Os melhores filmes da
Mostra de SP – Parte 3
A 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo segue na capital paulista até 30 de outubro. Nesse ano, serão exibidos 419 títulos de 82 países, distribuídos em mais de 20 salas de cinema de São Paulo. A programação completa da Mostra está no site oficial, em https://48.mostra.org. Confira abaixo drops de mais filmes da Mostra que assisti e recomendo.
Eephus
Jogadores de dois times amadores de baseball de uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos se reúnem para uma última partida. Isso porque o único campo de baseball de lá será demolido para dar lugar a um prédio. Poucos assistem àquela competição decisiva, e enquanto os jogadores se confrontam na arena, seguem com dúvidas de como será o futuro a partir de agora. Produzido nos Estados Unidos, o filme se passa em apenas um dia, com os jogadores pensando em estratégias para ganhar o jogo, em meio a uma disputa que será a última de suas vidas – entre eles há veteranos de guerra, homens do exército e gente da sociedade civil. Só com homens em cena, um deles é o documentarista premiado Frederick Wiseman, diretor de ‘City hall’ (2020). A forma como são enquadrados os personagens em cena, e toda a plasticidade que vem junto, é uma realização a parte. Exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes e no mesmo festival indicado ao Golden Camera. Sessões na Mostra de SP nos dias 21, 24 e 28/10.
O banho do diabo
Novo trabalho da dupla
austríaca Severin Fiala e Veronika Franz, que trouxeram nova visão ao cinema de
terror com o perturbador ‘Boa noite, mamãe’ (2014), e depois fizeram ‘O chalé’ (2019). Agora, a coprodução Áustria/Alemanha,
é um angustiante folk horror cuja história, com pano de fundo real, se passa no
século XVIII. Num vilarejo austríaco cercado por árvores, uma mulher mata um bebê
e é condenada à morte. Dias depois, uma jovem prestes a se casar descobre o
corpo em exposição da mulher morta por ter assassinado a criança. Ela é tomada
por um estranho sentimento e passa a ter pesadelos e atitudes violentas, que a
levará a cometer um crime brutal. Obscuro, com cenas cruéis que chegam ao
limite, é um filme denso e de terror psicológico com um final igualmente
violento, como nos finais marcantes dos filmes anteriores da dupla. A fotografia
no vilarejo medieval perdido no meio da floresta dá todo o clima de tensão que
a obra exige. Venceu prêmio de melhor contribuição artística no Festival de
Berlim e é o representante da Áustria para disputar uma vaga ao Oscar de melhor
filme estrangeiro de 2025. Sessões na Mostra de SP nos dias 21, 27 e 28/10.
Ernest Cole: Achados
e perdidos
Deve ser o finalista ao
Oscar de documentário no ano que vem esse ótimo novo trabalho do cineasta
haitiano Raoul Peck, que aqui trata com seu olhar peculiar o apartheid para
além da África. O filme, que recebeu com méritos o prêmio de melhor doc no
Festival de Cannes, resgata a trajetória do fotógrafo sul-africano Ernest Cole
(1940-1990), que registrou o terror do apartheid dentro e fora da África do
Sul. Cole viveu no exílio praticamente a vida inteira, nos Estados Unidos e na
Europa, morrendo cedo, aos 49 anos. Suas fotografias – e o filme é um desfile
de dezenas delas, analisadas por Peck, mostram a terrível segregação racial no país
de Mandela, os desdobramentos após o fim do regime do apartheid e as
perseguições aos negros em países como os EUA, fazendo um paralelo entre a
África e a América. O filme centraliza as discussões em torno do livro de Cole
publicado em 1967 e fundamental para a questão negra, ‘House of bondage’, e da
descoberta de 60 mil negativos do fotógrafo em 2017 num banco da Suécia. A
narração é do ator indicado ao Oscar Lakeith Stanfield, e o filme teve os
direitos adquiridos pela Netflix. O cineasta Raoul Peck, já indicado ao Oscar,
pelo documentário ‘Eu não sou seu negro’ (2016), receberá o Prêmio Humanidade
da 48ª Mostra, concedido a personalidades que atuam com questões humanistas. Sessões
na Mostra de SP nos dias 21, 24, 27 e 30/10.
Os maus patriotas
Outro bom documentário,
agora britânico e dirigido pelo jornalista brasileiro que mora no Reino Unido Victor
Fraga, o mesmo de ‘A fantástica fábrica de golpes’ (2021). De forma bem
humorada, toca num assunto sério que percorre o mundo – as fake News e como parte
da imprensa e as redes sociais são utilizadas para o discurso de ódio. Fraga
entrevista dois cidadãos britânicos ilustres, alvos constantes desses ataques,
o premiadíssimo cineasta Ken Loach e o ex-líder trabalhista Jeremy Corbyn. Sentados
um ao lado do outro, eles contam suas trajetórias e visões de mundo, e opinam
sobre como os meios de comunicação ajudam na construção dos discursos preconceitos
e racistas e são uma ameaça à democracia. O filme fala para além das fronteiras
do Reino Unido, hoje uma triste realidade em países como Estados Unidos, Itália
e Brasil. Um tema sério e urgente, bem colocado nesse documentário
independente. Sessões na Mostra de SP nos dias 23, 25 e 26/10. E na próxima semana
o filme entra na plataforma Sesc Digital durante a Mostra, exibido de forma
gratuita.
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