domingo, 29 de maio de 2022

Cine Cult


O padrasto


Jerry Blake (Terry O'Quinn) assassina a família inteira, troca de identidade e casa-se com uma outra mulher, que mora com a filha adolescente. Ele se prepara para cometer novos crimes.

Cultuado filme de terror dos anos 80 sobre um padrasto acima de qualquer suspeita, que esconde um lado sombrio. Ele é um trabalhador bem colocado no mercado que acaba de assumir uma nova família... só que num passado recente assassinou esposa e filhos de forma fria, fugiu e acabou trocando de identidade. O sinistro padrasto toma forma sob a interpretação brilhante do ator Terry O’Quinn, que foi indicado ao Independent Spirit Award pelo papel – e depois ficaria marcado entre os jovens na série “Lost”. No filme, ele tem traços de psicopata, que alterna o humor (se porta na frente dos outros como um homem caridoso, boa pinta, só que escondido, extravasa de forma violenta, a ponto de ter alucinações e pensar em planos sangrentos). O’Quinn está sinistro!


O diretor Joseph Reuben, de “Morte nos sonhos” (1984), faria nos anos 90 pelo menos dois filmes de suspense de sucesso, muitas vezes exibidos na TV aberta, “Dormindo com o inimigo” (1991, com Julia Roberts) e “O anjo malvado” (1993, com Macaulay Culkin).
O terror independente, um slasher por natureza, conta com um roteiro preciso, bem elaborado com cenas sangrentas. Foi baseado na vida de um criminoso de verdade, John List, que assassinou a família em 1971 em Nova Jersey, e fugiu, morando depois com outra família, com identidade falsa.
Deu origem a duas continuações, a primeira para o cinema, “A volta do padrasto” (1989, novamente com Terry O’Quinn) e uma para a TV, “O padrasto: Ele voltou para ficar” (1992), além de um remake, “O padrasto” (2009). Saiu recentemente em DVD no box “Slashers volume 11”, pela Versátil, com os filmes “Motel diabólico” (1980), “Incubus” (1981) e “Massacre no colégio” (1986).



O padrasto (The stepfather). EUA/Reino Unido/Canadá, 1987, 89 minutos. Terror/Suspense. Colorido. Dirigido por Joseph Ruben. Distribuição: Versátil Home Video

domingo, 22 de maio de 2022

Cine Cult


Pat Garrett e Billy the Kid


A caçada ao fora-da-lei Billy the Kid (Kris Kristofferson) pelo seu melhor amigo, agora o xerife Pat Garrett (James Coburn), no Novo México em 1881.

Esse é o filme que melhor retrata a longa perseguição do xerife Pat Garrett para capturar o temido e mítico pistoleiro Billy the Kid, famoso por roubar gado no sul dos Estados Unidos no final do século XIX. A presença dos atores Kris Kristofferson e James Coburn garantem a história repleta de desencontros e tiroteios sem fim nas escaldantes paisagens áridas do Novo México. Um western moderno e com ingredientes do cinema de ação com a marca típica de seu diretor, Sam Peckinpah (apelidado de “Mestre da Violência”), que dentre outras qualidades utilizava sangue nos ferimentos de bala (algo pouco comum no faroeste daquela época) e a técnica do slow-motion nas cenas de duelo, que dava outra dimensão e sensação para os crimes ali retratados. Peckinpah começou a carreira dirigindo western, sendo sua obra-prima “Meu ódio será sua herança” (1969), e inauguraria a partir daí uma estética suja e violenta, com traços do barroco, intercalando o colorido ao preto-e-branco, com filmagem e fotos antigas. Fez isso bem em “Sob o domínio do medo” (1971), “Os implacáveis” (1972) e os três melhores de sua filmografia pra mim, “Traga-me a cabeça de Alfredo Garcia” (1974), “Assassinos de elite” (1975) e “O casal Osterman” (1983).


Com pano de fundo real e rodado em lugares originais do Oeste selvagem, como Durango, no México, e em Tucson, no Arizona, teve um orçamento alto e um faturamento muito baixo, virando um cult a princípio. Apesar de não ter dado certo nas bilheterias, concorreu aos seguintes prêmios: Bafta de música e ator estreante (Kris) e Grammy de melhor trilha para filme (para Bob Dylan) - outro ponto curioso, Bob Dylan fez a trilha (em que toca a clássica “Knocking on heaven’s door”) e pinta como ator coadjuvante, no papel de Alias, um rapaz errante e misterioso que vaga por aí com uma faca. Outras aparições são de Jason Robards, como o governador, além de Slim Pickens e Katy Jurado, como um casal de rancheiros.
Originalmente da MGM, o filme pode ser visto em várias edições em DVD no Brasil: primeiro saiu pela Lume Filmes, em 2010; depois, em 2020, saiu no box “Lendas do faroeste”, pela Obras-primas do Cinema, com a metragem original do cinema, de 122 minutos - contendo na caixa os filmes “Caminho fatal” (1942), “Armado até os dentes” (1955) e “Meu nome é ninguém” (1973); e esse mês acaba de ser lançado em DVD pela Classicline (com a metragem da edição especial de 2005 que saiu em DVD nos Estados Unidos, de 115 minutos). Há também uma versão nos EUA editada devido à violência, de 106 minutos.


Pat Garrett e Billy the Kid (Pat Garrett & Billy the Kid). EUA/México, 1973, 115 e 122 minutos. Faroeste. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Sam Peckinpah. Distribuição: Classicline (DVD de 2022); Obras-primas do Cinema (no box “Lendas do faroeste”, de 2020); Lume Filmes (DVD de 2010)

terça-feira, 17 de maio de 2022

Cine Cult


A companhia dos lobos


A jovem Rosaleen (Sarah Patterson) se vê dentro de estranhos sonhos ligados às histórias sobre lobos e lobisomens que sua avó (Angela Lansbury) conta. Num desses sonhos, passeando pela floresta, encontra-se em um vilarejo em que as pessoas não são como aparentam.

Indicado a quatro prêmios no Bafta de 1985 (figurino, design de produção, maquiagem e efeitos visuais), essa revisão gótica da fábula de Chapeuzinho Vermelho é um dos filmes mais interessantes e criativos sobre o universo do lobisomem. Tem traços da cultura popular, que vai do mundo dos irmãos Grimm aos contos de fadas de Charles Perrault (considerado o pai da literatura infantil), mas por ser baseado em um conto da britânica Angela Carter, tem suas referências mais modernas. E um ingrediente especial que é o aspecto sombrio das mãos do diretor Neil Jordan. Foi o segundo filme de Jordan, que firmaria parceria com seu ator predileto, Stephen Rea, e juntos trabalhariam em vários longas como “Traídos pelo desejo” (1992 – Jordan ganhou nesse o Oscar de roteiro original e foi indicado ao Oscar de melhor diretor, além de Rea nomeado como melhor ator), “Entrevista com o vampiro” (1994) e “Nó na garganta” (1997). Nada é simples nesse seu filme mais instigante e com momentos de puro horror, com direito a transformações horripilantes de humanos em lobos - foi um período no início dos anos 80 em que o cinema investiu maciçamente no tema e em efeitos especiais com animatronics para recriar os lobisomens, nos moldes de “Um lobisomem americano em Londres” (1981) e “Grito de horror” (1981).



Carrega sensualidade, há algumas mortes sangrentas, cenas memoráveis (como a decapitação com a cabeça caindo no tacho de leite), um cenário de floresta amedrontador e todo um clima onírico, que lembra um pesadelo que nunca termina. Tem ainda um desfecho moralizante, a partir dos ensinamentos da avó da personagem (“nunca confie em estranhos”). Aliás, a britânica Angela Lansbury, a avó, está viva, tem 96 anos e três indicações ao Oscar e um Oscar honorário. David Warner, Brian Glover e Terence Stamp (não creditado) completam o elenco.
Um filme misterioso, simbólico e pouco conhecido do grande público. Foi lançado em DVD no mês passado no box “Sessão de terror Anos 80 – volume 5”, com os raríssimos filmes “O carro sinistro” (1980), “O mistério do cesto” (1982) e “A dama de branco” (1988) – é disco duplo, contendo extras variados, como trailers e especiais. No início da era dos DVDs, em 2000, o filme saiu pela NBO Editora, naquelas edições mensais junto com uma revista da editora sobre cinema.

A companhia dos lobos (The company of wolves). Reino Unido, 1984, 95 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Neil Jordan. Distribuição: Obras-primas do Cinema

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Cine Especial


O contador

Christian Wolff (Ben Affleck) é o contador de organizações criminosas que lavam milhões de dólares todos os anos. Com o Departamento Criminal do Ministério da Fazenda em sua cola, ele decide atender um novo cliente, no caso uma empresa de robótica. Mas esta está desviando recursos milionários, e Wolff se enrosca em uma teia de conspiração que deixará uma fila de mortos pelo caminho.

Em 2016, quando do lançamento dessa fita de ação nos cinemas, imediatamente a coloquei na lista das melhores do ano, seja pelo seu roteiro inteligente (e bem complexo), seja pelo elenco em boa forma (Ben Affleck, Anna Kendrick e J.K. Simmons, a destacar), seja pela parte técnica impecável (fotografia, som, trilha sonora, todos bem amarrados). Fez certo sucesso nas salas americanas, deu origem a quadrinhos da DC Comics, com o mesmo título, “The accountant”, e o diretor Gavin O'Connor informou há pouco à imprensa que planeja a continuação, sem previsão ainda. Tudo isso faz de “O contador” um filme a se conhecer, caso não assistiram ainda...
Affleck amadureceu, virou produtor e diretor, e está em um de seus bons dias de atuação (ele, quatro anos depois, voltou a trabalhar com o diretor Gavin O’Connor, num filme mediano, “O caminho de volta”, sobre um ex-atleta de basquete, alcoólatra, que volta a treinar uma equipe). Aqui ele interpreta um anti-herói, um contador que atua no crime, fazendo negócios escusos com corporações milionárias. Ele é ligado a números, durante o filme vemos flashbacks de sua infância como um menino prodígio, mas violento, quando descobriu ser autista (ele tem boa memória, mas não desenvolve interação social – no desfecho há uma menção ao autismo como alerta aos pais). Quando a Receita Federal o investiga, ele muda de ramo, e pega a contabilidade de uma empresa de robótica, também fraudulenta. Da noite para o dia, vê-se envolvido num pesadelo, perseguido por criminosos que o querem morto.


Funciona como thriller e até como “filme de mistério” (subgênero ainda adotado nos Estados Unidos), com muitos diálogos e cenas impactantes de ação (já começa com uma série de mortos num tiroteio que será explicado no final). Dica: mergulhe em todos os detalhes possíveis, pois o roteiro cabeça pode dar um nó com as dezenas de informações e personagens; o roteirista é Bill Dubuque, de “O juiz” (2014) e criador de uma das melhores séries da Netflix, “Ozark” (2017-2022).
Tem um elenco de coadjuvantes de peso, como Jon Bernthal, Jeffrey Tambor, Jean Smart e John Lithgow e infelizmente foi esquecido pelo Oscar e pelas principais premiações do cinema.


O contador (The accountant). EUA, 2016, 127 minutos. Ação. Colorido. Dirigido por Gavin O'Connor. Distribuição: Warner Bros.

terça-feira, 10 de maio de 2022

Cine Especial


Convenção das bruxas

Um garotinho de 10 anos, Luke (Jasen Fisher), que mora com a avó, viaja com ela para um hotel na Inglaterra, no alto de uma montanha. O menino descobre que o local irá abrigar em poucos dias uma convenção de bruxas. Ele se infiltra na reunião e acaba presenciando um outro garoto virar rato pelas mãos da chefe das bruxas, a maquiavélica senhorita Eva Ernst (Anjelica Huston). Luke tenta fugir, mas acaba pego e também vira um ratinho. Ele parte para uma incrível jornada para destruir as medonhas bruxas da convenção.

Talvez o filme mais famoso de bruxas, exibido na TV uma porção de vezes, mas que na época do lançamento fracassou nos cinemas. Virou cult com o home video e ainda fascina pela sua história de fantasia e aventura, com humor e uma performance arrebatadora de Anjelica Huston, uma das grandes atrizes do cinema mundial. Chama a atenção a maquiagem das bruxas, um espetáculo à parte, além dos fantoches feiosos de Jim Henson, o criador dos “Muppets” e de “O cristal encantado” (ele morreria prematuramente aos 53 anos um mês antes da estreia de “Convenção”, em maio de 1990).
O filme veio das páginas do livro de Roald Dahl, o mesmo escritor da obra literária que originou “A fantástica fábrica de chocolates” (e que também faleceu em 1990), e no meio do clima de magia tem até toques de terror (pela própria concepção da trama, de um garoto que vira rato e tem de destruir bruxas monstruosas). Recebeu indicação ao Bafta de melhor maquiagem, merecidamente (uma maquiagem difícil e pesada, que demorava oito horas para transformar Anjelica na Grande Bruxa, por exemplo).


Voltado para toda a família se deliciar, é um filme querido e faz parte do imaginário de muitos, dirigido por Nicolas Roeg, de “Inverno de sangue em Veneza” (1973). Conta com participação especial de Rowan Atkinson como o gerente do hotel (pouco tempo depois eternizaria seu papel mais famoso na TV, Mr. Bean) e da veterana sueca Mai Zetterling, como a avó de Luke, uma senhorinha com um segredo a revelar e que vive contando ao menino contos fabulosos sobre bruxas da região.
Em 2019 o filme saiu em DVD pela Classicline, porém com cortes e uma imagem ruim, vinda de uma matriz sem qualidade, o que causou indignação nos colecionadores e fãs do filme. Tanto que eles exigiram o filme em HD, o que a Classicline conseguiu agora. Essa versão recente é em bluray, de disco simples, sem extras (uma pena), no entanto a qualidade de imagem e som está de arrebatar. A caixa é com luva, inclui pôster oficial, livreto de 12 páginas e três cards, além da capa dupla. Outra novidade são as duas dublagens (a clássica da TV brasileira e uma redublagem). Um filme para ver e rever sempre – e descartem o infeliz remake de Robert Zemeckis com Anne Hathaway, de 2020.


Convenção das bruxas (The witches). EUA/Reino Unido, 1990, 91 minutos. Aventura. Colorido. Dirigido por Nicolas Roeg. Distribuição: Classicline (DVD e Bluray)

domingo, 8 de maio de 2022

Cine Clássico


A dama de branco

No Halloween de 1962, um garotinho, Frankie (Lukas Haas), fica preso num dos armários da sala de aula da escola onde estuda. Ele passa a noite lá e dado momento vê o fantasma de uma menina que foi assassinada. Intrigado, ele investiga o mistério que ronda aquele crime, sendo confrontado com um temível criminoso que mata crianças jogando-as de um penhasco.

Um filme de terror com toques de fantasia e mistério que marcou muita gente no final dos anos 80, exibido várias vezes na TV aberta, e que agora pode ser apreciado em DVD (nas últimas linhas comento sobre o lançamento). Bem realizado, com momentos de magia e um desfecho emocionante, esse filme independente de baixo orçamento é a adaptação de uma lenda urbana da cidade onde o diretor do filme nasceu, Rochester, em Nova York – conforme o imaginário popular, a tal dama era uma mulher que usava um longo vestido branco, morava numa casa isolada no alto de um penhasco, e depois do desaparecimento da filha pequena, rondava o local procurando-a incessantemente, e por causa disso foi considerada louca. A partir dessa ideia, o diretor fez um filme sobre infanticídio e preconceito racial (sobre esse ponto fala-se da questão dos negros em determinada sequência-chave). Não é uma fita típica de terror, mas foi vendida como tal, e por explorar temas sociais e universais, obteve boa repercussão pelo diferencial criativo.



Lukas Haas, de “A testemunha” (1985), na época com 11 anos, faz bem o trabalho de protagonista, e a trama é envolvente nesse segundo dos três filmes dirigidos por Frank LaLoggia (e o seu melhor trabalho). Conta ainda com a fotografia ímpar de Russell Carpenter, que dez anos depois ganharia o Oscar por “Titanic” (1997) nessa categoria.
Saiu em DVD esse mês na coleção “Sessão de terror anos 80 – volume 5”, juntamente com os filmes “O carro sinistro” (1980), “O mistério do cesto” (1982) e “A companhia dos lobos” (1984), pelas Obras-primas do Cinema – a caixa contém dois DVDs, com 30 minutos de extras, luva e quatro cards com as capas originais dos filmes. Essa é a versão estendida, de 117 minutos, com quatro minutos a mais que a versão de cinema.

A dama de branco (Lady in white). EUA, 1988, 117 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Frank LaLoggia. Distribuição: Obras-primas do Cinema

sexta-feira, 6 de maio de 2022

Cine Cult


Cossacos de Kuban


Nas estepes russas, à beira do rio Kuban, um soldado que trabalha em uma cooperativa agrícola se apaixona pela líder da cooperativa de trigo concorrente. Enquanto isso os dois se preparam para um campeonato anual de dança e música na URSS.

O musical mais caro rodado na extinta União Soviética chega com brilho e cor em DVD no Brasil em uma boa cópia restaurada pela Mosfilm (o filme é de 1949, foi lançado nos cinemas russos em 1950, e a restauração se deu em 1968). Em sua obra máxima, o cineasta Ivan Pyrev (1901–1968), diretor de “Os tratoristas” (1939), “Às seis da tarde, depois da guerra” (1944) e “O idiota” (1958), registra a rotina de um grupo de cossacos (que são os nativos das estepes da Eurásia, conhecidos pela coragem nas guerras e por deterem de um sistema autossuficiente de produção de alimentos). Eles vivem felizes pela região ensolarada, produzindo trigo e grãos, cantam e dançam, e se preparam para um festival cultural. Existem ali dois kolkhozes rivais (fazendas de produção de alimentos ligadas ao Estado soviético, organizadas como cooperativas camponesas), e um membro de um grupo se apaixona pela líder de outro, gerando uma série de imprevistos entre as comunidades.


O filme é uma propaganda dos kolkhozes, como arma publicitária do governo soviético da época, por isso tudo é leve, engraçado e vívido (ou seja, não é um filme crítico, e sim panfletário). E é um autêntico musical, nos moldes russos (vale pontuar que a URSS produziu diversos musicais, e alguns chegaram no Ocidente, como “Os ciganos vão para o céu”, de 1975), com atores cantando e dançando músicas regionais. O visual é de cores vivas na fotografia e nos figurinos, e uma ambientação clássica dos anos 40, quase toda rodada em locações, das estepes verdes ao rio Kuban, um dos mais importantes do país, com seus 870km de comprimento.
Vale para quem gosta do gênero e para quem queira conhecer produções da Rússia, cuja linguagem cinematográfica é bem diferente da americana, da qual estamos habituados. Gostei e indico. Em DVD pela CPC-Umes Filmes.

Cossacos de Kuban (Kubanskie kazaki). URSS, 1950, 104 minutos. Musical. Colorido. Dirigido por Ivan Pyrev. Distribuição: CPC-Umes Filmes

terça-feira, 3 de maio de 2022

Cine Cult

O mistério do cesto

Um rapaz perambula pelas ruas de Nova York à noite carregando um cesto debaixo dos braços. Dentro dele há uma criatura que se alimenta de humanos.

Até que enfim saiu no Brasil em mídia física um filme que marcou os fãs do cinema de horror independente. “Basket case” ou “O mistério do cesto” (1982) passou muito na TV e ganhou duas continuações nos anos 90, um verdadeiro cult classic com uma ideia original e macabra. E é um terrir no final das contas, ou seja, um terror com comédia. Segundo o diretor e roteirista, Frank Henenlotter, ninguém iria assistir a esse seu filme de estreia por vários motivos, seja pelo baixíssimo orçamento, seja pelo gore ou por ser asqueroso. Realmente não era para ser um sucesso de público, o filme custou míseros U$ 35 mil e foi todo rodado em locações, num hotel antigo da Times Square, em becos e ruas de Nova York e em casas de amigos e do próprio diretor. Quem assistiu mesmo foram os muitos fãs do exploitation, subgênero que a fita se encaixa bem.


É sobre uma criatura deformada, com traços humanos, que vive num cesto carregado por um homem pelas ruas de Nova York; o monstro come pessoas e em determinado momento, foge do cesto... Ao rever o filme dias atrás lembrei de “Nasce um monstro” (1974), pérola do trash, de Larry Cohen, e com certeza serviu de base para Henenlotter. Há cenas gore, mas muitas foram cortadas pelo distribuidor. Há ainda muita inventividade diante dos parcos recursos que o diretor detinha, por exemplo, enquadramentos inusitados, como as de dentro do cesto como se fosse a visão do monstro. Aliás, o monstro (bem feioso) era manipulado por fios como um fantoche, além de utilizarem a técnica do stop-motion.
Henenlotter faria outros filmes terrir com criaturas bizarras, como “O soro do mal” (1988) e “Que pedaço de mulher” (1990), além das duas continuações desse, “Basket case 2 e 3” (de 1990 e 1991, ambas com mesmo elenco, incluindo o ator principal, Kevin Van Hentenryck).


Lançado em DVD mês passado no box “Sessão de terror Anos 80 – volume 5”, com os raríssimos filmes “O carro sinistro” (1980), “A companhia dos lobos” (1984) e “A dama de branco” (1988) – é disco duplo, contendo extras variados, como trailers e especiais. Uma relíquia do cinema exploitation para público restrito.

O mistério do cesto (Basket case). EUA, 1982, 91 minutos. Terror/Comédia. Colorido. Dirigido por Frank Henenlotter. Distribuição: Obras-primas do Cinema


segunda-feira, 2 de maio de 2022

Cine Cult


Neruda 


Chile, 1948. A recém-aprovada Lei Maldita do governo Videla caça militantes considerados comunistas, criando um clima de terror no país andino. O alvo da vez será o poeta Pablo Neruda (Luis Gnecco), à época senador da República. Procurado pela polícia, ele se refugia nas montanhas e é incansavelmente perseguido pelo inspetor Óscar Peluchonneau (Gael García Bernal).

Com uma mistura interessante de drama e policial, esse filme chileno com fundo biográfico, coproduzido na Argentina, França, Espanha e EUA, concorreu ao Globo de Ouro de fita estrangeira, mas ficou fora do Oscar 2017. Gosto da história e de seu clima noir, que acompanha a fuga do poeta Pablo Neruda pelos Andes em 1948, quando se refugiu em uma cabana no gelo, perseguido por um chefe de polícia categórico, Peluchonneau. É baseado num momento marcante da vida de Neruda, quando senador da República e virou alvo político durante o decreto da Lei Maldita, do presidente Gabriel González Videla, que exerceu o cargo de 1948 a 1952 e depois com o golpe militar de Pinochet nos anos 70 virou conselheiro de Estado. A lei perseguia e prendia comunistas, e Neruda era apontado como um dos mais enfronhados no partido de esquerda.
O filme opta por uma narração em off para contar essa história intrigante, dividindo Neruda sob duas camadas: a do homem popular, adorado pelo povo, atencioso com os mais pobres, mas também como um mulherengo e beberrão, frequentador de bordéis (numa cena ele participa de uma orgia). E tem uma terceira parte, da metade para o final, quando Neruda parte para o refúgio nos Andes, numa trama de detetive e de caçada, funcionando como um filme de ação.


Conta com uma fotografia escura, com longos diálogos (bem inteligentes) e um clima de filme noir. A maquiagem/caracterização é boa, especialmente do ator Luis Gnecco, que ficou calvo, barrigudo e com andar e trejeitos de Neruda. O mexicano Gael García Bernal, que já trabalhou diversas ocasiões com o cineasta Pablo Larraín, está bem como o detetive com fúria nos olhos.


Esse “Neruda”, de 2016, saiu dois anos depois de um outro filme chileno com mesma história e título (“Neruda”, de 2014). Não vi o anterior, de Manuel Basoalto, porém o de Larraín é estilizado, autêntico e vigoroso, e carrega as características do diretor, que fez antes “Tony Manero” (2008), “No” (2012) e “O clube” (2015 - o meu preferido dele) – e que depois faria duas biografias longe do Chile, “Jackie” (2016) e “Spencer” (2021), respectivamente sobre Jacqueline Kennedy e Princesa Diana, em que as atrizes foram indicadas ao Oscar (Natalie Portman e Kristen Stewart). Aliás, Larraín tem uma mão adequada para dirigir bons atores. “Neruda” é um de seus trabalhos mais pessoais. Ele volta a contar uma história verdadeira recorrendo a fantasmas insidiosos de seu país, como fez em “No” e “Tony Manero” (no caso a ditadura, as torturas e as leis extremistas).


Neruda (Idem). Chile/Argentina/França/Espanha/EUA, 2016, 107 minutos. Drama/Policial. Colorido. Dirigido por Pablo Larraín. Distribuição: Imovision

domingo, 1 de maio de 2022

Cine Especial


Medo


Nicole (Reese Whiterspoon) tem 16 anos, é de uma família de classe média americana e mora com os pais e o irmão em uma casa à beira do lago em Seatlle. A rotina deles é abalada quando Nicole começa a namorar um rapaz que conhecera numa balada, David (Mark Wahlberg). Isso porque David aos poucos se torna violento, a ponto de colocar a família dela em risco.

Fez inesperado sucesso nos cinemas em 1996 essa fita independente de suspense derivada de outros suspenses psicológicos dos anos 80 e que abriria portas para muitos nos anos 2000. Tem clima a ponto de fazer o público roer as unhas, serve como entretenimento passageiro e trazia Mark Wahlberg em início de carreira, como um vilão amedrontador – anos antes Wahlberg era modelo (posou como garoto propaganda das cuecas Calvin Klein) e rapper, depois se consolidou como ator e chegou a ser indicado ao Oscar (por “Os infiltrados”). Aqui foi seu terceiro filme. O mesmo se deu com Reese Whiterspoon, novinha, em início de carreira – ela começou como atriz aos 15 anos, em “No mundo da lua”, depois ganharia Oscar e Globo de Ouro. Os dois são charmosos e tem química, porém o primeiro amor da garota vira um pesadelo infernal...
É um suspense sobre “as aparências enganam”, até serve como uma moral, de tomar cuidado com quem mal conhecemos e já nos relacionamos. A história cresce, o personagem de boa pinta de Wahlberg dá espaço à psicopatia, gerando medo e tensão na família da personagem, até culminar num desfecho eletrizante (a cena final, na casa do lago em Seattle, lembra “Sob o domínio do medo”, com Dustin Hoffman na primeira versão, de 1971, e com James Marsden no remake de 2011).


William Petersen e Amy Brenneman interpretam os pais da personagem de Reese e ganham destaque na história apenas no fim. Um bom thriller sedutor sobre obsessão e crime, do diretor James Foley, de “Jovens sem rumo” (1984), “Caminhos violentos” (1986), “Quem é esta garota!” (1987), “O sucesso a qualquer preço” (1992) e “O segredo” (1996).
Lançado em bluray pela Universal Pictures, em parceria com a Classicline (disco sem extras, somente o filme em alta resolução).

Medo (Fear). EUA, 1996, 98 minutos. Suspense. Colorido. Dirigido por James Foley. Distribuição: Universal Pictures