plataformas de streaming como HBO Max, e para aluguel na Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play.

J. Edgar (Idem). EUA, 2011, 137 minutos. Drama. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Clint Eastwood. Distribuição: Warner Bros.

Cine Cult


A bolha assassina


Uma misteriosa forma de vida vem do espaço, cai na Terra e passa a se alimentar de gente. É uma gosma rosa que cresce atacando tudo o que vê pelo caminho. Um grupo de moradores tenta eliminar a criatura, com ajuda da polícia e de cientistas.

Um pequeno cult B do finzinho dos anos de 1950, um entretenimento à moda antiga, fita scifi com terror e mistério, sobre uma gosma maligna que vem do espaço sideral, dentro de um meteorito, e cai numa cidadezinha rural. Ela come pessoas e cresce de forma assustadora.
Rodado na Pensilvânia, em pouco mais de 20 dias, com orçamento barato (U$ 240 mil), o filme traz efeitos especiais consideráveis para a época, quando investia-se nos efeitos 3D. A bolha era feita de um silicone com corante vermelho, enchida com ar como se fosse uma bexiga; as imagens dela eram captadas isoladamente e depois inseridas em primeiro plano, dando a impressão de que elas eram enormes, maiores que os personagens do filme (ou seja, um processo artesanal com truques de imagens e montagem).
Também era moda a abertura dos filmes com número musical (aqui aproveitaram a ascensão do rock'n'roll e da pop music - a música que abre fala de uma bolha assassina e foi composta por Burt Bacharach, falecido em fevereiro aos 94 anos).
Originalmente da Paramount Pictures, é uma fita rápida e divertida, inconfundível e nostálgica, com a primeira aparição em cena do futuro astro Steve McQueen - ele tinha 27 anos, antes havia feito como figurante seriados, depois se tornaria importante ator de faroeste e policial, de obras célebres como "Sete homens e um destino" (1960), "Fugindo do inferno" (1963), "Bullitt" (1968) e "Papillon" (1973).
Escrito por uma mulher, a atriz Kay Linaker, que assinava Kay Phillips, seu único script para cinema (ela atuou em fitas dos anos 40 como "O canto da vitória"). E foi um dos cinco filmes dirigidos Irvin S. Yeaworth Jr., que fez filmes de terror como "Quarta dimensão" (1959).





Quem assiste não esquece (tem uma cena memorável, quando a bolha ataca um cinema lotado!). Também conhecido como “A bolha”, deu origem, trinta anos depois (em 1988), a um remake com mais terror e suspense, que virou um cult movie pelos fãs, inúmeras vezes reprisado na TV aberta. Essa primeira versão, de 1958, sai em DVD numa edição de colecionador pela Classicline, com extras e card colecionável.

A bolha assassina (The blog). EUA, 1958, 86 minutos. Terror/Ficção científica. Colorido. Dirigido por Irvin S. Yeaworth Jr. Distribuição: Classicline

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Especial de Cinema


‘Coleção Terrifier’, em DVD e Bluray pela Classicline

Terrifier

Duas amigas são perseguidas por um sinistro palhaço na noite de Halloween, em Miles County. Art, o palhaço (David Howard Thornton) sai à caça delas e mata quem cruza seu caminho, invadindo residências para encontrar seu alvo.

Inovando mais uma vez no mercado de mídia física no Brasil, a distribuidora Classicline, localizada em Fortaleza (CE), lançou esse mês a coleção “Terrifier”, tanto em DVD quanto em bluray. O box reúne os dois principais filmes de terror com o palhaço assassino Art, que sai no Halloween matando quem vê pelo caminho. Os sangrentos filmes, de 2016 e 2022, são produções independentes, ganharam público ao redor do mundo e agora ambos os longas podem ser adquiridos pelos colecionadores.
Os dois filmes se passam na mesma noite de Halloween, quando um palhaço sádico sai pelas ruas de uma cidadezinha norte-americana atrás de suas vítimas. Ele não fala, tem sede de sangue e comete crimes brutais, com requintes de crueldade. Escrito, dirigido e produzido por Damien Leone, é um slasher baratíssimo, que rendeu boa bilheteria mundial. Conta com cenas apelativas de assassinato e verdadeiros massacres, com sangue jorrando na tela. Art abre a cabeça das vítimas com machado, dá tiro com revólver, usa martelo, bisturi e outros objetos. A concepção do palhaço assassino Art é sinistra (num dos extras há um making of mostrando a caracterização do ator David Howard Thornton, da série ‘Gotham’). Reparem que na abertura do filme, quando o assassino aparece de costas montando seu personagem Art, o diretor presta homenagem ao primeiro filme de “A hora do pesadelo” (1984), quando Freddy Krueger aparece de costas mexendo em ferramentas para criar a luva com lâminas. No Brasil passou no circuito independente e entrou no Amazon Prime Video com o título de “Aterrorizante”.
A parte 2 é ainda mais violenta, sangrenta e cruel. Irá gostar quem curte cinema de terror desse tipo.


Terrifier (Idem). EUA, 2016, 85 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Damien Leone. Distribuição; Classicline


Terrifier 2

O palhaço assassino Art (David Howard Thornton) não morreu. Estirado na maca do necrotério, ainda na noite de Halloween, volta à vida e sai atacando as pessoas. Chega à casa de uma jovem e de seu irmão mais novo, dando start a uma nova matança em Miles County.

Nessa continuação ainda mais violenta e cruel de “Terrifier” (2016), lançada em dezembro de 2022 nos cinemas, subtende-se que o palhaço Art é ressuscitado por um mal maior, uma entidade diabólica, que surge na pele de uma criança sinistra que sempre o observa com sorriso medonho. O palhaço retorna com mais sede de sangue e comete atrocidades inimagináveis.
Ambos os filmes “Terrifier” contêm violência gráfica e estilizada, com muito gore (há muito esguicho de sangue rosa, miolos, gente de plástico etc, bem podreira e intencional, porém algumas cenas são assustadoras e bem feitas, especialmente às do segundo filme).
No cinema são muitos os filmes com palhaços assassinos, de diversas concepções, como a série e os longas de Stephen King, “It: A coisa” (1990, 2017 e 2019), “Palhaços assassinos do espaço sideral” (1988) e “Palhaço assassino” (1989) - e “Terrifier”, mesmo sem um roteiro de qualidade, por ora bem repetitivo, coloca Art na galeria de vilões assustadores (a caracterização dele dá medo!).
A ideia original de “Terrifier” nasceu com um curta-metragem de Leone, de 2011, rodado em Nova York, sobre uma jovem perseguida pelo palhaço. Dois anos depois, no mesmo local e elenco, o diretor rodou “Terrifier: O início” (2013), expandindo o universo de Art, agora com uma babá que, no Halloween, encontra vídeos em VHS das mortes cometidas pelo palhaço, em três histórias (o filme acaba de ser lançado em bluray pela Obras-primas do Cinema). Em 2016, Leone trocou o elenco, inclusive o ator que fazia o palhaço, e criou “Terrifier”, que no Brasil passou no circuito independente com o título de “Aterrorizante”. Custou U$ 35 mil e rendeu U$ 417 mil, quase 12 vezes mais. Com a repercussão, fez essa continuação, com mais qualidade técnica, mais bizarrices e mais violento, com longos 2h18 de duração (eu teria reduzido uns 30 minutos). Custou mais caro, U$ 250 mil, só que rendeu US$ 15 milhões, ou seja, 60 vezes mais, chegando a ser lançado nos cinemas brasileiros - ficou dois meses em cartaz, entre dezembro de 2022 e fevereiro de 2023, em centenas de salas, com distribuição pela A2 Filmes (isso reflete que o público quer filmes assim).


Agora pode ser adquirido em DVD e BD pela Classicline, num box em disco duplo, com luvas, cards e extras nos discos, como trailer, making of, entrevistas, cenas deletadas, clipes e comentários do diretor (abaixo, foto do box da Classicline).



Terrifier 2 (Idem). EUA, 2022, 138 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Damien Leone. Distribuição; Classicline

domingo, 17 de setembro de 2023

Especial de Cinema


47ª Mostra de Cinema de SP será de 19 de outubro a 1º de novembro

Entre os dias 19 de outubro e 1º de novembro será realizada em São Paulo mais uma Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O evento chega em sua 47ª edição, com exibição de centenas de filmes premiados de várias partes do mundo. Ainda não há informações da programação nem detalhes sobre a venda de ingressos e credenciais. A inscrição dos filmes encerrou-se em 15 de agosto, e em breve será divulgada a lista dos selecionados.
No início do mês foi divulgada a data do “III Encontro de Ideias Audiovisuais”, que será entre os dias 26 e 29/10, na Cinemateca Brasileira, e informado o lançamento de uma novidade: a Mostra desse ano terá uma itinerância em Manaus, em parceria com o Centro Cultural Casarão de Ideias, com exibição de filmes nacionais e estrangeiros em três pontos do centro da capital amazonense, entre os dias 27 e 29 de outubro, em sessões ao ar livre e em salas de cinema.


Retrospectiva Antonioni

Na manhã de hoje as redes sociais da Mostra informaram sobre a “Retrospectiva Antonioni”, uma homenagem ao cineasta italiano Michelangelo Antonioni (1912-2007). Em parceria com o Instituto Italiano de Cultura, serão exibidas 23 obras do diretor, entre longas e curtas, com destaque para as cópias restauradas de “Deserto vermelho” (1964), “Blow-up - Depois daquele beijo” (1966), “Profissão: Repórter” (1975) e a trilogia da incomunicabilidade, composta por “A aventura” (1960), “A noite” (1961) e “O eclipse” (1962).
A arte do pôster da edição de 2023 será inspirada em uma pintura que o diretor fez nos anos de 1960.



Patrocínio

A Mostra de Cinema de SP conta com o patrocínio master da Petrobras e do banco Itau, além da parceria do Sesc, o patrocínio da SPCine, o copatrocínio da Desenvolve SP, e o apoio da Ancine, do Projeto Paradiso e do Instituto Galo da Manhã. Tem a colaboração do Itaú Cultural, do Telecine, da Netflix e do Instituto Italiano de Cultura. E ainda o apoio técnico da Cinemateca Brasileira, da Quanta, do Conjunto Nacional e da Velox. Tem a parceria do Meliá Paulista e do Mercure Hotels, a promoção da Globofilmes, do Canal Brasil, da Folha de S. Paulo, da Rádio Bandnews e da TV Cultura.

A 46ª Mostra

A Mostra de Cinema de São Paulo do ano passado contou com a exibição de 231 filmes de 60 países, apresentados nas seções ‘Perspectiva Internacional’, ‘Competição Novos Diretores’, ‘Mostra Brasil’ e ‘Apresentação Especial’. Na noite de abertura foi apresentado o filme ganhador da Palma de Ouro de 2022, “Triângulo da tristeza”, do diretor sueco Ruben Östlund.
O pôster da Mostra de 2022 foi criado por Eduardo Kobra, artista plástico e muralista.
A 46ª Mostra de Cinema de SP ocorreu de maneira presencial, em dezenas de salas de cinemas da capital, e também online, nas plataformas Sesc Digital e SPCine Play.
O júri de 2022 foi composto pelos diretores de cinema Rodrigo Areias, Lina Chamie e André Novais Oliveira. O prêmio Leon Cakoff foi entregue para a atriz e cantora Dóris Monteiro, enquanto o prêmio Humanidade foi para a cineasta brasileira Ana Carolina - a Mostra trouxe uma retrospectiva com três filmes dela, “Mar de rosas” (1978), “Das tripas coração” (1982) e “Sonho de valsa” (1987), além da apresentação de seu último trabalho, “Paixões recorrentes” (2022).
Houve ainda homenagem ao cineasta Arnaldo Jabor, com exibição da cópia restaurada de “Eu te amo” (1980), e ao diretor Jean-Luc Godard, com exibição de “Até sexta, Robinson” (2022).
Outros filmes antigos, restaurados, foram exibidos em sessões especiais, como “A mãe e a puta” (1972) e “Meus pequenos amores” (1974), ambos de Jean Eustache, “Deus e o diabo na terra do sol” (1964, de Glauber Rocha), “A rainha diaba” (1973, de Antônio Carlos da Fontoura) e “Bratan” (1991, de Bakhtyar Khudojnazarov).
A Mostra 2022 levou também exibições de “Durval discos” (2002) e curtas-metragens de cineastas renomados, como “A camareira” (2022), de Lucrecia Martel e “Le pupille” (2022), de Alice Rohrwacher, além de dois episódios da série dinamarquesa “The Kingdom exodus” (2022), de Lars von Trier.
Houve também o retorno das apresentações em VR (Realidade Virtual), com oito filmes de várias nacionalidades, como Brasil, Holanda, Peru, Bélgica e Itália, bem como o lançamento de três livros e o “II Encontro de Ideias Audiovisuais”, espaço para debater ideias e incentivar projetos audiovisuais. E por fim, as tradicionais exibições no vão-livre do Masp retornaram gratuitamente ao público.
Foram exibidos filmes premiados em festivais como Berlim, Veneza, Cannes, Toronto, Tribeca, Sundance, San Sebastian, Locarno e Sitges, de diretores e diretoras renomados, como Alejandro González Iñárritu, Albert Serra, José Eduardo Belmonte, Claire Denis, Peter Strickland, Diego Lerman, Hong Sang-soo, James Gray, Alê Abreu, Denis Côté, Mia Hansen-Love), Alexandr Sokurov, Isabel Coixet, Carlos Saura, Jafar Panahi, Marcelo Gomes, Julia Murat e outros. Alguns deles foram “Nada de novo no front” (de Edward Berger), “Bardo” (de Alejandro G. Iñárritu), “Pilgrims” (de Laurynas Bareisa), “Alcarrás” (de Carla Simón), “A esposa de Tchaikovsky” (de Kirill Serebrennikov), “A mãe” (de Cristiano Burlan), “Armageddon time” (de James Gray), “Com amor e fúria” (de Claire Denis), “Conto de fadas” (de Alexander Sokurov), “Flux Gourmet” (de Peter Strickland), “Noite exterior” (de Marco Belocchio), “O deus do cinema” (de Yôji Yamada), “O filme da escritora” (de Hong Sang-Soo), “O pastor e o guerrilheiro” (de José Eduardo Belmonte), “O teto amarelo” (de Isabel Coixet), “One fine morning” (de Mia Hansen-Løve), “Pacifiction” (de Albert Serra), “Paloma” (de Marcelo Gomes), “Regra 34” (de Julia Murat) e “Sem ursos” (de Jafar Panahi).

terça-feira, 12 de setembro de 2023

Cine Especial


Só você

Faith (Marisa Tomei), na infância, descobriu brincando com um tabuleiro de Ouija que o seu futuro namorado se chamaria Damon Bradley. Hoje, aos 30 anos e prestes a se casar com um médico, fica sabendo que um conhecido de seu noivo tem o nome de Damon Bradley e está em viagem a Veneza. Pasma e desesperada, viaja a Veneza com a melhor amiga, Kate (Bonnie Hunt), acreditando ser uma mensagem do destino. Em Veneza, Faith conhece de pertinho um rapaz charmoso de nome Damon Bradley (Robert Downey Jr), iniciando com ele uma aventura amorosa.

Divertida e alto astral, essa comédia romântica água com açúcar dos anos 90 acaba de ser lançada em DVD no Brasil pela Obras-primas do Cinema, a pedido dos colecionadores. Com um roteiro bem cara de filmes românticos da década de 50 50 (com uma cena em menção à “A princesa e o plebeu”, cujos personagens e lugares se assemelham), é um passeio por lindas paisagens da Itália, como a Fonte de Netuno, na Piazza Navona, em Roma, pontos históricos da cidade de Siena, na Toscana, um tour pelas águas de Veneza e muitas gravações nos famosos estúdios da Cinecittá (em Roma).
A atriz Marisa Tomei tinha acabado de ganhar o Oscar de coadjuvante por “Meu primo Vinny” (1993) e desfrutava o prestígio da carreira, aqui num papel leve e gracioso de uma noiva (de nome Faith, olhe só a coincidência!), que vai atrás de um cidadão desconhecido que poderá ser o homem de sua vida, marcado pelo sopro do destino (quando criança, viu esse homem aparecer numa sessão de tabuleiro de Ouija e depois numa conversa com uma vidente); já Robert Downey Jr, em início de carreira e indicado ao Oscar um ano antes, por “Chaplin” (1992), projetava-se como galã, tinha forte presença em cena, e em “Só você” aparece apenas a partir da metade, como o misterioso Damon Bradley, o possível “homem da vida” da protagonista. Entre os dois rola muita química e bons momentos de romance e humor, graças à dupla que sabe interpretar papeis desse nível. Bonnie Hunt (de “Rain Man”) e o ator português Joaquim de Almeida (de “Bom dia, Babilônia”) são bons coadjuvantes que auxiliam a trama andar.




Foi o primeiro trabalho da roteirista Diane Drake, de “Do que as mulheres gostam” (2000), e um dos filmes menos lembrados do canadense Norman Jewison, um de meus diretores de cinema favoritos, que está vivo, aos 97 anos; indicado a sete Oscars, Jewison fez obras máximas do cinema comoo policial sobre racismo “No calor da noite” (1968), os musicais divisores de água “Um violinista no telhado” (1972) e “Jesus Cristo Superstar” (1973) e a elegante comédia romântica “Feitiço da lua” (1987).
Se gosta de romance irá curtir “Só você”, também lançado no Brasil com o título original, “Only you”.

Só você (Only you). EUA/Itália, 1994, 109 minutos. Romance. Colorido. Dirigido por Norman Jewison. Distribuição: Obras-primas do Cinema

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Cine Lançamento


Maligno


Madison (Annabelle Wallis) é uma mulher que sofre com constantes visões de assassinatos. Sem saber o que ocorre em sua mente, procura médicos e psicólogos, sem sucesso. Até que os crimes se tornam reais. Madison então desvenda um fato horripilante.

James Wan, produtor, roteirista e diretor nascido na Malásia, ganhou espaço no cinema de terror hollywoodiano com as franquias milionárias de “Jogos mortais”, “Invocação do mal” e “Sobrenatural”. Boa parte deles foi bem recebido pelo público, outros dividiu a crítica, e continuações pipocaram nas telas, além de spin-offs. Pode-se dizer que Wan ajudou a reinventar o cinema de horror contemporâneo nos Estados Unidos.
Depois de se arriscar em universos diferentes, dirigindo a ação “Velozes & furiosos 7” (2015) e a fita de super-heróis da DC Comics “Aquaman” (2018) – diga-se de passagem dois bons trabalhos dele – Wan fez em “Maligno” um original thriller de terror em homenagem ao cinema de horror chinês e tailandês oitentista, que lembra vagamente “Enfeitiçados” (1981) e “Uma história chinesa de fantasmas” (1987), misturando situações bizarras, pitadas de sobrenatural, lutas marciais e mortes macabras com muito sangue.


A bela e boa atriz inglesa Annabelle Wallis, de “Annabelle” (2014) e “A múmia” (2017), interpreta uma mulher atormentada por crimes horrendos. De repente seu quarto fica escuro, parece que vive uma maldição. Com a ajuda da irmã e de médicos, tenta entender o que se passa em sua mente. Até que os crimes acontecem de verdade, e o principal suspeito é um homem misterioso de roupa preta, de couro. Mas o filme não para aí: da metade para o fim ele dá uma reviravolta danada de impressionante para apresentar a identidade do temível assassino (e se prepare, é uma das revelações mais ousadas e chocantes do cinema). O diretor, inspirado por outros estilos cinematográficos, insere elementos do slasher/giallo, coloca humor negro (há cenas, como a da delegacia e a do hospital, em que rimos da tragédia) e muita escatologia e por fim pode ser visto como um cinema trash confessional, no melhor sentido da palavra. Foi até elogiado por nada mais nada menos que Stephen King, um dos mestres do horror.




O roteiro é de James Wan junto de Akela Cooper (que esse ano fez nova parceria com Wan, em “M3gan”) e Ingrid Bisu (junto com Wan produziu o filme, esse é o primeiro script dela, que é romena e trabalha como atriz, de filmes como “A freira”).
Lançado em DVD e Bluray pela Warner Bros (ambos com muitos extras no disco), está também disponível para assinantes no Amazon Prime Video e HBO Max e para aluguel em plataformas de streaming como Oi Play, Apple TV e GooglePlay.

Maligno (Malignant). EUA/China, 2021, 111 minutos. Terror/Ação. Colorido. Dirigido por James Wan. Distribuição: Warner Bros.

Cine Terror


Mais dois filmes que integram o box “Sessão de terror Anos 80 – volume 6”, lançado recentemente pela Obras-primas do Cinema. Confira resenha abaixo!




Spookies: Renascidos das trevas

Grupo de adolescentes explora uma sinistra mansão abandonada. No local reside um feiticeiro atormentado, que lança magias perversas contra os jovens com o objetivo de retirar o sangue deles para restabelecer a noiva que está gravemente doente.

Nos anos de 1980 os filmes de terror eram inventivos demais, como podemos notar nessa fita corriqueira que contém humor negro, em que um feiticeiro maligno transforma pessoas em criaturas estranhas e ainda convoca zumbis para atacar um grupo de jovens, com o objetivo de retirar o sangue das vítimas para tratar da noiva que está em coma. Uma mistura maluca, numa fantasia de horror que diverte e entretém – mas para tanto há que se perdoar os furos evidentes no roteiro, o elenco fraco e desconhecido (a maioria nem seguiu carreira no cinema) e erros de edição. Parte das falhas está atribuída aos muitos problemas na produção; inicialmente o filme seria dirigido pela dupla Brendan Faulkner e Thomas Doran, com o título de “Twisted souls”, depois entrou outro cineasta na equipe, Genie Joseph, e dois novos roteiristas para auxiliar nos rumos da trama.


Integra o box “Sessão de terror Anos 80 – vol.6”, com os filmes “Assassinato no colégio”, “A visão do terror” e “Os demônios de Alcatraz”, lançado pela Obras-primas do Cinema; são dois discos, contendo 50 minutos de extras e cards colecionáveis.

Spookies: Renascidos das trevas
(Spookies). EUA, 1986, 85 minutos. Terror/Comédia. Colorido. Dirigido por Genie Joseph, Thomas Doran e Brendan Faulkner. Distribuição: Obras-primas do Cinema


A visão do terror

Uma família liga a TV para curtir a noite juntos. Só que pelas ondas magnéticas, chega até eles uma estranha força vinda do espaço sideral. Da antena parabólica sai um temível monstro invisível devorador de gente. A família é perseguida e tentam encontrar formas de acabar com o mal.

Um autêntico filme B de terror com comédia, também visto como uma sátira à sociedade de consumo e à cultura industrializada dos sitcons americanos. Uma família, sem saber, conecta-se ao espaço sideral pela antena parabólica, e pelas ondas magnéticas, um monstro horroroso e melequento, de olhos tortos e dentes grandes, aparece e some para devorá-los. Com piadas infames, erotismo, muita gritaria e momentos altamente bizarros, essa fita cult com traços do cinema scifi lembra outro terror do mesmo ano, “Invasores de Marte” (1986, de Tobe Hooper). O diretor Ted Nicolaou posteriormente (nos anos 1990) faria vários filmes populares para home vídeo, como a franquia de terror com vampiros demoníacos “Subspecies” (entre 1991 e 2023).
No elenco, rostos conhecidos como Gerrit Graham (de “O fantasma do paraíso” e “Brinquedo assassino 2”), Mary Woronov (de “Tudo por dinheiro” e “A noite do cometa”), Diane Franklin (de “Amityville 2: A possessão”) e Bert Remsen (de “Onde os homens são homens” e “Nashville”). É um filme melhor do que aparenta e bem criativo, com uma sagaz crítica social. A fita mais legal do box “Sessão de terror Anos 80 – vol.6”, que traz junto “Assassinato no colégio”, “Spookies: Renascidos das trevas” e “Os demônios de Alcatraz”, lançado pela Obras-primas do Cinema; são dois discos, contendo 50 minutos de extras e cards colecionáveis.


A visão do terror
(TerrorVision). EUA/Itália, 1986, 85 minutos. Terror/Comédia. Colorido. Dirigido por Ted Nicolaou. Distribuição: Obras-primas do Cinema