domingo, 20 de outubro de 2024

Especial de cinema

 

Os melhores filmes da Mostra de SP – Parte 3

 

A 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo segue na capital paulista até 30 de outubro. Nesse ano, serão exibidos 419 títulos de 82 países, distribuídos em mais de 20 salas de cinema de São Paulo. A programação completa da Mostra está no site oficial, em https://48.mostra.orgConfira abaixo drops de mais filmes da Mostra que assisti e recomendo.

 




 

Eephus

 

Jogadores de dois times amadores de baseball de uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos se reúnem para uma última partida. Isso porque o único campo de baseball de lá será demolido para dar lugar a um prédio. Poucos assistem àquela competição decisiva, e enquanto os jogadores se confrontam na arena, seguem com dúvidas de como será o futuro a partir de agora. Produzido nos Estados Unidos, o filme se passa em apenas um dia, com os jogadores pensando em estratégias para ganhar o jogo, em meio a uma disputa que será a última de suas vidas – entre eles há veteranos de guerra, homens do exército e gente da sociedade civil. Só com homens em cena, um deles é o documentarista premiado Frederick Wiseman, diretor de ‘City hall’ (2020). A forma como são enquadrados os personagens em cena, e toda a plasticidade que vem junto, é uma realização a parte. Exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes e no mesmo festival indicado ao Golden Camera. Sessões na Mostra de SP nos dias 21, 24 e 28/10.

 


 

O banho do diabo

 

Novo trabalho da dupla austríaca Severin Fiala e Veronika Franz, que trouxeram nova visão ao cinema de terror com o perturbador ‘Boa noite, mamãe’ (2014), e depois fizeram ‘O chalé’ (2019). Agora, a coprodução Áustria/Alemanha, é um angustiante folk horror cuja história, com pano de fundo real, se passa no século XVIII. Num vilarejo austríaco cercado por árvores, uma mulher mata um bebê e é condenada à morte. Dias depois, uma jovem prestes a se casar descobre o corpo em exposição da mulher morta por ter assassinado a criança. Ela é tomada por um estranho sentimento e passa a ter pesadelos e atitudes violentas, que a levará a cometer um crime brutal. Obscuro, com cenas cruéis que chegam ao limite, é um filme denso e de terror psicológico com um final igualmente violento, como nos finais marcantes dos filmes anteriores da dupla. A fotografia no vilarejo medieval perdido no meio da floresta dá todo o clima de tensão que a obra exige. Venceu prêmio de melhor contribuição artística no Festival de Berlim e é o representante da Áustria para disputar uma vaga ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2025. Sessões na Mostra de SP nos dias 21, 27 e 28/10.

 


 

Ernest Cole: Achados e perdidos

 

Deve ser o finalista ao Oscar de documentário no ano que vem esse ótimo novo trabalho do cineasta haitiano Raoul Peck, que aqui trata com seu olhar peculiar o apartheid para além da África. O filme, que recebeu com méritos o prêmio de melhor doc no Festival de Cannes, resgata a trajetória do fotógrafo sul-africano Ernest Cole (1940-1990), que registrou o terror do apartheid dentro e fora da África do Sul. Cole viveu no exílio praticamente a vida inteira, nos Estados Unidos e na Europa, morrendo cedo, aos 49 anos. Suas fotografias – e o filme é um desfile de dezenas delas, analisadas por Peck, mostram a terrível segregação racial no país de Mandela, os desdobramentos após o fim do regime do apartheid e as perseguições aos negros em países como os EUA, fazendo um paralelo entre a África e a América. O filme centraliza as discussões em torno do livro de Cole publicado em 1967 e fundamental para a questão negra, ‘House of bondage’, e da descoberta de 60 mil negativos do fotógrafo em 2017 num banco da Suécia. A narração é do ator indicado ao Oscar Lakeith Stanfield, e o filme teve os direitos adquiridos pela Netflix. O cineasta Raoul Peck, já indicado ao Oscar, pelo documentário ‘Eu não sou seu negro’ (2016), receberá o Prêmio Humanidade da 48ª Mostra, concedido a personalidades que atuam com questões humanistas. Sessões na Mostra de SP nos dias 21, 24, 27 e 30/10.

 


 

Os maus patriotas

 

Outro bom documentário, agora britânico e dirigido pelo jornalista brasileiro que mora no Reino Unido Victor Fraga, o mesmo de ‘A fantástica fábrica de golpes’ (2021). De forma bem humorada, toca num assunto sério que percorre o mundo – as fake News e como parte da imprensa e as redes sociais são utilizadas para o discurso de ódio. Fraga entrevista dois cidadãos britânicos ilustres, alvos constantes desses ataques, o premiadíssimo cineasta Ken Loach e o ex-líder trabalhista Jeremy Corbyn. Sentados um ao lado do outro, eles contam suas trajetórias e visões de mundo, e opinam sobre como os meios de comunicação ajudam na construção dos discursos preconceitos e racistas e são uma ameaça à democracia. O filme fala para além das fronteiras do Reino Unido, hoje uma triste realidade em países como Estados Unidos, Itália e Brasil. Um tema sério e urgente, bem colocado nesse documentário independente. Sessões na Mostra de SP nos dias 23, 25 e 26/10. E na próxima semana o filme entra na plataforma Sesc Digital durante a Mostra, exibido de forma gratuita.



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